sábado, 27 de julho de 2024

XIII- DE UM PAI-AVÔ PARA COM A FILHA-NETA Lindolivo Soares Moura(*)(**)

 

 

XIII- DE UM PAI-AVÔ PARA COM A FILHA-NETA

Lindolivo Soares Moura(*)(**)

Olá, tudo bem? Imaginei que esta "Dica-reflexão" enviada para minha neta-filha adolescente talvez possa ser útil para você e/ou alguém que você ama.

Oi minha neta-filha querida, tudo bem com você? Curtindo as férias e as coisas boas que vêm junto com elas? Aproveitar e curtir é muito bom, bom demais, mas mesmo nesse período de descanso e relax não se pode "baixar a guarda", pois muitas vezes é justamente aí que o perigo se esconde. Brincar, curtir e se divertir também exigem cuidado e segurança, mas como para os mais jovens essas coisas parecem difíceis de conviver juntas, o cuidado e a segurança é que quase sempre acabam sendo sacrificados. Assim, quando as aulas reiniciam muita gente acaba retornando com braços e pernas engessados, chinelos nos pés por não poder calçar sapatos, cabeça enfaixada ou dedão quebrado, e seguem por aí os infortúnios dos mais afoitos e acelerados. O princípio é simples: quanto mais energia é liberada, mais atenção e cuidado são necessários. Férias não é tempo nem ocasião de "liberar geral", como querem e reivindicam os mais ousados e incautos. Aliás, direta ou indiretamente a "dica" de hoje fala um pouco sobre isso, mesmo tratando de um assunto um tanto mais complexo. Já leu ou ouviu falar algo sobre o estilo ou modelo "fitness" de vida? Se não, com certeza muito em breve ele lhe será apresentado. Leia e reflita com calma, sem correria, sobre alguns riscos e perigos que podem se ocultar por trás dessa espécie de fetiche idolatrado. Depois procure colocar em prática o que lhe parecer razoável e mais compatível com sua própria filosofia de vida. Vou resumir assim o nosso tema de hoje: O MODELO OU IDEAL "FITNESS": O QUE PODE HAVER DE ERRADO COM ESSE ESTILO DE VIDA?

"Change your style: be 'fitness'!" - "Mude seu estilo: seja 'fitness'!": e então, minha linda, você aceitaria sem pensar um convite como esse? Se respondeu "sim", sinto muito; não deveria. Ao menos sem ter antes procurado verificar quem está por trás desse convite: se uma empresa, um hospital, uma indústria de alimentos, uma academia, um "personal trainer" ou uma outra pessoa ou instituição qualquer. Todos podem estar fazendo uso desse mesmíssimo termo, "fitness" - ou sua fórmula abreviada, "fit" - motivados e impulsionados por ambições e interesses bem diferentes. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Saúde sequer adotou ainda esse termo - e tampouco sabemos se pretende fazê-lo - e já existe toda uma linha de produtos com selo "fit" disponibilizada no mercado pela indústria alimentícia, com a garantia de serem saudáveis e com a promessa de oferecerem uma variedade de ganhos e benefícios estéticos imperdíveis. Se cumprem ou não com o que garantem, e sobretudo com o que prometem, essa já é uma história bem diferente, mas que para efeito de consumo e de consumismo pouca ou nenhuma diferença faz. O fato de que tanto o setor da saúde quanto o "modelo 'fit' ou 'fitness'" tenham o corpo como seu principal foco de atenção e cuidado, acaba muitas vezes confundindo a cabeça de muita gente. Sem maiores informações e questionamentos, conclui-se muito rapidamente que aquilo que contribui para aumentar o "padrão 'fitness'" - da beleza, da forma e da flexibilidade do corpo - contribui também, automaticamente, para a melhoria da saúde, o que nem sempre é verdade. Em um bom número de casos, inclusive, pode acontecer exatamente o contrário: a busca pela manutenção e melhoria do "ideal 'fitness' de perfeição" pode acabar comprometendo severamente a saúde tanto física quanto mental da pessoa. Com certa frequência a mídia tem mostrado pessoas que, em nome desse ideal de perfeição - cujo padrão de excelência ninguém sabe dizer exatamente qual seja, sobretudo nesses tempos de liquidez e incerteza - não hesitam em colocar em risco sua saúde, e se preciso for a própria vida. O "ideal de perfeição" acaba sendo hoje, para muitos, o que as águas foram um dia para Narciso.  Foi-se o tempo em que o famoso bordão do personagem Paulo Cintura da "Escolinha do Professor Raimundo" - "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!" - gozava de consenso e unanimidade. "Ser 'fitness' é o que interessa!": com certeza seria esse, hoje, o novo bordão do Cintura, caso a Escolinha ainda existisse.

