Vl- REFLEXÃO DOMINICAL I
“VITÓRIA, TU REINARÁS! Ó CRUZ, TU NOS SALVARÁS!”
No Evangelho de hoje, ouvimos parte da conversa entre um importante
líder dos judeus, chamado Nicodemos, e Jesus. Temendo por sua reputação,
Nicodemos procura a Jesus na calada da noite e Ele se deixa encontrar. Toda
pessoa de boa vontade procura a verdade e a verdade é Jesus. A narrativa muito
conhecida da serpente que fora elevada em uma haste por Moisés no deserto como
sinal de cura, era para os judeus a prova do poder divino, capaz de transformar
o mal em bem, a morte em vida. Jesus ressignifica essa tradição como profecia
de seu próprio destino. A serpente significou para o povo da bíblia a
materialização do mal. Astuta, sorrateira, “inimiga da humanidade” (Gn 3,15),
escondia-se na areia atacando traiçoeiramente o caminhante incauto, cravando as
presas em seu calcanhar e injetando veneno. A morte era certa e marcada por
grande sofrimento. Assim como nossa jornada neste mundo, atravessar o deserto
em busca da terra prometida supõe o enfrentamento de riscos, desafios e
desapegos. Se nos deixamos levar apenas por nossos instintos e a satisfação de
nossos desejos, seduzidos pela busca de segurança, prestígio e conforto a
qualquer preço, perdemos o sentido de nossa vida, a eternidade, que só em Deus
se pode realizar. Na primeira leitura, ouvimos como um povo ferido pelas
consequências de seu pecado suplica pela intervenção divina. O que é o pecado
se não a recusa ao plano de Deus? O Senhor os atende enviando-lhes um antídoto
contra o veneno mortal, a própria serpente levantada numa haste como um sinal
para que todo aquele que para ela olhar reconheça o poder de Deus sobre o
pecado e a morte. O Senhor, sempre bondoso e compassivo, perdoava-lhes a
infidelidade, curando seus males, mesmo sabendo quando apenas o honravam com
seus lábios, mas mentiam a Ele com suas línguas, conforme o Salmo 77, entoado
na liturgia hoje. A vida eterna não é mérito nosso, mas graça de Deus que a
todos quer salvar. Na segunda leitura,
o apóstolo Paulo nos ensina que Jesus, tendo vivido nossa condição humana,
mesmo sem ter cometido nenhum pecado, foi tratado por Deus como se tivesse
cometido todos os pecados do mundo: “Aquele que não conheceu o pecado, o fez
pecado por nós, para que nele, fossemos feitos justiça para Deus” (2Cor 5,21).
Inocente, Jesus abraçou livremente a paixão, entregando-se à morte e morte de
cruz para a salvação do mundo. Desde seu nascimento Ele esteve entre os últimos
da terra, assumindo nossas dores e a pena pelos nossos pecados. Por seu
sacrifício somos resgatados para Deus. Por isso, diz São Paulo, e nós cremos: “Deus
o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima todo nome”. Nós
exaltamos a sagrada Cruz, adoramos e bendizemos, porque dela pendeu a salvação
do mundo. Não qualquer cruz, que vazia e sem vestígios do sangue de nosso
Senhor poderia significar as muitas formas de sofrimento e morte a que estamos
sujeitos, mas sem o influxo da ressurreição. Veneramos a cruz de Jesus Cristo e
preservamos os sinais de seu sacrifício por nós. Nas palavras do saudoso Papa
Francisco: “O crucifixo não é um ornamento, uma obra de arte, como se vê por
aí. O crucifixo é o mistério do aniquilamento de Deus, por amor. Não feito por
magia, não. Foi feito com o sofrimento do Filho do Homem, torturado, um Deus
esvaziado de sua divindade, sujo pelo pecado que, ao se aniquilar, destrói para
sempre o poder do mal, elevando a humanidade até o céu”.
Pe.
Jorge Bernardes Vigário Episcopal e Geral para a Região Ipiranga
https://arquisp.org.br/wp-content/uploads/2025/06/Ano-49C-51-EXALTACAO-DA-SANTA-CRUZ.pdf
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