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sábado, 5 de março de 2022

SANTO AGOSTINHO E A QUARESMA

O ciclo litúrgico dos mistérios do Senhor significa a consagração da Igreja e da santificação do tempo, totalmente contrário dos ciclos cósmicos da filosofia antiga. Contra o rolamento perpétuo de séculos sem esperança, a Igreja introduziu a Páscoa, cujo evento central é a ressurreição do Senhor, e espero a ressurreição de todos os homens.

Tal tem sido a revolução final da história, já ordenada e no topo das vezes em dar a Cristo um conteúdo espiritual que os pagãos nunca teve, nem tem o tempo entre os muçulmanos e os hindus.

Nosso tempo está cheio de Cristo, e assim podemos chamá-lo cristão. Então, de pé no meio de Santo Agostinho este evento cósmico, ou casas divididas a divisão do tempo em duas partes: antes e depois da Páscoa.

A primeira é a tentação, luta e tristeza, o segundo de triunfo e alegria. “Desta vez, nossa miséria e gemido significa Quaresma antes da Páscoa, e os 50 dias dedicados ao louvor de Deus representam o tempo de alegria, felicidade descanso, da vida eterna, o reino sem fim ainda chegou.

Há, portanto, duas vezes, uma antes da ressurreição do Senhor, outra depois, aquele em que estamos agora, outra em que esperamos ser. O tempo da Quaresma, que é o nosso tempo presente, é triste. O aleluia pascal significa o tempo de alegria, descanso e possuir o reino. É comum no louvor da Igreja de Deus cantando aleluia – para significar a vida de louvor incessante do reino futuro.

A paixão do Senhor é a nossa vez, nós somos. Os açoites, bofetadas, insultos, cuspir, a coroa de espinhos, o vinho com fel, o vinagre na esponja, insultos, insultos e, finalmente, o pingente de cruz em seu corpo, mas o que elas significam tempo vivemos, o que é triste, a morte, a tentação?

Esse é um tempo. Tempo feio, mas se usá-lo bem, o verdadeiro tempo. O que mais coisa feia adubação um campo? Era mais bonita antes de receber o estrume, mas foi pago a dar frutos. Feiura! Então, desta vez é um sinal, é tempo para nós fertilidade” (Sermão 254,5).

Apesar de todos os tempos cristã, enquanto vivemos neste mundo, tem uma característica de Quaresma no sentido mencionado acima, Quaresma cristã dispõe de um número limitado de dias para se preparar para a festa da Páscoa espaço.

Este tempo é muito solenemente celebrada na época do Bispo de Hipona: “Eu solenemente recomendar tempo para refletir mais seriamente sobre a sua alma e a penitência corporal está chegando. Porque estes são os mais sagrados 40 dias ao redor do globo da terra em que a abordagem da Páscoa, todos, reconciliados com Deus em Cristo, celebrada com devoção louvável” (Sermão 209, 1).

Este exórdio solene de um sermão quaresmal bem indica a seriedade com que a Igreja promoveu a reconciliação dos cristãos com Deus. Pensamento Central da Quaresma era o mistério da redenção humana operada por Cristo, e deve ser operado pelos cristãos com a cooperação espiritual e física.

Na raiz da espiritualidade quaresmal coloca o Santo humildade: “Por este tempo de humildade que significa nos dias de hoje é a vida deste mundo que Cristo, nosso Senhor, que já morreu por nós, de uma forma novamente sofrem todos os anos com o retorno desta solenidade. Para o que já foi feito em tempo para que seja renovada a nossa vida, é comemorado todos os anos para trazê-lo à mente.

Se, portanto, todo o tempo da nossa peregrinação, vivendo em meio a tentações, temos de ser humildes de coração, quanto mais nos dias de hoje, não só viver, mas também simboliza desta vez na celebração do nosso humilhação!

Nos ensinou a ser humilde humildade de Cristo, ele se entregou à morte pelos ímpios grande nos faz a grandeza de Cristo, pois, ressuscitando, estava à frente de nossa piedade” (Sermão 206, 1).

O cristão, então, é para compartilhar a paixão e a ressurreição de Cristo. Por humildade de paixão, para a glória da ressurreição: este é o caminho espiritual da Quaresma cristã. Assim, a cruz está no meio deste tempo, não só como um sinal de redenção, mas também como uma bandeira da milícia cristã. “E nesta cruz, ao longo desta vida que é realizado por meio de julgamento, deve ser sempre pregado Christian” (Sermão 205, 1).

Qual é o programa espiritual desta vez? O mais pesado do poder espiritual através da meditação da palavra de Deus, ou diremos das verdades eternas, e a crucificação ou corpo, destinado especialmente para a mortificação rápido.

Três tipos de penitência quaresmal a Escritura nos dá três outros personagens da história da salvação: Moisés, Elias e Cristo. Eles nos ensinam que “não devemos resolver e se apegam a este mundo, mas crucificar o velho homem, não em glutonarias e bebedeiras caminhada em prazeres carnais e impurezas, não em contendas e inveja, mas devemos vestir-nos com Jesus Cristo, sem se preocupar as paixões do corpo (Romanos 13,13-14).

Mora tanto tempo, oh cristão! Se você não quiser mergulhar na lama da terra, não descer a partir desta cruz. E assim, eles devem viver especialmente neste tempo quaresmal enquanto se aguarda uma nova vida” (Sermão 205, 1).

Quaresma tem um significado total para a vida cristã: renunciando desejos desordenados do mundo. É a mesma exigência batismal com a sua abnegação das vaidades mundanas: “Nos é recomendado por nossa conduta, enquanto vivemos neste mundo, que se abstenham de os desejos do século, isso indica o jejum desta vez conhecido por todos pelo nome de Quaresma”. (Sermão 270, 3).

A ocupação deste tempo é resumido na meditação da Palavra de Deus, em penitência, jejum e as obras de misericórdia significava particularmente corpo. A Igreja recomenda mais oração para este tempo: “Durante estes dias se dedicam a orações mais frequentes e fervorosas” (Sermão 205, 2). O objetivo é alcançar a humildade e contrição dos pecados, ou o que ele chama de santo “esforçar-se gemidos” (em gemitu laborare).

O gemido da oração reconhece duas causas: o sentido do pecado e da ausência da pátria durante a peregrinação. Refletir sobre a miséria do pecado e da ausência de Deus e dos grandes ativos que esperamos na vida após a morte Quaresma dá o seu selo de austeridade.

