domingo, 8 de maio de 2022

A MISSA EXPLICADA

O SENTIDO DE CADA PARTE DA MISSA (I)

Para que a Santa Eucaristia não se constitua em um mero rito mecânico, onde as pessoas só “copiam” o que as outras fazem (gestos, sinal da cruz, genuflexão, etc.) sem entender exatamente o que está acontecendo, é bom que cada fiel católico entenda melhor a Santa Missa, pois só amamos aquilo que conhecemos.

A missa é igual para toda a Assembleia, mas a maneira de cada um participar pode ser diferente pois depende da fé que as pessoas têm e também do grau de formação na religião. As vezes vamos fazendo muitas coisas sem saber por quê.

Para participar da missa com fé e alegria, além da sua formação catequética básica, o fiel deve conhecer todas as etapas da liturgia da missa pois ninguém ama o que não conhece.

A palavra MISSA vem do latim missio, que significa despedida ou envio. E, quando os catecúmenos saíam antes do início da Liturgia Eucarística o celebrante os despedia. Desta forma, toda a Celebração Eucarística acabou por ser denominada missa.

A missa é dividida em quatro partes principais: Ritos Iniciais, Liturgia da Palavra, Liturgia Eucarística e Ritos Finais.

I RITOS INICIAIS

1. Monição Ambiental

Ao entrar e sair de uma igreja com um sacrário, procedemos à genuflexão um gesto de adoração a Jesus Eucarístico.

Feita pelo comentarista, ao lado do altar. Um convite à Assembleia para participar da Celebração, criando um clima de oração e fé. Solicita que todos, de pé, recebam o celebrante.

2. Canto de Entrada e Sinal da Cruz

Durante o canto, o padre, os ministros e/ou acólitos dirigem-se ao altar. O padre faz uma inclinação profunda e deposita o beijo no altar, endereçado a Cristo.

Em seguida, o padre faz o sinal da cruz e o povo faz com ele (não precisa beijar a mão após o sinal), mas sem dizer nada. Ao final, todos respondem o “Amém”.

A expressão “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” quer dizer a pessoa, não apenas o “nome”. Iniciamos a Missa colocando nossa vida e toda a nossa ação invocando a Santíssima Trindade.

3. Acolhida e Saudação

É o “bom dia” de inspiração divina dado pelo Presidente à Assembleia. Em uma das formas litúrgicas, o padre saúda o povo com as palavras de São Paulo aos Coríntios (2Cor 13,11-13):

– A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!

Independente da forma utilizada, todos respondem:

– Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!

4. Ato Penitencial

“Se estás diante do altar para apresentar a tua oferta e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa tua oferta lá diante do altar. Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, depois volta para apresentares tua oferta.” (Mt 5,23-24)

Convite para cada um olhar para si (reconhecer os próprios pecados e não os dos outros), buscando um arrependimento sincero.


Precisamos pedir que Jesus purifique nosso coração para termos parte com ele.

A absolvição geral que o padre dá no Ato Penitencial é uma purificação das faltas leves, e realmente nos purificam para participarmos da Ceia do Senhor. Os pecados graves necessitam de uma confissão sacramental.

5. Hino de Louvor (Glória)

É um cântico solene, uma das mais perfeitas formas de louvor à Santíssima Trindade, porque se dirige ao Pai e a Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Vem logo após o Ato Penitencial, porque o perdão de Deus nos faz felizes e agradecidos.

Inspirado no canto dos anjos que louvaram a Deus no nascimento de Jesus: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade.” (Lc 2,14)

O Glória não é cantado (nem recitado) na Quaresma e no Advento, tempos que não são próprios para se expressar alegria.

6. Coleta

Do latim “collígere”, que quer dizer reunir, recolher, coletar. Tem o sentido de reunir, numa só oração, todas as orações da Assembleia.

Por isso, começa com o “Oremos um convite aos presentes para que se ponham em oração seguida de uma pausa, para que cada um faça mentalmente a sua oração pessoal.

A seguir, o padre eleva as mãos assumindo as intenções dos fiéis e elevando-as a Deus e profere a oração em nome de toda a Igreja.
Por fim, todos dizem “Amém” para dizer que a oração do padre também é sua.

É uma oração presidencial, feita apenas pelo padre, como representante de Cristo. Todas as orações presidenciais são compostas por: invocação, pedido e conclusão. As orações são dirigidas ao Pai, em nome de Jesus nosso mediador, na unidade do Espírito Santo.

