X- REFLEXÃO DOMINICAL III- 14.º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos irmãos,
A Paz é o desejo maior
de todos os cristãos. Por isso somos convidados a repetir o gesto de Jesus e de
todos os seus seguidores: “Que a paz esteja nesta casa e com todos os seus moradores”. Por isso, nós que
somos discípulos e missionários de Jesus Cristo somos convidados a imitá-lo
levando a paz para todos os lares: “Em qualquer casa em que entrardes, dizei: Paz a
esta casa… Curai os enfermos”(Cf. Lc. 10,5.9). A paz que nos
aponta para a proximidade do Reinado de Deus. Assim, esta missão é dever não só
dos apóstolos, mas dos setenta e dois discípulos que Jesus mandou depois da
missão dos Doze. O Evangelista Lucas pensa numa ampliação da missão dos Doze,
que representam a missão das doze tribos de Israel. Os setenta e dois lembram
os setenta e dois povos de Gn 10 e os tantos profetas-anciãos de Num 11,24-30.
Depois do Evangelho do Cristo ter sido propagado a toda o povo israelita é
chegada a hora deste anúncio ser compartilhado com todas as gentes e com todos
os povos. É a universalidade do mandato apostólico e da missão que todos, sem
distinção, pelo batismo são chamados a se empenharem no anúncio do Cristo
Ressuscitado. E este anúncio tem um conteúdo programático fundamental: o Reino de
Deus. Este Reino se caracteriza pela “paz”, no sentido mais abrangante e
profundo, de harmonia plena entre Deus e os homens, e entre os homens
solidariamente. Assim, todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados e
convocados a serem os protagonistas da paz.
Caros irmãos,
O Evangelho de Jesus deve ser aberto a todos e anunciado sem
distinção. Anunciar o Evangelho pelos setenta e dois discípulos é relembrar nos
setenta e dois povos da terra(Cf. Gn 10). Por isso no Evangelho deste
domingo(Cf Lc 10,1-12.17-20) fica claro que é a universalidade da missão aonde
todos são chamados a serem operários da construção do Reino de Deus. Portanto,
o Reino de Deus não se impõe pela força e nem contra a vontade. O Reino de Deus
realizar-se-á seguramente, mas para aqueles que o querem. Deus respeita a
liberdade que deu às suas criaturas. Assim, a vingança e o ódio não constroem
nada e não são atitudes queridas por Deus. O Evangelho não pode, não tem
fronteiras geográficas, raciais, religiosas, sociais e políticas. O Evangelho é
a boa nova, a chance da verdade e da graça de Deus. E os que aderirem a esta
verdade e a esta graça estão ascendendo uma luz em Cristo, que é o caminho, a
verdade e a vida que leva ao Pai. Por isso quem é de Cristo, enamorou-se
pelo Cristo deve ser luz para os outros, isto é, ser um discípulo
autenticamente missionário, portador da salvação.
O envio dos discípulos e
como o envio de João Batista: “Tu estarás repleto do Espírito Santo; converterá a muitos: … e
prepararás o povo para o Senhor”(Cf. Lc 1, 16-17). O discípulo deve
se comportar como um profeta, que é o porta-voz de Deus. Profeta é aquele que
não prega a sua verdade pessoal, mas prega a verdade do Cristo e a salvação que
vem deste projeto que é projeto de vida plena. O discípulo é o mensageiro do
Cristo, assim, poderíamos chamá-lo de arauto do Senhor. Por isso o
discípulo aponta pela sua pregação o horizonte do Cristo, a busca do rosto
sereno e radioso do Senhor Ressuscitado, fiel ao próprio mandato do
Senhor: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba”(Cf. Jo. 7,37).
Irmãos e irmãs,
Qual deve ser a atitude
do discípulo? O discípulo deve ser manso e desprendido das coisas deste mundo.
O discípulo deve ter a metodologia e o jeito de viver do Cristo. Assim, a
primeira qualidade do discípulo é a mansidão, presente na figura do cordeiro e
na saudação a ser usada ao entrar numa casa. Contemplamos Jesus que
recusa o método violento de Tiago e de João ao terem a hospedagem negada. Por
isso os discípulos devem relembrar o Sermão da Montanha: “Felizes os mansos, felizes
os pacíficos, porque são portadores de reconciliação e são filhos de Deus”(Cf.
Mt 5,9).
