sábado, 13 de setembro de 2025

IX- A BÍBLIA PARA OS CATÓLICOS

 

IX-     A BÍBLIA PARA OS CATÓLICOS

 

VI-          O papel dos concílios na definição do Cânon

A definição dos livros inspirados que compõem a Bíblia, conhecida como o cânon, foi um processo cuidadoso realizado pela Igreja ao longo de séculos. Diante das várias escrituras usadas pelas primeiras comunidades cristãs, tornou-se essencial discernir quais textos eram verdadeiramente inspirados pelo Espírito Santo e dignos de fazer parte da Sagrada Escritura. Esse trabalho foi realizado sob a orientação do Magistério da Igreja, que, com a ajuda do Espírito Santo, identificou os livros que seriam oficialmente reconhecidos como Palavra de Deus.

O primeiro passo significativo ocorreu no Concílio de Hipona, em 393 d.C., quando a Igreja Católica fixou uma lista de livros inspirados. Este cânon incluía os livros que hoje compõem o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia Católica, incluindo os livros deuterocanônicos, que posteriormente foram contestados por algumas denominações protestantes. Essa definição inicial foi reafirmada no Concílio de Cartago, em 397 d.C., que consolidou a mesma lista, estabelecendo uma base para o cânon bíblico usado pela Igreja.

A definição do cânon foi solidificada no Concílio de Trento (1545-1563), em resposta aos questionamentos da Reforma Protestante. O Concílio de Trento reafirmou a lista tradicional, incluindo os livros deuterocanônicos, como parte integrante da Bíblia. Além disso, esse Concílio declarou oficialmente e de forma infalível o cânon da Bíblia Católica, confirmando a inspiração divina de todos os livros que fazem parte dela.

Assim, foi pela ação desses concílios, iluminados pelo Espírito Santo, que a Igreja definiu de forma inequívoca os livros inspirados, preservando a unidade da fé e assegurando que os fiéis pudessem confiar plenamente nas Escrituras como Palavra de Deus.

VII-    A Bíblia e a Igreja Católica

A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura

A Igreja Católica não se apoia apenas na Bíblia, mas também na Tradição Apostólica, que é fundamental para a compreensão da Revelação divina. Cristo, ao instituir a Igreja, confiou aos Apóstolos a missão de pregar o Evangelho, transmitindo a mensagem de salvação através de palavras e ações. Essa transmissão não se limitou ao que foi escrito; ela foi, antes, um processo vivo que envolveu a oralidade e a prática da fé desde os primórdios do cristianismo.

A Tradição Apostólica é a forma pela qual os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos dos Apóstolos foram passados de geração em geração. Mesmo antes da elaboração do Novo Testamento, essa tradição falada era vital para a vida da Igreja. Os Apóstolos e seus sucessores — os bispos —, desempenharam um papel fundamental em conservar e transmitir essa mensagem de forma autêntica.

Enquanto a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita, a Sagrada Tradição complementa e enriquece essa Revelação. A Igreja considera ambas como fontes de verdade, que, unidas, garantem a integridade da fé cristã. A Tradição, além de manter viva a mensagem evangélica, é responsável por interpretar a Escritura à luz das circunstâncias e culturas diversas ao longo do tempo.

Dessa forma, a Igreja Católica sustenta que a doutrina não pode ser compreendida apenas por meio da leitura da Bíblia, mas também pela riqueza da Tradição, que assegura a continuidade e a autenticidade da fé. É por meio dessa combinação que a Igreja transmite, preserva e vivencia a totalidade da Revelação divina.

VIII-       A interpretação das Escrituras pelo Magistério

O Magistério da Igreja desempenha um papel essencial na interpretação correta das Escrituras e na transmissão da fé. Segundo a tradição católica, a responsabilidade de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura e na Tradição, foi confiada ao Magistério, que é composto pelos bispos em comunhão com o Papa, o sucessor de Pedro. Essa autoridade não é arbitrária; ao contrário, o Magistério serve à Palavra de Deus, garantindo que as doutrinas e ensinamentos da Igreja permaneçam fiéis ao que foi revelado.