Assim, a memória da paixão de Cristo permeia este programa porque o aniversário do trabalho da paixão de Cristo nos lembra a condição temporária da existência cristã, sujeitos a muitas tentações, e nos confirma na esperança de perdão.

Agostinho também dá grande importância para a execução de obras de misericórdia, e dedica um sermão quaresmal perdão das ofensas. O homem que odeia é uma prisão escura para si mesmo, seu coração é a sua prisão. Por esta razão, ele diz as palavras de João: Aquele que não ama a seu irmão ainda está nas trevas (Jo 3, 15).

Este exercício é necessário para os cristãos durante a sua vida, mas Quaresma é quando o coração deve ser purificado, e Agostinho não se cansa de repetir que é um dos exercícios quaresmais que devem ser considerados:

“Atenção a todos os grandes homens e mulheres, e pequenos, leigos e clérigos, e também me dirijo. Ouvi de tudo, todos nós tememos. Se perdemos contra os irmãos, o que quer que enviamos o pai, que também será o nosso juiz; pedir perdão a todos, para que possamos ter ofendido e ferido pelos nossos pecados” (Sermão 211, 5).

O exercício do perdão mútuo foi muito necessário na diocese de Hipona, porque os africanos eram vingativos. Você também está ciente de que o jejum corporal era uma prática universal da Igreja, com a privação de coisas legais e ilegais”, punir nossos corpos e reduz a servidão e, às paixões desordenadas não arrastar-nos para coisas ilegais, para dominar prevenimos coisas também lícitas” (Sermão 207, 2).

Mas o que é negado para o corpo devem ser distribuídos aos necessitados, porque o jejum não está fazendo o que salva sem a prática da misericórdia. Constantemente liga as três coisas sagradas, jejum, orações e esmolas como um meio para se preparar para a Páscoa: “Temos que dar esmola, o jejum e a oração para superar as tentações do mundo, a vida as obras do diabo, as sugestões da carne, a turbulência temporária e todos os tipos de violência física e espiritual” (Sermão 207, 1) adversidade.

Tudo isso ascese quaresmal é em si qualquer momento. Por isso Santo Agostinho lembra Quaresma à mesma peregrinação humana progride neste mundo entre contradições, lutas e batalhas que só terminam com o feriado da Páscoa. “Os pobres que dão esmolas, o que mais eles são, mas a nossa bagagem, para nos ajudar a transportar os nossos bens da terra para o céu? As entregas para a prateleira e leva para o céu o que você dá” (Sermão 97 A, 1).

“Minha exortação, irmãos, seria esta: dar o pão e ligue para os portões do pão celestial. O Senhor é o Pão; diz: Eu sou o pão da vida (Jo 5, 35). Como você está indo para dar-lhe a você, quando você sabe que não oferecem os necessitados? Antes que você é um necessitado, e como você mesmo são necessários antes que o outro. Mas ela é necessária para o outro, conforme necessário, enquanto aquele a quem você não está na necessidade de ninguém. Faça o que você quer que ele faça com você (Sermão 389, 6).

(Do livro do Pe. Victor Capánaga Agostinho, mestre da conversão cristã, Madrid 1974, pp 417-420, Panedas rápida P. Paul, remo).

https://diocesedeformosa.com.br/artigos/santo-agostinho-para-a-quaresma/

sábado, 26 de fevereiro de 2022

SANTO AGOSTINHO

A TEORIA DA ILUMINAÇÃO NATURAL

Por João Francisco P. Cabral (*)

Sempre almejando a sabedoria e mais ainda a verdade, Agostinho de Hipona passou por diversas experiências filosóficas, desde seu materialismo racionalista, passando pelo ceticismo, até sua substituição por uma concepção espiritualista. Porém, nunca negou a existência de Deus. Estas experiências fizeram com que o filósofo cristão amadurecesse bastante, inclusive no que diz respeito às Sagradas Escrituras, que passou a compreender de forma mais significativa e profunda.

Em princípio, Agostinho havia se integrado à seita Maniqueísta, uma doutrina persa que pregava a existência de dois polos equivalentes e em permanente luta no universo: o Bem e o Mal. Perceba que segundo esse modo de pensar, além de existirem, isto é, possuírem realidades concretas, esses elementos têm o mesmo valor ou a mesma força. Assim, os cristãos representavam os adeptos do Bem e os pagãos e bárbaros, os do Mal.

No entanto, foi no neoplatonismo que Agostinho percebeu a existência das coisas incorpóreas, reorientando sua busca em um sentido transcendente. Segundo interpretações de Platão, o Mal não existe enquanto entidade, só o Bem como ideia ontológica por excelência. O Mal não é uma realidade, é um juízo e uma ação errôneos por ignorância. A partir daí, Agostinho verificou que todas as coisas são boas, porque são obras de Deus e que o Mal é culpa da forma como utilizamos o livre arbítrio. Mas verificou também que todos buscam a felicidade e o Bem (pensamentos semelhantes aos de Sócrates!). Eis, então, o problema: como reconhecer o Bem e a felicidade? Agostinho constatou, pois, que a felicidade somente se encontra em Deus, o Bem Supremo, e que nós temos esse conhecimento em nosso íntimo, de forma confusa.

Desse modo, Agostinho estabelece uma ordem de perfeição, uma graduação ou distinção dos seres para alcançar esse conhecimento que nos levaria a uma vida beata. O corpo é mortal e a alma é seu princípio de vida. Esta distinção vai dos seres inanimados e passa pelos vegetais, animais até o homem. Mas não termina aqui. Acima da razão (do homem) ainda há verdades que não dependem da subjetividade, pois suas leis são universais e necessárias: as matemáticas, a estética e a moral. Só acima destas está Deus, que as cria, ordena e possibilita o seu conhecimento, que deve, agora, ser buscado na interioridade do homem.

Nessa ordem e por um processo de interiorização e busca, pode-se encontrar essas verdades porque Agostinho admite que Deus as ilumina, estando elas já anteriormente em nosso espírito. A doutrina da Iluminação divina caracteriza-se por uma luz que não é material e que se atinge quando do encontro com o conhecimento da verdade para que o homem possa ter uma vida feliz e beata. O lembrar-se disto, isto é, o recordar-se de um conhecimento prévio é o que o filósofo/teólogo denomina de rememoração de Deus (herança da teoria da reminiscência platônica).

