sábado, 30 de abril de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL II

CUIDA DAS MINHAS OVELHAS

O evangelista João reproduz o relato do encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos à beira do mar de Tiberíades (mar da Galileia) mostrando a vida diária dos discípulos que voltaram à sua terra e ao seu trabalho de pescadores depois dos dias perturbadores da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Estava sendo difícil compreender o que tinha acontecido. Aproxima-se a noite e os discípulos saem para pescar. Barca e redes vazia, experiência dolorosa e frustrante de algumas comunidades primitivas e de muitas nos dias atuais. Preocupante quando a fé no Ressuscitado e do Ressuscitado vai caindo no esquecimento, no descrédito e sendo substituída por um devocionismo exagerado e muitas vezes na contramão do que Jesus fez e ensinou, ou ainda, em propostas mágicas de cunho financeiro, e muitas outras iniciativas bem perturbadoras. Ao amanhecer, Jesus procura seus discípulos e pergunta se tem alguma coisa para comer. Como nada tinham, Ele pede que lancem as redes, o que resulta na pesca de abundante quantidade de peixes. Ciente de que era o Senhor, Simão Pedro vestiu sua roupa e atirou-se ao mar. Quando reconhecemos a presença do Ressuscitado em nossa barca, quando confiamos na sua Palavra, ânimo e coragem voltam com mais vigor e as redes ficam cheias. Chegando à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe assado nas brasas, no entanto, o ressuscitado quer a participação dos pescadores e pede que tragam alguns dos peixes que tinham pescado. Jesus se dá por inteiro como alimento que nos sustenta hoje e nos remete para a eternidade, no entanto, pede a nossa participação, o pão conquistado com o suor do nosso corpo para que seja partilhado entre os comensais. A vida comunitária onde os irmãos tomam do mesmo pão e do mesmo cálice deve ser lugar de partilha e jamais ambiente escandaloso que não questiona o abismo que existe entre ricos e miseráveis, vida luxuosa de alguns e multidão desprovida do mínimo para sobreviver. E uma comunidade centrada no Cristo Ressuscitado precisa ser provada no amor. E o questionamento é dirigido a Simão Pedro por três vezes. Na primeira faz uma comparação: “Tu me amas mais que estes”? Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que sou teu amigo”. Na segunda, não faz comparação e apenas pergunta “Tu me amas”? Pedro responde “Sim, Senhor, tu sabes que sou teu amigo”. Na terceira vez Jesus muda e não pergunta sobre o amor, mas sobre amizade, “Simão filho de João, você é meu amigo”? Diante disso, Pedro cai em prantos porque tem dificuldade em falar que o ama (Loucura de Deus, Alberto Maggi). De agora em diante, sua missão recebe nova definição e, além de ser rochedo (Mt 16,18), é também pastor e dará a vida pelo rebanho. Com o tempo vêm as limitações, o corpo se definha, as rugas se reproduzem, mas o amor, ao contrário não envelhece e nem cria rugas. Nossas comunidades centradas na Palavra e na Eucaristia precisam do vigor e coragem de Pedro que grita bem forte que é preciso obedecer a Deus, antes que os homens; do testemunho do trabalhador São José que nos inspira a denunciar que tem mais de 13 milhões de desempregados em nosso país; da intercessão da Virgem Maria que lembra a força transformadora das mulheres presentes em nossas Igrejas, no mundo do trabalho e na política. Em tudo coragem, esperança e fé, pois “Se à noite vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria” (Sl 29,6).

Dom José Benedito Cardoso Bispo Auxiliar de São Paulo

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46-c-31-3-domingo-de-pascoa.pdf

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