Ao atuar sob a inspiração do Espírito Santo, o Magistério não apenas escuta a Palavra de Deus, mas também a guarda e a expõe de forma correta, evitando distorções e interpretações pessoais que possam levar a erros doutrinários. Essa função é vital, pois a interpretação das Escrituras pode variar dependendo do contexto cultural e histórico. A Igreja, portanto, tem o dever de proteger a verdade da Revelação divina, assegurando que a mensagem evangélica seja compreendida de maneira autêntica e em unidade.

Os fiéis, ao ouvirem os ensinamentos do Magistério, são convidados a receber essas diretrizes com humildade e abertura. Cristo mesmo disse: “Quem vos escuta, escuta-me a Mim” (Lc 10, 16), o que reforça a importância de seguir as orientações dos pastores da Igreja. Assim, a interpretação bíblica não se torna uma questão de opiniões pessoais, mas uma tarefa coletiva e guiada, fundamentada na Tradição e na autoridade do Magistério, que visa à edificação da fé e à salvação dos fiéis.

IX-          A importância da leitura comunitária

A leitura da Bíblia assume um papel importantíssimo na vida da Igreja, especialmente na liturgia, quando as Escrituras são proclamadas e vividas em comunidade. Durante a Missa, as leituras bíblicas formam o coração da celebração, proporcionando alimento espiritual e revelando a presença de Deus na vida dos fiéis. O Antigo e o Novo Testamento são lidos de forma a iluminar o mistério de Cristo e a vida da Igreja, promovendo um encontro direto com o próprio Deus.

Além das leituras na Missa, a Igreja também valoriza a prática do Ofício Divino, que inclui a recitação de Salmos e outras passagens bíblicas. Esse tempo dedicado à oração comunitária não só fortalece a união entre os membros da Igreja, mas também aprofunda a compreensão da Escritura, permitindo que todos cresçam juntos na fé.

A leitura em grupo, como na prática da Lectio Divina, é especialmente significativa. Essa forma de meditação bíblica envolve a leitura atenta de um texto sagrado, seguida pela reflexão, oração e contemplação. A Lectio Divina promove um ambiente em que os participantes podem partilhar suas experiências e reflexões, enriquecendo a compreensão coletiva das Escrituras. Essa abordagem comunitária permite que os fiéis experimentem a Palavra de Deus de maneira mais profunda e pessoal, fortalecendo seus laços como membros do Corpo de Cristo.

Assim, a leitura comunitária da Bíblia não é apenas uma prática devocional, mas uma vivência que integra a vida da Igreja, alimentando a fé e aprofundando o relacionamento com Deus, ao mesmo tempo em que constrói uma comunidade unida na Palavra.

X-           A Bíblia na Vida do Católico

Como ler a Bíblia?

Para que a Palavra de Deus dê frutos, é necessário que encontremos em nosso coração uma acolhida genuína. Ela deve despertar em nós o mesmo ardor que tocou os discípulos de Emaús ao ouvirem a explicação do próprio Cristo — pois é Ele que nos fala quando nos debruçamos sobre as Escrituras.

De acordo com o Catecismo da Igreja:

“A meditação põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta mobilização é necessária para aprofundar as convicções da fé, suscitar a conversão do coração e fortalecer a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã dedica-se, de preferência, a meditar nos «mistérios de Cristo», como na « lectio divina» ou no rosário. Esta forma de reflexão orante é de grande valor, mas a oração cristã deve ir mais longe: até ao conhecimento amoroso do Senhor Jesus, até à união com Ele.” 9

Existem métodos práticos para integrar a leitura e o estudo da Palavra em nossa vida cotidiana, sendo a Lectio Divina um dos mais recomendados pela Igreja. Esse processo é estruturado em quatro etapas: leitura (lectio), meditação (meditatio), oração (oratio) e contemplação (contemplatio).

Leia mais sobre o que é e como fazer a lectio divina.

Para os que estão iniciando, uma sugestão é começar pelos Evangelhos, que narram a vida e os ensinamentos de Jesus. Ler um pequeno trecho diário, talvez escolhendo um versículo específico para meditar ao longo do dia, ajuda a cultivar esse hábito. Manter uma Bíblia em um local visível e estabelecer um espaço fixo para a leitura facilitar a disciplina.

A constância é fundamental. Dedicar um momento diário, mesmo que breve, para essa leitura permite que a Palavra de Deus se enraíze em nosso ser, iluminando nossas ações cotidianas. Assim, pouco a pouco, a Bíblia deixa de ser apenas em um livro de estudo e se transforma, para nós, em uma fonte viva de orientação e inspiração de vida.

