sábado, 25 de junho de 2022

SEJA BEM-VINDO!

- À luz da Palavra, entender o chamado de Deus e as condições para assumi-lo

– 10º Encontro Mundial das Famílias e conclusão do Ano da Família AmorisLaetitia

– Sinodalidade: comunhão, participação e missão

13.º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ANO C (DTC)

OLÁ: PRA COMEÇO DE CONVERSA...

01- Liturgia do 13º Domingo do Tempo Comum – C


No Evangelho do XIII Domingo (Lc 9, 51-62) está claro que Tiago e João não pediram que fosse enviado o fogo do Espírito Santo sobre os samaritanos. Eles queriam é que aquele povoado de samaritanos com todos os seus moradores fossem queimados, consumidos, e se transformassem em carvõezinhos! Por isso Jesus os repreende. No entanto, é admirável a naturalidade dos Apóstolos em manifestar diante de Jesus aquilo que pensam e, ao mesmo tempo, é admirável a simplicidade do evangelista em não ocultar os defeitos dos Apóstolos. Os santos são pessoas normais. Eles também percebiam a própria concupiscência, e lutavam. Tiago e João que, num ímpeto de ira, queriam pedir fogo do céu para queimar os pobres samaritanos, hoje são venerados como São Tiago e São João. Eram pessoas normais! E nós? Do jeito que nós somos, continuemos na luta por amar a Deus, por vencer os próprios defeitos.

O evangelho continua dizendo que Jesus tomou resolutamente o caminho para Jerusalém. Este caminho, ou esta viagem, é modelar. Simboliza a resposta de Jesus ao plano do Pai. Ele não vacila. Vai ao encontro do Pai, segue rumo a Jerusalém, onde se consumará a sua missão.

Quem quiser ser discípulo de Jesus, deve pôr-se a caminho com Ele. Ser discípulo de Cristo não consiste em conhecer a sua doutrina! É segui-Lo, é aderir inteiramente a Ele. É fazer o mesmo caminho que Cristo percorreu.

Enquanto percorria o caminho Jesus encontra três candidatos a discípulo, que representam os inumeráveis candidatos, que desejarão seguí-Lo ao longo dos séculos e Jesus põe-lhes as condições do Seu seguimento. “Seguir-Te-ei para onde quer que fores” (Lc 9, 57), diz o primeiro; e o Senhor respondeu-lhe: “As raposas têm tocas e a aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58). Aquele que deseja seguir a Cristo, não pode ter pretensões de segurança ou vantagens terrenas. Ao segundo, Jesus dirige-lhe um convite decisivo, como que uma ordem: “Segue-Me” (Lc 9, 59) e a este, tal como ao terceiro, que pede um adiamento por questões familiares, Jesus não hesita em declarar que é preciso seguí-Lo sem adiar a Sua chamada. Há casos em que um adiamento, ou mesmo o pensar demasiadamente no assunto, poderiam comprometer tudo. “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62). O Cardeal Roncalli, falando aos padres, dizia: “Deixamos a nossa terra e a nossa família, sem perder o amor à terra e à família, mas elevando este amor a um significado mais alto e mais vasto… Ai de nós, se continuamos a pensar numa casa cômoda…, num teor de vida que nos procure glória, honras ou satisfações mundanas!”

Meditando nestas palavras devemos reagir contra a tentação de um cristianismo medíocre, fácil, preguiçoso, feito à medida das próprias comodidades e interesses.

Por a mão no arado e olhar para trás… Temos que olhar para frente! Estar decidido a seguir o Mestre. Pois, a chamada do Senhor é sempre urgente, porque a messe é grande e os operários são poucos. E há messes que se perdem por não haver quem as recolha. Entreter-se, olhar para trás, por “senões” à entrega, tudo isso vem a dar no mesmo.

Para sermos fiéis e felizes, é preciso que tenhamos sempre os olhos fixos em Jesus, como o corredor, que, uma vez iniciada a corrida, não se distrai com nada: a única coisa que lhe interessa é a meta.

https://www.icatolica.com/2016/06/homiletica-13-domingo-do-tempo-comum.html

2- Óbolo de São Pedro

A Festa de São Pedro e São Paulo, que ocorre no dia 29 de junho, é transferida para o próximo domingo. Neste dia comemora- -se o Dia do Papa e é realizada a coleta, chamada de Óbolo de São Pedro, que é destinada à caridade do papa para atender às necessidades do mundo que a Igreja procura ajudar, fazendo- -se solidária, sobretudo, nas calamidades e catástrofes.

3- Intenções do Apostolado da Oração em julho:

Pelos Idosos: Rezemos pelos idosos, que representam as raízes e a memória de um povo, para que a sua experiência e a sua sabedoria ajudem os mais jovens a olhar o futuro com esperança e responsabilidade.

Senhor da Messe

Senhor da messe e Pastor do rebanho, faze ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: Vem e segue-me. Derrama sobre nós o Teu Espírito. Que ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a Messe não se perca por falta de operários. Desperta as nossas comunidades para a missão. Ensina a nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino na vida religiosa e consagrada. Senhor, que o rebanho não se perca por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos Bispos, Padres e Ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, chama-nos para o serviço do teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda- -nos a responder SIM. Amém.

SB SABENDO BEM DESTE DOMINGO E DESTA SEMANA

01- OLÁ! PRA COMEÇO DE CONVERSA...

1. Liturgia do 13.º Domingo do Tempo Comum– Ano C;

2. Óbolo de São Pedro;

3. Intenções do Apostolado da Oração em Julho.

02- LEITURAS DA MISSA DO 13.º DOMINGO DO TEMPO COMUM-  ANO C;

03- LITURGIA DA SEMANA DE  27 DE JUNHO A 03 DE JULHO;

04- REFLEXÃO DOMINICAL I: COMENTÁRIOS DAS LEITURAS DO 13.º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C;

05- REFLEXÃO DOMINICAL II: HOMILIA DE DOM HENRIQUE SOARES DA COSTA;

06- “KOINONIA” E SINODALIDADE NA DIREÇÃO DA IGREJA;

07- A EXIGÊNCIA DO SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO;

08- POLÍTICA: OS INIMIGOS DA EDUCAÇÃO;

09- QUALIDADE DE VIDA E ESPIRITUALIDADE- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES;

10- ELEIÇÕES 2022: ELEITORADO BRASILEIRO CRESCE EM ABRIL E GANHA MAIS DE MEIO MILHÃO DE JOVENS APTOS A VOTAR;

11- A IMPORTÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E O DIREITO À CONTRADIÇÃO: O PARADOXO DE MOORE;

11- SANTO AGOSTINHO E O SERMÃO DOS PASTORES;

12- SUGESTÃO DE LEITURA

1. Tudo o que você precisa saber sobre Filosofia: o guia completo da filosofia para você abrir a mente sem sofrer (Paul Kleinman);

2. Política é para todos (Gabriela Prioli).

Caro(a) Leitor(a) amigo(a):

O meu abraço fraterno e uma ótima semana a todos!