II LITURGIA DA PALAVRA

Após o “Amém” da Coleta, a comunidade senta-se, aguardando, antes, o Presidente dirigir-se à sua cadeira.

A Eucaristia é o “mistério de nossa fé” e a fé vem pela Palavra de Deus (cf. Rm 10,14). Daí a importância da pregação, abrangida pela Liturgia da Palavra. “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4,4)

A Palavra de Deus não é para ser apenas “lida”, mas “proclamada” solenemente. “A fé entra pelo ouvido.”

As leituras das missas dominicais variam a cada ano, repetindo-se a cada três anos. São os chamados ANOS A, B e C. Em cada ano meditamos o Evangelho segundo Mateus, Marcos e Lucas respectivamente. O Evangelho segundo João intercala-se durante o ano em momentos fortes.

Os 3 primeiros Evangelhos fazem como que uma sinopse dos fatos acerca da vida de Jesus são, por isso, chamados de “sinóticos”. O Evangelho escrito por São João focaliza outros fatos e palavras de Jesus, destacando Sua divindade e penetrando mais o Mistério do Filho de Deus.

A Liturgia da Palavra é tão importante quanto a Liturgia Eucarística e deve ter um lugar reservado para a proclamação a MESA DA PALAVRA.

1. Primeira Leitura

A Primeira Leitura, em geral, é tirada no Antigo Testamento, onde se encontra o passado remoto da História da Salvação. Em alguns tempos litúrgicos também são tiradas de outros livros do Novo Testamento que não sejam os Evangelhos.

2. Salmo Responsorial

É uma resposta cantada ou recitada à mensagem proclamada. Ou ainda, uma “oração” da Leitura, ajudando o povo a rezar e a meditar na Palavra de Deus que acabou de ser proclamada. Não pode ser substituída por outros cânticos que não sejam inspirados no salmo previsto.

3. Segunda Leitura

Em geral, é uma carta, retirada do Novo Testamento. Só é proclamada em missas dominicais ou de dias festivos, não nas missas feriais (no meio da semana).

Assim, a Liturgia da Palavra, no decorrer das missas do ano, nos dá uma visão de toda a História da Salvação, recordando quase toda a Bíblia.

4. Canto de Aclamação ao Evangelho

Jesus Cristo é a Palavra de Deus. Ele se torna presente na proclamação do Evangelho. Aclamar é aplaudir com alegria, então o canto de Aclamação ao Evangelho é uma espécie de “aplausos” para o Senhor que vai nos falar.

Pode ser antecedido por um breve comentário (não é uma homilia, que não deve antecipar o que vai ser dito no Evangelho), convidando e motivando a Assembleia para ouvir o Evangelho. Na Quaresma e no Advento, o canto não tem “Aleluia”.

5. Proclamação do Evangelho

Antes da proclamação do Evangelho, pode-se fazer uma procissão com a Bíblia ou Lecionário e as velas. Para se dar mais destaque ao anúncio da Palavra de Jesus, dois ministros ou acólitos podem segurar uma vela em cada lado do ambão.

O diácono, e na falta deste o padre, proclama em um lugar mais elevado, para ser visto e ouvido por toda a Assembleia, que deve estar em pé, numa atitude de expectativa para ouvir a Mensagem. É como se o próprio Jesus se colocasse diante de nós para nos falar do que mais nos interessa.

O diácono/padre saúda a Assembleia:

– O Senhor esteja convosco!
– Todos: Ele está no meio de nós!
– Diácono/Padre: Evangelho de Jesus Cristo, escrito por …
– Todos: Glória a vós, Senhor!

E, ao final do Evangelho:

– Diácono/Padre: Palavra da Salvação! (E beija a Bíblia)
– Todos: Glória a vós, Senhor!

“Bem-aventurado os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,28)

6. Homilia (Pregação)

É a interpretação de uma profecia ou a explicação dos textos bíblicos das leituras proclamadas.

