VII-REFLEXÃO DOMINICAL I: – 33º DOMINGO DO TEMPO
COMUM- ANO B
Por Izabel Patuzzo
Jesus anuncia o fim das forças
do mal
I.
Introdução geral
Estamos próximos do encerramento de mais um
ano litúrgico. É um tempo propício para refletir sobre a parusia, o retorno
glorioso do Senhor. Esta celebração nos fala da presença de Jesus na história
de humanidade, em dupla perspectiva: em sua primeira vinda a este mundo, ele se
encarnou, anunciou o Reino de Deus, morreu por nós e ressuscitou; a segunda
vinda é marcada pela sua glória, pela realização da salvação plena oferecida a
toda a humanidade.
Às comunidades judaicas perseguidas e
desanimadas durante os tempos difíceis de dominação estrangeira no século II
a.C., a primeira leitura anuncia que a chegada de novos tempos é iminente. Deus
irá intervir na realidade de dominação e opressão que o povo escolhido está
enfrentando. Essa é a esperança que anima o povo de Deus a permanecer fiel no
sofrimento.
A segunda leitura é tirada da carta aos
Hebreus, escrito que se apresenta em forma de homilia – dirigida a uma
comunidade desanimada pela hostilidade dos pagãos e pelas dificuldades internas
– e cujo objetivo é reavivar o entusiasmo dos discípulos.
O Evangelho proposto nesta celebração
situa-nos em Jerusalém, pouco antes da paixão e morte de Jesus. Em seus ensinamentos,
Jesus recorda aos discípulos que Deus fará surgir um mundo novo, de felicidade
sem fim. No entanto, os discípulos precisam estar atentos para reconhecer os
sinais de sua chegada.
II.
Comentário dos textos bíblicos
1.
I leitura (Dn 12,1-3)
O livro de Daniel retrata a situação das
comunidades judaicas que viviam dispersas sob o domínio greco-romano dos dois
últimos séculos antes de Cristo. Além da dominação política e econômica que
oprimia o povo, outra marca desse tempo foi a imposição cultural e religiosa
por parte do governo estrangeiro. A perseguição foi dura, e a intolerância dos
dominadores estrangeiros, sobretudo dos macedônios, provocou profundas feridas
na vida das comunidades dos judeus fiéis. Nem todos conseguiram resistir à
dominação e imposição cultural e religiosa.
É nesse contexto que o livro de Daniel – cujo
autor é um judeu fiel às suas tradições culturais e religiosas – dirige sua
mensagem às comunidades judaicas dispersas pelo vasto império, motivando-as a
resistir à imposição cultural e religiosa e preservar a fé. O profeta acredita
nos valores religiosos de seus antepassados e quer mostrar aos seus concidadãos
que a fidelidade aos ensinamentos da Lei mosaica e dos Profetas será
recompensada pelo Senhor e os inimigos do povo serão derrotados.
Aqueles que, apesar da perseguição e do
sofrimento, resistirem e permanecerem fiéis aos ensinamentos da Aliança serão
destinados à vida eterna. Eles brilharão como estrelas, com um esplendor
eterno. Essa é a esperança que deve animar os justos, os quais não abandonam
sua fidelidade a Deus mesmo em tempos de dura provação. O autor do livro de
Daniel assegura que a vida do justo será preservada e que Deus transformará
todo sofrimento, conduzindo seu povo fiel a uma vida eterna. A certeza de que a
vida não termina com a morte ajuda os fiéis a superar o medo e resistir com
coragem, confiando no projeto de Deus em favor de seu povo eleito.
1.
II leitura (Hb 10,11-14.18)
A exortação da carta aos Hebreus é dirigida a
discípulos desanimados pela hostilidade dos pagãos e pelos conflitos
comunitários internos. As comunidades cristãs estão mergulhadas em um clima de
desânimo, cansaço e fragilidade por conta das inúmeras adversidades que tiveram
de enfrentar.
Diante dessa realidade, a carta se apresenta
como uma reflexão sobre o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, cuja
missão é reconstruir a relação dos discípulos com o Pai e inseri-los no povo
sacerdotal que é a comunidade cristã. O autor lembra que Jesus, ao entregar sua
vida para a remissão de nossos pecados, conseguiu aproximar a humanidade do seu
Criador. Jesus obedeceu a Deus em tudo e ofereceu a vida como dom de amor. Seu
sacrifício, oferecido de uma só vez, libertou efetivamente a criatura humana de
sua dinâmica de egoísmo e pecado, e permitiu-lhe aproximar-se de Deus com um
coração renovado. Jesus propôs à humanidade um caminho novo, mudou o coração
dos discípulos e os ensinou a viver em total disponibilidade para os projetos
de Deus.