A segunda qualidade do
discípulo é o desprendimento das coisas, dos bens materiais, da comodidade e de
tudo aquilo que nós resumimos na palavra “bem-estar”. Portanto, Jesus
nos pede para deixar para trás bolsa, alforje, sapato para ter a liberdade de
viver e de anunciar unicamente o Cristo Ressuscitado que está no meio de nós.
Desprendido de tudo e de si mesmo, o autêntico discípulo estará credenciado
para anunciar a paz.
Caros irmãos,
A pobreza nos aponta para a mansidão e o desprendimento. A
pobreza que o Cristo exige de seu discípulo é a do desprendimento, que acaba
sendo sinônimo de coração voltado para Deus e para o próximo necessitado. À pessoa
de coração fraterno e receptivo, Jesus chama de filho da paz(Cf. Lc. 10,6). Por
isso anunciemos a chegada do Reino de Deus e esse reino será necessariamente de
paz. Não se trata da paz como a pensam os homens do mundo. Mas paz que é
sinônimo de Jesus Cristo. A paz de Jesus tem muito a ver com a mansidão, o
desprendimento e o respeito a tudo e a todos. A paz de Jesus é a derrota de
Satanás, de suas maldades, de suas doenças e de seus males. A Pessoa de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o justo, nos leva a verdade de condenar o aborto, a
eutanásia, os homicídios e anunciar a cultura da vida. Por isso a alegria do
discípulo não deve ter por base o poder sobre os espíritos do mal e a derrota
de Satanás, mas o fato de Deus o ter escolhido para a comunhão plena com ele,
que é o gozo da sonhada e plena pacificação, com o auxílio do Espírito Santo.
Caros fiéis,
O essencial não é o êxito, mas a fidelidade a Nosso Senhor Jesus
Cristo. O anúncio cristão da salvação é um dos muitos sinais presentes no mundo
contemporâneo. A Santa Igreja se apresenta para manifestar o anúncio como meios
pobres. Sua mensagem, estritamente religiosa, fala, porém, a uma mentalidade
preconcebida. Os homens do nosso tempo consideram como uma alienação o recurso
ao Deus que salva. O que o Senhor, antes nos pede, é a fidelidade a ele, à sua
mensagem e ao seu estilo de anúncio, mas não nos garante êxito temporal.
Prezados irmãos,
Na Primeira Leitura(Cf. Is 66,10-14c) o objetivo fundamental do
profeta é “consolar” esse Povo martirizado, sofrido, angustiado, que não vê
grandes perspectivas de futuro e já perdeu a esperança. Como é que o profeta
vai “dizer” a mensagem que Deus lhe confiou? Todo o quadro gira à volta da
apresentação de Jerusalém como mãe. Depois de dar à luz o seu filho (o povo),
sem esforço e antes do tempo (cf. Is 66,7), a mãe/Jerusalém alimenta-o com um
leite abundante e reconfortante (cf. Is 66,11). As expressões utilizadas (a
referência ao “sugar o leite até à saciedade”, ao “seio glorioso”) evocam, de
forma bem sugestiva, a imagem da fecundidade, da riqueza, da vida em
abundância. Tudo é fácil, rápido, abundante, pleno. No entanto, o profeta está
consciente de que é Deus que está por detrás desta corrente de vida e de
fecundidade que a mãe/cidade dispensa ao filho/povo. Na “tradução” da imagem, o
profeta põe Deus a fazer chegar à cidade/mãe (para que depois ela distribua
pelo filho/povo) a paz e a riqueza das nações. A paz (“shalom”) exprime aqui
bem mais do que a ausência de guerra: inclui saúde, fecundidade, prosperidade,
amizade com Deus e com os outros; é, portanto, sinónimo de felicidade total. É
isso que Deus quer para o seu Povo e que Se propõe oferecer-lhe em abundância.
Particularmente sugestiva é a forma como se fala de Deus. Ele é o pai que dá ao
filho/povo a vida abundante e plena, que o acaricia e consola como uma mãe. O
profeta propõe ao seu Povo um Deus que ama e que, em cada dia, vem ao encontro
dos homens para lhes trazer a salvação. Daí o insistente convite à alegria.
Esta proposta de “consolação” vem de Deus e atinge o coração do Povo através da
ação e do testemunho profético. É através do profeta que Deus atua no mundo,
que consola os corações feridos, que revitaliza a esperança, que salva da
morte, que liberta do medo. Todos os batizados são profetas e todos comungam desta
missão. Deus é o pai que dá vida em abundância e a mãe que acaricia e consola.
