segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

"VINHO NOVO EM ODRES NOVOS, ANO NOVO, VIDA NOVA! NOVAS CRENÇAS, ATITUDES E DISPOSIÇÕES!"

 

"VINHO NOVO EM ODRES NOVOS, ANO NOVO, VIDA NOVA! NOVAS CRENÇAS,  ATITUDES  E DISPOSIÇÕES!"

Por Lindolivo Soares Moura(*)

Feliz Ano Novo!

lückliches Neues!

Jahr!

Nytar!

Feliz Año Nuevo!

Felicigan Novan!

Jaron!

Heureuse!

Nouvelle Année!

Feeliz Aninovo!

Shaná Tová!

Happy New Year!

Felice Nuovo!

Anno!

Akemashite!

Omedetou!

Gozaimasu!

 

Há datas que são verdadeiros marcos na vida da gente. Quem por exemplo não se sente privilegiado de ter feito parte da virada do milênio? Somente daqui a mil anos, para quem lá estiver, será concedida uma nova chance, uma nova oportunidade. Por outro lado, é certo que os que fomos agraciados com tão grande graça agora, outra igual não nos será concedida! Jamais! Ao menos nessa vida! Assim é  o viver, assim é vida!

A virada de um novo ano é diferente: entramos no novo tempo desejando-nos muito sucesso e muitas realizações mutuamente! Assim como muita paz e muita luz, naturalmente, e com a esperança beirando a certeza de que estaremos presentes e a postos para saudar a chegada do novo ano que baterá à porta 365 à frente. O sentimento mais recorrente que nesses momentos de "virada" nos invade, é quase sempre: "Ano Novo, Vida Nova!". No atual panorama, entretanto, uma  pergunta vem à nossa mente: precedidos por um "ano velho"  de tantas provações, sofrimentos e desafios, haverá  ainda razões suficientes para acreditarmos num Ano Novo portador de vida nova, coisas boas, e novas realizações?

A Psicologia, sobretudo a  chamada "Psicologia da Espiritualidade", trabalha com o princípio de que  "a profecia do acontecimento contribui poderosamente para o acontecimento da profecia". William James, pensador contemporâneo, expressa a mesma convicção apenas com palavras diferentes: "não temas a vida. Acredita que vale a pena vivê-la e tua crença ajudará a criar o fato". Se portanto é certo que a vida e o viver podem e devem ser considerados um dom e uma graça, não é menos verdade que são também projetos e construções a serem erguidos e edificados. Como dom e graça, o projeto é divino, como construção e edificação a tarefa é humana e não pode ser delegada.

Profetas da esperança sempre foram obrigados a conviver lado a lado com profetas do caos e do mau agouro, cujas profecias como um verme a tudo corrói. As Escrituras consideradas sagradas  ensinam que a boa semente, após ser semeada, por um tempo e inevitavelmente precisa conviver, e por vezes sobreviver, com ervas daninhas de toda espécie e com péssimas sementes. E que somente no tempo propício -- kairós -- trigo e joio serão devidamente separados um do outro, vindo a ter cada um o fim que lhes está reservado. Por analogia isso nos leva a concluir que a convivência com profetas do caos e do mau agouro seja algo  inevitável! Ao menos por um tempo, Lamentavelmente.

Um dos grandes poetas e educadores brasileiros, Ariano Suassuna, ensinava que "o otimista é um tolo e o pessimista é um chato, e que o melhor mesmo é ser realista com esperança". Ser realista não parece ser de fato uma má escolha. Afinal, muitas  vezes  somos chamados e como que constrangidos a  retornar ao princípio de realidade, e nos distanciar do excesso de fantasia e de imaginação que povoam nossa mente. Mas o foco das palavras de Suassuna  não parece recair tanto na  necessidade de "sermos realistas", mas sim, e sobretudo, em  sê-lo "com esperança". Se nos deixarmos inspirar pelas palavras de  Carl Simonton, talvez compreendamos melhor as palavras de Suassuna: "na ausência da certeza -- afirma ele - nada há de errado com a esperança".   Como se à esperança coubesse a tarefa de lançar luz e conferir significado à realidade que nos cerca, e para com a qual somos chamados a assumir alegres e esperançosamente. Talvez seja esse de fato seu verdadeiro e principal papel: lançar luz e conferir significado sobre tudo que existe e foi criado!

Quando se tem bons motivos para ser otimista, e em igual proporção para se ser pessimista, uma opção inevitável se impõe: ser ou não ser profeta do bom agouro e mensageiro da esperança? A julgar pelas palavras de Anton Tchékhoy, melhor acreditar e responder que sim. Diz ele: "o homem é o que ele acredita", enquanto Sidharta Gautama Buda, também chamado de "O Iluminado", muitos séculos atrás já ensinava: "somos o que pensamos. Tudo que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos  construímos nosso mundo". O escravo e pós liberto filósofo Epicteto afirmava que não são as coisas, os fatos e as pessoas em si mesmos considerados que nos inspiram alegria ou tristeza, pessimismo ou esperança, mas sim a percepção e o significado que lhes atribuímos com nossa mente. Possivelmente  inspirado em Epicteto, o pensador moderno Marcel Proust nos convida a observar que "a verdadeira descoberta não consiste em contemplar novas paisagens, mas sim em adquirir novos olhos". Inspirado, esse tal de Marcel!

À guisa de conclusão: Lacan, pós-freudiano, deixou dentre seus vários escritos um Seminário cujo título é: "0 poder mágico da palavra". Séculos antes o escritor e historiador Ésquilo observava que "as palavras são um remédio para a alma que sofre". Mais recentemente Ana Ó, a primeira paciente de Freud, definiu a Psicanálise como sendo "a cura pela fala". Se portanto temosr exemplos de sobra para acreditar que a palavra humana tem um poder divino, criativo e curativo, verdadeiramente mágico como afirma Lacan, a paradoxalidade de praticamente tudo que é humano não nos permite esquecer que tal poder pode ser tanto para o bem como para o mal. Lou Marinoff chama a isso de "princípio do duplo poder". Quando portadoras de luz e de esperança as palavras trazem consigo remédio, otimismo e até cura; quando porém portadoras de pessimismo e negativismo, trazem consigo mal-estar, enfermidade, e muitas vezes até morte; se não do corpo, com certeza da alma e do espírito.

Segundo René Pascal, para quem "o coração tem razões que a própria razão desconhece",  "Deus é uma aposta, uma espécie de investimento para com o qual sobram razões para se investir. O mesmo podemos dizer da vida: "apesar da dor, sofrimento e provações que por vezes ela nos impõe, ela é e será sempre um verdadeiro show, um maravilhoso espetáculo", como nos lembra Rubem Alves. Um investimento, sempre é bom lembrar, que para uns pode ser de curto, para outros de médio, e para outros ainda, de longo prazo. Cabe a cada um de nós decidir se vamos - e o "quanto" vamos  investir nesses dois bens, Deus e a vida, acreditando que são investimentos nos quais vale realmente a pena correr os riscos. Sem dúvida cada Novo Ano é um dom e um graça, a todos e a cada um de nós divinamente concedida. Fazer porém com que cada Ano Novo seja realmente "Novo e Renovado", é a tarefa que nos cabe, um autêntico mandato e, por que não, uma verdadeira missão. Isso entretanto só é possível com novas crenças, ressignificacões e  rematrizacões de nossa parte, bem  como com novas posturas e atitudes e disposições. Só assim estaremos respondendo à altura, positiva e afirmativamente, a esse grande desafio: fazer com que "cada Ano Novo" seja de fato portador de uma " VIDA NOVA". Cada novo dia que se renova é a certeza de que estamos sendo mais uma vez confrontados com esse desafio!

                              (L.S.M.)

 

(*) Reflexão enviada pelo whatsapp, de Vitória(ES).

 

 

 

 


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