Ao cumprir sua missão neste mundo, Jesus
sentou-se à direita de Deus para sempre. Apontou-nos, assim, o caminho para
chegarmos à meta final de nossa existência: a comunhão com Deus e a pertença à
família divina. Dessa forma, o autor exorta os cristãos a viver com fidelidade
os compromissos assumidos no batismo.
2.
Evangelho (Mc 13,24-32)
Segundo o episódio narrado no Evangelho
proposto para este dia, Jesus encontra-se em Jerusalém para celebrar sua Páscoa
definitiva. O evangelista apresenta o discurso escatológico de Jesus aos seus
discípulos, indicando a missão da comunidade desde sua morte até o final da
história humana. É um texto de difícil compreensão, porque Jesus fala em
linguagem apocalíptica, isto é, por meio de imagens simbólicas. Seu objetivo é
recomendar aos discípulos as atitudes a tomar diante das provações que irão
enfrentar.
Jesus tem consciência de que sua missão
terrena está para ser concluída. Retomando parte da tradição
profético-apocalíptica, ele anuncia o fim das forças do mal, as quais se opõem
ao plano de Deus e perseguem os fiéis. A batalha contra o mal será cósmica: o
sol, a lua e as estrelas irão escurecer; tais sinais precederão o dia do
Senhor, isto é, a vitória de Deus sobre o mal. Essa linguagem era familiar aos
ouvintes de Marcos. No mundo grego e romano, o sol e a lua eram adorados como
deuses, e o imperador era considerado filho do deus sol. Diante do Deus
verdadeiro, porém, as falsas divindades perderiam seu brilho.
A expressão “Filho do Homem” era um título
atribuído a Jesus, para proclamá-lo o Filho de Deus enviado, o Messias. Com
essas expressões, a mensagem de Marcos é clara: o caminho dos discípulos será
marcado pelo sofrimento e pela perseguição. No entanto, a vinda gloriosa de
Jesus vai instaurar um tempo de alegria e felicidade plena para aqueles que
sabem permanecer fiéis, resistir e esperar.
Aos discípulos que interrogam Jesus acerca de
quando esses fatos irão acontecer, ele responde que o mais importante é
confiar. Convida seus discípulos a observar a natureza; os ramos novos da
figueira, como o agricultor espera nova estação. Da mesma forma, a comunidade
cristã deve esperar pelos sinais de novos tempos, do anúncio da libertação, o
tempo de Deus agir. Certos da vinda do Senhor e atentos aos sinais dos tempos,
os cristãos a aguardam de coração aberto, para acolhê-la quando se manifestar.
Não há data marcada para essa vinda, mas a comunidade acredita nas palavras e
nos ensinamentos de Jesus. Ele é o Senhor que conduz a história.
III.
Pistas para reflexão
Diante de tantos acontecimentos que trazem
sofrimentos à humanidade, a Palavra de Deus nos vem como esperança. As sombras
que marcam os tempos atuais são realidades que tocam a todos nós; muitas vezes
nos desafiam, nos inquietam e nos deixam sem respostas. A mensagem desta
liturgia é que Deus se faz presente nos dramas da humanidade. Ele não abandona
o barco à deriva. A humanidade não caminha para um holocausto ou para a
destruição. O encontro definitivo com o Senhor deve ser preparado na
perseverança em meio aos desafios, conflitos, sofrimentos e provocações. Jesus
não esconde que haverá desafios.
O cristão não se entrega ao desespero diante
das provações, pois acredita que Deus é o Senhor da história. Enquanto caminham
neste mundo, os discípulos de Jesus não cruzam os braços, mas se envolvem
ativamente na construção do Reino. Têm a convicção de que permanentemente devem
dar testemunho de sua fé e que finitude, limites e imperfeições são parte da
caminhada deste mundo. Para Deus, não há passado ou futuro, mas o eterno
presente em que somos chamados a servir, a ser fiéis aos seus ensinamentos. Que
Jesus, no seu regresso, possa encontrar uma comunidade vigilante e atuante, que
traduz em ações o que sua Palavra propõe.
Izabel Patuzzo
pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É
assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South
Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade
Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo.
E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/33o-domingo-do-tempo-comum-14-de-novembro/