XIV-QUANDO PARAR PODE SER TÃO IMPORTANTE QUANTO SEGUIR EM
FRENTE...
Lindolivo Soares
Moura(¨*)
Passamos
uma vida inteira buscando "o" sentido e "o" significado que
sejam capazes de tranquilizar e aquietar de vez o nosso coração. Quanto mais
procuramos mais parece que de nós esse sentido e esse significado se
distanciam. A procura se intensifica e a ansiedade se multiplica. E assim vamos
"consumindo" nossa vida, dia após dia, ano após ano, década após
década, literalmente "nos consumindo" junto.
E
se a lógica e a razão forem outras? Talvez elas não estejam "fora",
nem nas coisas, nem nos fatos e tampouco
nas pessoas. Talvez o sentido e o significado realmente capazes de acalmar
nossa mente e aquietar o nosso coração estejam "dentro" de nós, no
mais íntimo do nosso próprio íntimo. Talvez esse sentido e esse significado
caiba a nós conferi-los, atribuí-los, oferecê-los. Talvez não haja um sentido
único e absoluto capaz de acalmar e aquietar a todos, indistintamente e da
mesma forma. Talvez cada ser humano precise de um sentido e de um significado
únicos, diferentes, só seus, insubstituíveis. O "uno" e o
"múltiplo" talvez não sejam assim tão contraditórios como pensamos.
Somos
aproximadamente oito bilhões de seres humanos diferentes, e ao mesmo tempo
somos únicos e insubstituíveis. Talvez nossa longa procura, que nos tem trazido
tanta ansiedade, requeira na verdade que paremos, diminuamos a marcha,
contemplemos e cuidemos mais e melhor do mundo que está dentro, e não fora de
nós. Filósofos e sociólogos somos teimosos em achar que o mundo exterior não se
conserta e menos ainda "se salva" sem nós. Enquanto isso vivemos
literalmente vagando "desconcertados" mundo afora; e isso por anos,
décadas, por vezes durante uma vida inteira. Talvez esteja na hora de abandonar
humildemente a pretensão de querer redimir o mundo e começar a cuidar melhor do
nosso próprio jardim, da nossa própria vida. Talvez esteja na hora de começar a
cavar, revolver a terra com cuidado, colocar adubo, fazer as podas necessárias,
lançar ao fogo o que já está seco e não brota mais, plantar novas mudas e novas
sementes a fim de que esse jardim volte a florir, perfumar e atrair as pessoas
novamente.
Precisamos
redescobrir o prazer e a alegria de voltar a cuidar desse jardim próprio, pelos
anos que nos restam. Estamos tão preocupados com os jardins dos outros, a vida
dos outros, de tantos outros, que acabamos nos esquecendo de cuidar do nosso
jardim, da nossa própria vida. Pensar demais, explicar demais, querer encontrar
a razão e o porquê de tudo, pode estar literalmente nos impedindo - e não
apenas dificultando - de voltar a cuidar, contemplar e nos extasiar com nossa
própria vida. Somente depois de tudo criar o Criador de tudo pôde baixar as
mãos, reter as palavras, silenciar; e aí
sim, a tudo contemplar e com tudo se extasiar. O "logos", a palavra,
a fala - assim como o sentido, a razão e
o porquê - requerem seu contraponto: ele
está no silêncio, na contemplação, no deslumbramento e no êxtase. Só assim é
possível que a SÍNTESE seja feita. E a síntese é a paz que a alma tanto
procura!
Filósofos,
Sociólogos e tantos outros "messias" libertadores parecem não fazer
SÍNTESE nunca; estão sempre procurando e tentando ENTENDER, EXPLICAR E RESOLVER
TUDO. Entretêm-se tanto na vida dos outros que acabam se esquecendo e se
descuidando da vida própria. Sem "paradas" é impossível encontrar e
experimentar paz, porque se torna literalmente impossível conter e controlar a
ansiedade. A calma e a serenidade do coração requerem paradas estratégicas para
o êxtase, o silêncio e a contemplação. Primeiro, e antes de tudo, da beleza dos
cheiros e dos sabores DO NOSSO PRÓPRIO JARDIM. E só então do jardim de cada um
daqueles que nós amamos...
A
paz e alegria só retornarão quando conseguirmos "re-descobrir" que
tudo que criamos e plantamos em nosso jardim. É BOM, É BELO, E DIGNO DE SER
ADMIRADO, "CURTIDO" E CONTEMPLADO. Pois não foi isso o que ocorreu
com o próprio Criador de tudo? "No sétimo dia Deus descansou de toda a sua
obra. Contemplou-a calmamente, longamente, e viu que tudo, tudo tudo, era muito
bom!". A vida não é viagem o tempo todo! Precisamos de metade dela, no
mínimo, para admirar, contemplar, "curtir" e cuidar da obra e do
jardim que criamos! Ou fazemos paradas estratégicas ou faremos parada cardíaca.
Viajar o tempo todo é loucura!
(*)Lindolivo Soares Moura é Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil
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