ACESSE SEMPRE O BLOG: sbsabendobem.blogspot.com e divulgue aos seus amigos, conhecidos e contatos nas redes sociais. Comente, faça sugestões. Agradeço!

Escreva para: sbsabedobem@gmail.com

# VACINAR É UM ATO DE AMOR!

EU CUIDO DE VOCÊ E VOCÊ CUIDA DE MIM
E DEUS CUIDA DE NÓS!


 

LEITURAS DA MISSA

13.º  DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ANO C

1ª Leitura: 1Rs 19,16b.19-21

L. Leitura do primeiro livro dos Reis.

Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: vai e unge a Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar. Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Safat, lavrando a terra com doze juntas de bois; e ele mesmo conduzia a última. Elias, ao passar perto de Eliseu, lançou sobre ele o seu manto. Então Eliseu deixou os bois e correu atrás de Elias, dizendo: “Deixa-me primeiro ir beijar meu pai e minha mãe, depois te seguirei”. Elias respondeu: “Vai e volta! Pois o que te fiz eu?” Ele retirou-se, tomou a junta de bois e os imolou. Com a madeira do arado e da canga assou a carne e deu de comer à sua gente. Depois levantou-se, seguiu Elias e pôs-se ao seu serviço.

- Palavra do Senhor. A. Graças a Deus.

 

Salmo: Sl 15(16)

S. /:Ó Senhor, sois minha herança para sempre!:/

A. /:Ó Senhor, sois minha herança para sempre!:/

S. 1. = Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!+ Digo ao Senhor: “Somente vós sois meu Senhor:* nenhum bem eu posso achar fora de vós!” - Ó Senhor, sois minha herança e minha taça,* meu destino está seguro em vossas mãos!

2. - Eu bendigo o Senhor, que me aconselha,* e até de noite me adverte o coração. - Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,* pois se o tenho a meu lado não vacilo.

3. = Eis por que meu coração está em festa,+ minha alma rejubila de alegria,* e até meu corpo repouso está tranquilo; - pois não haveis de me deixar entregue à morte,* nem vosso amigo conhecer a corrupção.

A. /:Ó Senhor, sois minha herança para sempre!:/

4. - Vós me ensinais vosso caminho para a vida;* junto a vós, felicidade sem limites, - delícia eterna e alegria ao vosso lado!* delícia eterna e alegria ao vosso lado!

Leitura: Gl5,1.13-18

L. Leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas.

Irmãos: É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai, pois, firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão. Sim, irmãos, fostes chamados para a liberdade. Porém, não façais dessa liberdade um pretexto para servirdes à carne. Pelo contrário, fazei- -vos escravos uns dos outros, pela caridade. Com efeito, toda a Lei se resume neste único mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Mas, se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros. Eu vos ordeno: Procedei segundo o Espírito. Assim, não satisfareis aos desejos da carne. Pois a carne tem desejos contra o espírito, e o espírito tem desejos contra a carne. Há uma oposição entre carne e espírito, de modo que nem sempre fazeis o que gostaríeis de fazer. Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei. –

- Palavra do Senhor. A. Graças a Deus!

 Evangelho: Lc 9,51-62

A .(Nº 741) /:Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia!:/ S. Fala, Senhor, que te escuta teu servo! Tu tens palavras de vida eterna! A. Aleluia...

P. O Senhor esteja convosco.

A. Ele está no meio de nós.

P. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

A. Glória a vós, Senhor!

P. Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para preparar hospedagem para Jesus. Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer o fogo do céu para destruí-los?” Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. E partiram para outro povoado. Enquanto estavam caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Jesus disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”. Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”. Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”.

- Palavra da Salvação. A. Glória a vós, Senhor! 

LITURGIA DA SEMANA: DE 27 DE JUNHO A 03 DE JULHO


Dia 27, 2ªf: S. Cirilo de Alexandria: Am 2,6-10.13-16; Sl 49(50); Mt 8,18-22;

Dia 28, 3ªf, Sto. Irineu, bispo e mártir: Am 3,1- 8;4,11-12; Sl 5,5-6.7.8(R.9a); Mt 8,23-27;

Dia 29, 4ªf: Am 5,14- 15.21-24; Sl 49(50); Mt 8,28-34;

Dia 30, 5ªf, Santos Protomártires da Igreja de Roma:.Am 7,10-17; Sl 18(19); Mt 9,1-8;

Dia 01, 6ªf: Am 8,4-6.9-12; Sl 118(119); Mt 9,9-13;

Dia 02, Sáb.: Am 9,11- 15; Sl 84(85); Mt 9,14-17;

Dia 03, Dom., 14º do Tempo Comum - C: S. Pedro e S. Paulo - Dia do Papa: At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19 (Tu és Pedro);

ou onde a Solenidade de S. Pedro e S. Paulo foi celebrada no dia 29: Is 66,10- 14c; Sl 65(66); Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20.

 

REFLEXÃO DOMINICAL I

Comentários das Leituras deste Domingo: 1Rs 19,16b.19-21; Gl5,1.13-18; Lc 9,51-62

Caros irmãos e irmãs,

As leituras bíblicas da santa Missa deste domingo ressaltam o tema da vocação de seguir o Cristo e as suas exigências. O Evangelho mostra Jesus a caminhar para Jerusalém, que é a meta final onde Jesus, na sua Páscoa derradeira, deve morrer e ressuscitar, elevar a cumprimento a sua missão de salvação. Ao longo desse caminho Jesus vai mostrando aos discípulos os valores do Reino de Deus. Todo este percurso que aqui se inicia converge para a cruz.  Os discípulos também são exortados a seguir este “caminho”, para se identificarem plenamente com Jesus.