XI-           A Bíblia na liturgia católica

Na liturgia católica, a Bíblia ocupa um lugar central e vibrante, especialmente durante a Missa, onde as Escrituras são proclamadas para instruir e inspirar a comunidade de fé. Durante a seguir, as leituras bíblicas seguem uma estrutura cuidadosamente planejada: a primeira leitura é retirada do Antigo Testamento (exceto na Páscoa), seguida por um salmo responsorial, depois a segunda leitura das cartas apostólicas e, por último, o Evangelho, que é lido exclusivamente por um diácono ou sacerdote.

A proclamação do Evangelho é um momento solene, cercado de cânticos e reverência, que confirma a presença de Cristo em Suas palavras. A homilia que se segue ajuda a comunidade a refletir e a aplicar as leituras em sua vida cotidiana, facilitando uma compreensão mais profunda da Palavra.

ciclo litúrgico organiza a leitura das Escrituras ao longo do ano, podendo ser de um ou três anos, dependendo se é uma missa dominical ou diária. Este ciclo — com os anos A, B e C nos domingos e anos pares e ímpar nas leituras diárias — permite que praticamente toda a Bíblia seja lida na Missa, revelando o mistério de Cristo de forma completa e progressiva.

O Catecismo nos lembra que “o ano litúrgico é o revelador dos diferentes aspectos do único mistério pascal. Isto vale especialmente para o ciclo das festas em torno do mistério da Encarnação (Anunciação, Natal, Epifânia), que comemoram o princípio da nossa salvação e nos comunicamos como primícias do mistério da Páscoa.” 10

Assim, os fiéis acompanham a vida de Jesus desde o Advento até o Pentecostes, e, no Tempo Comum, são convidados a refletir sobre Seus ensinamentos. Esse calendário cíclico garante que a comunidade, a cada ano, revisite e aprofunde as mesmas passagens em diferentes fases da vida e da fé. A Bíblia, portanto, não é apenas lida, mas vivida, guiando os católicos em sua jornada espiritual diária e, especialmente, em sua vida em comunidade.

XII-        Como a Bíblia nos guia moralmente?

A Bíblia é uma luz que ilumina o caminho moral dos católicos, funcionando como um guia divino que revela o que significa viver em virtude e justiça. Os princípios que Deus transmite a Moisés vão além das meras normas; eles são orientações que ajudam os fiéis a discernir suas ações à luz da vontade divina. Cada mandamento é uma expressão do amor paternal de Deus, que deseja ver Seus filhos vivendo o bem.

Além dos mandamentos, as Escrituras estão repletas de ensinamentos que ressaltam as virtudes que moldam o caráter cristão. Na carta aos Gálatas 11, São Paulo nos apresenta os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, paciência, fidelidade, mansidão e autocontrole. Essas qualidades não são meras recomendações, mas convites à ação, mostrando que viver de acordo com esses princípios é essencial para nos relacionarmos com o próximo.

O Sermão da Montanha 12 também oferece lições profundas sobre nossas interações com os outros. Passagens como “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22,39) e “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mateus 5,8) destacam a importância da intenção e da pureza em nossas ações .

Dessa forma, a Bíblia não oferece apenas diretrizes morais; ela nos convoca a uma transformação interior que reflete os valores do Reino de Deus. A leitura e a reflexão sobre as Escrituras tornam-se, portanto, fundamentais para moldar a nossa conduta e o nosso caráter, guiando-nos pelo amor e pela justiça divina.

Meditar no que se lê leva a assimilá-lo, confrontando-o consigo mesmo. Abre-se aqui um outro livro: o da vida. Passa-se dos pensamentos à realidade. Segundo a medida da humildade e da fé, descobrem-se nela os movimentos que agitam o coração e é possível discerni-los. Trata-se de praticar a verdade para chegar à luz: «Senhor, que quereis que eu faça?». 13

10  - CIC, 1171[]

11- Gl 5,22-23[]

12- Mt 5[]

13- CIC, 2706[]

https://bibliotecacatolica.com.br/blog/destaque/biblia-para-catolicos/

(CONTINUA NO PRÓXIMO DOMINGO...)

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