Cristo
que é Rei do Universo
Como Jesus pode ser Rei de um mundo que não aceita
ser o Seu reinado?
“O
Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria,
a força e a honra. A Ele a glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6).
Estas palavras são da Antífona de Entrada da Solenidade, ocasião de clausura do
ano litúrgico chamado A em que nos acompanhou o Evangelista São Marcos, e dão o
sentido profundo desta celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Rei do Universo.
Uma
pergunta que pode vir – deveria vir! – ao nosso coração é esta: Jesus é Rei?
Como pode ser Rei, num mundo paganizado, num mundo pós-cristão, num mundo que
esqueceu Deus, num mundo que ridiculariza a Igreja por pregar o Evangelho e
suas exigências? Pelo menos do Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o mundo
não quer saber. Todas as certezas, todas as esperanças parecem esfarelar-se
diante de nós.
Como,
então, Jesus pode ser Rei de um mundo que não aceita ser o Seu reinado? E, no
entanto, hoje, no último Domingo deste ano litúrgico de 2018, ao final de um
ciclo de tempo, voltamo-nos para o Cristo, e O proclamamos Rei: Rei de nossas
vidas, Rei da história, Rei dos cosmo, Rei do universo. A Igreja canta, neste
dia, na sua oração: “Cristo Rei, sois dos séculos Príncipe,/ Soberano e Senhor
das nações!/ Ó Juiz, só a vós é devido/ julgar mentes, julgar corações”.
O
texto do Apocalipse citado no início dá o sentido da realeza de Jesus: Ele é o
Cordeiro que foi imolado. É Rei não porque é prepotente, não porque manda em
tudo, até suprimir nossa liberdade e nossa consciência. É Rei porque nos ama,
Rei porque Se fez um de nós, Rei porque por nós sofreu, morreu e ressuscitou,
Rei porque nos dá a Vida. Ele é aquele Filho do Homem da primeira leitura (Ap 1,5-8):
“Foram-Lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas O
serviam: Seu poder é um poder eterno que não Lhe será tirado, e Seu Reino, um
Reino que não se dissolverá”. Com efeito, o reinado de Cristo não tem as
características dos reinados do mundo.
Ele
é Rei não porque Se distancia de nós, mas precisamente porque Se fez “Filho do
homem”, solidário conosco em tudo. Ele experimentou nossas pobrezas e
limitações; Ele caminhou pelas nossas estradas, derramou o nosso suor,
angustiou-Se com nossas angústias e experimentou tantos dos nossos medos. Ele
morreu como nós, de morte humana, tão igual à nossa. Ele reina pela
solidariedade.
Ele
é Rei porque nos serviu: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Serviu com toda a Sua
existência, serviu dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós. Ele
reina pelo amor.
Ele
é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através Dele e para Ele” (Cl 1,15); tudo
caminha para Ele e, Nele, tudo aparecerá na sua verdade: “Quem é da verdade,
ouve a Minha voz”. É Nele que o mundo será julgado. A televisão, os sites e
blogs, os canais da internet, os modismos, os sabichões de plantão podem dizer
o que quiserem, ensinarem a verdade que lhes forem conveniente. Mas, ao final,
somente o que passar pelo teste de Cruz do Senhor resistirá. O resto, é resto:
não passa de palha. Ele reina pela verdade.
Ele
é Rei porque é o único que pode garantir nossa vida; pode fazer-nos felizes
agora e pode nos dar a vitória sobre a morte por toda a eternidade: “Jesus
Cristo é a testemunha fiel e verdadeira, o Primogênito dentre os mortos, o
soberano dos reis da terra”. Ele reina pela vida.
Sim,
Jesus é Rei: “Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo!” (Jo 18,37)
Mas Seu Reino nada tem a ver com o triunfalismo dos reinos humanos – de direita
ou de esquerda! Nunca nos esqueçamos que Aquele que entrou em Jerusalém como
Rei, veio num burrico, símbolo de mansidão e serviço. Como coroa teve os
espinhos; como cetro, uma cana; como manto, um farrapo escarlate; como trono, a
cruz. Se quisermos compreender a realeza de Cristo, é necessário não esquecer
isso! A marca e o critério da realeza de Cristo é e será sempre, a Cruz!
Hoje,
assistimos, impressionados, a secularização do mundo, e perguntamos: onde está
a realeza do Cristo? – Onde sempre esteve: na Cruz: “O Meu Reino não é deste
mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam para que Eu
não fosse entregue aos judeus. Mas o Meu Reino não é daqui”(Jo 18,36). O Reino
de Jesus não é segundo o modelo deste mundo, não se impõe por guardas, pela
força, pelas armas: Meu Reino não é daqui! É um Reino que vem do mundo do amor
e da misericórdia de Deus, não das loucuras megalomaníacas dos seres humanos.
E, no entanto, o Reino está no mundo: “Cumpriu-se o tempo; o Reino de Deus está
próximo” (Mc 1,15); “Se é pelo Dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o
Reino de Deus já chegou para vós” (Lc 11,20).
O
Reino que Jesus trouxe deve expandir-se no mundo! Onde ele está? Onde estiverem
o amor, a verdade, a piedade, a justiça, a solidariedade, a paz. O Reino do
Cristo deve penetrar todos os âmbitos de nossa existência: a economia, as
relações comerciais, os mercados financeiros, as relações entre pessoas e povos,
entre membros da família e vizinhos, nossa vida afetiva, nossa moral pessoal e
comunitária.
Celebrar
Jesus Cristo Rei do Universo é proclamar diante do mundo que somente Cristo é o
sentido último de tudo e de todos, que somente Cristo é definitivo e absoluto.
Proclamá-Lo Rei é dizer que não nos submetemos a nada nem a ninguém, a não ser
ao Cristo; é afirmar que tudo o mais é relativo e menos importante quando
confrontado com o único necessário, que é o Reino que Jesus veio trazer. Num
mundo que deseja esvaziar o Evangelho, tornando Jesus alguém inofensivo e
insípido, um deus de barro, vazio e sem utilidade, proclamar Jesus como Rei é
rejeitar o projeto secularista do mundo atual e proclamar: “O Cordeiro que foi
imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a
honra. A Ele a glória e poder através dos séculos”. Amém (Ap 5,12; 1,6).
https://pt.aleteia.org/2021/11/22/cristo-que-e-rei-do-universo/
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