Agostinho teve, portanto, muita importância para a consolidação da Igreja. Isto porque em um momento de crise sobre posições divergentes, o seu pensamento evidenciava a necessidade de conciliar razão e fé, utilizando a filosofia como um instrumento que esclarecia ou explicava a relação do homem com Deus, ainda que nesta devesse prevalecer a fé. Também porque isso auxiliava os interesses da Igreja com relação à conversão dos pagãos ao invés de lutar contra eles, ampliando o número de propagadores da fé. E, assim com uma relativa estabilidade, a Igreja poderia expandir-se ainda mais, buscando o seu ideal de universalidade e comunidade em cristo.

(*) Colaborador Brasil Escola

Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

CABRAL, João Francisco Pereira. "Teoria da Iluminação natural em Santo Agostinho"; Brasil Escola. Disponível em:

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/teoria-iluminacao-natural-santo-agostinho.htm. Acesso em 17 de dezembro de 2021.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

SANTO AGOSTINHO

OS DEZ ENSINAMENTOS SOBRE A CONFISSÃO

Santo Agostinho nos deixou 10 ensinamentos para que possamos entender melhor sobre o sacramento da confissão.

1-“Quem confessa os próprios pecados está em harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se te associas a Deus, destróis o que fizeste para que Deus salve o que ele fez”.

2-“A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribuis para a verdade e consegues chegar à luz”.

3-“Quem não crer que a Igreja lhe perdoa os pecados, a esse não lhe serão perdoados os pecados”.

4-“Todo homem que pensa ser impossível seus pecados lhe serem perdoados, com o seu desespero torna-se pior do que era antes”.

5-“Humildade é a honesta confissão do ser pecador”.

6-“O princípio de nossa purificação é a humilde confissão de nossos pecados”.

7-“A penitência é uma tarefa diária. O homem caminha sem cessar por este mundo cheio de poluição e torna-se praticamente impossível não se contaminar. Quando não de lama, ao menos de poeira”.

8-“Para chegar à ressurreição da graça do Senhor temos de passar primeiro pela crucifixão de nossos pecados na Confissão”.

9-“Quando começas a detestar-te pelo pecado que Deus detesta em ti, começas a amar a Deus como és”.

10-“O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo de tua alegria”.

https://maepuraeincomparavel.com/dez-ensinamentos-sobre-confissao/

sábado, 12 de fevereiro de 2022

ESPIRITUALIDADE

Carlo Acutis e Aparecida: mais do que uma data litúrgica em comum

carloacutis.com / shutterstock

Assim como Nossa Senhora Aparecida, Carlo Acutis tem uma forte ligação com o Brasil. E o curioso é que ele nunca visitou o país

O jovem Carlo Acutis, beatificado em 2020, tem sua memória celebrada pela Igreja em 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Foi nesta data, em 2006, que o adolescente partiu para a Casa do Pai, aos 15 anos de idade.


Mas não é só a data litúrgica que ele e a padroeira do Brasil têm em comum: ambos conquistaram o coração dos devotos brasileiros.


Mesmo sem nunca ter visitado o Brasil, Acutis também tem uma fortíssima ligação com o país. Aliás, um dos milagres reconhecidos pelo Vaticano no processo de beatificação do jovem italiano aconteceu no Brasil.


Milagre de Carlo Acutis no Brasil


O Vaticano reconheceu o milagre pela intercessão de Carlo Acutis registrado no Brasil, onde um menino, morador do estado do Mato Grosso do Sul, foi curado de uma doença rara conhecida por anomalia congênita do pâncreas. O garoto, no dia 12 de outubro de 2010, em uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, recebeu a bênção sacerdotal, com a relíquia de Carlo Acutis. Após a bênção, a família relata que ele recebeu a cura. Certamente, não foi mera coincidência…


Leia também:
Família brasileira atribui milagre de cura de um garoto a Carlo Acutis

Devoção a Nossa Senhora


Outra forte conexão de Carlo Acutis com Aparecida: em seu quarto há uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que a mãe dele ganhou de um sacerdote brasileiro. O beato, de fato, nutria uma forte devoção à Maria. Certa vez, ele afirmou: A Virgem Maria foi a única mulher da minha vida.”


Além disso, o jovem rezava o Rosário e recebia a Eucaristia todos os dias todos os dias. Ele chegou a recomendar:


“Lembre-se de recitar o Rosário todos os dias”; “O Rosário é a escada mais curta para chegar ao céu”; “Depois da Santa Eucaristia, o Santo Rosário é a arma mais poderosa para combater o demônio”; “Faça pedidos e ofereça flores ao Senhor e Nossa Senhora, a fim de ajudar os outros”.


Maria e Acutis


Vale lembrar que, perto dos 15 anos (não se sabe a idade exata), Maria de Nazaré aceitou ser Mãe do Verbo de Deus encarnado. Também o jovem Carlo Acutis, aos 15 anos de idade, partiu para os braços de Jesus e de Maria. Agora, certamente, Nossa Senhora, que Carlinho tanto amou e admirou, está ajudando este jovem a interceder pelo Brasil e pelo mundo.

 

https://pt.aleteia.org/2021/10/11/carlo-acutis-e-aparecida-mais-do-que-uma-data-liturgica-em-comum/

SANTO AGOSTINHO


A Filosofia cristã de Agostinho

Por Sávio Laet de Barros Campos (*)

Agostinho opunha à filosofia dos gentios uma filosofia cristã, a qual era, para ele, a única verdadeira. A Juliano, ele dizia: : “Por favor, não seja para ti de maior valor a filosofia dos gentios que a nossa cristã, única filosofia verdadeira, pois esta palavra significa estudo ou amor à sabedoria”41. No De Civitate Dei, a lógica que o levara a fazer tal asserção é assaz simples: o filósofo não é senão o amante da sabedoria. Agora bem, Deus é a própria sabedoria. Ora, o único Deus verdadeiro é o Deus dos cristãos. Logo, só os cristãos amam a verdadeira sabedoria. Donde só eles podem reivindicar, com justeza, o título de filósofos. 42

