X- REFLETINDO
COM LINDOLIVO SOARES MOURA ( * )
"FILOSOFIAS, PSICOLOGIAS E TEOLOGIAS DE UM E NOVENTA E NOVE AO
ALCANCE DE TODOS: POR QUAIS RAZÕES RECEBEMOS TANTA COISA EM DOSE DUPLA?"
"Já
tentou plantar bananeir com uma perna
só?
O Saci-Pererê consegue. Por
que você não!? [L.S.M.]
Passamos
grande parte de nossa vida totalmente "in-conscientes" do porquê
somos quem somos, e não somos diferentes do que somos. Tampouco nos perguntamos
por quais razões os outros são quem são, e não são como a gente. Nessa mesma
linha de pensamento, muitos de nós jamais se perguntaram por quais razões temos
dois olhos, duas orelhas, dois braços, duas pernas, dois rins, dois pulmões, e
assim por diante, e não apenas um. Acabamos operando, psíquica, mental e
espiritualmente, como operam ou trabalham muitos de nossos órgãos e membros:
autônoma e inconscientemente. Isso nos impede de perceber a grandeza e a
riqueza de cada um do órgãos, membros e sentidos que temos, e que atuam, ainda
que automaticamente, harmônica e sincronisticamente em benefício do todo, que é
o nosso corpo ou o nosso organismo como um todo. Decidi navegar por alguns
desses órgãos e sentidos que nos foram ofertados "free", de presente,
gratuitamente, e, curiosamente, em dose dupla. Ora falando sério, ora com certa
dose de humor passeando pela mente, ora fazendo uso de ambos os recursos ao
mesmo tempo, veja com seus próprios olhos - e demais sentidos, naturalmente
- no que é que acabou resultando,
finalmente.
A
[AMBI]VALÊNCIA DOS OLHOS: por quais razões temos dois olhos e não apenas um? Já
pensou no assunto, ou não? Se não, pare um minuto e reflita comigo. Com dois
olhos, além de não sermos caolhos de nascença, temos o privilégio de ver a
beleza do mundo numa espécie de "tri-dimensão", que certamente quem,
sendo caolho de nascença ou não, não consegue tal proeza. Se você acha que é
pouca coisa, essa espécie de "ambi-valência" de quem tem dois olhos e
não é caolho, e está feliz da vida com seus dois olhos - exceção feita a quem
nasceu com vocação para ser pirata - e jamais reconheceu e agradeceu por tamanha
benção, experimente então tapar um dos seus olhos com uma das mãos, e dessa
forma olhar fixamente para o rosto da
pessoa que você mais ama. O quê!? Você nunca fez isso, nem tendo dois olhos!?
Não acredito! Então agora você tem uma desculpa - das mais esfarrapadas que eu
já vi, confesso e reconheço - para fazer exatamente isso. Diga que foi
exercício recomendado pelo seu psicólogo; se não estiver sendo acompanhado por
um, no exato momento, diga que foi penitência dada pelo padre de sua
preferência; ou se nem à Igreja você costuma ir - confessar, menos ainda -
ofereça uma desculpa mais esfarrapada ainda, e diga que você está somente
tentando se livrar de um bendito cisco,
que de repente veio pousar justamente no seu olho direito. Assim, além de
aprender a valorizar muito mais os dois olhos que você tem - ou melhor, que
Deus, a vida, ou a natureza, lhe deram de presente - seu companheiro ou
companheira poderá acabar dando um belo sorriso, e de repente, disfarçadamente,
dizer que a acabou de cair um cisco no olho esquerdo dele também. Daí para
frente só vocês dois e Deus ficarão sabendo - não é preciso dizer para mais
ninguém - o que acabou, de repente, "rolando" entre vocês. Ademais,
uma outra benção em possuir dois olhos, e não um apenas, é que você pode
"coçar" um deles sem ter que, com o outro, deixar de ver o que está
acontecendo à sua frente.
