sábado, 13 de novembro de 2021

SOBRE O FIM DOS TEMPOS


Papa Francisco Angelus, nov/2020

 

No trecho do Evangelho deste Domingo (cf. Mc 13, 24-32), o Senhor quer instruir os seus discípulos sobre os acontecimentos futuros. Em primeiro lugar, não é um discurso sobre o fim do mundo, mas, ao contrário, o convite a viver bem o presente, a estarmos vigilantes e sempre prontos para quando formos chamados a prestar contas da nossa vida. Jesus diz: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol ficará escuro, a lua não refletirá o seu esplendor; cairão os astros do céu”.


Estas palavras fazem-nos pensar na primeira página do Livro do Gênesis, a narração da criação: o sol, a lua, os astros, que desde os primórdios do tempo brilham na sua ordem e transmitem luz, sinal de vida, aqui são descritos na sua decadência, enquanto precipitam na escuridão e no caos, sinal do fim. Pelo contrário, a luz que há de resplandecer naquele último dia será única e nova: será a do Senhor Jesus, que virá na glória com todos os santos.


Naquele encontro veremos finalmente o seu Rosto na plena luz da Trindade; um Rosto resplandecente de amor, diante do qual também cada ser humano aparecerá na verdade total.


A história da humanidade, assim como a de cada um de nós, não pode ser entendida como uma simples sucessão de palavras e de acontecimentos sem sentido. Também não pode ser interpretada à luz de uma visão fatalista, como se tudo já estivesse preestabelecido, segundo um destino que subtrai todo o espaço de liberdade, impedindo que se façam escolhas que sejam fruto de uma verdadeira decisão.


Pelo contrário, no Evangelho de hoje, Jesus diz que a história dos povos e dos indivíduos tem um fim e uma meta a alcançar: o encontro definitivo com o Senhor. Não conhecemos o tempo nem as modalidades como isto acontecerá; o Senhor reiterou que “ninguém o sabe, nem os anjos do céu, nem sequer o Filho” (v. 32); tudo está conservado no segredo do mistério do Pai.


Todavia, conhecemos um princípio fundamental, com o qual nos devemos confrontar: “O céu e a terra passarão — diz Jesus — mas as minhas palavras não passarão” (v. 31). Eis o verdadeiro ponto crucial. Naquele dia, cada um de nós deverá compreender se a Palavra do Filho de Deus iluminou a própria existência pessoal, ou se lhe virou as costas, preferindo confiar nas próprias palavras.


Será mais do que nunca o momento no qual abandonar- -nos definitivamente ao amor do Pai e confiar-nos à sua misericórdia. Ninguém pode evitar este momento, nenhum de nós! Já não servirá a astúcia, que muitas vezes inserimos nos nossos comportamentos, para acreditar a imagem que queremos oferecer; do mesmo modo, já não poderá ser usado o poder do dinheiro e dos meios econômicos, com os quais pretendemos, com presunção, comprar tudo e todos.


Só disporemos daquilo que realizamos nesta vida, acreditando na sua Palavra: o tudo e o nada daquilo que vivemos ou que deixamos de fazer. Só levaremos conosco o que doarmos. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria, para que a constatação da nossa provisoriedade na terra e do nosso limite não nos faça afundar na angústia, mas nos chame à responsabilidade em relação a nós mesmos, ao próximo e a todo o mundo.

 

http://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-45-b-62-33o-domingo-do-tempo-comum-v03.pdf

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