IX- REFLEXÃO DOMINICAL III
QUANDO ME SINTO FRACO
A
religião não nos livra de todos os problemas da vida. Parece estranho afirmar
isso, pois há uma ideia corrente segundo a qual a fé e a prática religiosa nos
livram de todos os problemas e sofrimentos. Pelo menos, não é isso que devemos
esperar da prática da fé cristã. Esta, nos oferece uma base de vida para
compreendermos melhor a vida e enfrentarmos nossas dificuldades e problemas;
ela nos oferece, isso sim, luz e força insuperáveis no caminho da vida e um
horizonte de esperança e de felicidade plena. As leituras de hoje nos ajudam a
compreender melhor isso. Jesus, depois de haver pregado em muitos lugares e
feito milagres estupendos, volta a Nazaré, onde havia crescido. Mas ali, onde o
haviam visto crescer e talvez até fossem colegas dele na infância e na
adolescência, não creram nele e não foram capazes de ver nele o enviado de
Deus, mas apenas um como eles. Jesus deixou sua aldeia e continuou a missão em
outras comunidades. A decepção por não ter sido reconhecido em sua terra e
entre seus parentes não o frustrou nem desanimou. Na Igreja, nem tudo é
sucesso. Jesus não prometeu à Igreja sucesso, prosperidade e domínio. São
Paulo, na 2ª Carta aos Coríntios, apesar de reconhecer os grandes dons que Deus
lhe fez para o exercício da missão, admite que tem fraquezas e não tem sucesso
em sua missão por toda parte. Ele sofre com suas “fraquezas, injúrias, necessidades,
perseguições e angústias”. Mas entende que isso lhe acontece para não se
ensoberbecer e enfrenta tudo por amor a Cristo e pelo Evangelho. “Pois quando
sou fraco, então é que sou forte.” É perigoso esquecer que a obra é de Deus e a
força da Igreja está na ação do Espírito Santo, e não na eficácia das nossas
palavras, estratégias e métodos. Também na primeira leitura deste Domingo
aparece essa mesma mensagem. O profeta Ezequiel é enviado a um povo rebelde, de
cabeça dura e coração de pedra, que se afastou de Deus. Deus o envia a
profetizar, “quer te escutem, quer não”. Deus não promete sucesso ao profeta,
mas apenas o encarrega de falar. O cumprimento dos nossos deveres não deve
estar condicionado ao êxito, mas ao cumprimento humilde e consciencioso dos
nossos deveres. O fruto virá mediante a acolhida da ação do Espírito Santo nos
corações. A “religião da eficiência” é uma tentação perigosa e pode nos
alcançar também, levando-nos a pensar que somos nós, e não Deus, o centro de
tudo. Olhemos para o exemplo de Jesus: humanamente, pareceria que fracassou em
muito, sobretudo com sua condenação à morte de cruz. Mas não foi assim. Paulo
raramente teve êxito imediato em suas missões. Mas o fruto veio com o tempo. Na
vida dos santos, vemos a mesma coisa: não andaram atrás do sucesso, mas do
humilde cumprimento da vontade de Deus e dos próprios deveres.
Dom Odilo Pedro
Scherer ,Arcebispo de São Paulo
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