Se Jesus parece exigente para com aqueles que O querem seguir, é porque Ele mesmo é exigente quanto à sua própria caminhada. É caminhando que Jesus convida a colocarmos a segui-lo. Então, aqueles que o seguirem poderão dizer como Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7).

Ao longo do seu caminho até Jerusalém, Jesus encontra alguns homens, provavelmente jovens, os quais prometem segui-lo onde quer que ele vá. Ele os admoesta dizendo que “o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”, ou seja, não tem uma habitação estável e que quem escolhe trabalhar com Ele na sua vinha , jamais poderá arrepender-se (cf. Lc 9,57-58.61-62). A outro jovem o próprio Cristo diz: “Segue-me”, pedindo-lhe um desapego total dos vínculos familiares (cf. Lc 9, 59-60). Estas exigências podem parecer demasiado severas, mas na realidade expressam a novidade e a prioridade absoluta do Reino de Deus que se torna presente na própria pessoa de Jesus Cristo. Em última análise, trata-se daquela radicalidade que é devida ao amor de Deus, ao qual Jesus é o primeiro a obedecer. Quem renuncia a tudo, até a si mesmo, para seguir Jesus, entra numa nova dimensão da liberdade, pois está a serviço uns dos outros (cf. Gl 5, 16).

Jesus chamou muitos para segui-lo. Podemos lembrar de Pedro e dos demais apóstolos. Podemos lembrar mais precisamente do evangelista e também apóstolo São Mateus (cf. Mt 9,9). Antes que Jesus o chamasse, ele desempenhava a profissão de publicano e, por isso, era considerado pecador público, excluído da “vinha do Senhor”. Mas, tudo muda quando Jesus, passando ao lado da sua mesa de impostos, fixa nele o seu olhar e diz: “Segue-me!”  Foi precisamente isto que o evangelista São Mateus fez: Levantou-se e seguiu-o.

Também São Paulo experimentou a alegria de ser chamado pelo Senhor para trabalhar na sua vinha. Mas como ele mesmo confessa, foi a graça de Deus que agiu nele, aquela graça que, de perseguidor da Igreja, o transformou em Apóstolo das nações. A ponto de o levar a dizer: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Paulo compreendeu bem que trabalhar para o Senhor já é, nesta terra, uma recompensa.

A proposta que Jesus faz às pessoas ao dizer-lhes “Segue-me!” (v. 59), é exigente e exaltante. São elas convidadas a entrar no âmbito da sua amizade, a escutar de perto a sua Palavra e a viver com Ele; ensina-lhes a dedicação total a Deus e à propagação do seu Reino, segundo a lei do Evangelho: “Se o grão de trigo cair na terra e não morrer, fica só ele; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12, 24)

No encontro de Jesus com o jovem rico (cf. Mc 10, 17-22), na narração evangélica de São Marcos sublinha como “Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele” (Mc 10, 21). No olhar do Senhor, está o coração deste encontro e de toda a experiência cristã.

Jesus convida o jovem rico a ir mais além da satisfação das suas aspirações e dos seus projetos pessoais, dizendo-lhe: “Vem e segue-me!” (Mt 19,21). Ao jovem rico Jesus ainda diz: “Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres… depois vem e segue-me” (Mt 19,21). Estas palavras inspiraram numerosos Cristãos ao longo da história da Igreja para seguir Cristo numa vida de pobreza radical, confiando na Providência Divina. Entre estes generosos discípulos de Cristo encontrava-se também São Bento, São Francisco de Assis e tantos outros que, sem hesitações, responderam o chamado do divino Mestre.

A vocação cristã deriva de uma proposta de amor do Senhor e só pode realizar-se graças a uma resposta de amor.  Jesus convida os seus discípulos a segui-lo com uma confiança sem reservas em Deus. Os santos acolheram este convite exigente e, com humilde docilidade, põe-se a seguir Cristo crucificado e ressuscitado. A sua perfeição na lógica da fé, às vezes humanamente incompreensível, consiste em viver segundo o Evangelho.

Como de fato, muitos são aqueles que deixam a família de origem, os estudos, o trabalho, os seus bens, para se consagrar a Deus, como resposta radical à vocação divina. Para seguir Jesus Cristo é preciso estar livre de todas as ataduras, pois quem olha para trás, não está apto para o Reino de Deus (cf. Lc 9,62).  Só vivemos a verdadeira liberdade se sairmos de nós mesmos, se desapegarmos de nós mesmos, para nos colocarmos a caminho com o Senhor e cumprirmos a sua vontade.

A exemplo de muitos discípulos de Cristo, possamos também nós acolher com alegria o convite a seguir Jesus, para vivermos intensa e fecundamente neste mundo. Com efeito, mediante o batismo, Ele chama cada um a segui-lo com ações concretas, a amá-lo sobre todas as coisas e a servi-lo nos irmãos. Infelizmente, o jovem rico não acolheu o convite de Jesus e retirou-se pesaroso. Não encontrara coragem para se desapegar dos bens materiais a fim de possuir o bem maior proposto por Jesus.

Jesus nunca se cansa de estender o seu olhar de amor sobre nós, chamando-nos a ser seus discípulos; a alguns, porém, Ele propõe uma opção mais radical. Possamos estar sempre disponíveis para acolher com generosidade e entusiasmo este sinal de predileção especial. Ele sabe dar alegria profunda a quem responde com coragem.

Também hoje, o seguimento de Cristo é exigente; significa aprender a ter o olhar fixo em Jesus, a conhecê-lo intimamente, a escutá-lo na Palavra e a encontrá-lo nos Sacramentos; significa aprender a conformar a nossa própria vontade à dele.

Deus serve-se de nós segundo o seu plano de amor, segundo a modalidade que Ele estabelece e pede-nos para favorecer a ação do Espírito; devemos ser os bons colaboradores do Senhor, para a eficácia realização do seu Reino.

