XIV-
SANTO
AGOSTINHO
: Marta e Maria
Por Leandro Cunha
A história do “povo de Deus” é longa,
cheia de alegrias, tristezas, expectativas, dores, amarguras, esperanças,
vitórias e derrotas, farturas e misérias, angústias e ansiedades, mas é uma
história de fé, muita fé. E essa fé é o combustível que move a
caminhada desse povo – o antigo e o novo – ao longo dos últimos milhares de
anos.
Santo Agostinho sempre nutriu um amor
especial pela Igreja de Cristo. Para ele, a finalidade do cristianismo é
preparar o homem para Deus. Agostinho é um dos pilares centrais dessa religião.
O famoso bispo de Hipona, como é
conhecido, tem nos seus sermões e pregações o ponto alto de sua
espiritualidade. Em Lucas 10, 38-42 temos o belíssimo texto
sobre Marta e Maria, irmãs de Lazaro. E Agostinho usou essa
passagem bíblica para atingir os corações de forma certeira e provocar
reflexões. O que há por trás desse famoso diálogo entre Jesus, Marta e
Maria ?
O que nos chama a atenção são os
versículos 40 – 42, quando Marta reclama para Jesus que Maria a deixa servir
sozinha, não a ajuda. E a resposta de Jesus é profundamente significativa para
Agostinho. Diz Jesus :
- Marta, Marta estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma
só é necessária e Maria escolheu a boa parte, a
qual não lhe será tirada.
Algumas interpretações entendem que
Marta representa o antigo comprometimento com a Lei judaica, onde o cumprimento
das obrigações falava mais alto. Enquanto Maria significa a aplicação da boa
nova, os novos tempos. Para Origines, por exemplo, Maria pode representar a
vida teórica e Marta a vida prática. Marta seria a imagem
da sinagoga e Maria a imagem da Igreja (que surgiria em breve).
Agostinho vai mais longe e busca
uma interpretação positiva para o desempenho das duas irmãs
diante do Senhor. Para ele, Marta nos mostra o caminho ativo, o trabalho
pastoral, de formiguinha, onde ficamos sempre ansiosos e cansados, pois temos
que levar a Palavra do Senhor aos nossos irmãos, seja lá onde estiverem. Por
outro lado, Maria nos mostra outro caminho de suma importância, a contemplação,
a oração, a reflexão.
Para o bispo de Hipona são dois
momentos distintos, mas altamente significativos. Enquanto o trabalho de Marta
demanda o uso da palavra e das ações, o de Maria demanda o “saber ouvir”,
aprender a escutar e depositar as Palavras de Jesus junto ao coração para depois poder
praticar. Marta tem uma vida (cristã) ativa e Maria uma vida contemplativa.
Primeiro, é preciso aprender, tomar conhecimento, ouvir, para depois,
então, sair em campo para evangelizar, ensinar, divulgar,
promover, festejar e louvar. “Se você não for capaz de ouvir, não construirá
nada”.
Em um de seus discursos, Agostinho
frisa que o cristão deve concentrar sua preocupação no “unum necessarium”
que encontramos, exatamente, nas palavras de Jesus no versículo 42.
Mas o que é esse “unum necessarium”
? Para ele, nada mais do que Deus em si mesmo, pois Jesus
deixa bem claro :
- uma só coisa é necessária.
O foco está na unidade encontrada no
Pai, no Filho e no Espírito Santo. Ele enfatiza e sedimenta a Trindade.
Para ele, o uno é uma só realidade em três. A diversidade que
encontramos no Pai, Filho e Espírito Santo nos conduz à unicidade em
Deus.
Agostinho entende que Marta e Maria
simbolizam as duas vidas, a presente (daquela época) e a futura, depois da
Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Marta significa o caminho, a via e
Maria o “finis”, o objetivo a ser alcançado. Marta representa a vida
cheia de preocupações e anseios e Maria a vida de repouso fundada na beatitude.
Entretanto, para não permitir que haja
distorção na interpretação, Agostinho faz questão de deixar bem claro que não
pode haver uma entrega exclusiva à contemplação e registra a importância e
necessidade do “serviço cristão”, das atividades pastorais. Essas são
interdependentes. Marta e Maria se completam. A vida cristã começa
em Maria e termina em Marta. “O destino do cristão, neste mundo, é o destino de
Marta : servir ao Senhor, pois Ele ainda precisa e muito dos serviços “dela”
(nossos)”.
O bispo de Hipona afirma que tanto a
ação em servir (Marta) quanto a contemplação (Maria) são vitais para o caminhar
do cristão
https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-religiao-e-teologia/4461138
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