quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Comentário Exegético – 4º Domingo do Tempo Comum - Ano B

 

 

 

 

 

 

 

Comentário Exegético – 4º Domingo do Tempo Comum - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1 Cor 7, 32-35)

INTRODUÇÃO: No domingo anterior vimos como Paulo fala do matrimônio, aclarando serem lícitas as duas opções: casar ou optar por ficar solteiro. Porém, afirma que esta última opção é preferível do ponto de vista religioso. As razões estão nestes versículos que constituem a epístola deste domingo.

A PREOCCUPAÇÃO DO SOLTEIRO: Quero, pois, que estejais despreocupados: o não casado preocupa-se das coisas do Senhor; como agradar ao Senhor (32). Volo autem vos sine sollicitudine esse qui sine uxore est sollicitus est quae Domini sunt quomodo placeat Deo. DESPREOCUPADOS [amerimnos<275>=sine sollicitude]. Além deste versículo encontramos unicamente esta palavra em Mt 28, 14: E, se isto chegar a ser ouvido pelo presidente, nós o persuadiremos, e vos poremos em segurança, dirão os chefes sacerdotais aos soldados que guardavam o sepulcro ao calar suas bocas com dinheiro: Não vos preocupeis se a vossa falta de disciplina chegar aos ouvidos de Pilatos. Esse é o verdadeiro sentido da palavra: estar apreensivo e inquieto, agitado ou perturbado. A causa da perturbação é o matrimônio. Quem não tem mulher e filhos está livre das inquietudes que os familiares causam e só atende ao serviço de Deus, sendo esta a única preocupação de sua vida. Paulo o declara com poucas, mas gráficas palavras: só se preocupa em agradar ao Senhor. Com esta conclusão, Paulo declara duas premissas importantes, tanto para a vida de um casado como para a vida dedicada a Deus: Primeiro, a finalidade é agradar ao cônjuge, sem o qual o matrimônio seria um uso egoísta do mesmo. E a segunda, que todo serviço religioso, e o que poderíamos chamar a liturgia diária da vida, é um agradar a Deus para que este possa dizer como disse de Jesus no batismo: nele tenho minhas complacências.

AS DIFERENÇAS: Mas o casado, preocupa-se das coisas do mundo: como agradar à mulher (33). Está dividido. A mulher e a virgem, a não casada, preocupa-se das coisas do Senhor a fim de ser imaculada tanto no corpo como no espírito. A casada, porém, preocupa-se das coisas do mundo: como agradar o marido (33). Qui autem cum uxore est sollicitus est quae sunt mundi quomodo placeat uxori et divisus est. Et mulier innupta et virgo cogitat quae Domini sunt ut sit sancta et corpore et spiritu quae autem nupta est cogitat quae sunt mundi quomodo placeat viro.PREOCUPA-SE [merimna<3309>=solicitus est] presente de merimnaö com o significado de estar ansioso, preocupado, como em Mt 6, 25: Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Ou como em 1 Cor 12, 25: Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. Porém é evidente que o significado deste versículo é o mesmo que em Fp 4,6: Não estejais inquietos por coisa alguma. Paulo faz uma distinção entre coisas do mundo e o serviço do Senhor. O caso mais semelhante é o de Marta a quem Jesus teve que repreender: Marta, porém andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? (Lc 10, 40). Como vemos pelas palavras de Jesus em Mt 6, 25, AS COISAS DO MUNDO são a comida, a bebida e o vestido, tudo para conservar a vida e agasalhar o corpo. Mas se casado, a mulher é também causa de preocupações. Segundo Paulo ela é carne e ossos  do marido como lemos no Gn 1, 23-24 e que ele cita em Ef 5, 31: Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Logicamente, o esposo está dividido entre o agrado à mulher e o serviço a Deus. Neste momento, Paulo passa para a mulher e em primeiro lugar propõe a preocupação da não casada a que é ainda VIRGEM [parthenos<3933>=virgo] não tendo marido, preocupa-se das coisas do Senhor, assim como a viúva. Não toda mulher que perdeu o marido é considerada viúva, segundo Paulo, mas as de uma idade marcada de, pelo menos, 60 anos (1 Tm 5, 9) e logicamente deve ser cuidada pelos filhos ou netos (1 Tm 5, 4) que eram os que deveriam cuidar dos avós. Logo a verdadeira viúva devia estar livre de toda incumbência e assim ser semelhante a uma virgem. Na época de Paulo as mulheres eram donas de casa e não eram necessários os avós para cuidarem dos netos; mas antes, estes cuidavam dos avós. Assim, as verdadeiras viúvas eram consideradas como virgens, sem outra preocupação que os deveres religiosos. Portanto, livres de outra preocupação, elas estavam unidas ao serviço de Deus, como eram as mulheres que acompanhavam  Jesus e o serviam (Lc 8, 2). A elas pede Paulo que se mantenham IMACULADAS [agia<40>=sancta], propriamente sagradas, coisa a Deus consagrada que não deve ser tratada como comum, mas com o respeito que merece uma  pessoa dedicada ao serviço de Deus. E Paulo acrescenta tanto no corpo [alude à virgindade] como no espírito, ou seja, sem intenção de matrimônio. Este é o melhor elogio da virgindade como superior ao estado matrimonial. E isso, tendo em conta que a doutrina dos rabinos da época era tudo o contrário: Deus tinha abençoado o matrimônio, como diz o Gênesis em 1, 28: E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra. Porém, foi Jesus quem substituiu esta bênção especial por um depoimento evangélico: Há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus (Mt 19, 12). Finalmente, Paulo repete, com respeito à mulher, o que no versículo anterior afirmou dos homens solteiros: A casada preocupa-se das coisas do mundo: como agradar o marido.

A FORÇA DO TESTEMUNHO: Portanto digo isto, conveniente para vós mesmos: não para lançar-vos uma cilada, mas (como coisa) honorável e  devota ao Senhor, sem distração (35). Porro hoc ad utilitatem vestram dico non ut laqueum vobis iniciam sed ad id quod honestum est et quod facultatem praebeat sine inpedimento Dominum observandi. CONVENIENTE [symferov<4851>=utilitas]  benéfico, vantajoso, útil, lucrativo e como substantivo, proveito. Um exemplo é 1 Cor 10, 33 em que Paulo fala eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar. CILADA [brochos<1029>=laqueus] propriamente significa laço e sai unicamente neste versículo. Lançar um laço a alguém é o mesmo que obrigar a gente a fazer uma coisa ou escravizá-la de modo a forçá-la a obedecer. Paulo não obriga a ninguém a ser celibatário, mas apresenta o celibato como coisa HONORÁVEL [euschëmon<2158>=honestus] digna de honra como era José de Arimateia: senador honrado, que também esperava o reino de Deus (Mc 15, 43). E DEVOTA [euprosedron<2145>=facultatem praebeat] é um apax e não existe outro caso no NT que possa nos dar o sentido bíblico da palavra. Derivada de eu [bom] e prosedros [sentado próximo de] o seu significado é o de estar devotado, que modernamente traduzem como estando para vos unirdes ao Senhor. A tradução direta seria assíduo e por isso termina o apóstolo falando sem distração alguma. Outra tradução: ao trato do Senhor sem preocupações. Conclusão: a pessoa que tem o ministério de ser de alguma maneira apóstolo ou seguidor do Senhor deve escolher o celibato. É a forma mais perfeita de agradar o Senhor. Assim o tem feito a Igreja após o Concílio de Elvira (305) e Niceia (325), pondo limitações ao matrimônio de clérigos, até que finalmente Gregório VII em 1074 ordena que todo sacerdote deve ser celibatário; para finalmente, no Concílio I de Latrão decretar que os matrimônios dos clérigos não são válidos.

EVANGELHO (Mc 1, 21-28) - LUGAR PARALELO: Lc 4, 33-37

O PODER CONTRA OS DEMÔNIOS.

INTRODUÇÃO: São dois os ensinamentos que podemos extrair do evangelho de hoje. E ambos têm como raiz a pessoa de Jesus e sua autoridade. O primeiro é sobre a sua palavra: autêntica no sentido de diferente dos ensinamentos humanos  e com a força de um mandato muito mais do que uma doutrina peculiar ou nova. O segundo é que ele era o único, na época, que podia confirmar suas asseverações com fatos extraordinários que serviam de sinal divino que confirmava sua atuação. Mas vamos explicar as palavras chaves do evangelho em particular.

