06- REFLETINDO SOBRE O PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
30 de novembro – 1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A (IP)
Por Ir. Dra. Izabel Patuzzo (IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi
(CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano (ZAS)***
Preparai-vos, pois o Senhor está para chegar!
I. INTRODUÇÃO GERAL
O 1º domingo do Advento
marca o início de novo ano litúrgico para a Igreja. O Advento é, para nós, um
tempo de graça que nos ajuda a bem preparar o Natal. A celebração da vinda do
Senhor deve ser preparada, em primeiro lugar, em nosso coração. Dois elementos
centrais de nossa fé caracterizam este tempo de espera: o nascimento do
Salvador, que se encarna na realidade humana, e sua vinda final gloriosa, no
fim dos tempos. Os temas-chave da época do Advento são a espera vigilante, a
preparação dos caminhos do Senhor e a conversão, como busca da justiça e do
amor.
Na primeira leitura, o
profeta Isaías convida toda a comunidade dos fiéis, todas as raças e nações, a
se dirigirem para a montanha, o lugar do encontro com o Senhor. E desse
encontro com Ele e com sua Palavra nasce um novo mundo de concórdia, harmonia e
paz. O Senhor faz de todas as nações um só povo, reunido ao seu redor.
Pode ser desafiador
ficar acordado a noite toda, seja cuidando de um parente doente, seja esperando
um ente querido voltar de viagem. A segunda leitura e o Evangelho mencionam o
tema do ficar acordado, aguardando o Senhor Jesus voltar em sua glória. No
Evangelho de Mateus, Jesus diz a seus ouvintes que fiquem despertos, pois não
sabem o dia em que o Senhor virá. Ele recorda que, nos dias de Noé, as pessoas
cuidavam de seus negócios até que veio o dilúvio e não perceberam os sinais da
catástrofe. Portanto, adverte seus discípulos de que eles devem estar preparados
para a vinda do Filho do Homem.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1.
I leitura (Is 2,1-5)
O texto de Isaías é um
oráculo que se encontra também no livro do profeta Miqueias, o que indica que
era uma fórmula conhecida nos círculos proféticos. O profeta anuncia que nova
ordem está para surgir. A escolha de Sião como morada do Senhor Deus, como
lugar de proteção especial, tem como objetivo ressaltar que a peregrinação das
nações não é para confrontos e destruição, como muitas vezes acontecia. O
motivo da grande assembleia é destruir as armas de violência e construir a paz.
A mensagem central do
texto é a busca da instrução na Lei do Senhor. O verdadeiro significado da Torá
é traduzir em ações concretas a retidão e a justiça; trata-se de um
comportamento ético-moral de quem busca trilhar os caminhos do Senhor. O
anúncio profético se projeta para uma realidade futura. A diferença entre o
presente e o futuro ideal aqui descrito é que, no presente, a Torá está sendo
rejeitada até mesmo pelo povo escolhido, enquanto, no futuro, todos irão pautar
sua vida na acolhida dos ensinamentos do Senhor. A paz aqui descrita exige
renunciar a todas as guerras, ao pensamento de conquista, à subjugação de um
povo por outro, e acolher, em sua inteireza, as normas prescritas pelo Senhor.
A visão do profeta é
sobre o monte onde está o templo do Senhor. Lá é sua morada, e o desejo do
Senhor é fazer todos os povos convergirem para ele. Ele proporcionará esse
encontro de paz entre todos os povos e raças. Assim, já não haverá divisões nem
inimizades. À medida que todos se reúnem ao redor do Senhor, escutam sua
Palavra e aprendem seus caminhos, as intrigas, divisões, guerras, hostilidades
e conflitos vão se desfazendo. Desse encontro harmonioso com Deus e entre as
nações resulta o progresso, o entendimento entre os povos, a cooperação, a
abundância e a paz.
2. II leitura (Rm 13,11-14a)
O apóstolo Paulo
provavelmente compôs a carta aos Romanos durante sua terceira viagem
missionária, quando estava em Corinto. Ele estava se preparando para partir
para Jerusalém a fim de levar a coleta que havia feito nas comunidades da Ásia
Menor em benefício da comunidade mãe, que passava por privações.
A mensagem do texto é uma
exortação escatológica dirigida aos cristãos de Roma; eles devem perceber que
já estão vivendo um tempo de graça. Aqueles que abraçaram a fé em Jesus Cristo
são chamados a expressar, por meio de suas ações, sua identidade cristã e
adotar uma conduta de discípulos do Senhor. Portanto, esse é o tempo para que
os cristãos vivam a própria fé, agindo por meio da caridade. É hora de acordar,
porque a salvação está próxima. Ao dizer que a noite avançou, Paulo está
sugerindo que não há muito tempo a separar os cristãos de seu destino final,
que é a comunhão com Cristo. A leitura proposta para este domingo exorta os
cristãos da comunidade de Roma a expressar o amor mútuo e permanecerem
vigilantes até a vinda do Senhor, quando ele concluirá a história da salvação,
no fim dos tempos.