A [AMBI]
VALÊNCIA DAS ORELHAS: primeiro perceba e aprenda a distinguir a sutil diferença
entre ouvido e orelha. Sei que à primeira vista podem parecer tudo gato do
mesmo balaio, mas observe atentamente o seguinte: orelha, estrito senso, é o
órgão físico que ocupa a parte mais alta do nosso corpo, a cabeça. Orelha, e
não ouvido. Ninguém diz, por exemplo: "meu pai quase me arrancou os
ouvidos, porque me pegou com uma trouxinha de maconha ontem à noite!".
Diz!? Aliás, um pai sensato e prudente primeiro não arranca nem ouvido nem
orelha de um filho seu, logo assim de cara. Não faz sentido arrancar um dos
órgãos dos sentidos mais importante do corpo do seu filho! Primeiro senta,
conversa, explica, orienta, e só em último caso, quanto o filho já está tão
dependente do vício, que não consegue mais estabelecer conversa produtiva
nenhuma, aí sim, nesse último caso, um bom puxão de orelhas pode, mesmo sendo a
gota d'água da conversa, trazer algum tipo de benefício. Agora, aqui entre nós,
vamos reconhecer: que um bom e merecido "puxão de orelhas pode dar um bom
resultado em certas situações - como foi o caso da tremenda lambança do filho
mais novo, na parábola do filho pródigo - com certeza pode. Continuando a
reflexão: ouvistes o que foi dito: "têm olhos mas não vêem, ouvidos mas
não ouvem... e basta! Olha aí o que foi dito: "...ouvidos, mas não
ouvem!". Isso significa que só mesmo quem não tem audição diferenciada e
apurada, fica autorizado a ouvir com as orelhas, e não com o espírito, o
coração e a mente. Se assuste não, se for o seu caso! Tá cheio de gente nesse
mundão de Deus - se bem que pra mim isso já é coisa do "encardido",
com minúscula, como a ele se referia Padre Léo - que parece só ter orelhas para
preencher o quadro completo do corpo. Permitir que os estímulos que lhes chegam
por intermédio das duas orelhas, consigam alcançar o coração, océrebro e a
mente, isso muitos não conseguem. É claro que sem orelha a gente não pode ouvir
e escutar devidamente. Mas você nunca perdeu seu tempo dialogando
"animadamente" com um defunto. Ou será que já!? Ainda assim, até onde
eu saiba, todo defunto que continua seu percurso em direção ao... - ia falar
"paraíso", mas sei lá se não tá indo é para o purgatório, ou até
mesmo para aquele lugar horrível e tenebroso! - dizia eu: ...defunto nenhum
continua sua trajetória em direção a qualquer lugar do além que seja, sem
portar consigo suas duas orelhas, seria realmente um defunto muito estranho.
Mas apesar de continuar com as duas orelhas no lugar, continuar ouvindo ou
escutando suas orações, com certeza ele já não mais conseguiria. E se você não
antecipar expressamente, seu desejo de
que suas duas orelhas, depois que você venha a bater as botas - alguém pode me
explicar a origem desta expressão, por favor? - sejam cortadas e doadas no
Centro de Captação de Órgãos mais próximo, fique tranquilo que certamente você
subirá para o estágio seguinte de sua saga nesse mundo, com as duas orelhas que
lhe pertencem. Se você providenciou a doação, nesse caso, parabéns! Gesto
sagrado e muito bonito! Mas certifique-se antes se esse tipo de doação é
possível, e se a medicina já chegou a esse nível e tipo de transplante. Não
aconteça de você recomendar expressamente o corte e a doação de dois órgãos
mencionados, e no final das contas eles acabarem indo parar na lata de lixo.
Além de ser um tremendo desperdício você ainda correria o risco de chegar no
céu - que é com certeza para onde vão todos aqueles que fazem uma doação de
órgãos - com seu corpo faltando as duas orelhas. Aí, só Jesus para fazer, lá em
encima, a seu favor, o que aqui embaixo Ele fez
em favor de muita gente: um verdadeiro milagre.
A [AMBI]
VALÊNCIA DOS BRAÇOS: já experimentou dar um abraço com um só braço!? Não!?
