REFLEXÃO
DOMINICAL III
SEGUIR O SENHOR
Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Iniciamos
o mês de setembro, mês temático que no Brasil dedicamos a Sagrada Escritura. A
liturgia deste XXII domingo do tempo comum, nos leva a refletir sobre a nossa
caminhada com Deus. Em Mt 16, 21-27, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão
e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante. Pedro não concorda e
começa a “repreendê-Lo”. Jesus no Evangelho vai dizer aos seus seguidores: “Se
alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,
24b).
A
primeira leitura Jr 20, 7-9 – o
versículo que nos ilumina é: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste
mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro, todos
zombam de mim” (Jr 20,7). Vemos que o profeta Jeremias reluta e reclama da
dificuldade que ele está tendo para anunciar a Palavra de Deus, mas, Deus mesmo
assim o seduz e por isso o profeta tem em Deus uma força interior para
continuar mesmo em meio as dificuldades a levar seus ensinamentos. Deus de
maneira nenhuma abandona os seus, mas, coloca-se ao lado de cada mensageiro.
A
segunda leitura Rm 12, 1-2 – nos
mostra que devemos moldar a nossa vida conforme a vontade de Deus. “Não vos
conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar
e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o
que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito!” (Rm 12, 2). Aqui lembramos que
cada um de nós deve ser fermento na massa, ou seja, em meio as várias situações
onde existem atitudes que fogem do comportamento cristão e ético, devemos
iluminar com a nossa prática diária a nossa vida e a vida daqueles que nos
cercam. O grande exemplo é Cristo Jesus. Ele em meio a tantas injustiças,
anunciou que não devemos pactuar com o erro, mas, devemos reconhecer que somos
pecadores e assim se colocar num caminho-processo de conversão. Em todas as
nossas ações e atitudes, devemos sempre nos perguntar: estou fazendo a vontade
de Deus? O que o Senhor faria em meu lugar? Se fizemos o bem e pregamos o amor,
estamos no caminho, mas, se por ventura fraquejamos, tenhamos força no Senhor
para fazer à vontade d’Ele. É necessário sempre para cada um de nós a humildade
e a força de sempre fazer a vontade de Deus.
No
Evangelho de Mt 16, 21-27 –
“Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir à Jerusalém e
sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e
que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Aqui no Senhor, mostra para
seus seguidores tudo aquilo que vai acontecer com Ele. Mas, Pedro se coloca da
seguinte maneira: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te
aconteça”. Levado pelo sua concepção de Messias, Simão procura afastá-Lo do
caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a
humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós.
O Evangelho fala de
duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede louca do mundo de se dar
bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre no sucesso e no acordo
com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão radical, tão contra a corrente.
Vale para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro,
mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Queridos irmãos e irmãs, olhem o
Cristo, pensem no seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, seus
discípulos: “Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar
a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai
encontrá-la!” Renunciar-se,
tomar a cruz por causa de Jesus… por causa dele! Não há, não pode haver outro
caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão humana!
Contudo,
somos convidados a sempre fazer a vontade de Deus e assim trilhar o seu caminho
sem esquecer a nossa cruz. Assim, nos diz o saudoso São João Paulo II: “A Cruz
é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos
atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós” (Alocução, 01/04/1980).
Seguir Cristo é entrar no seu caminho, é, em união com ele, fazer-se sacrifício
agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo
crucificado e ressuscitado.
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