quarta-feira, 29 de maio de 2024

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A CELEBRAÇÃO LITÚRICA DE CORPUS CHRISTI

 

 

 

1-    ORIENTAÇÕES INICIAIS

 

(Obs.: Se, ao final da Missa, não houver procissão, faça-se ao menos um momento de adoração ao Ssmo. Sacramento, após a comunhão, e se dê a bênção, conforme as p.36-37 do Hinário Litúrgico da Diocese. A procissão se faça depois da Missa, na qual se consagra a hóstia que será levada processionalmente. Se a procissão se faz logo depois da Missa, coloca- -se, no término da comunhão dos fiéis, o ostensório com a hóstia consagrada no altar. Terminada a oração depois da comunhão, omitindo-se os ritos finais, inicia-se a procissão, finalizando-se com a Bênção com o Ssmo. Sacramento).

A Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a ação da Igreja. É de onde tudo deve iniciar e onde devemos chegar, dando graças à Deus, por Jesus Cristo, pelos frutos recebidos. Em torno da mesa do Santo Altar, celebremos o seu louvor.

Grande Mistério, a Eucaristia! Mistério que deve antes de tudo, ser bem celebrado. É preciso que a Santa Missa seja posta no centro da vida cristã e que em cada comunidade se faça de tudo para celebrá-la com decoro (...) com uma séria atenção também aos aspectos da sacralidade que deve caracterizar o canto e a música litúrgica. É preciso, em particular, cultivar, quer na celebração da missa, quer no culto eucarístico fora da missa, a viva consciência da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, gestos, movimentos e com todo o conjunto do comportamento. (...) o destaque que deve ser dado aos momentos de silêncio, seja na celebração, seja na adoração eucarística. É necessário que todo modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros seja marcado por um extremo respeito (...). 

 

A adoração eucarística fora da missa se torne, durante este ano, um empenho especial para cada comunidade paroquial e religiosa. Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com nossa Fé e nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo (...).[1]  

 

A Solenidade do Corpo e do Sangue do Senhor

 

Na Quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra a Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor. A Festa, estendida em 1264 pelo Papa Urbano IV a toda a Igreja latina, por um lado, foi uma reposta de Fé e de culto a doutrinas hereges sobre a presença real de Cristo na Eucaristia; por outro foi a coroação de um movimento de ardente devoção para com o augusto Sacramento do Altar.

 

A piedade popular, portanto, favoreceu o processo de instituição da festa de Corpus Christi; por sua vez esta festa foi a causa e o motivo do surgimento de novas formas de piedade eucarística no povo de Deus.

 

Durante séculos, a celebração de Corpus Christi foi o principal ponto de convergência da piedade popular em relação à Eucaristia. Nos séculos XVI-XVII, a Fé, reavivada pela necessidade de reagir às negações do movimento protestante, e a cultura (...) concorreram para tornar vivas e significativas muitas expressões da piedade popular para com o Mistério da Eucaristia.

 

A devoção eucarística, assim enraizada no povo cristão deve, contudo, ser educada a perceber duas realidades fundamentais:

 

1.    que o supremo ponto de referência da piedade eucarística é a Páscoa do Senhor; de fato, a Páscoa, segundo a visão dos santos Padres, é a Festa da Eucaristia e , por outro lado, a Eucaristia é antes de tudo Celebração da Páscoa, isto é, da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus;

 

2.    que toda forma de devoção cristã tem uma intrínseca referência ao Sacrifício eucarístico, seja porque dispõe à celebração, seja porque prolonga as orientações cultuais e existenciais por ela suscitadas.

 

Por isso, o Ritual Romano adverte: “Os fiéis, ao cultuarem o Cristo presente no Sacramento, lembrem-se de que esta presença decorre do Sacrifício e tende à Comunhão sacramental e espiritual”.[2]

 

A procissão da Solenidade de Corpus Christi é, por assim dizer, a “forma tipo” das procissões eucarísticas. De fato, ela prolonga a Celebração da Eucaristia: logo após a Missa, a Hóstia, que nela foi consagrada, é levada para fora do recinto eclesial a fim de que o povo cristão “dê testemunho público de Fé e de Veneração para com o Santíssimo Sacramento”.[3]

 

Os fiéis compreendem e amam os valores presentes na procissão de Corpus Christi: eles se sentem “povo de Deus” que caminha com o seu Senhor, proclamando a fé nele, que se tornou verdadeiramente o “Deus conosco”.

 

É preciso, porém, que nas procissões eucarísticas se observem as normas que regulam o seu desenrolar,[4] principalmente aqueles que garantem a sua dignidade e a reverência devida ao Santíssimo Sacramento;[5] e é também necessário que os elementos característicos da piedade popular, como o enfeite das ruas e das janelas, a homenagem das flores, os altares onde será colocado o Santíssimo nas paradas dos percursos, os cantos e as orações, “todos levem a manifestar a própria Fé em Cristo, unicamente voltados para o louvor do Senhor”,[6] e isentos de qualquer forma de competição.

 

As procissões eucarísticas geralmente se encerram com a Bênção do Santíssimo Sacramento. No caso específico da procissão de Corpus Christi , a Bênção é a conclusão Solene de toda a Celebração: no lugar da costumeira Bênção sacerdotal é dada a Bênção com o Santíssimo Sacramento.

 

É importante que os fiéis entendam que a bênção com o Santíssimo Sacramento não é uma forma de piedade eucarística por si só, mas é o momento conclusivo de um encontro cultual suficientemente prolongado. Por isso, a norma litúrgica evita “a exposição feita unicamente para dar a Bênção”. [7] 

 

A adoração eucarística

 

A adoração do Santíssimo Sacramento é uma expressão particularmente difundida de culto à Eucaristia, e a Igreja exorta vivamente os pastores e os fiéis a essa prática.