Como os riscos e perigos que o perfeccionismo "fitness" para com o corpo costumam passar desapercebidos - semelhantemente àquelas letrinhas minúsculas e transparentes dos anúncios, que só se pode enxergar e ler tendo à mão uma boa lupa - abordarei a seguir aqueles que considero mais importantes, para com os quais sugiro especial cuidado e atenção de sua parte. Vamos lá, então? Perigo número um: atribuir excessiva importância ao corpo e à aparência física como se o amor-próprio e a autoestima dependessem "só", ou "principalmente", desse único aspecto. Quando isso acontece outros traços de nossa personalidade e outras dimensões importantes de nossa vida acabam sendo ignorados, podendo tornar-se depois de certo tempo severamente prejudicados. Imagine, por exemplo, se essa pessoa vier a ser acometida por uma doença crônica inesperada, um acidente grave, um aumento considerável de peso, ou pela simples chegada da velhice. Todas essas situações são potencial e reconhecidamente capazes de afetar, e muito, tanto a saúde como a forma e a beleza do nosso corpo. Nesse caso o tiro acabará literalmente "saindo pela culatra", como diz  o velho ditado: os níveis do autoconceito e da autoestima despencam, a dor emocional acaba se tornando insuportável, prejudicando principalmente quem menos para isso se encontra preparado. A melhor forma de compensar essa perda é sem dúvida poder contar com a segurança proporcionada pelo investimento equilibrado nas diversas e diferentes áreas de nossa vida, dentre as quais, claro, estão a saúde para com o corpo e o cuidado para com a forma física. Fora isso, só mesmo recorrendo à terapia, para o resto da vida e apenas como "paliativo", diga-se de passagem; nada de esperar contar com milagres. Perigo número dois: deixar-se atrair e permanecer preso/a nas malhas da "pressão estética". Todo tipo de perfeccionismo acaba inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, se transformando em cobrança e pressão; no presente caso, cobrança e pressão "estética", isto é, relacionada à forma, à beleza e à aparência física. Ao ser confrontada com as imperfeições e limitações impostas pelo "princípio de realidade" - a vida tal como ela é, e não como gostaríamos que ela fosse - a obsessão desenfreada pelo corpo perfeito acaba produzindo danos e prejuízos mentais e emocionais difíceis de serem reparados; isso porque raramente a pessoa se sente satisfeita com o nível atingido, independente de qual nível seja este. Sentimentos de frustração, auto-rejeição,  vergonha e inadequação, seguidos de distanciamento da família e de isolamento social costumam ocorrer com frequência, fazendo com que os níveis de estresse, ansiedade e até de depressão subam rapidamente. Remédios não conseguem obviamente atingir a raíz do problema, o que só se mostra possível quando se consegue escapar da pressão propriamente dita, a essa altura uma tarefa nada fácil. Se sair é difícil, melhor então é fazer de tudo para não entrar, o que se pode conseguir investindo na prevenção. E se para com a bebida isso significa "evitar o primeiro gole", como ensinam os "alcoólicos anônimos", para com a pressão estética significa conhecimento e consciência prévia de todas as exigências, danos e prejuízos que ela traz consigo. Melhor, portanto, minha linda, investir o quanto mais cedo possível na prevenção. Perigo número três: a  tentação de acelerar o tempo e o processo na busca pela aquisição da forma bem definida e do corpo perfeito. De acordo com uma ortopedista do Hospital do Coração de São Paulo - capital, "a obsessão por um corpo saudável e perfeito a qualquer custo, sem orientação profissional, e num reduzido espaço de tempo, pode prejudicar e muito a saúde da pessoa". Um dos clássicos exemplos dessa autêntica "disritmia" é o chamado "overtraining", caracterizado por um excesso de exercícios praticados num reduzido espaço de tempo, insuficiente para que o corpo possa se recuperar e recobrar as energias. Esse autêntico "descompasso" acaba afetando severamente a autoestima e a qualidade de vida, na medida em que traz consigo consequências do tipo: elevação da frequência cardíaca quando a pessoa se encontra em repouso, alteração e até perda do condicionamento físico, comprometimento da qualidade do sono, alteração do humor caracterizada sobretudo pelo aumento da intranquilidade e da irritabilidade; tudo isso, além de acarretar dor, cansaço e fadiga em excesso. Esse quadro pode, segundo os especialistas, variar de leve, moderado, a severo, dependendo de cada pessoa e de cada situação em particular, em certos casos exigindo tratamento e acompanhamento especializados. Um notório exemplo, portanto, minha linda, de que nem sempre o estilo ou ideal "fitness" do corpo malhado e "sarado" casa bem com saúde e qualidade de vida.

