sábado, 8 de janeiro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL II

Festa do Batismo do Senhor

 

O Evangelho deste domingo se inicia com uma síntese sobre a pregação de João Batista, na qual ele anuncia a vinda do Messias, que vai provocar uma profunda transformação. As multidões acorrem ao rio Jordão e aderem à proposta do Batista, que consiste na conversão dos pecados como caminho para quem deseja receber o Reino de Deus que está próximo. A primeira condição para acolhê‑lo é reconhecer‑se pecador. Assim, às margens do Jordão, afluíram aqueles que desejavam libertar‑se do pecado. Os fariseus e os saduceus não procuravam o batismo de João porque se consideravam justos, sem pecado (cf.Lc7,30).


Naqueles dias, também, Jesus chegou de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão. À primeira vista, o batismo de Jesus nas águas do rio Jordão pode parecer inútil. Eram as pessoas conscientes de seus pecados que procuravam o batismo, perante a iminente chegada do Messias prometido. Jesus, além de não ter pecados, não precisava mudar de vida. Mas sua vinda ao mundo tinha um objetivo: ir ao encontro e oferecer a salvação aos pecadores. Aderindo ao batismo de João, Jesus expressa sua solidariedade para com os pecadores e se coloca próximo a eles não como juiz, mas como salvador.


Mais que fazer uma crônica do que aconteceu, o evangelista quer revelar quem é Jesus e o faz servindo-se de três imagens. Jesus, ao sair das águas, “viu os céus se abrindo”. “Os céus fechados” lembram o silêncio e o distanciamento de Deus de seu povo (cf. Is 65,15‑19). O evangelista revela que o início da atividade pública de Jesus reconstitui a aliança entre o céu e a Terra, Deus e seu povo.


O Espírito Santo em forma de pomba desceu sobre ele “. Na compreensão de Israel, a pomba era símbolo da doçura e do amor. O estilo suave dessa ave expressa o agir de Jesus que se aproxima dos pecadores e os trata com misericórdia. Além disso, o Espírito, que antes era como uma pomba que voava sem encontrar sobre quem repousar, agora repousa em Jesus para consagrá‑lo.


“E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição. ” ‑. A voz é expressão de alguém sendo solenemente apresentado para determinada missão. O Pai apresenta Jesus como o servo fiel e predileto. A missão do Filho de Deus tem sua imagem na do servo sofredor de Isaías: aquele que carrega sobre si os pecados do povo.  Ao sair das águas do Jordão, Jesus é proclamado “Filho bem-amado”, sobre o qual pousou o Espírito que o consagrou para a missão de anunciar a Boa‑Nova da Salvação. Como o Messias esperado e Salvador, Ele recebe a força de Deus para conduzir a humanidade rumo ao novo céu e à nova terra.

 

RENASCER PELA ÁGUA PELO ESPÍRITO SANTO           

             

Com a festa do Batismo do Senhor, recebido pelas mãos de João Batista nas águas do rio Jordão, encerra-se o ciclo de Natal. O dia seguinte já pertence ao Tempo Comum, cuja primeira fase se estende até à terça-feira antes da quarta-feira de Cinzas. Esta festa do Batismo de Jesus é, portanto, um marco importante. Mas não só no calendário litúrgico. Significa a entrada de Jesus para sua vida pública, depois dos trinta anos de vida oculta em Nazaré. Pelo sinal do Batismo, João Batista reconheceu a Cristo como o Messias, e o pôde apresentar ao povo: “Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo”(Jo1,2.9).


É muito saudável o costume de nossas igrejas – principalmente as mais antigas – de reproduzir num painel na parede do batistério a cena do Batismo de Jesus. Pinturas como essas já foram definidas como a Bíblia dos humildes, dos que não sabem ler. E não faltam catequistas que, quando ensinam o capítulo do batismo para os seus pequeninos, levam-nos a visitar o batistério e lhes explicam todos os pormenores do sugestivo quadro. O rio Jordão, que já era o rio sagrado dos hebreus, e que, pela presença de Cristo em suas águas, ficou sendo sagrado para os cristãos e para todo o mundo. Sobre Jesus, na hora em que Ele é batizado, paira o Espírito Santo em forma de pomba. E se ouve a voz do Pai eterno dizendo – uma inscrição na parede o indica -“Este é o meu Filho muito amado, no qual ponho toda a minha complacência” (Mt 3, 17).


Não há dúvida de que a Igreja, ao celebrar esta festa, não quer apenas louvar a Deus pela grandeza e santidade de seus mistérios, como se faz sempre na Liturgia. Ela quer chamar a atenção para a realidade – tantas vezes esquecida – de nosso batismo, do qual o de João Batista era apenas um humilde prelúdio, como ele próprio o diz: “Agora eu batizo com água, mas já vem Aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias, Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo”(Lc3,16). Aí a referência é ao fogo purificador profundo, que penetra a alma para libertá-Ia de toda a maldade, em oposição àquele batismo de água, puramente exterior. Aliás, línguas de fogo apareceram em Pentecostes, essa solene descida do Espírito Santo, que se pode considerar como sendo o batismo da Igreja.


O Concílio Vaticano II orientou a Igreja para reformular o rito do batismo, tanto de crianças como de adultos, a fim de indicar com mais clareza o sentido profundo desse sacramento (Sc, 66/129). E o esforço pastoral da Igreja hoje é no sentido de que o batismo seja cada vez menos um rito puramente tradicional e social, e cada vez mais uma entrada consciente do homem para o mundo de Cristo e do seu Evangelho. Um “mergulhar” em Cristo, talvez pudéssemos dizer, traduzindo a palavra “batismo” que tem exatamente esse significado. Como os israelitas, pela circuncisão, eram agregados ao antigo Povo de Deus, assim o batismo nos faz agora “concidadãos dos santos” (Ef 2.19) – não mais estrangeiros -, e destinados a ser na eternidade habitantes f “daquela Roma onde Cristo é romano”, conforme disse alegremente Dante na Divina Comédia (Purg. XXXII, 102). O cristão é alguém que tem que sentir e viver essa realidade sublime: ele entrou para o mundo de Cristo. Deixou para ! trás o mundo dos valores puramente terrenos e recebeu o Espírito Santo para viver uma vida nova. A água que se derramou sobre ele no rito do batismo não significa apenas ablução, purificação. Significa vida, e vida nova. O batismo é um “renascer”- um nascer de novo: “Quem não renascer pela água e pelo Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5).


Nessa nova vida – convém recordar – não se introduz alguém de maneira automática, como se fosse por um passe de mágica. É como uma semente que se recebe para se cultivar. Quem se batiza assume um compromisso para ser cumprido ao longo de toda a vida. Dia por dia, com sinceridade, realizando a verdade na caridade -é São Paulo que no-10 ensina – temos que crescer em tudo, na direção daquele que é a Cabeça, Cristo” (Ef4,15).


https://www.padrelucas.com.br/evangelho-do-dia/9205/

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