Os próprios Apóstolos, depois de ouvirem as parábolas, pediam a Jesus que lhes explicasse o que elas queriam dizer. Assim também é o Povo de Deus, que precisa de alguém que lhes explique as Escrituras, do mesmo modo que Filipe explicou ao ministro da Rainha Candace, da Etiópia, uma passagem do AT:

“Ouvindo que lia o profeta Isaías, disse-lhe: “Porventura entendes o que lês?” Ele respondeu: “Como é que vou entender se ninguém me explicar?”.” (At 8,30b-31a)

As Escrituras não são de simples compreensão e não estão sujeitas a interpretações particulares, mas tão somente da Igreja que Cristo fundou, sob o Primado de Pedro:

“Pois, antes de tudo, deveis saber que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal, porque jamais uma profecia se proferiu por vontade humana, mas foi pelo impulso do Espírito Santo que homens falaram da parte de Deus.” (2Pd 1,20-21)

“É o que ele faz em todas as epístolas em que vem a tratar do assunto. Nelas há alguns pontos de difícil inteligência, que homens ignorantes e sem firmeza deturpam, não menos que as demais Escrituras, para sua própria perdição.” (2Pd 3,16)

Além do que, a Bíblia não é a única fonte de doutrina para o cristão, mas, inclusive, a Tradição (Oral e Escrita) e o Magistério da Igreja fundada por Jesus:

“Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.” (Jo 21,25)

“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras seja por carta.” (2Ts 2,15)

7. Creio (Profissão de Fé)

Crer em Deus é confiar nele! Com o Creio, a comunidade afirma que crê na Palavra de Deus que foi proclamada e está pronta para pô-la em prática. É como um juramento público.

Há dois textos diferentes para a Profissão de Fé: o Símbolo Apostólico e o Símbolo Niceno- Constantinopolitano.

O primeiro vem do tempo dos Apóstolos. É um resumo das verdades de fé professada pelos primeiros cristãos. É também mais curto e mais recitado nas missas no Brasil.

O Símbolo Niceno-Constantinopolitano surgiu no séc. IV, a partir da heresia de Ário, que, em sua heresia (negação de verdades de fé), disse que Jesus era apenas homem, não Deus (como hoje o fazem os espíritas e os “Testemunhas de Jeová”). Então a Igreja, no Concílio de Nicéia (ano 325), colocou no “Creio” algumas palavras a mais, acentuando a divindade de Jesus:

“Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro…”
Alguns anos depois, Macedônio, outro herege, negou a divindade do Espírito Santo. A Igreja reafirmou essa divindade, a partir do

Concílio de Constantinopla (ano 381):

“Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; ele que falou pelos profetas.”

Assim se formou esse Símbolo, surgido após os Concílios de Nicéia e Constantinopla. É uma síntese das verdades fundamentais da fé, para manter os cristãos unidos, à medida que iam se espalhando pelo mundo.

No Brasil, o Símbolo Niceno-Constantinopolitano é recitado apenas em alguns domingos, geralmente quando se fala de Jesus como Messias, o Filho de Deus. Eis o símbolo completo:

“Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra; de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém!”.

8. Oração dos Fiéis (Oração Universal)

No início da missa existe a Oração Coleta uma oração presidencial breve, a fim de colocar a Assembleia em clima de fé para ouvir a Palavra de Deus. A Oração dos Fiéis é um espaço mais abrangente para que os fiéis coloquem publicamente suas intenções.

Após ouvirmos a Palavra de Deus e de professarmos nossa fé nessa Palavra, nós colocamos em Suas mãos as nossas preces de modo oficial e coletivo.

Nessa oração, o povo exerce sua função sacerdotal, suplicando por todos os homens, incluindo as seguintes intenções:

– pelas necessidades da Igreja e do Papa;
– pelos governantes, legisladores e magistrados; (pois eles têm um poder temporal, e devem servir ao povo)
– pelos que sofrem qualquer necessidade, especialmente pelos doentes; e
– pelas necessidades da comunidade local.

A Equipe de Liturgia deve tomar a iniciativa de ver as intenções da comunidade incluídas na oração, possibilitando que a fé expresse algo mais concreto e vivencial.

O que não se pode fazer na missa são as orações particulares, como leitura de livros piedosos, novenas e o terço.

Na Oração dos Fiéis, a introdução e a conclusão são feitas pelo Presidente. As outras preces são feitas pelos fiéis, em voz alta, expressando a fé viva e alegria de toda a comunidade, unidade num só coração e numa só alma.

Durante a Oração dos Fiéis, todos ficam de pé a posição própria do orante e como rezavam os primeiros cristãos

________________

Bibliografia:                                                                                             

A Missa Parte por Parte -Pe. Luiz Cechinato, 18ª ed., Ed. Vozes, 1992
Celebrar a Vida Cristã – Ed. Vozes
Catecismo da Igreja Católica
Riquezas da Mensagem Cristã – Ed.
Lumen Christi

https://pt.aleteia.org/2018/07/02/o-sentido-de-cada-parte-da-santa-missa/

(Continua no próximo Domingo...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário