XV- DICA-REFLEXÃO DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO
Lindolivo
Soares Moura(*)
Olá, tudo
bem? Imaginei que esta "Dica-reflexão" enviada para minha neta-filha
adolescente talvez possa ser útil para você e/ou alguém que você ama.
Oi minha
linda, como vai você? Aproveitando e curtindo muito esses dias de férias e de
descanso? Espero que sim. Nosso corpo e nossa mente, assim como o nosso
coração, requerem cuidados especiais. Afinal eles são o nosso maior patrimônio,
e tudo mais em nossa vida, direta ou indiretamente, depende deles para poder
funcionar bem. Pense na vida como uma "longa viagem" que estamos
fazendo - longa para uns, para outros nem tanto. De tempos em tempos precisamos
parar para abastecer, calibrar os pneus, jogar uma água nos vidros e retrovisores,
e ir ao "toilette" se preciso for. E o que é mais importante: dirigir
sem pressa, com cuidado e atenção, visto que vida e saúde é o que interessa, e
para com todo o resto não há que se ter pressa. Pelo contrário, desde cedo
aprendemos que a pressa - exceto quando absolutamente necessária - é uma das
grandes inimigas da perfeição. E ainda que eu não aprecie muito essa
palavrinha, "perfeição", o certo é que, como diz o ditado, "o
apressado acaba comendo cru", e depois se queixa de que está com dor no
estômago. Além do mais, quem vive apressado e acelerando a maior parte do
tempo, é sério candidato a contrair um dos piores males que assolam a vida
moderna: a ansiedade, considerada pelos entendidos a doença ou o "mal do
século"; mais até que a depressão. A "dica" de hoje reflete um
pouco sobre isso, e oferece algumas sugestões simples de como se prevenir
contra essa planta venenosa que vem "intoxicando" a vida de muita
gente. Preparada? Vamos lá, então. CUIDADOS
E ATITUDES QUE NOS AJUDAM A MANTER LONGE O FANTASMA DA ANSIEDADE - E POR
EXTENSÃO, O ESTRESSE E A DEPRESSÃO.
Ansiedade,
estresse, e depressão, formam com certeza a tríade de males que mais corroem
nossa autoestima e ameaçam nossa qualidade de vida. Juntos, então, o estrago
pode ser incalculável. Dos três, a ansiedade é de longe a mais invasiva e
aquela com a qual é mais difícil de se lidar. Invasiva porque invade
praticamente todas as áreas, fases e situações de nossa vida, sem ser convidada
e sem sequer pedir licença; a mínima desatenção e pronto: lá está ela ocupando
todos os cantos e recantos que encontra pela frente. Entrar numa crise de
ansiedade é simples e fácil, mas sair só Deus sabe o quanto é difícil. Grande
parte das pessoas, provavelmente a maioria, vão conviver com ela pela vida
toda; "até que a morte os separe", como se diz no altar do Senhor,
esperando e rezando para que isso não aconteça. E sabe-se lá Deus se essa união
"instável" e indesejada - refiro-me ao nosso vínculo com a ansiedade,
e não àquele que se origina da "união estável" entre o casal - não
vai acabar perdurando por toda a eternidade. Dizíamos da dificuldade em se
lidar com a ansiedade porque, ao contrário do que acontece com o medo, que
quase sempre nos surpreende "cara a cara" com a ameaça e o perigo
reais e concretos , com a ansiedade é diferente: seus motivos e suas causas
costumam ser genéricos, discretos, líquidos e incertos, e portanto mais
difíceis de serem observados. Bauman, Zigmunt Bauman, o mentor da chamada
"modernidade líquida", diria que o medo é mais sólido, mais condensado,
ao passo que a ansiedade é mais líquida, mais fluída, pouco perceptível e
consequentemente mais difícil de ser diagnosticada e tratada. O medo sólido
paralisa, por vezes até incapacita; já a ansiedade liquida e fluída funciona
como uma espécie de "estimulante" que transforma as pessoas parecidas
com uma colônia de formigas, caminhando apressadas de um lado para o outro, sem
porém saber exatamente para onde, com que objetivo, e onde se encontra a porta
de saída; uma espécie de "mortos-vivos". Obviamente tudo isso acaba
cansando, estressando, e por fim colocando a pessoa em rota de colisão com
outro mal não menos perigoso: a depressão. Mergulhar na compulsão acaba sendo
apenas uma questão de tempo: compulsão por comida, bebida, compras, acumulação,
e por tudo que sinalize com uma luz no fim do túnel. O Brasil é apontado hoje,
pela Organização Mundial da Saúde, como o país mais ansioso do mundo; de
quebra,t o quinto em depressão, com as últimas pesquisas prevendo que ao final
das próximas duas décadas nada menos que setenta por cento da nossa população -
vou repetir: setenta por cento - será de obesos e/ou pessoas acima do peso. Mas
se mundialmente não somos conhecidos como grandes "comilões" -
existem outros povos bem mais especializados em "compulsão alimentar"
do que nós - há que se reconhecer que a ansiedade vem exercendo papel
determinante nesse triste quadro e nessa lamentável estatística. Torna-se
portanto urgente pensar com mais atenção e mais responsabilidade sobre isso.
Pois bem,
minha linda, é possível que você esteja se perguntando se há alguma maneira
eficaz de impedir que a ansiedade continui invadindo e colocando cada vez mais
em risco as nossas vidas. Do ponto de vista "coletivo", e sob o
prisma da "intervenção", essa é reconhecidamente uma tarefa difícil;
já do ponto de vista "individual", e pelo viés da
"prevenção", nem tanto. Como prometido, aí vão algumas dicas simples
de como minimizar e tentar manter a ansiedade o mais distante possível. Sempre
lembrando que a prevenção é e será sempre o melhor remédio; é justamente esse o
significado do seguinte ditado que ouvimos com frequência: "melhor
prevenir que remediar". Atenta, portanto, para com as sugestões a seguir.
Primeira dica: faça sempre uma coisa de cada vez, sem abrir mão desse princípio.
Nosso cérebro tem reconhecida dificuldade em desempenhar mais de uma tarefa ou
função ao mesmo tempo, sobretudo quando o que precisa ser feito exige foco e
atenção. Dirigir e manusear o celular, por exemplo, nem pensar; é prelúdio
certo de tragédia, morte e vidas perdidas. E não se esqueça: para quem morre ou
fica tetraplégico, pouca ou nenhuma diferença faz se houve dolo - isto é,
intenção - ou apenas culpa. Portanto quando estiver comendo, apenas coma,
quando estiver dormindo, apenas durma, quando estiver estudando, apenas estude,
quando estiver passeando, apenas passeie, e assim por diante. Seu cérebro
agradece e você não abre brecha para que a ansiedade possa entrar e fazer a
festa. Segunda dica: se você não nasceu com tendência para ser organizada, exercite-se
o quanto for necessário até que esse objetivo seja alcançado. A procrastinação
- um somatório de preguiça, irresponsabilidade e desorganização - é uma das
principais portas de entrada para a ansiedade. Mais cedo ou mais tarde você
será cobrada, se sentirá pressionada, e querendo ou não terá que cumprir várias
tarefas em um reduzido espaço de tempo. Não existe melhor recurso para vencer a
procrastinação do que "aprendendo como ser" e efetivamente sendo ou
"se tornando" uma pessoa organizada; tanto por fora como por dentro,
é importante que se diga. Em relação a isso, aqui vai um segredinho à parte,
que até psicólogos e orientadores desconhecem: comece sempre se organizando
"por fora", e pouco a pouco você se surpreenderá ao verificar que suas
ideias e seus pensamentos, assim como suas emoções e seus sentimentos, começam
como que por magia ou milagre a se organizar "por dentro". Agradeço
essa preciosa lição a um mestre oriental mundialmente conhecido por OSHO:
"Meu caminho: o caminho das nuvens brancas". Terceira dica: aprenda a
lidar com as expectativas que os outros depositam sobre você; esperar que suas
queixas e reclamações farão com que eles a deixem em paz, com liberdade e
autonomia para administrar sua própria vida, seria um grave erro; na melhor das
hipóteses, uma doce ilusão. Perceba que há dois tipos básicos de expectativas:
aquelas que nascem de nossa segurança e de nossa confiança em nós mesmos, na
vida e nos demais - e se transformarão em estímulo verdadeiro e incentivo
genuíno para aqueles que amamos - e aquelas que nascem de nossas dúvidas, de
incertezas e de nossa insegurança - e se converterão em pressão e cobrança,
apesar de nossas melhores intenções. Consciente dessa diferença, não espere que
os outros diminuam e menos ainda retirem as expectativas que inevitavelmente
depositarão sobre você; boas ou más, favoráveis ou não, eles sempre as terão. O
que precisamos é apenas aprender a lidar com elas, sem permitir que se
transformem para nós em porta de entrada para a ansiedade, o estresse e a depressão.