 

A sua forma primitiva pode ser remontada à adoração que, na Quinta-feira Santa, é feita após a celebração da missa na Ceia do Senhor e a reposição das sagradas Espécies. Ela é altamente expressiva da ligação existente entre a celebração do memorial do sacrifício do Senhor e a sua presença permanente nas Espécies consagradas. A conservação das sagradas Espécies, motivada sobretudo pela necessidade de poder dispor delas em todo momento para administrar o Viático aos enfermos , fez surgir nos fiéis o louvável de se recolher diante do tabernáculo  para adorar a Cristo presente no Sacramento.[8]

 

De fato, “a fé na presença real do Senhor, conduz naturalmente à manifestação externa e pública dessa mesma fé [...]. A piedade, portanto, que leva os fiéis a se prostrarem diante da santa Eucaristia, estimula-os a participar mais profundamente do mistério pascal e a responder com gratidão ao dom daquele que, através da sua humanidade, infunde incessantemente a vida divina nos membros do seu Corpo. Permanecendo junto a Cristo Senhor, eles gozam de sua íntima familiaridade e diante dele abrem o próprio coração em prol de si mesmos e de todos os seus e oram pela paz e pela salvação do mundo. Oferecendo toda a sua vida com Cristo ao Pai pelo Espírito Santo, recebem desse admirável intercâmbio um aumento de fé, de esperança e de caridade. E assim alimentam as disposições corretas para celebrar, com a devoção conveniente, o memorial do Senhor e receber frequentemente o Pão que nos é dado pelo Pai.[9]

 

A adoração do santíssimo Sacramento, na qual convergem formas litúrgicas e expressões de piedade popular e a qual não é fácil distinguir claramente os limites, pode revestir-se de várias modalidades:[10]

 

1.   A visita simples ao Santíssimo Sacramento colocado no tabernáculo: breve encontro com Cristo sugerido pela fé em sua presença e caracterizado pela oração silenciosa;

 

2. A adoração ao Santíssimo Sacramento exposto, segundo as normas litúrgicas, no ostensório ou na píxide, de forma prolongada ou breve;[11]

 

3. A assim chamada Adoração perpétua e a das Quarenta Horas, que reúnem uma comunidade religiosa toda, ou uma associação eucarística, ou uma comunidade paroquial, e fornecem a ocasião para várias expressões de piedade eucarística.[12]

 

Para esses momentos de Adoração, os fiéis devem ser ajudados a se servirem da Sagrada Escritura como inigualável livro de oração, a utilizarem cantos e preces idôneas, a se familiarizarem com algumas estruturas simples da Liturgia das Horas, a seguirem o ritmo do Ano Litúrgico, a permanecerem em oração silenciosa. Desse modo, compreenderão progressivamente que durante a adoração ao Santíssimo Sacramento não se deve realizar outras práticas devocionais em honra da Virgem Maria e dos Santos.[13] Entretanto, por causa da estreita relação que une Maria a Cristo, a recitação do rosário poderia ajudar a dar à oração uma profunda orientação cristológica, meditando nele os mistérios da Encarnação e da Redenção.

 

Na Celebração da Missa, não se deve salientar de modo inadequado as palavras da Instituição, nem se interrompa a Oração Eucarística para momentos de louvor a Cristo presente na Eucaristia com aplausos, vivas, procissões, hinos de louvor eucarístico e outras manifestações que exaltem de tal maneira o sentido da presença real que acabem esvaziando as várias dimensões da Celebração Eucarística. Os cantos e os gestos sejam adequados ao momento celebrativo e de acordo com os critérios exigidos para a Celebração litúrgica (...).[14] 



[1] Cf. Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine do Sumo Pontífice João Paulo II para o Ano da Eucaristia.

 

[2] Ritual Romano, A sagrada comunhão e o culto do mistério eucarístico fora da Missa, São Paulo, Paulinas, 2000, 80.

 

[3] Ibid., 101; cf. CIC, can. 944

 

[4] Ritual Romano, A sagrada comunhão e o culto do mistério eucarístico fora da Missa, cit., 101-108.

 

[5] Ibid., 101-102

 

[6] Ibid., 104

 

[7] Ibid., 81

 

[8] Cf. Pio XII, Carta encíclica Mediador Dei. In: AAS 39 (1947) 568-572; Paulo VI, Carta encíclica Mysterium fidei. In: AAS 57 (1965) 769-772; S. Congregação dos Ritos, Instrução Eucharisticum  mysterium, nn. 49-50. In: AAS 59 (1967) 566-567; Ritual Romano, A sagrada comunhão e o culto do mistério eucarístico fora da Missa, cit., 5.

 

[9] S. Congregação dos Ritos, Instrução Eucharisticum mysterium nn. 49-50.

 

[10] Quanto às indulgências concedidas para a adoração e a procissão eucarísticas, cf. EI, Aliae concessiones, 7, pp. 54-55.

 

[11] Cf. Ritual Romano, A sagrada comunhão e o culto do mistério eucarístico fora da Missa, cit., 82-89; CIC, can 941.

 

[12] Cf. CIC, can. 942.

 

[13] Cf. resposta à dúvida sobre o n. 62 da Instrução Eucharisticum mysterium. In: Notitiae 4 (1968) 133-134; sobre o rosário, cf. nota seguinte.

 

 

[14] Cf. Doc. 53 da CNBB: Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica.

 

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A maior parte deste conteúdo foi extraída do Diretório sobre piedade popular e liturgia: princípios e orientações. Congregação para o Culto Divino. p. 138-143

 

https://www.icatolica.com/2016/05/orientacoes-liturgicas-para-celebracao.html

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