Possamos ser atraídos pelos exemplos luminosos dos Santos que souberam dar ao mundo um testemunho do Senhor. São eles os protagonistas do amor e do bem, exemplos vivos de esperança e testemunhas de um amor que nada teme, nem sequer a morte.

Que Maria, a Mãe de Deus e nossa, que correspondeu sem reservas o chamado do Senhor, nos ajude a sermos capazes de ouvir a voz de Deus e de a seguir com determinação e decisão o caminho da santidade.  Assim seja.

PARA REFLETIR

Não há coisa mais radical e louca que ser cristão; não há maior aventura… Pena que os cristãos estejam perdendo essa percepção e o Evangelho muitas vezes apareça como algo certinho, cômodo e domesticado. Tantas vezes considerou-se que para ser um bom cristão bastaria ser bem comportado! Ora, não é isto que a Palavra do Senhor nos ensina!

Jesus durante toda a sua vida caminhou para o Pai, teve no Pai sua única meta, pelo Pai e o seu Reino, fez loucuras. Por isso, já no capítulo nove do seu evangelho, São Lucas no-lo apresenta subindo para Jerusalém, para sua partida para o Pai: “Quando chegou o tempo de Jesus ser levado para o céu, então tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. Ao pé da letra, são Lucas diz: ele voltou decididamente o rosto para Jerusalém… Este é o caminho de Cristo: ir subindo até a Cidade Santa, e de Jerusalém, para o Pai, atravessando o mistério da paixão, da cruz e da morte, para chegar à ressurreição. Ele vai à frente, no caminho, o seu caminho, e nos desafia a segui-lo. Quem quiser ser seu discípulo, deve segui-lo neste caminho! Basta recordar o domingo passado: deixar tudo… renunciar-se… tomar a cruz de cada dia… e segui-lo. Hoje, no caminho, ele nos previne: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. E exige que coloquemos tudo abaixo dele, até pai e mãe… É assim que Jesus quer seus discípulos: totalmente comprometidos com ele, absolutamente! E afirma claramente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está pronto para o Reino de Deus”.

Jesus é tão claro! Ele exige tanto de nós porque somente ele nos pode dar tudo: o sentido da vida, o amor de Deus, a paz verdadeira e perene e a vitória sobre a morte. Ele nos revela e nos dá um Deus que é todo amor, todo carinho, todo perdão, todo piedade, um Deus que é o rochedo de nossa existência. Mas, também, um Deus exigentíssimo! Não se pode ser cristão pela metade! São Paulo, na segunda leitura de hoje, exprime muito bem esta realidade: Cristo nos libertou para a liberdade de uma vida nova, vida na graça de Deus, vida impulsionada pelo Espírito do Ressuscitado. É esta a liberdade do discípulo de Jesus; uma liberdade diversa do conceito de liberdade que o mundo apregoa. O cristão é livre não porque faz o que quer; é livre porque quer somente a vontade de Deus manifestada em Cristo Jesus: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou!” E, aí, o Apóstolo nos previne: “Não façais dessa liberdade um pretexto para servirdes à carne”. “Carne” é tudo quanto pertence ao homem velho, tudo quanto manifesta o velho egoísmo de uma vida centrada em si mesmo e não em Deus, que se dá no Cristo Jesus! “Carne” é tudo aquilo que é lógica deste mundo e não lógica do Evangelho! Pode ser a lógica da ganância, da sensualidade e da imoralidade, da religião interesseira à procura de milagres, curas e benefícios materiais… tudo isso é carne: a descrença, a impiedade, a vulgaridade e o comodismo no modo de viver…

Há, portanto, dois modos de construir nossa existência. Um, segundo a carne, isto é, segundo o homem velho, com seu modo de pensar, com sua razão entregue a si mesma, com uma lógica meramente humana e, muitas vezes, pecaminosa. O outro, a vida segundo o Espírito do Ressuscitado. É a vida do cristão que, impulsionando e sustentado pelo Espírito do Senhor, abre-se para Deus, superar-se a si mesmo e seu modo meramente humano de pensar, e caminha incessantemente para o Cristo, até alcançar a estatura do homem novo, “o estado do Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13).

A medida e o ideal de vida do cristãonão podem ser aqueles apresentados pela moda e pelo pensamento dominante do mundo atual. Nosso caminho é Cristo, nosso critério é Cristo, nossa medida é Cristo, nosso modo de viver deve ser o de Cristo Jesus! O grande desafio dos cristãos de hoje é redescobrirem que sua vida, seu modo de ser e de agir devem ser diferentes, simplesmente porque eles são discípulos do Senhor Jesus!

Mas estejamos bem atentos: isso somente é possível quando encontramos de verdade o Senhor em nossa vida, quando por ele nos encantamos, quando somos invadidos pelo seu amor. Observemos que nos evangelho de hoje – e de sempre – o cristianismo nasce de um encontro no caminho… um encontro marcante e transformador com Jesus. Só esta experiência é capaz de nos fazer entrar no caminho e aceitar as exigências do Senhor. Em outras palavras: o cristão, ou é um amigo de Cristo ou não é cristão; ou tem uma experiência de amizade com o Senhor ou jamais vai compreendê-lo de fato. É preciso insistir nisso, mais que nunca: o cristianismo não é uma doutrina, não é uma moral, não é uma ideologia, não é uma proposta política de justiça social para o mundo! Tudo isso é secundário! O que nos faz cristãos, é ter sido encontrados por Cristo no caminho, ter sido seduzidos por ele e tê-lo seguido, dizendo, meio responsáveis, meio loucos; “Senhor, eu te seguirei para onde quer que vás”. Que o Senhor nos conceda a graça da paixão por ele, a graça de segui-lo, a graça de testemunhá-lo com a carne da nossa vida de cada dia, como nossos irmãos de há dois mil anos atrás, quando ele tomou o caminho de Jerusalém, para a cruz e a ressurreição. Amém.

https://www.icatolica.com/2016/06/homiletica-13-domingo-do-tempo-comum.html

REFLEXÃO DOMINICAL II

Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – XIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

1Rs 19,16b.19-21; Sl 15; Gl5,1.13-18; Lc 9,51-62

Não há coisa mais radical e louca que ser cristão; não há maior aventura… Pena que os cristãos estejam perdendo essa percepção e o Evangelho muitas vezes apareça como algo certinho, cômodo e domesticado. Tantas vezes considerou-se que para ser um bom cristão bastaria ser bem comportado! Ora, não é isto que a Palavra do Senhor nos ensina!