Perigo número quatro: seleção e ingestão inadequada e desbalanceada de alimentos e nutrientes. O perigo apontado anteriormente falava do "excesso" de exercícios. Uma dieta ou uma alimentação, por sua vez, podem pecar tanto pelo excesso como pela falta; nesse caso, de alimentos e nutrientes  necessários e essenciais à saúde. Aliás é bastante comum que uma coisa puxe a outra: pessoas que acabam exagerando no consumo de determinados alimentos e nutrientes considerados os "mocinhos" da "dieta 'fitness'", simplesmente terminam descartando aqueles que são tidos como os grandes "vilões". Esse erro pode ser crucial tanto para o favorecimento da aquisição de certas doenças como também para a o comprometimento da imunidade do organismo. Afirmar que uma alimentação ou uma dieta precisam ser bem "balanceadas" significa dizer que elas precisam contemplar "todos os ingredientes" necessários para a saúde - vitaminas, proteínas e sais minerais, dentre outros - na "medida certa" e na "quantidade adequada". O consumo excessivo de determinado nutriente "não compensa" - como se imagina ou se pretende - a falta de outros descartados e não ingeridos. Come-se mal não tanto por se comer muito ou se comer pouco - ainda que isso também possa comprometer o equilíbrio ou o balanceamento final - mas sim por se privilegiar o gosto do paladar e/ou satisfazer as exigências do ideal "fitness", em detrimento do que é tido consensualmente como saudável por quem entende do assunto. Disso se conclui que, em se tratando de saúde, o médico, o farmacêutico e o nutricionista  devem preceder o "personal trainer", o esteticista e o dermatologista. Quem quer que podendo ou não economicamente, se decide por inverter essa ordem devida, deve estar preparado para assumir os riscos e arcar com as consequências. Perigo número cinco - e último, em razão do espaço, naturalmente: seguir e "engolir sem digerir" dicas e orientações de  influenciadores digitais que pouco ou nada entendem do assunto. Fenômeno curioso, esse: com a chegada da internet basta alcançar certo número de seguidores para se adquirir fama, notoriedade, e da noite para o dia virar celebridade. Alcançadas a popularidade e a fama, como que por um passe de mágica a pessoa passa a ser considerada "autoridade"; em qualquer tipo de assunto, diga-se de passagem. Como a onda ou movimento "fitness" parece ter chegado para ficar - por quanto tempo só Deus sabe, já que os tempos de hoje são líquidos e incertos demais - raro é o influenciador digital que não tenha suas próprias "dicas e orientações" sobre o assunto para compartilhar com seu "respeitável público!!!" e fiéis seguidores. Os novos tempos sugerem que "nunca tantos, pretenderam saber tanto, mesmo sabendo tão pouco" - parafraseando o grande estadista inglês Winston Churchill. E quando tantos reivindicam saber tanto sobre tudo e qualquer coisa, todo cuidado é pouco. Papagaio também fala e nada sabe. Um bando de maritacas, então, Deus que nos livre! Com saúde, beleza e forma física não se brinca, minha linda. Por isso procure selecionar com critério influenciadores revestidos de "autoridade" e não apenas de popularidade, fama e celebridade, quando buscar algum tipo de ajuda e orientação sobre aquilo que diga respeito ao seu corpo, sua saúde e sua qualidade de vida. Muita gente vem se deixando levar por falsas promessas de clubes e academias "fitness", cirurgias perigosas realizadas por falsos médicos que nunca freqüentaram uma sala de aula, dietas milagrosas que prometem corpos simétricos, elegantes e atraentes, alimentos, remédios e vitaminas de eficácia duvidosa, e por aí seguem os efeitos colaterais nada recomendáveis do "ideal" e da "ideologia 'fitness'". Seja você a primeira a cuidar de si mesma, e sempre procure se certificar com antecedência e segurança sobre tudo que diga respeito ao seu corpo e sua saúde, tanto física quanto mental e emocional. Depois da vida, "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!". Beijos nesse coração de ouro. AMO MUITO VOCÊ, A BIA, O BEN, O FRAN E O ALÊ. Quem ama, cuida, e quem se ama, se cuida ainda mais e melhor.

(*) Texto enviado via whatsapp, de Vitória(ES) pelo meu amigo e irmão Lindolivo Soares Moura.Obrigado!

(**)Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.

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