Então escuta essa! Num grupo terapêutico por mim orientado, solicitei que, dos
quinze casais presentes, marido e mulher fizessem isso - dar-se mutuamente um
abraço com um só braço, pela primeira vez [em tempo: todos, graças a Deus e felizmente,
tinham as duas pernas e os dois dois braços nos seus devidos lugares]. Moral do
exemplo, para encurtar a história: era só riso, sorriso e risada que não
acabavam mais. Claro que se você pedisse a mesma coisa para casais dançando um
belo tango, ele com uma mão no bolso e a outra ao redor do pescoço de sua
acompanhante, seria com certeza uma outra história. Não resultaria em riso e
risada, coisa nenhuma! Pelo contrário, seria expressão de classe e categoria
por parte dos dançarinos e de cada par envolvido na dança. A proeza cabaria por
arrancar - orelha, coisa nenhuma! -
palmas e aplausos de todos os presentes. Mas voltando e retomando: Deus,
a vida, a natureza, ou seja lá quem for, nos brindou com um par de braços
lindos e perfeitos! E o que é que a gente faz com eles!? Ou melhor, não faz!?
Muitas vezes, nem um simples abraço a gente
aproveita para dar, mas pessoas que a gente ama, nem nas pessoas que a
gente jura que ama com os dedinhos e até com os braços cruzados. Só político
mesmo, para sair pelo mundo afora dando beijos e falsos abraços em Deus e todo
mundo! O fato é que até para cruzar os braços - expressão de quem não está
disposto a ajudar e contribuir com coisa nenhuma - a gente precisa não de um,
mas dos dois braços! Agora, se você sempre teve dois braços, e sequer um muito
obrigado você elevou a Deus - à vida, à natureza, ou a quem quer que seja, que
não você mesmo - em louvor e agradecimento, e de repente você sofre um
acidente, e o médico diz à queima-roupa - outra expressão, que eu preciso de
ajuda para saber onde nasceu - : "sinto muito, muito mesmo, mas vamos ter
que amputar seu braço direito!", eu pergunto: quantas vezes você não vai
perguntar a ele: "mas o senhor tem absoluta certeza de que a amputação é
absolutamente necessária!?". Ou então: "pelo amor de Deus, doutor,
veja se o senhor e quem quer que seja consiga fazer o que tem que ser feito,
sem ter que levar junto qualquer parte do meu corpo!", talvez aí você
consiga entender e agradecer pela graça de ter tido sempre seus dois braços
juntos ao seu corpi. Quer entender ainda mais a importância dos seus dois
braços!? Então imagine que você termine sua fala ou súplica com as seguintes
palavras: "...eu também sou médico, Doutor, como o senhor! Como é que eu
vou continuar operando só com o braço esquerdo, caso eu tenha mesmo que amputar
o direito!?". Consegue entender o drama!? Pois então! Caso você tenha dois
braços, e não tenha que sacrificar nunca, nenhum deles para continuar vivendo
sobrevivendo ou operando, sem que qualquer coisa de pior lhe aconteça, e assim
você tenha que se aposentar mais cedo do que esperava, AGRADEÇA! Agradeça
muito! Não espere acontecer um acidente qualquer, para você, ao invés de
agradecer, ter que ficar suplicando para que o pior não aconteça! Ah! E abrace!
Abrace muito! Porque abraçar, além de não colocar você em perigo ou risco
algum, ainda vai fazer com que aqueles que você abraça, mais tarde estejam
sempre beijando e abraçando também eles, natural e confortavelmente, seus
filhos, seus netos, seus bisnetos, seus tataranetos, e o que com certeza será
ainda mais gratificante: abraçando e beijando tanto você, que no final das
contas você acabe tendo que dizer: "chega! Pára! Tá me apertando e me
lambuzando todo!!!".
Agora...
Agora chega!
Amanhã ou depois eu volto com as pernas, os rins, os pulmões, e mais alguns
órgãos e membros que a gente recebeu de presente em dose dupla. Tchau e até lá!
( * Texto enviaado via
whatsapp pelo autor, de Vitória (ES)