Jesus durante toda a sua vida caminhou para o Pai, teve no Pai sua única meta, pelo Pai e o seu Reino, fez loucuras. Por isso, já no capítulo nove do seu evangelho, São Lucas no-lo apresenta subindo para Jerusalém, para sua partida para o Pai: “Quando chegou o tempo de Jesus ser levado para o céu, então tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. Ao pé da letra, são Lucas diz: ele voltou decididamente o rosto para Jerusalém… Este é o caminho de Cristo: ir subindo até a Cidade Santa, e de Jerusalém, para o Pai, atravessando o mistério da paixão, da cruz e da morte, para chegar à ressurreição. Ele vai à frente, no caminho, o seu caminho, e nos desafia a segui-lo. Quem quiser ser seu discípulo, deve segui-lo neste caminho! Basta recordar o domingo passado: deixar tudo… renunciar-se… tomar a cruz de cada dia… e segui-lo. Hoje, no caminho, ele nos previne: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. E exige que coloquemos tudo abaixo dele, até pai e mãe… É assim que Jesus quer seus discípulos: totalmente comprometidos com ele, absolutamente! E afirma claramente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está pronto para o Reino de Deus”.

Jesus é tão claro! Ele exige tanto de nós porque somente ele nos pode dar tudo: o sentido da vida, o amor de Deus, a paz verdadeira e perene e a vitória sobre a morte. Ele nos revela e nos dá um Deus que é todo amor, todo carinho, todo perdão, todo piedade, um Deus que é o rochedo de nossa existência. Mas, também, um Deus exigentíssimo! Não se pode ser cristão pela metade! São Paulo, na segunda leitura de hoje, exprime muito bem esta realidade: Cristo nos libertou para a liberdade de uma vida nova, vida na graça de Deus, vida impulsionada pelo Espírito do Ressuscitado. É esta a liberdade do discípulo de Jesus; uma liberdade diversa do conceito de liberdade que o mundo apregoa. O cristão é livre não porque faz o que quer; é livre porque quer somente a vontade de Deus manifestada em Cristo Jesus: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou!” E, aí, o Apóstolo nos previne: “Não façais dessa liberdade um pretexto para servirdes à carne”. “Carne” é tudo quanto pertence ao homem velho, tudo quanto manifesta o velho egoísmo de uma vida centrada em si mesmo e não em Deus, que se dá no Cristo Jesus! “Carne” é tudo aquilo que é lógica deste mundo e não lógica do Evangelho! Pode ser a lógica da ganância, da sensualidade e da imoralidade, da religião interesseira à procura de milagres, curas e benefícios materiais… tudo isso é carne: a descrença, a impiedade, a vulgaridade e o comodismo no modo de viver…

Há, portanto, dois modos de construir nossa existência. Um, segundo a carne, isto é, segundo o homem velho, com seu modo de pensar, com sua razão entregue a si mesma, com uma lógica meramente humana e, muitas vezes, pecaminosa. O outro, a vida segundo o Espírito do Ressuscitado. É a vida do cristão que, impulsionando e sustentado pelo Espírito do Senhor, abre-se para Deus, superar-se a si mesmo e seu modo meramente humano de pensar, e caminha incessantemente para o Cristo, até alcançar a estatura do homem novo, “o estado do Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13).

A medida e o ideal de vida do cristão não podem ser aqueles apresentados pela moda e pelo pensamento dominante do mundo atual. Nosso caminho é Cristo, nosso critério é Cristo, nossa medida é Cristo, nosso modo de viver deve ser o de Cristo Jesus! O grande desafio dos cristãos de hoje é redescobrirem que sua vida, seu modo de ser e de agir devem ser diferentes, simplesmente porque eles são discípulos do Senhor Jesus!

Mas estejamos bem atentos: isso somente é possível quando encontramos de verdade o Senhor em nossa vida, quando por ele nos encantamos, quando somos invadidos pelo seu amor. Observemos que no evangelho de hoje – e de sempre – o cristianismo nasce de um encontro no caminho… um encontro marcante e transformador com Jesus. Só esta experiência é capaz de nos fazer entrar no caminho e aceitar as exigências do Senhor. Em outras palavras: o cristão, ou é um amigo de Cristo ou não é cristão; ou tem uma experiência de amizade com o Senhor ou jamais vai compreendê-lo de fato. É preciso insistir nisso, mais que nunca: o cristianismo não é uma doutrina, não é uma moral, não é uma ideologia, não é uma proposta política de justiça social para o mundo! Tudo isso é secundário! O que nos faz cristãos, é ter sido encontrados por Cristo no caminho, ter sido seduzidos por ele e tê-lo seguido, dizendo, meio responsáveis, meio loucos; “Senhor, eu te seguirei para onde quer que vás”. Que o Senhor nos conceda a graça da paixão por ele, a graça de segui-lo, a graça de testemunhá-lo com a carne da nossa vida de cada dia, como nossos irmãos de há dois mil anos atrás, quando ele tomou o caminho de Jerusalém, para a cruz e a ressurreição. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

https://www.presbiteros.org.br/homilia-de-dom-henrique-soares-da-costa-xiii-domingo-do-tempo-comum-ano-c/

“KOINONIA” E SINODALIDADE NA DIREÇÃO DA IGREJA

Por João Rezende Costa                                  

I.             A IGREJA, ESSENCIALMENTE “KOINONIA” EM COMUNIDADES VIVAS

 

O Vaticano II (LG 8) apresenta-nos a Igreja como uma só realidade, realidade complexa entretecida de aspectos e relacionamentos de dois níveis intimamente referidos entre si:

1) Em primeiro lugar, temos o aspecto “mistérico” da Igreja que, no texto, é referido sob os termos: “comunidade de fé, esperança e caridade”, “corpo místico de Cristo”, “comunidade espiritual”, “Igreja enriquecida dos dons celestes”. Trata-se da realidade de cerne e de intimidade da Igreja, como que de sua “alma” a vivificar e expressar-se em todo o resto.