O insistente convite à alegria feito pelo profeta atinge-nos também a nós. O
medo e a angústia não podem ser os nossos companheiros de viagem, pois
acreditamos no amor e na bondade desse Deus que nos acompanha, que nos
acaricia, que nos consola e que faz nascer para nós, dia a dia, esse mundo novo
de vida plena e abundante.
Caros irmãos,
A Segunda Leitura(Cf. Gl 6,14-18) São Paulo começa por denunciar
quais os interesses que movem os “judaízantes” que pregam a circuncisão: eles
têm por finalidade evitar a perseguição (fazendo do cristianismo apenas um ramo
do judaísmo e, por isso, uma “religião lícita” aos olhos do império); além
disso, são pessoas desejosas de se evidenciar, para quem a circuncisão que
impõem aos outros serve para mostrar o sucesso do seu proselitismo (o
“prosélito” era um pagão convertido à observância da fé judaica). Isso não tem
qualquer importância para São Paulo. O único título de glória que interessa ao
apóstolo é a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Falar da “cruz de Jesus Cristo”
é falar do dom total da vida, da entrega de Si mesmo por amor. Esse (e não a
circuncisão ou a prática dos rituais da Lei de Moisés) é que é o grande
objetivo de Paulo e da sua pregação, pois é a morte para o egoísmo e o
nascimento para o amor (cumpridos e representados na cruz) que fazem surgir o
“Homem Novo”, o “Israel de Deus”, o novo Povo de Deus. Precisamente aqui (vers.
15), São Paulo inaugura um dos seus temas favoritos, ao qual voltará nas cartas
posteriores: o tema do Homem Novo em Cristo Jesus. Na perspectiva paulina, a
identificação do cristão com o Cristo da cruz – isto é, com o Cristo do amor
total – fará surgir um Homem Novo, liberto do egoísmo e da preocupação consigo
próprio, capaz de amar sem medida. Esse Homem Novo, imagem de Jesus Cristo,
será capaz de superar o pecado e a morte e de chegar à vida plena, à felicidade
total. De resto, o próprio Paulo luta pessoalmente para chegar a esse objetivo.
Aliás, ele já leva “no seu corpo as marcas de Jesus” (vers. 17). Esta indicação
não parece referir-se à presença no corpo de São Paulo dos sinais físicos da
paixão de Jesus (“estigmas”), mas às cicatrizes reais deixadas pelas feridas
recebidas por São Paulo no exercício do seu apostolado. Na sociedade
greco-romana, cada escravo levava uma marca, como sinal da sua pertença a um
determinado dono; assim, as marcas do seu sofrimento por causa do Evangelho
mostram que Paulo pertence a Cristo, que é propriedade d’Ele: por elas, São
Paulo demonstra a sua vontade de amar, de dar a vida e a sua pertença
inalienável a esse Cristo cujo amor se fez entrega na cruz. Esta carta é a
única em que a palavra “irmãos” aparece na saudação final (vers. 18): é um
grito, ao mesmo tempo de angústia e de confiança, que apela à comunhão e que
manifesta a esperança no restabelecimento da fraternidade. Como São Paulo, cada
batizado é um enviado a testemunhar o Cristo da cruz – quer dizer, a anunciar a
todos os homens que só no amor radical, no amor até às últimas consequências se
gera vida e nasce o Homem Novo. Este caminho é, no entanto, um caminho de
exigência, pois conduz ao confronto com o pecado, com o egoísmo, com a
injustiça, com a opressão.
Meus irmãos,
A missão do cristão é
evangelizar, anunciando a boa-notícia, o verdadeiro alívio do homem que
sinceramente busca o sentido último de sua vida, Deus. Quem anuncia este
programa de vida é homem da paz. O homem velho, segundo São Paulo, foi
crucificado com a Cruz do Cristo. Para quem é nova criatura em Cristo, surge,
como o sol, a paz e a misericórdia de Deus. Benção, paz e misericórdia sobre
todo o “Israel de Deus”, por isso lhes desejo com fé: “A paz do Senhor esteja
sempre convoco” para que ao sairmos desta celebração possamos viver a
missão: “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”, caros portadores da
paz do Cristo! Amém!
Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho a toda criatura.
Homilia Recebida Por Emai
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