Contribuímos para a mudança dos outros e do mundo mudando a nós mesmos, e não o
contrário; poucos pensamentos são tão eficazes e produtivos como esse. Pena que
nem todos conseguem enxergar dessa forma, e menos ainda estão dispostos a
investir nessa estratégia de convivência. Quarta dica: aprenda o máximo que
puder com os demais, mas sem querer competir com ninguém. Não há armadilha mais
traiçoeira para a autoestima e o auto-respeito do que aquilo que Rubem Alves,
com muita propriedade diga-se de passagem, chamava de "demônio da
comparação", irmão gêmeo do não menos diabólico "espírito de
competição". E saiba desde já que provavelmente não será bem isso que seus
professores, colegas e educadores - quando não, seus próprios pais e cuidadores
- desde cedo lhe ensinarão. E caso você venha a encontrar sentido e razão para
o que ora lhe digo, lembre-se de que caberá a você ensinar a eles essa lição.
Seu potencial, gravado por Deus em sua mente e em seu coração, esse sim, deverá
ser sempre seu guia e seu principal referencial. É para ele que você deverá se
voltar quando se perguntar se deve acelerar, diminuir, ou manter o ritmo, sem
se esquecer de que a vida, assim como toda longa maratona, mais que velocidade
e aceleração requer acima de tudo constância e equilíbrio. Quinta e última dica - pelo menos por enquanto:
exercite-se tanto quanto você puder na prática do "desapego".
Palavrinha mágica e poderosa, essa! Os orientais o têm como um dos mais
importantes objetivos da vida a ser perseguido. Um jovem discípulo pergunta ao
seu mestre: "mestre, dizei-me: o que leva alguém a pecar, mesmo contra a
sua vontade, e como que por compulsão?". O mestre responde: "é o
apego; o apego nascido da paixão. O apego a tudo consome e corrompe. É o maior
inimigo do homem". E não existe melhor maneira de se lidar com o apego
senão "desapegando-se". Simples assim!? Simples assim! E para que a
ânsia de acumular que o apego traz consigo, não acabe se transformando em
compulsão, é preciso exercitar-se na prática do desapego até que isso se
transforme num hábito. A compulsão, se você observar bem, não é mais que uma
"escrava" da ansiedade; o desapego, ao contrário, seu senhor e seu
caminho de libertação. Cada gesto de desapego por mais simples que seja,
seguido de partilha e solidariedade, irá fazendo de você uma pessoa cada vez
melhor. E a mágica ou magia que há em tudo isso é esta: cada gesto de desapego
vai afastando de você, cada vez para mais longe, o fantasma da ansiedade, na
exata proporção em que a acumulação a
deixa mais próxima dela. Nas palavras de Bauman, "a eterna infelicidade e
o contínuo aumento da ansiedade dos consumidores desses tempos líquidos,
derivam do excesso e não da falta de escolhas". Cuide-se bem e não se
esqueça: a melhor forma de lidar com esse e com qualquer outro tio de
"fantasma", é criando e mantendo um ambiente limpo e arejado tanto
fora como dentro de você; a isso os orientais chamam de "drala".
Fantasmas, duendes e assombrações - por eles chamados de "anti-drala"
- se sentem terrivelmente incomodados nesse tipo de ambiente limpo e arejado;
todo caçador de fantasmas sabe disso. Um beijo nesse coração de ouro. No seu e
nos de Bia, Ben, Fran e Alê. AMO MUITO
TODOS E CADA UM DE VOCÊS.
(*) Reflexão enviada de Vitória(ES)
por whasapp.
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