A SINAGOGA: Então, entraram em Cafarnaum e, imediatamente, aos sábados, tendo entrado na sinagoga ensinava (21). Et ingrediuntur Capharnaum et statim sabbatis ingressus synagogam docebat eos. CAFARNAUM: Foi à cidade, centro do ministério de Jesus onde foi morar, situada à beira mar, nos confins de Zabulon e Neftali (Mt 4, 13). Segundo João, depois do sucesso das bodas de Caná desceram a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e ali ficaram alguns dias (Jo 2, 12). Foi chamada a própria cidade (Mt 9, 1). Hoje não sabemos com absoluta certeza a localização exata da cidade, como temos escrito nos comentários do domingo anterior. Dentro de Cafarnaum estava a casa de Pedro na qual Jesus residia como hóspede (Mc 1, 29). SINAGOGA: É uma palavra grega que literalmente significa convocação ou assembleia. Para os judeus, era o lugar onde se celebrava o culto religioso aos sábados. Era o substituto de Casa de Deus. A sinagoga começou a existir na Babilônia nos tempos do exílio como substituto do serviço do templo ou talvez para suprir uma necessidade dos exilados de se reencontrarem para matar suas saudades (ver Salmo 137). Foi introduzida por Esdras na Palestina e logo se difundiu por toda a Eretz Israel [terra de Israel]. A palavra hebraica que traduz sinagogé é  Knesset. Com o domínio da língua latina, sinagoga entrou em todas as línguas modernas. Antes de tudo, a sinagoga é uma casa de oração e por isso é traduzida como Beit Knesset [casa de reunião] Beit Tefilá [casa das rezas] Beit Midrash [casa de estudo]. Desde o século I dC há notícias de sinagogas nos lugares onde existiam judeus, até mesmo fora da Palestina, como nos diz o livro dos Atos (At 15, 21). Também se reuniam no segundo e quinto dia da semana para ouvir a leitura das Escrituras. Os homens tomavam assentos separados das mulheres. As bênçãos iniciais: Um dos membros da sinagoga é quem fazia oração: Barehú et Adonai hamevorah [Bendizei ao Senhor que é Bendito]. E todos respondiam: Bendito seja o Senhor que é bendito para sempre. O dirigente: Bendito seja o Senhor que é bendito para sempre. Bendito és tu, nosso Deus, rei do universo que nos escolhestes entre todos os povos, e que nos destes a Torah. Bendito és tu Javé Deus, por nos teres dado a Torah.  A primeira parte consistia principalmente na leitura de Dt 6, 4-9; 11, 16-21; Nm 15, 37-41 e em repetir algumas, ou todas as dezoito orações ou bênçãos [shemoné eshré], já em uso nos tempos de Jesus e das quais temos um exemplo em 2 Mc 1, 24-29, que começa: Senhor, Senhor Deus, criador de todas as coisas, temível e forte, justo e misericordioso, o único rei e o único bom, o único generoso e o único justo, todo-poderoso e eterno, que salvas Israel de todo mal, que fizestes de nossos pais teus escolhidos e os santificastes. Sob a palavra oração encontramos a Tefilá [prece] e também a chamada Amida [de pé, porque era recitada nessa posição]. Finalmente a Shemoné Esré ou as dezoito Bênçãos, foram ordenadas pelos homens que constituíam  a  Grande Assembleia e logo algumas outras adicionadas após a destruição do templo. Uma delas é a bênção contra os Minim [hereges ou sectários], inserida pelo rabino Gamaliel, em Jabne, contra os cristãos, no final do século primeiro. As três primeiras bênçãos eram para louvar o Criador do céu e da terra como o Deus dos patriarcas em sua onipotência e santidade. Seguem doze bênçãos, com caráter de súplica, pela santificação do nome de Deus, pelo conhecimento derivado da Torah, pela conversão e renovação da vida, pela remissão dos pecados, a salvaguarda das calamidades, cura das dores, por um ano frutífero, pela liberação do povo, e aí entrava a aniquilação dos apóstatas e heréticos [os cristãos], por Israel, Jerusalém, Sião e o templo, e o advento do Messias. Após pedir que a oração fosse atendida, dava-se opção aos desejos particulares. As duas últimas bênçãos eram de ação de graças pelos benefícios obtidos, terminando: Impõe tua paz sobre teu povo Israel e  abençoa a todos. Louvado sejas tu, Yahveh, que crias a paz!  Eram as BERAHOT que começavam com baruk ata Adonai [louvado seja o Senhor]. O povo ficava de pé durante as orações e todas as pessoas presentes diziam “Amém” quando terminavam. A segunda parte consistia na leitura da lei, feita por diversos assistentes, cada um dos quais lia um parágrafo alternadamente, correspondente a 3 ou 4 versículos atuais. O principal leitor era chamado Ba’al al Koré,  e o número de pessoas a ler a mesma, não podia ser inferior a três. Começava e terminava com ação de graças. Seguia-se uma lição dos profetas [Neviim] ou haftará que era lida pelo Maftir [quem conclui] pela mesma pessoa que abria o serviço com a oração. Depois da leitura o leitor ou qualquer outra pessoa presente fazia uma exposição sobre ela. É o que aconteceu em Nazaré, quando da visita de Jesus após sua fama na  Galileia (Lc 4, 16-17). O culto terminava com a bênção, pronunciada por um sacerdote, se havia algum presente; e a congregação dizia Amém. Provavelmente era esse momento da leitura dos Neviim, em que Jesus usava a oportunidade da palavra para pregar o advento do Reino. Um pequeno exemplo da pregação de Jesus nas sinagogas é o relato de Lucas acontecido na sinagoga de Nazaré em 4, 16-27. Seu comentário estava limitado à explicação das palavras do profeta lido anteriormente. Outro é o discurso ante as multidões explicando as qualidades do Reino à beira do mar e nas montanhas da Galileia.

O ENSINO: E se admiravam sobre o seu ensinamento; pois estava ensinando-os como tendo autoridade e não como os escribas (22). Et stupebant super doctrina eius erat enim docens eos quasi potestatem habens et non sicut scribae. A DOUTRINA: O grego didachê, propriamente é doutrina e não método de ensino. Porém a explicação dada na continuação por Marcos, mais parece apontar para o método, pois Jesus tinha uma maneira peculiar de fazê-lo, como quem tem autoridade e não como os escribas, que geralmente só citavam autoridades anteriores com o argumento de magister dixit [o mestre disse]. Jesus se transforma em mestre dos mestres como um novo Moisés que dita leis e proclama verdades com autoridade própria e não apoiada em superiores prestígios. É só abrir Mateus para ver que Jesus começa muitas de suas asseverações com o ouvistes que foi dito ou ensinado, eu, porém, vos digo ou afirmo (Mt 5, 21).

O POSSESSO: E havia na sinagoga deles um homem com um espírito imundo e gritou (23) dizendo: Ah, que a nós e a ti (sic), Jesus Nazareno? Vieste nos destruir? Tenho conhecido quem és tu: o consagrado de(o) Deus (24). Et erat in synagoga eorum homo in spiritu inmundo et exclamavit dicens quid nobis et tibi Iesu Nazarene venisti perdere nos scio qui sis Sanctus Dei. Chama  a atenção que um possesso estivesse dentro da sinagoga. Por isso os evangélicos traduzem: Não tardou que aparecesse um homem possesso. O possesso diabólico não é admitido no sentido estrito pela versão persa, e hoje é discutido entre os modernos como foi possível que a pessoa que Jesus mandou calar, segundo Marcos, estivesse dentro da sinagoga sendo um possesso. Lucas não deixa dúvida alguma, pois fala de um homem tendo um espírito de demônio imundo (4, 33), embora estas palavras possam ser traduzidas como alguém mal intencionado. Houve tempos em que a única história conhecida e a única cosmogonia aceita eram as procedentes dos textos sagrados. Hoje isso não é mais possível, e ambas são consideradas insuficientes e defeituosas. Será que a mesma coisa não está passando com a demonologia? Porque o que antigamente por todos os cientistas ou médicos era atribuído ao demônio ou espíritos do mal, hoje sabemos que são doenças sem intervenção de seres supra-humanos, ou talvez atribuídas  a causas paranormais. A questão é se tais fenômenos são totalmente humanos ou se existem a possibilidade e probabilidade de seres superiores intervirem na consciência e vontade humanas. Desde já podemos afirmar que os fenômenos supranaturais positivos, [influência do Espírito Santo, anjos e santos] são possíveis e é uma realidade da qual nenhum cristão duvida, devido a fatos milagrosos, profecias, etc. afirmadas no N T, como os anjos do sepulcro (Lc 24,4). Como fenômeno que desafia a ciência temos, após as aparições de Guadalupe no México, uma tilma ou manto que avalia a verdade das mesmas. Mas vamos reproduzir, no possível, as ideias da época.  No grego clássico existem duas palavras Daimon [=masculino, deus de segunda ordem,  ou destino, porque estava particularmente unido ao deus da sorte] e Daimonion [=neutro, era diminutivo, que é o caso dos evangelhos, e que significa ser espiritual superior ao homem , uma espécie de gênio que pode ser bom ou mau, e que geralmente nos evangelhos só designa uma potência do mal]. Há passagens em que espírito impuro e demônio se identificam pelo mesmo evangelista (Mc 7,25 e 26). Destes textos e outro paralelos, deduzimos que os espíritos impuros e os demônios eram palavras alternativas de um mesmo fenômeno. Mais: toda pessoa que tivesse algum dom, profético ou milagroso e que não fosse atribuído ao Enthusiasmos [=impulso divino] era considerada movida pelo demônio, como o caso de João Batista que não comia nem bebia (Mt 11,18) ou o próprio Jesus com autoridade sobre os espíritos do mal (Mt 9,34) que tinha por sua vez demônio (Jo 7,20 e 8, 48) ou tinha um espírito impuro (Mc 3, 30). Por isso é que Marcos fala de um homem em espírito impuro [sem falar de possessão] (1,23). E ao falar das diversas curas refere-se a expulsar daimonia, demônios (34 e 39). Na passagem de Lucas, em que Jesus, imediatamente após esta cura do possesso (?) da sinagoga, cura a sogra de Pedro, podemos ler que Jesus repreendeu a febre como se se tratasse de um demônio e esta deixou o corpo da sogra de Simão (Lc 4,38). Em Mateus e Marcos não existe essa ordem, pois  Jesus toma a mão da doente e a febre desaparece. Isso nos leva a perguntar: há alguma relação entre doença e demônios? No grego do NT daimonion é preferível sobre daimon e, muitas vezes, será traduzido por espírito impuro ou imundo, de impureza legal por estar unido aos deuses pagãos, que também recebem o apelativo de demônios (Lv 17,7 e I Cor 10,20); era o oposto ao espírito sagrado que toma posse de um indivíduo de modo temporal ou contínuo. Daimon só aparece três vezes nos evangelhos (MT 8,31; Mc 5,12 e Lc 8.29), sempre no mesmo caso: o de Gerasa ou Gadara, que formavam legião e foram enviados aos porcos. Daimonion aparece 45 vezes. João nos dá uma dica de que daimonion não significa possessão diabólica tal e qual a entendemos hoje, mas um desarranjo mental ou perturbação temporal, tipo loucura ou psicopatia. Vejamos: Os judeus dizem de Jesus que tem demônio e é um herege ou samaritano (Jo 8,48). Jesus se defende, dizendo que não está com demônio. É o que pensavam seus parentes: que perdera o juízo (Mc 3,21) e que os fariseus traduzem por ter um espírito impuro (Mc 3,30). Deduzimos de tudo isso que os demônios e as possessões dos mesmos devem ser selecionados muito criteriosamente, porque abrangem casos de loucura, de epilepsia e outras doenças mentais, sem que hoje possamos discernir as mesmas dentro dos relatos evangélicos.  OS DEMÔNIOS: como espíritos que habitam lugares desertos, sem água, misturados às bestas selvagens (Mc 1,13 e Is 13,21) dos quais Lilit  é o representante da noite (Is 34,14) são puro folclore do AT.  Os demônios como causadores de toda enfermidade – e isso acontece hoje nas sociedades indígenas primitivas- não existem. Nem toda doença é causada por um espírito maligno (Jo 9,2) e não é através de exorcismos que ela é curada (Mt 17,21). Hoje, por meio  da medicina e da psiquiatria sabemos que doenças físicas ou psicofísicas têm como causa os micróbios, os vírus e até a própria psique alterada do homem. Muitos fenômenos que poderíamos pensar ultrapassarem as forças naturais são entendidos de modo neutro, sem recorrer a seres malignos, explicados por pura parapsicologia, e são denominados paranormais. O que fica do demônio, outrora confundido com deuses pagãos (Dt 37,12) e com eles identificado (Sl 96,5; Br 4,7)? Praticamente nada. Por isso dos 3 fenômenos que a teologia tradicional atribui ao poder do maligno – tentação, obsessão e possessão – esta última está, na prática, totalmente descartada. Sua explicação é dada pela dupla personalidade adquirida pelo esquizofrênico. Como exemplo vou usar um caso acontecido nos meus tempos de seminário com um adolescente. Ele acreditava que era Nossa Senhora, e apareceu um bom dia cantando a Ave Maria de Gounod em falsete. Quando a sua voz engrossou ao cair da tarde, e não podia cantar com voz de mulher, sua personalidade mudou para a de S. José. Logicamente ninguém acreditou numa possessão benéfica de Maria ou José no pobre louco. Mas se no lugar de tomar essas personalidades tivesse babado, gritado e rolado no chão, blasfemando, sem dúvida que muitos diriam ser um possesso e como tal sobre ele deviam ser lançados os exorcismos da Igreja. Pessoalmente me inclino a pensar que a possessão diabólica é mais uma doença chamada esquizofrenia. Mas como homem de ciência deixo a porta aberta a causas sobrenaturais para casos que considero raríssimos, e que em tempos modernos seriam mais fáceis de distinguir das verdadeiras doenças psíquicas. Segundo o pensar comum da época, bíblico e não bíblico, o ar estava cheio de espíritos, assim como o nosso ar está cheio de micróbios e vírus. Esses espíritos podiam ser bons ou maus. Estes últimos, que são os que nos interessam, habitavam os lugares desertos em grande número, sem água (Lc 11,24). Nos sinópticos, estes espíritos maus eram chamados de espíritos impuros, sujos, akatharta, traduzido por imundos nas bíblias evangélicas (Mc 1,23). Lucas os chama de maus em 7,21 e 8,2, ou causadores de doenças (8,2). Esses espíritos tinham como chefe Beelzebu (Mt 12, 24) ou Belial (II Cor 6,15). Causavam doenças de todo tipo, especialmente as que não tinham uma causa conhecida. Tais eram surdez, acompanhada da correspondente mudez (Mc 9,17  e Lc  11,14). A loucura, como no homem  de Gérasa (Mc 9,17), a quem Lucas chama de endemoninhado (8,27). A epilepsia, como no caso da filha da mulher siro-fenícia (Mc 7,25) em que vemos que no lugar de espírito impuro também os sinópticos usam o termo demônio. A esclerose múltipla como o caso da mulher encurvada que tinha um espírito de doença (Lc 13, 11), atribuído a Satanás (13,16). Resulta estranho que João, no 4o evangelho, nunca fale deles. SATANÁS OU O DIABO: As duas palavras indicam um mesmo personagem, só que o primeiro é de origem semítica e o segundo é a tradução grega. O significado primordial é de Tentador, fiscal ou promotor. Era o anjo caído, a antiga serpente ou dragão do Éden, que se chama Diabo ou Satanás (Ap 12, 9). É o inimigo frontal de Cristo e que lutará contra o reino, mas será derrotado no final. É um ser pessoal cuja ação se manifesta também através de seres subalternos por meio da tentação (Mc 1,23) e da disseminação do mal (Mt 13,25). Ele é o adversário do desígnio de Deus sobre a humanidade. No AT mais do que como adversário ele é tratado como anjo da corte divina que desempenha a ação de fiscal ou acusador (Jó 2, 