2) Em segundo do lugar, temos os aspectos “institucionais e societários” da Igreja, que se descrevem com as palavras: “organismo visível”, “sociedade provida de órgãos hierárquicos”, “a Igreja terrestre”, “a assembleia visível”.

Os dois aspectos — frisa-se com insistência — formam “uma só realidade complexa que se funde o elemento humano e o divino”. Da organização visível, institucional e societária, afirma-se algo de grande alcance: Jesus “por ela difunde a verdade e a graça a todos” (eu diria: se o permitirem os homens e não fixarem as suas estruturas de tal forma que não mais sirvam de fato para difundi-las!)

E, com isso, deparamo-nos com outra categoria cara ao Vaticano II para designar e refletir sobre a Igreja: esta é “sacramento”. Ela o é precisamente enquanto alberga em seus elementos humanos de visibilidade o “mistério” de Deus. É “sacramento, ou seja, sinal e instrumento, da íntima união com Deus, e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). Eis o sentido e peso do “visível” na Igreja: é para que se signifique sacramentalmente o “mistérico”, que deve ser vivido e visualizado na realidade humana concreta, significando ao mostrá-lo vivido e a acontecer, bem como promovendo-o, para que aconteça. Os aspectos visíveis em geral — e os societários e institucionais em particular — situam-se, pois, na relação serviços e lugares de emergência e evento do “mistérico”, entendem-se como meios “sacramentais” de se concretizar e acontecer o “mistérico”, o qual à medida que se concretiza, impõe-se e propaga-se encantando e atraindo para si os que o assistem a acontecer.

1.    A “koinonia”, o mistério profundo da Igreja

 

O mistério profundo da Igreja é a “koinonia”, em suas várias vertentes de referências:

1) É “koinonia” com Deus: “O que vimos e ouvimos, estamos anunciando também a vós, a fim de que também vós tenhais a koinonia conosco, e a nossa koinonia é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1,3).

2) “Koinonia” com os irmãos nas comunidades: Essa “koinonia” com Deus e o seu filho Jesus Cristo, ensina-nos de forma experimental o ser do próprio Deus; é experiência de Deus, onde o homem “nasce” de Deus e segundo Deus, aprendendo e apropriando-se dos costumes de Deus mesmo: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor provém de Deus e todo aquele que ama é um nascido de Deus; quem não ama não conheceu a (não é íntimo de) Deus, porque Deus é Amor” (1Jo 4,7-8).

3) É “koinonia” com a universalidade das Igrejas: elas participam dos mesmos dons de Deus em toda parte e em todos os tempos, participação que se condensa na eucaristia celebrada pelo bispo, sinal da unidade da Igreja local e vínculo com as outras Igrejas apostólicas. A eucaristia é, com isso, a concentração de todo dom perfeito que vem do alto, sinal e instrumento da unidade de todos em Cristo. “Creio na comunhão dos santos”, dizemos no credo.

2. A “koinonia” há de se manifestar visivelmente

 

A sociologia moderna costuma contrapor dois tipos de relações sociais:

1) O da sociedade formal e rigidamente organizada: são os comportamentos institucionalizados por costumes ou Direito, o domínio dos atos e relacionamentos formais, burocráticos e normalizados. São estes os aspectos que são mantidos pelas autoridades competentes por força do seu ofício. Têm suas regras normativas explícitas. O “burocrata” é muito interessado nessas questões.

2) O das relações comunitárias, própria dos grupos primários. Caracterizam esse tipo de relações e agrupamentos: o relacionamento associativo íntimo e face a face; o caráter não especializado e não normalizado das relações, ou seja, o seu caráter de espontaneidade; o pequeno número de pessoas envolvidas; certa permanência dos contatos.

Essa distinção não cobre adequadamente a distinção que acima fizemos, na esteira do Vaticano II. Com efeito, os aspectos “mistéricos” da Igreja sempre emergem ao nível da visibilidade e constatabilidade de alguma forma (é o nível que a sociologia atinge com seus instrumentos apropriados) e esse nível é constituído tanto por elementos “societários” como “comunitários”. Quer dizer: a “koinonia” interior da relação para com o Pai, em Jesus Cristo, no Espírito, far-se-á sempre visível (e, com isso, sacramental), quer em relacionamentos societários, quer em relacionamentos comunitários. A “koinonia” é algo da vida profunda e concomitantemente algo dela que emerge na visibilidade e publicidade da vida, manifestando-a sacramentalmente.

Ela é, portanto, o traço-chave da estrutura toda eclesial: dos seus atos constitutivos fontais (fé, esperança e caridade) e dos atos comunitários e societários de sua expressão visível. Em tudo haverá de emergir a “koinonia”. Por isso o exercício da “koinonia” decide sobre a eclesialidade de tudo na Igreja, decide se algo é ou não é Igreja, se é mais ou menos Igreja. Decide da eclesialidade de todo o eclesial: dos indivíduos, dos grupos e de determinado exercício de ministério de qualquer nível que seja.

Logo, é traço que haverá de se fazer presente no exercício concreto dos ministérios de direção da Igreja também! Os dados teológicos exigem, pois, que as relações societárias formalizadas se exerçam no seio da “koinonia” concretamente vivida e em relação de serviço a ela. Não permitem meras relações institucionalizadas societárias sem se viver de fato uma comunidade, quer em nível de profundidade, quer em nível das relações primárias comunitárias. A proposta das CEBs vem como urgência de se recuperar o cerne mais íntimo da Igreja, que só pode ser evento em relações de tipo comunitário e não apenas societário.

Ninguém, portanto, pode vivenciar apenas relações institucionalizadas de tipo formal e societário, sem que de fato viva uma comunidade concreta de relações não formalizadas, comunitárias e participativas, dispondo concretamente de si em atos concretos de amor, bem como na linha dos ministérios dados a cada um exercer no seio da comunidade. Por exemplo, o matrimônio é realidade muito mais profunda e comunitária do que a sua celebração canônica formalizada; é realidade que não cabe naquelas formalidades e ritos e os extrapola; o que precede e segue ao rito — e não cabe naquele rito — é muito mais importante e vital, é a vida mesma em sua riqueza global, mais rica do que a sua celebração e designação institucionalizada jurídica.

Outro exemplo: as festinhas dos grupos de jovens cristãos retêm eclesialidade verdadeira, sem nenhuma formalização institucional jurídica e, todavia, sucede pelo fato-fonte de sua reunião em Igreja; essa visibilidade do seu ser-Igreja, tão ao gosto dessa idade, é emergência sacramental de Igreja sem nenhuma formalidade institucionalizada. E é preciso trabalhar para que a Igreja se expresse cada vez mais em pequenos grupos de vivência comunitária. É por eles que ela será forte em sua tarefa de testemunhar que “Deus é Amor” para com os seus membros e no serviço aos homens em geral, para fora de suas fronteiras visíveis. Fora dessa vivência, falar de “amor”, “evangelho” etc., não passa de formalidade vazia de conteúdo.

A Igreja há de ser primeira no que eventualmente propõe: por exemplo, ao propor aos governantes o empenho para tornar a sociedade mais participativa, haverá ela própria de tornar-se mais participativa, fazendo que a estrutura de “koinonia”, que a define, se expresse cada vez melhor em relações e comunidades participativas. Senão, tudo é palavrório: grito para que os outros façam o que ela própria não tem coragem de fazer (ou julga que já está essencialmente realizado?).

2.    A sinodalidade, a forma da “koinonia” no exercício dos ministérios

 

E, com essa observação, eis-nos lançados ao aspecto de nosso interesse principal: a “koinonia” nos ministérios da direção de Igreja. A “sinodalidade” não passa de “koinonia” exercitada ao nível do exercício dos ministérios. Por “sinodalidade” quero entender o seguinte: não posso exercer o meu ministério ou serviço na Igreja, sem “koinonia” com os que detêm encargos iguais na Igreja, e também sem levar em conta os outros ministérios serviços. Devo fazer valer a estes e inserir o meu ministério e serviço entre e no conjunto dos ministérios e serviços dos outros: eles são pré-dados, baseados em raízes sacramentais e/ou em carismas do Espírito.

Os ministérios não nascem sobretudo da delegação ou jurisdição, mas de sacramentos e carismas dados pelo Espírito na comunidade para servir à comunidade e sua missão. Não são outorgados, mas reconhecidos. Eles também são fautores e fontes da construção da Igreja, advém-lhes, por assim dizer, até mesmo um caráter de poder de codireção na Igreja que os coordenadores (a “episkopé”, que não coincide totalmente com o papel hodierno dos bispos) haverão de respeitar, fazer valer e inserir no elã do próprio ministério, coordenando-os para o bem comum sem jamais abafá-los ou substituí-los.

Daí, à guisa de exemplo, cuidar com esmero especial apenas de “vocações sacerdotais” já constitui desvio da sinodalidade e resulta em desequilíbrio, em clericalismo, que se opõe tanto à “koinonia” em geral como à sinodalidade em particular. Trabalhar para que a Igreja seja toda ministerial — nos termos de meus artigos anteriores (publicados em Vida Pastoral, nn. 110 e 111) — consiste, pois, mais precisamente em promover a “koinonia” e sinodalidade no seio de comunidade vivas, que não se contentem apenas com atos e relações institucionais e formais.

Trata-se de trabalho árduo, nunca plenamente acabado, que sempre haverá de superar estruturas já fixadas (e sempre remará contra a corrente das acomodações e egoísmos humanos de dirigentes e dirigidos, pois é proposta que coincide com a conversão fundamental evangélica!). Qualquer fechamento ou recusa de fazer-se assessorar e ajudar pelos serviços dos outros, já é contra a “koinonia” e sinodalidade. E quantos ministros existem em esplêndido isolamento?

II. PROPOSTAS PARA FAVORECER À “KOINONIA” E SINODALIDADE NA DIREÇÃO DA IGREJA

 

Uma vez que “aprouve a Deus santificar e salvar os homens não singularmente sem conexão de uns para com os outros, mas constituí-los num povo…” (LG 9), o exercício de ministérios isoladamente seria o que de mais aberrante se poderia imaginar em termos de Igreja, pois são essencialmente ministérios de “koinonia” e na “koinonia”. Seria hipocrisia: propor aos outros o que não se vive no próprio ministério de propô-lo! Deus não salva — não exerce a sua graça — singularmente, mas na comunhão de relações no seio de um povo. Ninguém pode colocar-se por fora e acima dessa comunhão. Os ministérios servirão à “koinonia” básica de todos na Igreja e exercer-se-ão em comunhão com todos os que participam dos mesmos ministérios e juntamente com os outros ministérios.

Já se chegou a louváveis ensaios neste particular, como a proposta da colegialidade episcopal, exercida não somente nos Concílios mas também em consultas e nos Sínodos Episcopais (por onde se vê que a posição de um Papa como um “monarca” em esplêndido isolamento nem o honra nem é cristão), bem como nas Conferências dos Episcopados Nacionais e Regionais. Transparece também nos ensaios por toda a parte dos Conselhos dos Presbíteros, Conselhos Pastorais, Conselhos Paroquiais etc. Tudo isso expressa direcionamento no rumo em que as coisas devem encaminhar-se, embora aí também se imiscua o afã jurídico para que não se rompa a “monarquia” de muitos detentores de encargos na Igreja, que impede e diminui a participação efetiva e ativa das comunidades e dos outros ministérios em largo leque. A onda democratizante moderna continua a bater às nossas portas e não existe impedimento de caráter estritamente teológico que se lhe oponha. Até mesmo poderíamos dizer que o próprio cerne da Igreja (“koinonia” e “diakonia”), se exercidos para valer, faria da Igreja pioneira em muitas exigências que está fazendo na América Latina sobre os poderes públicos. Também a Igreja tem medo do que vai além de uma “democracia relativa”!

Falar de falhas da Igreja não é para ofender a “ouvidos piedosos”. O Vaticano II foi marcado por viva consciência de uma Igreja que não satisfaz (nem a Deus, nem aos cristãos, nem aos homens em geral). A Igreja é sempre pequena medida pelo gabarito do seu Mestre e Senhor e perante a missão que lhe é dada. Em nível de princípio e proclamação de dever ser (pois há muita prática que o contradiz), afirma de si que “não reclama para si outra autoridade que a de servir aos homens” (AdG 12), reconhece defeitos e infidelidade em seus membros de toda ordem (GS 42), reconhece-se sempre na necessidade de purificar-se e renovar-se (GS 43), é chamada por Jesus Cristo para uma reforma perene (UR 6), devendo ser inteiramente renovada (PO 12), inclusive na formulação de sua doutrina dogmática (UR 6 e GS 62).

E a Igreja tem muito a modificar e reformar na linha da realização concreta da “koinonia” e sinodalidade. Elenco a seguir alguns pontos:

1) Viver a “koinonia” ao nível da direção e coordenação dos ministérios implica em primeiro lugar que, ao assumirmos encargos/serviços/ministérios na Igreja, já sejamos Igreja em sua vertente de expressão da “koinonia” em comunidades vivas. Caso contrário, seríamos como que agentes pastorais por fora da vivência de Igreja, em esplêndido isolamento, meros funcionários de uma empresa, tentando construir o que não seríamos. Esdrúxulo seria que o detentor de um encargo na Igreja se contentasse com os atos e relacionamentos formais institucionalizados, não vivendo com ninguém em “koinonia” concreta em uma comunidade viva. Imagine-se um pároco que não vivesse comunidade sequer com os que com ele colaboram!

2) Haveríamos de eliminar a vitaliciedade dos ministérios, designando os seus titulares para o exercício por tempo determinado. Assim ficaria claro que eles são para a Igreja e não a Igreja para eles. Evitar-se-ia a permanência no cargo quando não mais servissem para exercer os ministérios a ele anexos. A permanência por longo tempo pode servir a ideologias e posicionamentos enrijecidos de política eclesiástica de grupos encastelados no poder. E todos concordariam que surgiria uma Igreja mais jovem e mais ágil nos órgãos de direção, com mais plasticidade e funcionalidade de governo. E lucraríamos com a humildade dos detentores e titulares (cf. Mt 23,8-12, Lc 17,10).

3) Precisamos superar a inveterada e secular bionicidadeou seja, a não participação das comunidades e instâncias inferiores, e ministros em geral, na designação dos titulares dos ministérios em suas comunidades. A bionicidade impõe-se sobre comunidades imaturas é expressão da desconfiança (por quê?) dos que já estão instalados no poder para com os outros ministros (até dos que paradoxalmente se chamam de “presbíteros”!). Vai na linha da bionicidade também o fato de uma conferência episcopal nem sequer ter institucionalizado a participação dos presbíteros em suas decisões, bem como os planejamentos pastorais e prioridades lançados da cúpula, sem a subsidiariedade de serviços concretos para sua implantação.

4) Superar a não responsabilidade dos ministros perante as suas comunidades. Assim, não serão julgados e avaliados apenas pela instância superior, mas também pela eficácia do seu serviço no ministério, exercido no seio da comunidade e para ela. Este cuidado consiste em levar a sério o evangelho do poder como “diakonia” e não como privilégio salvo por decretos e sustentação de instâncias superiores, ressalvando-se ao mesmo tempo a corresponsabilidade primigênia de todos os cristãos pela Igreja.

5) Salvaguardar sempre o princípio da subsidiariedade: a comunidade que pode viver com seus humildes serviços viverá de seus humildes serviços e não dos serviços provenientes de fora. Aliás, é a Igreja-“sociedade” que precisa de serviços sofisticados e não a Igreja-“comunidade”!

6) Procurar fazer dos Conselhos — Sínodo dos Bispos, Conselhos Diocesanos, Presbiterais, Pastorais, Paroquiais, de Capela etc. — instâncias de tomadas de decisão com participação de todos e não de meros conselhos, que os respectivos titulares põem no bolso e continuam a fazer o que bem entendem. Não sejam instâncias onde sempre se reserva lugar para bocados e resquícios de “monarquias” de alguns na Igreja.

7) Abrir-se para a possibilidade de Concílio verdadeiramente ecumênico com a participação ativa e decisória de ministros ordenados e não ordenados de todos os níveis e tipos, que seria mais representativo do povo de Deus, com membros eleitos e não nomeados com artifícios e ideologias. Não se pode deixar de ver nisso imensas possibilidades para o ecumenismo.

8) Poderíamos pensar, sem arrepio nenhum de ordem teológica, até mesmo em papado, episcopado, paroquiado etc. exercidos por pessoas jurídicas e não por pessoas físicas, ou melhor por um grupo de pessoas físicas que colegialmente exerceria o respectivo ministério que atualmente se atribui a uma só pessoa física. Elas viveriam em verdadeira comunidade de vida e decisão, viveriam em nível de direção de Igreja mais intensamente a “koinonia”, essência e cerne da Igreja.

 

III. PARA CONCLUIR

 

Abordei a exigência de se levar a essência da Igreja, que é a “koinonia”, para o nível da direção e coordenação dos ministérios, bem como a exigência da sinodalidade no exercício dos ministérios, enquanto princípios que poderiam comandar um processo de intensa participação de todos na responsabilidade pela Igreja, elencando propostas no sentido de superar várias falhas de Igreja contra os princípios apresentados.

Assim como, no passado, os sistemas seculares de governo totalitário e monárquico influenciaram enormemente nas modalidades de exercício e teorias sobre os ministérios no seio da Igreja, nada obsta que as ideias democráticas de hoje, também tragam a sua contribuição no mesmo campo. Quanto à cooptação aos ministérios ordenados, o caráter democrático pode-se expressar, sem nenhuma objeção teológica: a) na própria designação para o ministério, com ampla participação comunitária; e b) nas maneiras de exercer o ministério, no tempo de seu exercício, no controle pela comunidade do seu exercício etc. Quanto à fonte e raiz do seu exercício, porém, far-se-ia mister o sacramento da ordem, que de fato significa um comissionamento do alto e não da base do povo de Deus. Com isso, salvamos o que teologicamente se deve ressalvar.

Antes do ponto final, frisemos uma vez mais que não é a teologia em si que emperra uma reforma e renovação de Igreja, mas hábitos inveterados de pensar e agir sem se colocarem alternativas. Espero que, manejando o pensamento utópico, as suas propostas vão se tornando cada vez mais tópicas e inscritas no real de Igreja.

João Rezende Costa

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