sábado, 24 de setembro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL III

 

REFLEXÃO DOMINICAL III

 

O POBRE SENTADO À PORTA

O mês de setembro é para nós o “mês da Bíblia” e no último domingo deste mês celebramos o seu dia. E para levarmos a sério a Palavra, Jesus nos conta a parábola do pobre Lázaro e do rico avarento. O rico se veste com roupas finas e faz festas todos os dias, enquanto que o pobre Lázaro tem a pele coberta de feridas. De um lado a ostentação agressiva do rico, do outro o pobre sem recursos, sem direitos, coberto de úlceras, impuro, sem ninguém que o acolha, a não ser os cachorros que lambem suas chagas. Cães eram os pagãos, apelido dado aos pecadores que não cumpriam a lei divina. Eles estavam cuidando melhor dos pobres que alguns ricos religiosos. Deus olha como se vestem seus filhos: o rico com roupas de púrpura e linho fino, o pobre coberto de feridas. Deus olha como se alimentam seus filhos: o rico dava banquete todos os dias, o pobre queria matar a fome com o que caia da mesa do rico, isto é, “não as migalhas que caiam no chão, mas pedaços de pão que se usavam para limpar os pratos e enxugar as mãos e que depois de atiravam sob a mesa. Como Lázaro queria saciar a fome com aquilo” (J. Jeremias, As Parábolas de Jesus, p. 185). Lázaro tinha uma enfermidade exposta na pele, tinha feridas, o rico também tinha uma enfermidade terrível: era cego, não conseguia olhar para além do seu mundo feito de banquetes, festas e roupas finas. Não via além da porta da sua casa, não tinha interesse por aquilo que estava acontecendo lá fora onde Lázaro estava à espera de um pouco de pão e atenção. O pobre morre e é levado pelos anjos para o seio de Abraão. Ferido no corpo e na dignidade, encontra solidariedade em Deus. O rico que se diz ser filho de Abraão também morre e é enterrado. Demonstra ser um homem muito piedoso, pois reconhece Abraão e o chama de Pai. Em vida, o rico nunca quis saber da existência de Lázaro, somente na hora do tormento eterno é que enxerga Lázaro e suplica que amenize seu sofrimento molhando a ponta do seu dedo para refrescar sua língua. Quer também que Lázaro seja ressuscitado para dar um susto nos seus irmãos, para que se convertam e não tenham o inferno como morada eterna. É a primeira vez que vê além da porta de sua casa, e mesmo assim quer usar do pobre Lázaro para salvar tão somente seus irmãos e amigos. A resposta de Abraão é esclarecedora: “Eles têm Moisés e os profetas: que os ouçam”, ou seja, entendam que a chave para compreender a Sagrada Escritura é o pobre sentado à porta. E nisto adverte o profeta Amós “Ai dos que vivem comodamente em Sião...Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho...dos que bebem vinhos em taças, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José”. E quando se distorce a verdade da Palavra falseando a sua mensagem, a religião se torna fonte de riqueza. Paulo faz referência a pessoas que, idolatrando o dinheiro, caíram na tentação, abandonaram a verdadeira fé fazendo da pregação do Evangelho fonte de lucro Ele os aconselha: “Fuja das coisas perversas...guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo”. Por fim vale lembrar o conselho já conhecido do Cardeal Claudio Hummes ao Papa Francisco por ocasião de sua eleição “Por favor, não se esqueça dos pobres”.

Dom José Benedito Cardoso Bispo Auxiliar de São Paulo

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46-c-53-26-domingo-do-tempo-comum.pdf


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