1). Sem opor-se diretamente a Deus, desejaria que sua noção de falsa santidade em Jó fosse a que prevalecesse. Em Zc 3, 1-5 já se torna adversário de Deus. Em Gn 3,1 vemos como, sob a forma de serpente, uma misteriosa personagem tem um papel importante na introdução do pecado, da doença e da morte. Suas armas são a astúcia e a mentira (Jo 8,44). A essa serpente, a Sabedoria dá o nome de Diabo (2,24). A humanidade, vencida um dia, triunfará de seu adversário (Gn 3,15). Cristo veio para reduzir à impotência a quem tinha o domínio da morte (Hb 2,14) e para substituir o reino do maligno pelo reino de Deus (I Cor 15,24-28 e Cl 1,13). Os evangelhos apresentam a vida pública de Jesus como uma luta contra  Satanás, luta que começa com as tentações do deserto, nas quais, após o Gênesis, vemos pela primeira vez um filho de Adão (Lc 3, 38) cara a cara com o Diabo (Lc 4,3). Esta luta terá dois aspectos diferentes: um físico ao vencer Jesus com autoridade o que se acreditava era domínio do mal entre os homens possessos, e outro espiritual no enfrentamento com os judeus incrédulos dos quais reclama falta de lógica e maldade do coração por julgarem como falsa sua missão messiânica, tornados por isso verdadeiros filhos do Diabo (Jo 8,44), os mesmos  que o Batista já chamou raça de víboras (Mt 3,7). Na hora da paixão, Satanás parece vencer (Jo 13, 2; 27; 14,30 e Lc 22,3); mas na realidade não tem poder algum sobre Cristo e sua missão messiânica, que se cumprirá por meio de seu sacrifício na cruz, como obra do amor e obediência ao Pai (Jo 14,30-31). O império do mundo pertence agora ao Cristo (Fl 2,10-11). Porém esta luta entre Cristo e Satanás terá que ser repetida em todo cristão. Por vezes será evidente, como quando Paulo é impedido de ir a Tessalônica (I Ts 2,18). Satanás semeia o joio (Mt 13, 39) e arranca a semente boa da palavra (Mc 4, 15). Como em Judas, entrará em possessão do anticristo ou anticristos (2 Ts 2,7) que já estão em ação e ocultará sua obra maléfica, revestido de anjo de luz ( 2 Cor 11,14). As almas simples jamais sentirão  sua presença, pois Cristo as protege com seus anjos (Mt 18,10). Porém as almas santas que têm experimentado a presença de Deus serão tentadas como os discípulos (Lc 22,31) por meio de dúvidas de fé, orgulho pela sua santidade e desesperação pelos pecados cometidos e dos quais parece nunca se livram. O maligno pode tomar até forma sensível, como diz Teresa de Jesus, como um anjo belo e formoso, mas que traz angústia e dúvidas ao coração.  Porque Deus permite que as tentações acompanhem as visões para purificação e mérito dos santos. Satanás, pois, existe: é um personagem maligno, empenhado mais na derrota do bem que no triunfo do mal. Nos tempos modernos ele inspira cantos [heavy metal] e através de drogas, ritos e cultos, promove independência e liberdade absolutas, fora de toda obediência, em busca da felicidade total. Mas os resultados são destruição e morte [Manson], novos líderes messiânicos [Jim Jones] que levam seus adeptos ao suicídio e aniquilamento. Estes sim são fenômenos que sociólogos, teólogos e pastoralistas deveriam estudar para que a fumaça de Satanás não penetre na Igreja de Deus, em palavras de Paulo VI. Outro problema ao qual não é fácil encontrar solução é por que Deus permite sua atuação que, em certo sentido, converge com a existência do mal no mundo. Esse problema só será resolvido no outro mundo e cada um de nós verá como, em definitivo, o mal provocou um bem maior em nossas vidas como canta a Igreja no hino pascal: Feliz culpa que teve tão grande redentor! É índice de maior amor, amar o que não é digno de ser amado, como é o pecador que volta redimido ao bem! Sem o mal-  dirá o filósofo – não pode existir o bem. CONCLUSÕES: A) Nos tempos de Jesus: Como temos visto há uma série de doenças que hoje certamente sabemos nada tem a ver com espíritos ou demônios. Logo as palavras dos evangelhos não podem ser tomadas fundamentalmente ao pé da letra. A maioria das doenças curadas por Jesus eram normais, quer dizer, sem intervenção sobrenatural. Autores há que afirmam que todas as doenças atribuídas aos demônios têm uma explicação completamente natural, incluídos fatos hoje chamados paranormais. É uma opinião que não deve ser descartada. Quando Jesus escolhe os 12 é para morar com Ele, para enviá-los a evangelizar e ter  autoridade de expulsar demônios (Mc 3,15). Este fato era de grande importância no seu tempo: A mentalidade judaica era de que os demônios tinham um poder praticamente supremo no mundo, devido à idolatria, e que seriam vencidos pelo poder messiânico (Mt 12, 22-45 e Lc 11, 14-26). Jesus usa esse poder e os inimigos o atribuem ao próprio maligno, o que constitui pecado contra o Espírito Santo, Espírito que Jesus tinha e através do qual imperava nos demônios. B) Tempos atuais: Existem endemoninhados no mundo moderno? Uma grande parte dos pastores protestantes afirma  que sim. Escutando suas rádios e vendo seus programas televisivos, abundam os possessos tanto quanto os enfermos de câncer. Pelo contrário, não conheço nenhum Padre católico que afirme tal coisa. Pessoalmente eu tenho conhecido epilépticos, neuróticos e histéricos; mas jamais me deparei com um endemoninhado. É verdade que o munus de exorcista não tem sido eliminado dos ritos católicos. Mas vejamos o testemunho de um deles, José Antônio Fortea, pároco de Na. Sa. de Zulema. É um dos dois exorcistas que existem na Espanha. Ele diz que as influências diabólicas são seis, das quais a mais espetacular é a possessão diabólica e esta é rara.  Ele afirma que 95% dos casos são doenças mentais. Dos mais de 600 casos em que o outro exorcista teve que intervir só 4 podiam ser considerados como possessão diabólica. Porém existe uma forma de influência diabólica bastante frequente no Brasil: é o caso dos terreiros e centros espíritas. Invocam espíritos. Evidentemente não são dirigidos pelo Espírito Santo em suas formas múltiplas, logo podemos dizer que são espíritos do mal. Para ver a influência dos terreiros e seus pais de santo me contaram que numa pequena cidade de 3500 habitantes na região do sertão, num dia de propaganda política, um determinado candidato visitou 13 terreiros. Lógico é de se supor que seu oponente visitou outros tantos a ele mais próximos. É dessa forma que o inimigo semeador de joio trabalha sem necessidade de ser descoberto como mal; mas camuflado como bem entre os umbandistas, quimbandistas, macumbeiros e kardecistas. O GRITO DO ENDEMONINHADO: Que entre nós e ti? Lucas usa os mesmos termos: Ah! Que entre nós e ti, Jesus Nazareno? (Lc 4, 34). A interjeição Ea que Lucas introduz antes das palavras que entre nós e ti, é uma interjeição de indignação, de espanto misturado com medo. Talvez fosse melhor traduzir por Ai! É interessante saber que o espírito maligno usa o plural: entre nós. Esse nós abrangeria o espírito e o homem possuído, ou esse nós estava referido a todos os espíritos do mal que Marcos compreende como espíritos imundos? (26). Vemos que o oposto a esse nós é precisamente o tu de Jesus Nazareno. É o mal que encontra o Bem e o rejeita com a repugnância de um proscrito infernal. E nisso encontra sua infelicidade e desesperação. É uma visão terrena do que sucede no inferno. Realiza-se o que Tiago na sua carta diz: Os demônios creem e [por isso] tremem (Tg 2, 19). Interessante também, que o nome completo seja Jesus Nazareno. O sobrenome Nazareno está no lugar do pai [patronímico] e na realidade se José fosse o verdadeiro pai o nome completo de Jesus seria Jesus bar Josef (Jo 1, 45). Para melhor designá-lo Filipe dirá a Natanael que esse filho de José era de Nazaré e foi com este topônimo [nome do lugar] que Jesus foi e é conhecido até agora. O diabo admite a conceição virginal de Maria. Esse mesmo título era o que Pilatos colocou na cruz (Jo 19, 19). Sobre este nome existem duas acepções gregas: Nazarenos [nazareno], como habitante de Nazaré e Nazôraios [nazoreo] que foi o nome com que os cristãos foram conhecidos em primeiro lugar. A primeira voz sai 3 vezes em Marcos e uma em Lucas. A segunda sai 2 em Mateus, 1 em Marcos 2 em Lucas e 3 em João. Sem dúvida que é mais uma questão de nome e não de semântica ou de conceito. O SANTO DE DEUS: Na realidade o ‘agios grego deve ser traduzido por consagrado ou sagrado. Tomando o sentido, traduziríamos, como melhor opção, por o Ungido do [verdadeiro] Deus. Era um título messiânico indiscutível. O demônio sabia quem verdadeiramente era esse homem. Além de Messias, o demônio [ou o espírito esquizofrênico que na hora o dominava] sabia que era filho de Deus? Provavelmente não. Jesus ainda não o tinha manifestado e as tentações no deserto não podem ser tomadas como provas, porque Filho de Deus era um título puramente messiânico. Ficamos, pois, com o suficientemente provado: Tu és o Messias, o Ungido de Deus.

O MANDATO: Então Jesus o repreendeu dizendo: Cala, e sai dele (25). Et comminatus est ei Iesus dicens obmutesce et exi de homine. A ordem de Jesus é dupla: Cala-te primeiro, e logo sai desse homem. A primeira parte corresponde ao segredo messiânico que Marcos respeita quando Jesus cerca seus milagres e sua pessoa ao título de Messias, de modo que não consentia que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era (Mc 1, 34). A segunda é a que produz o milagre que todos viram admirados.

A SAÍDA: O espírito, o imundo [sic no grego] o agitou, e havendo gritado com grande som, saiu dele. Et discerpens eum spiritus inmundus et exclamans voce magna exivit ab eo Akathartós é a palavra que os evangélicos traduzem por imundo e os católicos por impuro. O significado próprio é sujo, não limpo [unclean inglês]. Oposto a ele é o espírito ‘agios  [divino] (Mc 12, 36) ou espírito de Deus (Mt 12, 28)  com o qual Jesus expulsa o demônio. O espírito imundo é substituído por maligno [ponerón] (Lc 7, 21 e 8, 2) ou por espírito de demônio imundo (Lc 4, 37) o espírito de enfermidade (Lc 13, 11). Por vezes esse espírito é descrito pelos efeitos de mudez: espírito mudo de Marcos 9, 17 e 25, o endemoninhado cego (Mt 9, 23) e cego e mudo (Mt 12, 22). Uma outra palavra frequente nos evangelhos [11 vezes] é endemoninhado [daimonizomenos]. Até o quarto evangelho usa a palavra contra Jesus em 10, 21. De tudo isso devemos concluir que nem sempre espírito akathartós significava possessão diabólica mas certo tipo de doenças que não tinham explicação fisiológica e mais correspondia a doenças mentais ou psíquicas. Porém, dentro das mesmas, havia algumas que se atribuíam na época a demônios e que poderíamos chamar de verdadeiras possessões malignas, com maior ou menor influência do anjo do mal ou capeta em termos vulgares. As outras eram, apesar do nome de espíritos, doenças do espírito ou mentais. E com um grande grito, chacoalhando-o em convulsão saiu dele. Lucas, no lugar paralelo, diz que o demônio o lançou no meio e saiu sem causar-lhe mal algum. Sem dúvida que essa forma de se despedir indica raiva e desesperação. É o único consolo que terá o diabo ante o triunfo de Jesus: derrotado não poderá fazer o mal como é seu costume. Exatamente como saiu do menino epilético em Marcos 9, 26, narração que para Mateus e Lucas termina com uma cura simples.

