VIIi- REFLEXÃO DOMINICAL I
VAI E FAZ A MESMA COISA”
A
parábola do Bom Samaritano é tão conhecida que podemos perder o sabor e o
sentido que dela podemos tirar para a nossa vida. Sabemos bem que Jesus muda a
ordem das coisas: não se trata de saber quem é o meu próximo, mas de saber
fazer-me o próximo de qualquer pessoa. Assim, para o discípulo de Jesus, não há
mais desconhecido, pois “todos sois irmãos”. A parábola do Evangelho deste
domingo situa-nos nessa estrada de cerca de 30 quilômetros entre a cidade santa
de Jerusalém e o oásis de Jericó. Na época de Jesus, é uma estrada perigosa,
sempre infestada de bandos armados. Ora “um homem” não identificado foi assaltado
pelos bandidos e deixado caído na beira da estrada. Trata-se, portanto, e isso
é que é necessário lembrar, de “um homem” ferido, abandonado, necessitado de
ajuda. Pela estrada passou, um samaritano. Trata-se de um desses que a religião
tradicional de Israel considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do
amor de Deus… No entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de
adiar os seus compromissos e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o
salvou. Apesar de ser um herege, um excomungado, mostra ser alguém atento ao
irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus.
Jesus conclui a parábola dizendo ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai
e faz o mesmo”. A verdadeira religião que conduz à vida plena passa pelo amor a
Deus, traduzido em gestos concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem
exceção. A pergunta do mestre da Lei, não é uma pergunta acadêmica; é a
pergunta que os homens do nosso tempo fazem todos os dias: “O que fazer para
chegar à vida plena, à felicidade? Como dar, verdadeiramente, sentido à vida?”
A resposta eterna é: “Faz de Deus o centro da tua vida, ama-O e ama também os
outros irmãos”. Trata-se, portanto, de fazer com que o amor seja vivenciado
como nos ensina a Leitura do Deuteronômio de hoje: para perceber o projeto de
salvação, de liberdade e de felicidade que Deus tem para os homens, basta olhar
para o nosso coração e para a nossa consciência; é aí que Deus nos fala e é aí
que nós escutamos as suas propostas e as suas indicações. Precisamos estar
disponíveis para escutar e para perceber – no meio das contra-indicações que as
nossas paixões nos apresentam – as sugestões, os apelos, os desafios de Deus. É
por aqui que passa a nossa realização plena. “E quem é o meu próximo?”
Excelente questão a deste doutor da Lei à procura de uma boa receita “para ter
a vida eterna” Porém, não há resposta pré- -estabelecida, nem nos lábios de
Jesus, nem na Internet… “Amarás! Trata-se de ver em cada pessoa – sem exceção –
um irmão e de lhe dar a mão sempre que ele necessitar. Qualquer pessoa ferida
com quem nós cruzamos nos caminhos da vida tem direito ao nosso amor, à nossa
misericórdia, ao nosso cuidado – seja ela branca ou negra, cristã ou de outra
religião, pobre ou rica… A verdadeira religião que conduz à salvação passa por
este amor sem limites. Amor que se traduz em cuidado, em proximidade, em abrir
o coração ao outro para viver uma bondade que cure as feridas e sofrimentos do
próximo. Toda pessoa torna-se próximo para mim, na medida em que eu a considero
como um irmão. Sem dúvida, temos ainda muito que aprender e vivenciar para concretizar
nas nossas vidas o ensinamento do Senhor! Mas Jesus vai ainda mais longe quando
nos ensina que devemos amar a todos, e orar pelos nossos inimigos; a aqueles
que nos fazem o mal, devemos responder com o bem; a aquele que nos agride,
devemos responder com o perdão; e ao que nos ofendeu devemos dirigir-lhe
palavras de perdão”. Nesta cidade imensa, em cada canto, em cada casa, em cada
apartamento, encontraremos pessoas que precisam desse cuidado, dessa
proximidade, desse deixar-se tocar pela nossa compaixão na situação por que
passa cada um desses irmãos. Não é tanto saber quem será o nosso próximo, mas
sobretudo, de quem nos tornaremos próximos. De quem nos vamos aproximar
concretamente para pôr em ação este convite a amar?
Padre Carlos Alberto Doutel Vigário Episcopal
para a Região Santana
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