Ora, então a filosofia só surgiu com o cristianismo? Decerto que não. Entretanto, os filósofos pagãos só cultivaram a verdadeira sabedoria naquilo que ensinaram consoante a fé cristã, isto é, naquelas sentenças que se coadunam com a verdade cristã. Destarte, Agostinho reconhecia, ao lado dos profetas (aos quais tomava como “filósofos” por excelência), outros que, inobstante não terem alcançado a verdade plena, conseguiram acercar-se dela, embora apenas parcialmente. No De Civitate Dei, ele pondera: Todas as verdades que entre seus erros alguns filósofos chegaram a discutir e se esforçaram em persuadir com esmero (...) tudo isso foi pregado ao povo na Cidade de Deus por boca dos profetas, sem argumentos e sem disputas. Para eles (O povo de Israel), eram esses os filósofos, quer dizer os amigos da Sabedoria, seus sábios, seus teólogos, seus profetas e seus doutores em piedade e em probidade.43 Não é difícil imaginar a razão pela qual Agostinho identificava a religião cristã com a verdadeira filosofia e os seus profetas com os verdadeiros sábios.44 Com efeito, ele viveu numa época em que a ascese e a contemplação eram apanágio de uma filosofia que aspirava a ser “salvífica”. A filosofia pagã do tempo de Agostinho, sobretudo de cunho neoplatônico, se esforçava para proporcionar aos seus sequazes, por meio de uma mística especulativa ascendente, a libertação das suas almas do cárcere corporal, tão inquinado às paixões e à dispersão. Ora, para o nosso pensador, semelhante salvação só se encontrava no cristianismo. Só o cristianismo poderia tornar a alma verdadeiramente livre. Só ele poderia dar a conhecer, sem rastros de erros, o caminho da salvação, que é Cristo. Ademais, o cristianismo, contrariamente às demais seitas filosófico-religiosas, não reservava esta salvação apenas a uma casta, mas colocava-a ao alcance de todos. Eis a clássica passagem na qual Agostinho retoma o itinerário do filósofo pagão Porfírio, mostrando como ele aponta para a religião cristã que, contudo, não descobriu:

Assim, não o satisfazia o que com tanto esmero aprendera a respeito da libertação da alma e lhe parecia, ou melhor, parecia a outros, que o conheciam e professavam. Quando afirma que nem mesmo da filosofia mais verdadeira teve conhecimento de seita que contenha o caminho universal para a libertação da alma, parece-me demonstrar, à evidência, que a filosofia em que filosofou não era a mais verdadeira ou não continha a referida senda. Como pode, é claro, ser a mais verdadeira, se não contém semelhante senda? Pois que outra senda universal existe para a libertação da alma, senão a que livra todas as almas e, sem ela, nenhuma se livra? (...) Essa é a religião cristã, que contém o caminho universal para a libertação da alma, porque por nenhum, senão por ele, pode ver-se livre.45 Sem embargo, Agostinho estava tão certo de que a religião cristã é a única fonte da verdadeira sabedoria, que afiançava aos seus leitores que, se todos os grandes filósofos do passado voltassem à vida e tivessem a oportunidade de conhecer a doutrina cristã, deveras não pestanejariam em lançar fora todas as asserções errôneas que fizeram, ou seja, todas aquelas doutrinas que propugnaram e que não se conjugam com a fé e a religião cristã, a fim de se fazerem cristãos: Portanto, se aqueles filósofos pudessem voltar à vida conosco, reconheceriam, sem dúvida, a força da Autoridade, que por vias tão simples operou a salvação da humanidade e – mudando algumas palavras e sentenças – ter-se-iam feito cristãos, como vimos que se fizeram muitos platônicos modernos de nossa época.46

Agostinho, no célebre Sermão 43, expressa numa fórmula perfeita esta dupla atividade da razão que funda a filosofia cristã sobre a qual discorremos acima: “(...) compreende para crer, crê para compreender (intellige ut credas, crede ut intelligas)”47. Com efeito, compreendendo aquilo em que se deve crer, cremos48 e, crendo, podemos compreender aquilo em que cremos. Se, por um lado, é preciso partir da fé; por outro, é dever de quem crê, buscar inteligir aquilo em que crê, pois a inteligência não elimina, antes, clarifica a fé. 49 De sorte que fé e razão se complementam50, porquanto se “A fé busca, o entendimento encontra” 51. Aliás, na vida eterna, a fé dará lugar à visão, como a esperança à posse, pois só a caridade permanecerá e será robustecida.52 Sendo assim, o filosofar na fé é uma espécie de prelibação da visão da glória. O entendimento é, pois, o intermediário entre a fé e a visão. Ele advém qual recompensa para quem creu: “O entendimento é uma recompensa da fé”53, “A fé é um mérito e o entendimento é um prêmio”54. Neste sentido, ainda no Comentário ao Evangelho de João, Agostinho afirma: “(...) o entendimento é um fruto da fé”55. E este entendimento só será pleno na Pátria. Por ora, vivemos numa espécie de interstício entre a fé e a visão, que consiste em procurar inteligir o conteúdo da fé. Todavia, permanece como uma das “indeterminações agostinianas”, até onde vai esta inteligência que pressupõe a fé e que consiste na tentativa de entendê-la. Será que ela chega a pretender obter as “rationes necessariae” dos artigos de fé, post fidem? Em Agostinho, há passagens e passagens. Uma delas, no De Vera Religione, inclina-nos a pensar que a resposta à questão por nós levantada seja positiva. Diz Agostinho: De onde resulta que as verdades, nas quais primeiramente acreditamos, fiando-nos na autoridade, tornam-se depois compreensíveis (pela reflexão), até nos parecerem certíssimas.56 Em outras passagens, o Doutor de Hipona afirma de forma tão veemente a inefabilidade divina, que tendemos a pensar que ele não tenha nunca defendido que, post fidem, pudéssemos chegar às “rationes necessariae” dos artigos de fé. Numa destas passagens, no De Ordine, Agostinho ressalta que, com relação a Deus, “(...) se conhece melhor ignorando”57 e, noutra passagem do mesmo diálogo, diz que, no que toca a Deus, “(...) não há nenhum conhecimento na alma a não ser saber até que ponto o desconhece”58 . De qualquer forma, é certo que não há um “racionalismo” em Agostinho, pois sempre se trata de um intelecto fecundado pela fé e pela graça, vale dizer, de um intellectus fidei. Ele mesmo admite: “(...) reconhecemos que caminhamos pela fé e não pela clara visão (...) se não caminharmos pela fé, não poderemos chegar à clara visão (...)”59. Deveras também não há um “ontologismo” agostiniano, pois a visão de Deus em si mesmo, em sua essência, pertence apenas aos bem-aventurados. De fato, no que tange às verdades de fé, “(...) compreender perfeitamente consiste na visão sempiterna de Deus”60, a qual apenas aos celícolas é acessível. Contudo, parece perdurar uma certa indeterminação entre o que pertence à filosofia e o que pertence à teologia no Bispo de Hipona, talvez porque esta demarcação nem fosse um problema para ele. Gilson acena para isto: Não se poderia levantar uma lista de verdades, na qual algumas seriam, para ele, essencialmente filosóficas, enquanto outras seriam essencialmente teológicas; pois todas as verdades necessárias à beatitude, fim último do homem, estão reveladas nas Escrituras; em todas, sem exceção, pode-se e deve-se acreditar. Por outro lado, não há sequer uma entre elas de que a nossa razão não possa obter alguma inteligência, contanto que a isso se dedique, e, ao fazê-lo, o pensamento funciona como razão – já que a fé não mais intervém a título de prova, mas somente a título de objeto.61 Tudo se passa como se, a totalidade das verdades que, ante fidem, assentimos por autoridade, post fidem pudéssemos descobri-las, alcançando-as segundo a medida de nossas forças pela razão, sem, contudo, esgotá-las, visto que elas têm Deus por objeto: “Todas as verdades reveladas podem, ao menos em certa medida, ser conhecidas; nenhuma poderia se esgotada, já que elas têm Deus como objeto”62. Agora bem, se, como havíamos dito, por filosofia cristã, Agostinho entende justamente esta tentativa de a razão inteligir o que havia crido, e que, ademais, esta especulação acerca do credo, torna-se, em Agostinho, como que um antegozo da visão face a face, temos que, na filosofia cristã do nosso filósofo, encerra-se a verdadeira religião. Raciocinando de outro modo, chegamos à mesma conclusão. Com efeito, se, conforme também já assinalamos, a verdadeira religião consiste no esforço de tentarmos chegar à inteligência do que cremos, posto que a beatitude eterna, nosso fim último, consiste na visão de Deus e não na fé, temos novamente que, a filosofia cristã de Agostinho é a verdadeira religião. Gilson é contundente ao constatar isso: Uma filosofia que quer ser um verdadeiro amor pela sabedoria deve partir da fé, da qual será inteligência. Uma religião que se quer tão perfeita quanto possível, deve tender à inteligência a partir da fé. Assim entendida, a verdadeira religião é a verdadeira filosofia e, por sua vez, a verdadeira filosofia é a verdadeira religião. A isso Agostinho chama de “filosofia cristã”, ou seja, tal como ele a entende, uma contemplação racional da revelação cristã (...). 63 A filosofia, que seja verdadeira e, por assim dizer, autêntica, não tem outra função senão a de ensinar o que seja o Princípio sem princípio de todas as coisas e a imensidade do Intelecto que nele reside e o que daí se originou para nossa salvação sem nenhum detrimento para ele, a quem os veneráveis mistérios nos ensinam ser um único Deus onipotente e que ele é uma Trindade Poderosa, Pai e Filho e Espírito Santo (...).64 De qualquer maneira, o certo é que “(...) se crê e se ensina como fundamento da salvação humana que estejam concordes: a filosofia – isto é, a procura da sabedoria – e a religião”65 . De qualquer modo também, o que parece claro em Agostinho, ratificamos, é que não existe em seu pensamento uma nítida distinção entre teologia e filosofia, uma vez que para ele a própria filosofia seria uma teologia. No De Ordine, Agostinho chega a dizer que a filosofia possui tão somente duas questões, a saber, “(...) uma concernente à alma, outra a Deus (...)”66.Ora, no De Civitate Dei, ele define a teologia como sendo uma palavra grega que significa “(...) razão ou discurso sobre a divindade”67. Logo, se a filosofia tem por objeto a Deus, ela também é uma teologia. Ademais, se, de acordo com o que vimos, a filosofia possui um discurso sobre Deus que se estende até a tentativa de intelecção dos próprios mistérios cristãos, podemos dizer que, em Agostinho, há uma filosofia cristã que é, também ela, uma teologia cristã.

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41 AGOSTINHO. Réplica a Juliano. IV, XIV, 72. Disponível em: Acesso em: 24/10/2007. (A tradução para o português é nossa). Referindo-se a esta filosofia, diz Agostinho no Contra Academicos: AGOSTINHO. Contra os Acadêmicos. III, XIX, 42: “Mas foi necessário que passassem muitos séculos e discussões para que se elaborasse, segundo julgo, um só sistema de filosofia perfeitamente verdadeira. Esta filosofia não é a deste mundo, que nossos mistérios com toda a razão abominam, mas a de outro mundo inteligível (...)”.

42 AGOSTINHO. A Cidade de Deus. 7ª ed. Trad. Oscar Paes Lemes. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. VIII, I: “O nome ‘filósofo’ traduzido ao português, significaria ‘amor à sabedoria’. Pois bem, se a sabedoria é Deus, por quem foram feitas todas as coisas, como demonstram a autoridade divina e a verdade, o verdadeiro filósofo é aquele que ama a Deus.” 43 AGOSTINHO. A Cidade de Deus. 4ª ed. Trad. Oscar Paes Lemes. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001. XVIII, XLI, 3. 44 No De Vera Religione, Agostinho rejeita a todos os religiosos que não são filósofos em seus atos de piedade e a todos os filósofos que não religiosos no seu filosofar: AGOSTINHO. A Verdadeira Religião. 7, 12: “Deixemos, pois de lado: – todos os que não são nem filósofos em sua prática religiosa, nem religiosos em sua filosofia (...)”.

45 Idem. Ibidem. X, XXXII, 1. 46 AGOSTINHO. A Verdadeira Religião. 7, 7. 47 GILSON. A Filosofia na Idade Média. p. 144: “Um texto célebre do Sermão 43 resume essa dupla atividade da razão numa fórmula perfeita: compreende para crer, crê para compreender (intellige ut credas, crede ut inelligas).

48 Aqui compreender não significa conhecer o mistério, mas apenas ter presente qual é o objeto ao qual devemos assentir. Por exemplo, saber que a Trindade deve ser crida, não significa compreender o seu mistério e sim assegurar-se dos testemunhos da fé, que nos asseguram que devemos crer nele. 49 Idem. Op. Cit: “E analogamente, por seu turno, a inteligência não elimina a fé, mas a fortalece, e, de certo modo, a clarifica”. 50 Idem. Op. Cit: “(...) fé e razão são complementares (...)”. 51 AGOSTINHO. A Trindade. XV, 2, 2. 52 AGOSTINHO. Solilóquios. Trad. Adaury Frangiotti. Rev. H. Dalbosco. São Paulo: Paulus, 1998. VII, 14: “R. Vejamos, se ainda são necessárias essas três coisas para a alma, depois que ela tenha conseguido ver a Deus, isto é, compreendê-lo. Para que é necessária a fé se já o vê? Tampouco é necessária a esperança, porque já o possui. Porém, o amor não só não perde nada, mas é acrescido em elevadíssimo grau, pois, ao ver aquela beleza singular e verdadeira, amará ainda mais.” 53 AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. XXIX, 6. 54 Idem. Comentário ao Evangelho de São João: Luz, Pastor e Vida. XLVIII, 1. 55 Idem. Comentário ao Evangelho de São João: Médico e Alimento. XXII, 2. 56 Idem. A Verdadeira Religião. 8, 14. 13 no De Ordine, Agostinho 57 Idem. A Ordem. II, XVI, 44. 58 Idem. Ibidem. II, XVIII, 47. 59 AGOSTINHO. A Doutrina Cristã. II, 12, 17. 60 Idem. Ibidem. 61 GILSON, Étienne. Introdução ao Estudo de Santo Agostinho. Trad. Cristiane Negreiros Abbud Ayoub. São Paulo: Discurso Editorial; Paulus, 2006. p. 76. O próprio Agostinho, no De Ordine, afirma que, uma vez crendo por autoridade, podemos, segura e confiantemente, buscarmos com logro as razões das coisas que, a priori, cremos sem compreender: AGOSTINHO. A Ordem. II, IX, 26: “Quem entra por esta porta (a da autorictas) sem nenhuma dúvida segue os preceitos da vida ideal dos quais, quanto já se tenha tornado dócil, finalmente aprenderá que as mesmas coisas, que seguiu sem compreendê-las com a razão, estão dotadas de muita razão (...)”. (O parêntese é nosso).

62 GILSON. Introdução ao Estudo de Santo Agostinho. p. 76. 63 Idem. Ibidem. p. 86 64 AGOSTINHO. A Ordem. II, V, 16. 65 Idem. A Verdadeira Religião. 5, 8. 66 Idem. A Ordem. II, XVIII, 47. 67 Idem. A Cidade de Deus. VIII, I.

Sávio Laet de Barros Campos (*)

Bacharel-Licenciado e Pós-Graduado em Filosofia Pela Universidade Federal de Mato Grosso.

http://www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Agostinho_intellige_ut_credas_crede_ut_intelligas.pdf

sábado, 5 de fevereiro de 2022

NOSSA SENHORA DE LOURDES -11 de Fevereiro

- Foi no ano de 1858 que a Virgem Santíssima apareceu, nas cercanias de Lourdes, França, na gruta Massabielle, a uma jovem chamada Santa Marie Bernard Soubirous ou Santa Bernadete. Essa santa deixou por escrito um testemunho, que entrou para o ofício das leituras do dia de hoje.

- “Certo dia, fui com duas meninas às margens do Rio Gave buscar lenha. Ouvi um barulho, voltei-me para o prado, mas não vi movimento nas árvores. Levantei a cabeça e olhei para a gruta. Vi, então, uma senhora vestida de branco; tinha um vestido alvo com uma faixa azul celeste na cintura e uma rosa de ouro em cada pé, da cor do rosário que trazia com ela. Somente na terceira vez, a Senhora me falou e perguntou-me se eu queria voltar ali durante quinze dias. Durante quinze dias lá, voltei; e a Senhora apareceu-me todos os dias, com exceção de uma segunda e uma sexta-feira. Repetiu-me, várias vezes, que dissesse aos sacerdotes para construir, ali, uma capela. Ela mandava que fosse à fonte para lavar-me e que rezasse pela conversão dos pecadores. Muitas e muitas vezes perguntei-lhe quem era, mas ela apenas sorria com bondade. Finalmente, com braços e olhos erguidos para o céu, disse-me que era a Imaculada Conceição”.

- Maria, nessa aparição, pediu o essencial para a nossa felicidade: a conversão para os pecadores. Ela pediu que rezássemos pela conversão deles com oração, conversão, penitência. Isso aconteceu após 4 anos da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição.

Nossa Senhora de Lourdes, rogai por nós!

https://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhorade-lourdes/

OREMOS: Ó Virgem puríssima, nossa Senhora de Lourdes, que vos dignastes aparecer a Bernadete, no lugar solitário de uma gruta, para nos lembrar que é no sossego e recolhimento que Deus nos fala e nós falamos com Ele, ajudai-nos a encontrar o sossego e a paz da alma que nos ajude a conservar-nos sempre unidos em Deus. Nossa Senhora da gruta, dai-me a graça que vos peço e tanto preciso: (pedir a graça). Nossa Senhora de Lourdes, rogai por nós. Amém!

(Oração do site:
https://www.a12.com/jovensdemaria/artigos/crescendo-na-fe/reze-essa-oracao-poderosa-anossa-senhora-de-lourdes).

SANTO AGOSTINHO


10 sábias citações de Santo Agostinho para sua reflexão

1. “O mundo é um livro e quem fica sentado em casa lê somente uma página.”

2. “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”

3. “As pessoas costumam amar a verdade quando esta as ilumina, porém tendem a odiá-la quando as confronta.”

4. “Mesmo que já tenha feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um caminho a percorrer.”

5. “Conhece-te, aceita-te, supera-te.”

6. “Preocupas-te se a árvore de tua vida tem galhos apodrecidos? Não percas tempo; cuida bem da raiz e não terás de andar pelos galhos.”

7. “O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, porque é a fonte de todos os vícios”.

8. “Onde não há caridade não pode haver justiça.”

9. “Não basta fazer as coisas boas, é preciso fazê-las bem.”

10. “A medida do amor é amar sem medida”

Pense nisso e viva melhor!


https://motivacaoefoco.com.br/10-sabias-citacoes-de-santo-agostinho-para-sua-reflexao/

sábado, 29 de janeiro de 2022

SANTO AGOSTINHO E O CAMINHO DO HOMEM ATÉ DEUS


Santo Agostinho (354-430) é um filósofo que representa não apenas o espírito de uma época, marcada pela integração entre fé e razão, mas é também um pensador influenciado pelo confronto inquieto de um homem com sua humanidade.


Agostinho traz em si o impulso da busca sincera, da mente inquieta e, como ocorre com a maioria dos filósofos que confrontam-se com a existência, com uma trajetória de buscas, desilusões e constante investigação.


É o filósofo que simbolizou o nascimento da Era Medieval, imprimindo a Quaestio Dei (Questão de Deus) na filosofia e conciliando fé e razão de forma não conflitante, indicando que o caminho percorrido pela filosofia desde Platão seria, por fim, o caminho até o Logos encarnado em Cristo. Desta forma, a fé não seria um abandono da razão, mas seria antes uma razão iluminada pela palavra revelada.


neoplatonismo, doutrina filosófica de grande influência durante o final da Era Antiga, tem forte influência no pensamento de Agostinho. Contudo, o Bem e o Uno da filosofia platônica torna-se o Deus cristão revelado em Cristo na filosofia medieval. Após sua conversão ao cristianismo, Santo Santo Agostinho reinterpreta a filosofia de Platão e lhe dá uma roupagem cristã. Em seu diálogo com Deus, o filósofo percebe que os neoplatônicos não reconheceram o Sumo Bem encarnado em Cristo.


[…]deparaste-me por intermédio de um certo homem, intumescido por monstruoso orgulho, alguns livros platônicos, traduzidos do grego em latim.[…] A alma do homem, ainda que dê testemunho da Luz, não é, porém, a Luz; mas o Verbo — Deus —  é a Luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo. Estava neste mundo que foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu. Porém, que veio para o que era seu e os seus não o receberam; que a todos os que o receberam lhes deu poder de fazerem filhos de Deus aos que crescessem em seu nome — Isso não li naqueles livros. (AGOSTINHO, 1973, p137)


Seu pensamento tornou-se uma das influências mais poderosas da Era Medieval. Se por um lado alguns modernos afirmam que a Era Medieval é apenas uma triste passagem para a Era Moderna, por outro lado, a moderna civilização ocidental só foi possível porque a Era Medieval criou condições para o seu surgimento, sendo Agostinho um dos filósofos mais influentes desse período.


O enorme poder da Igreja Católica na Era Medieval deveu-se, em grande parte, às ideias deste filósofo. Contudo, o que nos interessa aqui é o itinerário percorrido por Santo Agostinho, marcado pela inquietude e constante busca pela verdade. Sua obra Confissões é o reflexo do confronto de um homem com o caráter misterioso da existência.


Diante de Deus o filósofo revela seu passado e sua busca. Sua vida torna-se a principal inspiração de sua filosofia. Sua obra possui uma linguagem apaixonada.


Ouvi, senhor, a oração para que a minha alma não desfaleça sob vossa lei, nem esmoreça em confessar as misericórdias com que me arrancastes de perversos caminhos. Fazei que a vossa doçura supere todas as seduções que eu seguia. Que eu vos ame arrebatadamente e abrace a vossa mão com toda minha alma para que me livreis de todas as tentações até o fim. (AGOSTINHO, 1973, p.37)


Quem me dera repousar em Vós! Quem me dera que viésseis ao meu coração e o inebriásseis com a vossa presença, para me esquecer de meus males e me abraçar convosco, meu único bem! (AGOSTINHO, 1973, p. 27)


Santo Agostinho relata apaixonadamente nas Confissões seu trajeto e sua biografia, e essa biografia assume um caráter existencial. A existência torna-se um trabalho hermenêutico, e o filósofo deve apreender o sentido do Ser não enquanto mera ocorrência ou fato, mas enquanto essência, destino e liberdade.


As Confissões foram escritas após sua conversão à fé cristã em 387 d.C, assim, Agostinho repassa todo o seu trajeto, desde a infância até a vida adulta, sob a luz dessa fé.


Sua vida então ganha novos significados, e todos os seus erros e culpas foram, na verdade, seu caminho até Deus. A culpa torna-se “feliz culpa”, pois faz parte da trajetória humana para Deus. Agostinho traz em si a representação da vida de todos os homens que, de uma forma ou de outra, ao buscarem a felicidade estão buscando a Deus.


Tal é a Quaestio Dei que atravessa toda sua filosofia, e a busca racional pela verdade não perde-se na fé, mas antes dá um novo sentido às experiências humanas. A razão limitada pela condição humana não desaparece com a fé, mas antes ilumina-se pela luz do amor de Deus.


Essa relação entre fé em razão é também uma relação de submissão. Na Era Medieval a Filosofia irá submeter-se à Teologia. Somente mil anos depois de Agostinho, Tomás de Aquino irá afirmar que fé e razão são independentes.


Agostinho nasceu em um período de transição da Era antiga para a Era Medieval, e seu pensamento acerca da conciliação entre fé e razão irá influenciar toda a filosofia medieval. Nesse período as tendências fideístas e a ascensão do cristianismo se confrontavam com a forte influência da filosofia clássica, representada principalmente pelo neoplatonismo e pelo ceticismo da Nova Academia, entre outras correntes filosóficas.


A razão não era vista como algo que pudesse ser integrado à fé, muito menos algo que possa submeter-se à fé.


Contudo, o trajeto de Agostinho até a fé cristã e a maturidade de suas ideias sobre fé e razão faz dele um pensador existencial, pois é um trajeto marcado pela busca espiritual entre as várias tendências culturais de seu tempo, enfrentando os apelos sensuais de sua juventude e os questionamentos constantes em cada caminho que percorria.


Adere ao maniqueísmo, que se mostra incapaz de atender seus anseios, ao ceticismo da Nova Academia e por fim ao neoplatonismo, que irá influenciar de forma definitiva sua filosofia.