ADMIRAÇÃO DOS PRESENTES: E se admiraram todos de modo a se questionarem entre eles, dizendo: Que é isto, que doutrina esta, a nova, de modo que com autoridade ordena aos espíritos, os imundos, e lhe obedecem? (27).  Et mirati sunt omnes ita ut conquirerent inter se dicentes quidnam est hoc quae doctrina haec nova quia in potestate et spiritibus inmundis imperat et oboediunt ei. O assombro dos presentes é duplo: pela doutrina que é nova, sem pretender tirar dela a exposição magistral que também influiria na admiração, pois ele, Jesus, era um simples artesão e não tinha estudos, e logo pela autoridade e comando que tinha dos espíritos imundos que lhe obedeciam. As novidades eram a doutrina e o poder de Jesus. Será o novo mestre da humanidade e o milagre será a confirmação da verdade de sua doutrina, sendo o maior, a sua ressurreição. Por isso dirá Jesus a seus oponentes; Se não acreditais em minhas palavras [e razoamentos] acreditai nas minhas obras (Jo 10, 38). Nestes momentos em que a humanidade não sabe distinguir entre a verdade e a falsidade, entre o bem e o mal, existe uma voz que se deixa ouvir com claridade em ambos os problemas: a do Papa, que é o vigário de Cristo. E existem umas obras que podemos ver como divinas: Os milagres que sempre acompanham a vida dos santos dessa Igreja tão universal que chamamos de Católica.

