IX-
REFLEXÃO DOMINICAL II
Discípulos Missionários
Na Igreja dos anos 60, anterior ao Concílio Vaticano II, a
palavra “Missão” evocava a imagem quase heroica de padres e religiosos que
atuavam em terras distantes, dominadas pelo paganismo ou regimes políticos que
não contemplavam o Cristianismo, ou vivendo em meio a povos indígenas que nunca
tinham ouvido falar em Deus. Em uma sociedade Teocêntrica a nossa Igreja não
estava acostumada a sair para vender o seu “Peixe”, isso é, para fazer o
anúncio do evangelho, porque aos domingos, bastava o toque dos sinos e as
pessoas vinham todas para a Igreja, buscar os sacramentos, a Missa e tudo o
mais que ela oferecia na esfera do Sagrado.
A realidade hoje, dentro de um pluralismo religioso e cultura
paganizada, passamos há muito tempo do teocentrismo ao Antropocentrismo, onde o
homem vai ocupando cada vez mais na vida da humanidade o lugar que pertence a
Deus, ou tentando fazer o seu papel e até competindo com ele na missão de
salvar a humanidade. E assim, Jesus Cristo tornou-se mais um produto na vitrine
do nosso Consumismo.
A Palavra de Deus é imutável, desde que se encarnou entre nós no
Verbo Divino, ela é poderosa, eficiente, transformadora e essencialmente
libertadora, porém, o método de se evangelizar quem que ser constantemente
renovado, a igreja perdeu muito desse espírito missionário e está se empenhando
para resgatá-lo, a partir do Documento de Aparecida, tentando motivar os
Cristãos a sair da Igreja para ir até às pessoas, resgatando em primeiro lugar
os noventa e nove por cento dos católicos, que abandonaram a Igreja nos grandes
centros urbanos, ou a trocaram por outra, que talvez tenha usado um método
evangelizador mais convincente.
O evangelho de hoje oferece uma rica oportunidade para que cada
um de nós cristãos faça um chek-list quanto ao método que estamos usando para
evangelizar, método ensinado pelo maior de todos os mestres, Cristo Jesus, o
“Comunicador do Pai”, que treinou e capacitou a sua comunidade para fazer esse
anúncio, com tal eficiência, que mesmo decorridos três milênios de história, o
anúncio ecoa forte no coração de quem o acolhe.
Revestido desse espírito missionário confiado pelo próprio
Senhor, o discípulo missionário é antes de tudo anunciador e portador da Paz,
com poder sobrenatural de atingir o coração do seu ouvinte, seja em uma
assembleia numerosa ou em um corpo a corpo, que é a estratégia apresentada
neste evangelho, isso naturalmente supõe a abertura e o acolhimento de quem
ouve, pois o anúncio dessa Paz, cuja palavra é a semente, vem como uma proposta
e nunca como uma imposição.
O anúncio é para todos, e no envio dos setenta manifesta-se
claramente esse universalismo, simbolizado na multiplicidade do discipulado,
justamente para atender a demanda da messe, que é muito grande, mas os
operários são poucos. Também fica claro que a missão não é iniciativa do homem,
mas obediência a um mandato divino, e é o próprio Senhor da Messe que envia os
operários.
Enfim, Jesus ensina aos seus discípulos o seu próprio método e
estratégia para anunciar o novo Reino e isso merece de cada um de nós uma
atenção especial, pois o mundo também tem seus métodos, sempre impostos a
partir do poder e da força que lembra o lobo, que de início até consegue
resultado imediato, mas aos poucos perdem sua eficácia e em nada contribuem
para o crescimento e a realização do ser humano.
É precisamente neste ambiente hostil que a Igreja tem de estar
sempre presente, através de cada discípulo missionário, para falar do Reino
inaugurado por Jesus e que será sempre inédito e revolucionário, pelo conteúdo
que apresenta e oferece a todos, oferecendo libertação e Vida Plena. Jesus
realizou a obra da Salvação comportando-se como cordeiro e não lobo, ele fez
uma proposta, um chamado, convidando os homens a, em sua total liberdade, a
buscarem o Pai, que ama e quer salvar a todos os homens.
E finalmente a última e a mais importante de todas as lições: o
perigo do entusiasmo inicial que poderá comprometer toda a missão! Os
discípulos voltaram contentes, afirmando que no nome de Jesus até os Demônios
obedecem. A tarefa de evangelizar é sempre árdua e requer paciência e
perseverança por parte do missionário, que não estará livre das dificuldades,
rejeições e forças contrárias, nem sempre terão êxito porém, são sempre
animados pela esperança de que, nada há neste mundo que conseguirá
impedir o crescimento e a manifestação do Reino do qual fazem parte todos
os discípulos enviados e isso sim, deve ser a causa de sua alegria.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia
Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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