VIII- REFLEXÃO
DOMINICAL II
"NAZARÉ DAS NOSSAS ILUSÕES"
É bonito quando vemos alguém famoso causando
admiração, outro dia em uma festa de casamento, que acontecia em um belo salão,
adentrou um artista de grande talento, contratado pela noiva, representando o
Elvis Presley e era de se espantar em ver como os seus trejeitos, lembravam
realmente o rei do rock, todos os convidados se aproximaram para umas fotos, as
mulheres queriam acompanhá-lo na dança ousada, e até os homens se admiravam e a
sua presença inusitada, surpreendeu a todos.
Quando Jesus chegou a sua “terrinha” de
Nazaré, acompanhado dos discípulos, deve ter causado um verdadeiro “rebuliço”,
pois a fama de suas pregações e milagres já tinha chegado por ali, e no sábado,
como todo piedoso judeu, foi á celebração da palavra da comunidade, onde
qualquer pessoa adulta poderia partilhar o ensinamento sobre a Palavra e Jesus,
usando desse direito, começou a pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha ouvido uma
pregação feita com tanta sabedoria, que superava o ensinamento dos Mestres da
Lei e Fariseus, imaginemos que na comunidade, algum ministro da palavra pregue
melhor do que o padre... E com o estudo teológico acessível aos leigos, isso
hoje não seria novidade. Aquilo que causa muita admiração, também logo acabará
despertando inveja e ciúmes.
Basta que olhemos para os nossos trabalhos
pastorais, onde o carisma das pessoas não deveria jamais perturbar o coração de
ninguém, ao contrário, deveria motivar um hino de louvor, por Deus ter dado a
alguém um carisma tão belo, colocado a serviço da comunidade. Mas logo surgem
os questionamentos maldosos: Como é que ele faz isso? Onde aprendeu? Quem o
ensinou, de onde é que vem todo esse saber? Será que o padre o autorizou? (esta
última coloquei por minha conta) E a admiração, contaminada por sentimentos de
inveja, vai logo se transformando em desconfiança aumentando o questionamento:
“Quem ele pensa que é para falar assim com a gente? Será que ele não se
enxerga? E ainda tem gente que o aplaude...” Os que não gostam muito do padre,
logo vão afirmar que o sujeito faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão
inventar alguma coisa para que o padre “corte a asinha” do tal.
Jesus deve ter sentido uma frustração muito
grande, quando percebeu sentimentos tão mesquinhos em meio á comunidade onde
cresceu e fez a sua catequese. Duvidavam da sua sabedoria, e talvez para
provocá-lo, queriam que ele resolvesse algum problema da comunidade, “Se ele
endireitar a comunidade, daí eu acredito”. Às vezes também nos iludimos quando
queremos que alguém que fala “certos milagres”, talvez o cooperador, o
coordenador do grupo, o catequista, o ministro da palavra, quem sabe o coitado
do Diácono ou o Padre, que têm autoridade. Penso que na sinagoga de Nazaré foi
mais ou menos assim que os fatos ocorreram, queriam jogar tudo nas costas de
alguém, e como Jesus tinha fama de ser o Messias...
As pessoas, quando enxergam algo de
extraordinário no carisma de alguém, começam a fazer do sujeito uma referência
importante, acham que a sua oração é especial, que um toque de sua mão poderosa
pode realizar curas prodigiosas, e em pouco tempo, a propaganda é tanta, que o
tal não pode mais sair as ruas que é logo procurado para resolver os mais
complicados problemas, inclusive de relacionamento entre as pessoas, apaziguar
casais brigados, aconselhar jovens, e assim a sua palavra se torna poderosa e
em conseqüência passa a ter poder religioso paralelo, e se na comunidade não
houver um espaço para ele atuar, terão de criar um, pois ele precisa ser o
centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo só para ele,
para bater de frente com os Doutores da lei, escribas e fariseus, e como ele
pertencia a uma das famílias do local, a ponto de sua mãe e seus irmãos serem de
todos conhecidos, começaram a vê-lo como um vulgar, que nada de extraordinário
tinha feito em Nazaré, para que merecesse toda aquela fama.
Na verdade, Jesus não quis assumir o papel de
“Salvador da Pátria”, diferente de muitos cristãos, que se julgam o máximo
naquilo que fazem, e pensam que sem eles, a comunidade estaria perdida. Essa
rejeição á ele, suas obras e ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria
conseqüências muito trágicas na cruz do calvário, tudo porque suas palavras
anunciavam um reino novo, que exigia uma total renovação e mudança de vida.
Quando a pregação que ouvimos, serve para o
vizinho, ou para o marido ou a esposa, ou quem sabe para os filhos, ou para o
chefe ou o colega de trabalho, prestamos muita atenção e vibramos, só em pensar
que aquelas verdades atingem em cheio a pessoa em quem pensamos. Porém, quando
a pregação toca o nosso coração e nos motiva a mudar o nosso jeito de pensar ou
de agir, temos duas reações, ou reconhecemos a legitimidade da palavra e
abrimos o nosso interior, para uma conversão sincera, ou então rejeitamos o
pregador e passamos a querer vê-lo pelas costas.
Na sinagoga de Nazaré foi assim, e nas nossas
comunidades, não é muito diferente. Quem prega mudanças de mentalidade e
conduta, vai sempre arrumar uma bela de uma encrenca. Enfim, o Jesus que há
dentro de nós, criado pelas nossas fantasias, ou fruto de nossas ideologias
sociais ou políticas, não coincide com esse Jesus, Profeta de Nazaré, Ungido de
Deus. E o pior, é que projetamos tudo isso nas pessoas que lideram a
comunidade, nos cooperadores, nos coordenadores, nos ministros, nas
catequistas, nos padres e diáconos e assim vai. Um dia, basta um
desentendimento mais sério e o nosso Jesus idealizado “vai pro espaço” com a
pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em nossa
fé, mais nos adequamos á comunidade aceitando-a como ela é, quanto mais nos
iludimos com o Jesus da nossa fantasia, mais difícil será vivermos em
comunidade, aceitando as pessoas do jeito que elas são. Daí, como em Nazaré,
nenhum milagre acontece, por causa dessa fé infantil e ilusória...
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia
Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0138.htm#msg01
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