Papa
Francisco Angelus, nov/2020
No trecho do Evangelho deste Domingo (cf. Mc 13, 24-32), o Senhor quer instruir os seus discípulos sobre os acontecimentos futuros. Em primeiro lugar, não é um discurso sobre o fim do mundo, mas, ao contrário, o convite a viver bem o presente, a estarmos vigilantes e sempre prontos para quando formos chamados a prestar contas da nossa vida. Jesus diz: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol ficará escuro, a lua não refletirá o seu esplendor; cairão os astros do céu”.
Estas palavras fazem-nos pensar na primeira página do Livro do Gênesis, a narração da criação: o sol, a lua, os astros, que desde os primórdios do tempo brilham na sua ordem e transmitem luz, sinal de vida, aqui são descritos na sua decadência, enquanto precipitam na escuridão e no caos, sinal do fim. Pelo contrário, a luz que há de resplandecer naquele último dia será única e nova: será a do Senhor Jesus, que virá na glória com todos os santos.
Naquele encontro veremos finalmente o seu Rosto na plena luz da Trindade; um Rosto resplandecente de amor, diante do qual também cada ser humano aparecerá na verdade total.
A história da humanidade, assim como a de cada um de nós, não pode ser entendida como uma simples sucessão de palavras e de acontecimentos sem sentido. Também não pode ser interpretada à luz de uma visão fatalista, como se tudo já estivesse preestabelecido, segundo um destino que subtrai todo o espaço de liberdade, impedindo que se façam escolhas que sejam fruto de uma verdadeira decisão.
Pelo contrário, no Evangelho de hoje, Jesus diz que a história dos povos e dos indivíduos tem um fim e uma meta a alcançar: o encontro definitivo com o Senhor. Não conhecemos o tempo nem as modalidades como isto acontecerá; o Senhor reiterou que “ninguém o sabe, nem os anjos do céu, nem sequer o Filho” (v. 32); tudo está conservado no segredo do mistério do Pai.
Todavia, conhecemos um princípio fundamental, com o qual nos devemos confrontar: “O céu e a terra passarão — diz Jesus — mas as minhas palavras não passarão” (v. 31). Eis o verdadeiro ponto crucial. Naquele dia, cada um de nós deverá compreender se a Palavra do Filho de Deus iluminou a própria existência pessoal, ou se lhe virou as costas, preferindo confiar nas próprias palavras.
Será mais do que nunca o momento no qual abandonar- -nos definitivamente ao amor do Pai e confiar-nos à sua misericórdia. Ninguém pode evitar este momento, nenhum de nós! Já não servirá a astúcia, que muitas vezes inserimos nos nossos comportamentos, para acreditar a imagem que queremos oferecer; do mesmo modo, já não poderá ser usado o poder do dinheiro e dos meios econômicos, com os quais pretendemos, com presunção, comprar tudo e todos.
Só disporemos daquilo que realizamos nesta vida, acreditando na sua
Palavra: o tudo e o nada daquilo que vivemos ou que deixamos de fazer. Só
levaremos conosco o que doarmos. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria, para
que a constatação da nossa provisoriedade na terra e do nosso limite não nos
faça afundar na angústia, mas nos chame à responsabilidade em relação a nós mesmos,
ao próximo e a todo o mundo.
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