I-
VII-REFLEXÃO DOMINICAL I-
VENCENDO AS TENTAÇÕES-O EXEMPLO DE JESUS
O episódio das tentações de Jesus é paradigma
para todos os cristãos de todos os tempos, pois também nós somos tentados de
muitas formas. Os quarenta dias no deserto representam o tempo de uma geração,
simbolizam o conjunto de toda vida e de todas as tentações que Jesus teve de
enfrentar. E assim como Ele nunca esteve sozinho, pois o Espírito o impelia e o
Pai sem- pre lhe mostrou Seu amor, do mesmo modo, também nós somos auxiliados
pelo Espírito Santo, que nos dá força e coragem para superar a tentações e
repelir o mal. A primeira tentação – transformar pe- dra em pão – foi a de
mostrar-se capaz de soluções fáceis para todos os tipos de problemas e de usar
Sua condição de Filho de Deus e seus dons e capacidades para vantagem e
benefício pró- prios, ao invés de se manter fiel ao plano salvador do Pai, que
lhe pedia uma entrega da vida em favor dos irmãos. Ele repele a tentação
lembrando que a Palavra de Deus, acolhida e realizada, é o alimento daquele que
se mantém fiel ao Pai. Ele tem fome sim, mas sobretudo fome de fazer a vontade
do Pai (cf. Jo 4,34). Importante notar: o diabo se apresenta a Jesus como
alguém que quer ajudar quando, na verdade, é um sedutor e enganador. É por isso
que o Papa Francisco sempre nos alerta para não dialogarmos com a tentação.
Toda vigilância é pouca quando se trata de discernir as ciladas sedutoras do
mal que, às vezes, se traveste de bem! E nós, como usamos os dons que Deus nos
deu? E com qual finalidade? Para o bem ou para o mal? Segundo a Sua vontade ou
segundo nossos desejos pessoais? A segunda tentação foi a da idolatria do
dinheiro e do poder, colocando a confiança no que passa e se impondo aos outros
pelo poder. O diabo promete que dará a Jesus os reinos deste mun- do se Ele o
adorar. Jesus repele a tentação afirmando que só se deve adorar o Deus vivo e
verdadeiro, que vem ao nosso encontro no amor e para nos dar vida. Pensemos:
quantos neste mundo não se vendem e se corrompem por desejo de riqueza e poder?
Quantos não elegem a riqueza como um deus, e nem se importam se esse falso deus
exija sacrifícios humanos, sangue dos irmãos..., contanto que possa gozar de
suas benesses e de seu prazer? Não é à toa que a Palavra de Deus afirma que o
amor ao dinheiro é a raiz de todos os males! (cf. 1Tm 6,10). Se pensarmos na
Campanha da Fraternidade, temos diante dos olhos os efeitos que a ganância e o
poder causaram na nossa casa comum, dom de Deus para todos e expressão de seu
amor. A criação so- fre por conta deste pecado! Quando Jesus repele a tentação
da idolatria do dinheiro e do poder, lembra-nos que só a Deus devemos adorar. O
Papa Francisco, na homilia da Epifania de 2020, afirmou que a adoração tem a
ver com o agradecimento e com a percepção da fé como “relação com uma Pessoa
viva, que devemos amar”. Adorar é fazer o êxodo da maior escravidão: “a escravidão
de si mesmo” e colocar o Senhor no centro de nossas vidas, colocar os planos de
Deus em primeiro lugar, estar com Ele! Adorando a Deus aprende-se o que não
deve ser adorado, como, por exemplo, o dinheiro, o consumo, o prazer, o sucesso,
nosso eu... Adorar, lembra ainda o Papa, é fazer-se pequeno na presença do
Altíssimo, descobrir que a riqueza da vida não é ter, mas amar e doar-se. Na
adoração nós nos calamos diante do Verbo eterno para não dizer- mos palavras
que ferem, mas que con- solem. Perguntemos a nós mesmos: Como tem sido nosso
relacionamento com os bens materiais? Nós os possuí- mos ou eles nos possuem?
Para Jesus poder é serviço! Quando recebemos al- gum tipo de poder ou
responsabilidade nós os usamos para o bem comum, o bem do próximo ou para nosso
próprio interesse e vantagem? A terceira tentação é a da fama, de ser
espetacular e atrair os outros por força de suas capacidades, isto é, a vanglória.
O diabo manda que Jesus se lance do pináculo do Templo para provar sua condição
de Filho de Deus e ser acla- mado pelo povo com sinais espetaculares. O
tentador leva a pensar só nas próprias conveniências e a satisfazer o egoísmo
galopante. Deus, por sua vez, é amor que se põe a serviço na humildade e na
entrega de Si por nós, para nos dar vida! Jesus repele esta tenta- ção
lembrando que não se deve tentar a Deus. Muitos não O aceitaram por- que
queriam sinais, mas o seu sinal foi a Cruz, ou seja, o amor que se entrega pelo
irmão para lhe salvar! Neste Êxodo quaresmal que percorre- mos rumo à
verdadeira e definitiva Ter- ra Prometida, peçamos a Jesus a graça do Espírito
de modo a conseguirmos repelir as tentações do inimigo, ter um coração
verdadeiramente livre, capaz de adorar somente o Deus vivo e verdadeiro,
escutar somente a Sua voz e fazer somente a Sua vontade, de modo a fazer florir
o deserto deste mundo com sinais de vida, amor e boas obras, e recebermos um
dia o verdadeiro tesouro que nos aguarda na eternidade. Santa Quaresma a todos!
Dom Edilson de Souza Silva Bispo Auxiliar de
São Paulo Vigário Episcopal para a Região Lapa
Nenhum comentário:
Postar um comentário