Após sua conversão ao cristianismo, Agostinho declara que o Sumo Bem de Platão, o Logos enquanto divina sabedoria, encarnou em Cristo. A difícil travessia da existência pode ser feita de forma frágil, com a ajuda da razão, ou de forma mais segura, com a ajuda da revelação divina, conforme o próprio Platão sugeriu:


De fato, tratando-se destes assuntos, não é possível se não fazer uma destas coisas: ou aprender de outros qual seja a verdade; ou então descobri-la por si mesmos; ou ainda, se isso for impossível, aceitar, entre os raciocínios humanos, aquele que for melhor e menos fácil de se confutar, e sobre este, como sobre uma jangada, afrontar o risco da travessia do mar da vida; a menos que se possa fazer a viagem de modo mais seguro e com menor risco sobre uma nave mais sólida, ou seja, confiando-se a uma divina revelação. (PLATÃO, 2007, p.61)


Para Agostinho, essa revelação são as Sagradas Escrituras que expressam a vontade de Deus. O filósofo medieval irá afirmar que toda busca humana é uma busca pela felicidade, mas essa felicidade não consiste em fazer o que se quer, mas em fazer a vontade de Deus.


Mas isso deve ser decidido pelo próprio homem que, dotado de seu livre-arbítrio, deve existir nesse mundo e fazer suas próprias escolhas. A conciliação entre fé e razão, tão forte neste filósofo, é o equilíbrio necessário que leva o homem à felicidade.


O homem busca a Deus porque quer ser feliz. A busca espiritual e as experiências humanas, em seu sentido mais profundo, são uma busca pela felicidade que, em Agostinho, é o Sumo Bem representado por DeusA existência humana é marcada pela memória da felicidade que nada mais é que a memória da presença de Deus.


Essa memória da felicidade é mistério, talvez lembrança da alma que esteve na presença de Deus, da mesma forma que Platão afirma que a alma esteve na presença do Sumo Bem que reside no mundo das ideias.


A existência humana é marcada pela busca da felicidade porque a felicidade é uma lembrança que inspira a existência de todos os seres. Buscar a felicidade nada mais é que buscar a Deus. Tal é o sentido maior da obra de Agostinho.


Não sei como conheceram a felicidade, nem por que noção a apreenderam. O que me preocupa é saber se essa noção habita na memória. Se lá existe, é sinal de que alguma vez fomos felizes.[…] O que quero saber é se a vida feliz habita ou não na memória. Se não a conhecêssemos, não a podíamos amar.(AGOSTINHO, 1973, p.210).


Onde e quando experimentei a vida feliz, para poder recordar, amar e desejar?  Não sou eu o único, nem são poucos os que a desejam. Todos, absolutamente todos, querem ser felizes. Se não conhecêssemos a vida feliz por uma noção certa, não a desejaríamos com tão firme vontade. Que significa isto? (AGOSTINHO, 1973, p.210)


Apesar da enorme importância do pensamento de Agostinho, sua percepção de que apenas Cristo pode nos ajudar a atravessar o mar da existência, sendo assim o único caminho, acabou por influenciar um sistema político totalizador que atravessou a Era Medieval, consolidado através do poder do catolicismo romano.


A Europa cristã irá surgir e consolidar-se adotando muitas das ideias deste filósofo, como sua interpretação acerca do pecado original e a autoridade divina do Papa.


Desde que comecei a ouvir as lições da Sabedoria, não Vos supunha, ó meu Deus, sob a figura de corpo humano, pois sempre fugi deste errado juízo, e me alegrava em encontrar esta verdadeira doutrina na fé da nossa mãe espiritual, a vossa Igreja Católica. (AGOSTINHO, 1973, p.129)


Ai de ti, torrente dos hábitos humanos! Quem te resistirá? Até quando hás de correr sem te secar? Até quando rolarás os filhos de Eva para o mar profundo e temeroso, somente atravessado pelos que se embarcam no lenho da cruz? (AGOSTINHO, 1973, p.37).


Se por um lado o efeito dessa interpretação será a cristianização das estruturas de poder, fazendo surgir a Igreja como representante de Deus na terra, por outro foi isso que permitiu a consolidação da cultura ocidental uma vez que a filosofia medieval valorizou e preservou a filosofia grega.


Quem acusa a Era Medieval de “idade das trevas” talvez não considere que, sem o poder consolidador da Igreja após a ruína do Império Romano, seria muito mais uma era de caos absoluto.


Isso não significa, contudo, que a obra de Santo Agostinho não represente o honesto confronto existencial. Apesar dele fazer da singularidade de sua vida a matéria-prima de sua filosofia, seu processo de individuação ilustra a busca espiritual de todos os homens que, de uma forma ou de outra, procuram dar um sentido maior às suas vidas. Pelo menos enquanto a vida for mistério e Deus representar nossos mais elevados anseios de bondade, amor e felicidade.


O homem é lançado no mundo e está diante das coisas, mas essas coisas são fontes de angústia e desespero. Contudo, Santo Agostinho nos convida a retornar para nós mesmos. No seu íntimo, nos labirintos misteriosos da memória, o homem recorda-se da felicidade e do amor perfeito e, ao fazê-lo, ultrapassa a si mesmo e encontra a Deus.


O tempo e o espaço limitante do homem, bem como seu sofrimento, são o caminho que se percorre com esperança de libertação e retorno à vida plena ao lado de Deus.


Esse futuro perfeito ao lado de sua verdadeira origem é, em Agostinho, o anseio misterioso que move todos os homens. É possível ao homem, neste mundo de matéria de expiação, alegrar-se e ser feliz. Basta que aceite que o futuro do homem que vive na justiça e na caridade, iluminado pelo amor de Deus, será a fruição eterna do Sumo Bem.


O surgimento da modernidade irá marcar a separação entre fé e razão. De um lado teremos uma razão que abandona qualquer fé metafísica e de outro um fideísmo que descarta a razão em prol da fé.


O projeto de Agostinho, contudo, é ainda uma forte influência nos tempos atuais, pois a ingenuidade da fé na razão e o fanatismo das posições fideístas parecem ser frutos dessa separação, como se duas coisas que surgiram para caminhar juntas não conseguissem seguir seu caminho de forma independente.


A contribuição de Agostinho é essa conciliação, a certeza de que a razão é ainda a principal ferramenta do filósofo, mas a fé é a percepção de nossa finitude e de nossa transcendência.


AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- AGOSTINHO. Confissões.  São Paulo: Abril Cultural, 1973

- PLATONE (PLATÃO). Tutte le Opere (v. 1). Milano: Newton, 1997.

https://www.netmundi.org/filosofia/2015/agostinho-o-itinerario-do-homem-para-deus/