Pistas:

1) Existe um livro de Francisco Ansón, intitulado Três milagres para o século XXI, em que descreve a tilma de Guadalupe [México, 1531] o milagre do coxo de Calanda [Virgem do Pilar, 1640], e Fátima [1917]. Recomendo a leitura sem prejuízos e sem paixão. É um livro que produz fortes dúvidas nos agnósticos e certezas incontestáveis entre os crentes. Como sempre,  se repete a visão de Simeão: Cristo será sempre sinal de contradição (Lc 2, 34).

2) Vemos como a interpretação dos fatos tem sido totalmente diferente segundo os tempos e os avanços da ciência. Que os curados por Jesus eram doentes, ninguém pode duvidar. Ora, as causas das doenças que não são visíveis diretamente, eram atribuídas a espíritos. Hoje temos outras interpretações mais convincentes e lógicas após os descobrimentos científicos correspondentes. Os fatos são reais, a cura é portentosa. Porque tanto faz seja demônio ou loucura. Ninguém, mesmo nos dias de hoje, cura um esquizofrênico repentinamente. O Milagre não é a cura, mas a falta de tempo para se realizar de modo a responder a um comando de forma imediata.

3) A modéstia de Jesus que quer evitar toda publicidade sobre sua pessoa para centrá-la na doutrina e nos ouvintes, contrasta com a publicidade de certos pregadores modernos que apelam aos fatos prodigiosos para enaltecer suas virtudes ou carismas. É lícito proclamar curas para reunir uma multidão ou devemos proclamar Jesus para anunciar a salvação?

4) No mundo moderno, os fatos que levarão os homens à fé serão as obras de caridade. Jesus já o disse: nisso conhecerão que sois meus discípulos: se permanecerdes em minha palavra (Jo 8,31) e reconhecidos como tais, se tiverdes amor uns pelos outros (Jo 13, 35).

5) A impressão de quem estuda a fundo os evangelhos é de que eles formam uma unidade de pensamento que relata uma única vida e que não contradiz o Deus do AT. Não existem contradições ou divergências. E eram quatro os narradores. Tudo o contrário do Al Corão que relata o episódio do bezerro de ouro e também culpa um samaritano pelo mesmo (sura 20, 87) ou que um dos filhos de Noé perecesse no dilúvio (sura 11, 43). Ou quando admite uma exceção sobre o matrimônio, em favor do profeta. Só se permitem 4 mulheres e a ele se permitem até 12.

http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0355.htm#msg01

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