Paulo, assim como seus
contemporâneos, certamente acreditava que a segunda vinda de Jesus Cristo seria
em um futuro não tão distante. Ele viria para concluir a história da salvação.
Havia grupos religiosos que faziam especulações em torno dessas expectativas,
mas o apóstolo não estava interessado em quando isso iria acontecer, e sim no
modo como os cristãos deveriam aguardar a segunda vinda do Senhor; quais eram
as consequências e o testemunho que deveriam dar no tempo dessa espera.
3. Evangelho (Mt 24,37-44)
O Evangelho deste
domingo é uma parte dos últimos discursos de Jesus antes da sua paixão e morte,
em Jerusalém. O tema central dessa seção é a vinda do Filho do Homem, um dos
títulos atribuídos ao Messias enviado por Deus. Sua chegada deve ser precedida
por uma série de atitudes que indicam a vigilância daqueles que aguardam o
Senhor.
Mateus contempla a
realidade de sua comunidade, que provavelmente já havia presenciado a
destruição do templo de Jerusalém. Preocupado com os sinais de abandono, de
acomodação e de esfriamento no testemunho, ele sente a necessidade de renovar o
compromisso de fé. É preciso reconstruir a esperança dos membros de sua
comunidade, fazendo uma retrospectiva da história da salvação. O discurso de
Jesus toma como exemplo o que aconteceu no tempo de Noé. Muitas pessoas tiraram
conclusões erradas e ignoraram os sinais que precederam a inundação, porque
estavam preocupadas somente com as coisas passageiras e foram completamente
descuidadas com as coisas que dizem respeito a Deus.
O evangelista explicita
que essa ignorância estúpida e culposa levou à destruição total de todos
aqueles que não foram atentos aos sinais dos tempos. Tomando fatos conhecidos
da história, o evangelista exorta a comunidade a permanecer vigilante e a
reconhecer os sinais que precedem a chegada de Deus. Essa exortação se
fundamenta na profunda convicção de que a vinda de Jesus Cristo é certa, ainda
que não aconteça em breve. Porém, enquanto tal momento não chega, é preciso
estarmos preparados para esse grande evento, vivendo de acordo com os
ensinamentos do Mestre e Senhor, pois ninguém sabe nem o dia nem a hora em que
tudo isso sucederá. O verdadeiro discípulo está sempre atento e vigilante,
preparado para acolher o Senhor.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O tempo do Advento é um
convite para estarmos vigilantes, preparados para acolher todas as
oportunidades de salvação que Deus nos oferece continuamente. Sua vinda ao
nosso encontro nos desafia a compartilhar algo com os irmãos e irmãs
empobrecidos, renunciando à avareza e ao egoísmo.
As leituras nos
apresentam algumas atitudes que impedem o ser humano de acolher o Senhor que
vem. Fazem pensar naqueles que orientam toda a sua vida para a busca de
satisfação pessoal e prazeres efêmeros, que vivem obcecados pelo trabalho
desenfreado e fundamentam sua felicidade nos bens materiais. Ou, então,
naqueles que desistem de lutar por uma vida mais digna, que vivem sem
perspectiva de um futuro melhor. As leituras falam do adormecer, do
acomodar-se, sem prestar atenção nas realidades mais essenciais. São uma
advertência para toda gente que ignora os sofrimentos dos irmãos e irmãs, sob a
justificativa de que as mazelas sociais são um problema das políticas públicas
e que não somos responsáveis pelo sofrimento alheio.
Neste tempo de
preparação para a celebração do nascimento do Senhor, a Igreja nos convida a
recentrar nossa vida, focando no essencial, naquilo que é mais importante,
reordenando nossas escolhas e prestando atenção nas oportunidades que o Senhor,
no dia a dia, nos oferece como a melhor forma de nos preparar para sua vinda.
Ir. Dra. Izabel Patuzzo
(IP)* Prof. Ms. Celso Loraschi (CL)** Ir. Dra. Zuleica Aparecida Silvano
(ZAS)***
*da
Congregação Missionárias da Imaculada, pime. Mestra em Aconselhamento Social
pela South Australian University e em Teologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora em Teologia Bíblica pela PUC-SP.
**mestre em Teologia Dogmática, com concentração em Estudos Bíblicos, pela
Faculdade Nossa Senhora da Assunção (SP),
é autor do roteiro do Evangelho de Todos os Fiéis Defuntos e do roteiro da
festa da Dedicação da Basílica do Latrão.
***religiosa paulina, mestra em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício
Instituto Bíblico (Roma) e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia (Faje), é autora do roteiro da festa da Sagrada
Família.
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/30-de-novembro-1o-domingo-do-advento-ano-a-ip/
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