sexta-feira, 5 de julho de 2024

IX- REFLEXÃO DOMINICAL III QUANDO ME SINTO FRACO

 

IX- REFLEXÃO DOMINICAL III

QUANDO ME SINTO FRACO

 A religião não nos livra de todos os problemas da vida. Parece estranho afirmar isso, pois há uma ideia corrente segundo a qual a fé e a prática religiosa nos livram de todos os problemas e sofrimentos. Pelo menos, não é isso que devemos esperar da prática da fé cristã. Esta, nos oferece uma base de vida para compreendermos melhor a vida e enfrentarmos nossas dificuldades e problemas; ela nos oferece, isso sim, luz e força insuperáveis no caminho da vida e um horizonte de esperança e de felicidade plena. As leituras de hoje nos ajudam a compreender melhor isso. Jesus, depois de haver pregado em muitos lugares e feito milagres estupendos, volta a Nazaré, onde havia crescido. Mas ali, onde o haviam visto crescer e talvez até fossem colegas dele na infância e na adolescência, não creram nele e não foram capazes de ver nele o enviado de Deus, mas apenas um como eles. Jesus deixou sua aldeia e continuou a missão em outras comunidades. A decepção por não ter sido reconhecido em sua terra e entre seus parentes não o frustrou nem desanimou. Na Igreja, nem tudo é sucesso. Jesus não prometeu à Igreja sucesso, prosperidade e domínio. São Paulo, na 2ª Carta aos Coríntios, apesar de reconhecer os grandes dons que Deus lhe fez para o exercício da missão, admite que tem fraquezas e não tem sucesso em sua missão por toda parte. Ele sofre com suas “fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias”. Mas entende que isso lhe acontece para não se ensoberbecer e enfrenta tudo por amor a Cristo e pelo Evangelho. “Pois quando sou fraco, então é que sou forte.” É perigoso esquecer que a obra é de Deus e a força da Igreja está na ação do Espírito Santo, e não na eficácia das nossas palavras, estratégias e métodos. Também na primeira leitura deste Domingo aparece essa mesma mensagem. O profeta Ezequiel é enviado a um povo rebelde, de cabeça dura e coração de pedra, que se afastou de Deus. Deus o envia a profetizar, “quer te escutem, quer não”. Deus não promete sucesso ao profeta, mas apenas o encarrega de falar. O cumprimento dos nossos deveres não deve estar condicionado ao êxito, mas ao cumprimento humilde e consciencioso dos nossos deveres. O fruto virá mediante a acolhida da ação do Espírito Santo nos corações. A “religião da eficiência” é uma tentação perigosa e pode nos alcançar também, levando-nos a pensar que somos nós, e não Deus, o centro de tudo. Olhemos para o exemplo de Jesus: humanamente, pareceria que fracassou em muito, sobretudo com sua condenação à morte de cruz. Mas não foi assim. Paulo raramente teve êxito imediato em suas missões. Mas o fruto veio com o tempo. Na vida dos santos, vemos a mesma coisa: não andaram atrás do sucesso, mas do humilde cumprimento da vontade de Deus e dos próprios deveres.

Dom Odilo Pedro Scherer ,Arcebispo de São Paulo

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-48b-41-14o-domingo-do-tempo-comum.pdf

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