REFLEXÃO DOMINICAL III
"MERCANTILISMO RELIGIOSO"
Um dia quando líamos esse evangelho em uma reunião de equipe,
levantou-se a Dona Maria, que veio lá do norte, e disse que Jesus a fez
lembrar-se dos fiscais que davam o “rapa” quando ela e o marido tentavam vender
mercadorias em uma rua de São Paulo, “eles chegavam arrebentando tudo, virando
a banca de pernas prá cima e a gente corria, senão o cassetete de borracha
“comia solto”, nunca pensei que Jesus Cristo também perdesse a paciência e
ficasse brabo desse jeito” – finalizou Dona Maria.
Foi quando uma catequista muito jovem, perguntou-nos se Jesus estava realmente
bravo, e com o que, qual a causa da sua indignação?
O grupo ficou dividido, uns acharam que ele já estava cansado de
ver aquela exploração no templo, e que nesse dia, estando com o pavio curto e a
paciência esgotada, não se segurou e “soltou os cachorros” prá cima dos
exploradores gananciosos. Outro grupo achou que na verdade, o evangelista quer
colocar essa briga como o estopim que irá desencadear todo o processo contra
Jesus, já que era a semana da páscoa judaica e os vendedores que foram
expulsos, não iriam deixar barato aquela atitude de Jesus, mesmo porque, eles
vendiam com autorização dos sumo sacerdotes, que tinham interesse nas vendas,
uma vez que em sua maioria eram latifundiários, portanto, “fornecedores”
naturais de animais para serem sacrificados, podendo então concluir que Jesus
havia “cutucado a onça com a vara curta, ou ainda, havia mexido com um
vespeiro”.
Como membro da comunidade e freqüentador do templo, Jesus não
concorda que haja uma segunda intenção naqueles que trocam moedas e vendem
animais para o sacrifício, porque comunidade não é lugar de se fazer barganha,
de se buscar interesses particulares que não sejam os do bem comum, não é lugar
para se fazer negociatas e trocas de favores, e vem daí a indignação de Jesus
para com as lideranças que permitiam a exploração, porque a venda lhes trazia
um lucro bem gordo.
Muitas vezes tranqüilizamos a nossa consciência quando pensamos
que trabalhamos realmente com amor e que nada buscamos para nós, na pastoral ou
movimento onde atuamos, entretanto, sempre há a tentação de ganharmos algo em
troca do nosso trabalho, quem é que não quer ser reconhecido por aquilo que
faz?
Ser sempre ouvido, consultado, ter a opinião mais importante,
ter uma palavra de peso maior, ter poder de influência no conselho e nas demais
equipes, exercer um poder paralelo ao da instituição, medir forças com outra
liderança, com nossos pastores, ministros, cooperadores, ter prioridade em
ocupar salas ou outro espaço qualquer, fazer certas exigências para desempenhar
o trabalho. A grande verdade é que, embora de uma maneira dissimulada, também
temos nossas “barraquinhas” particulares que faz da comunidade uma verdadeira
feira livre, às vezes.
A indignação de Jesus é porque as relações no templo tornaram-se
mercantilizadas, e então o evangelho nos faz um forte apelo chamando-nos a uma
conversão sincera, para que a convivência na comunidade seja sempre marcada
pelo amor gratuito, pela docilidade e flexibilidade, não nos faltando
misericórdia, compreensão e paciência, e que possamos eliminar do nosso meio as
divisões, os ranços e azedumes, que magoa, fere e machuca os irmãos e irmãs.
Que não profanemos o templo sagrado que é a vida dos irmãos, onde o Senhor está
presente, senão, de pouco adiantará respeitarmos o ambiente sagrado da igreja
templo.
No êxodo, Deus caminhava no meio do povo, habitando em tendas,
depois, na monarquia ele foi “enlatado” no templo de Jerusalém, para dar
sustentação ao Rei, seu ungido que reinava em seu nome. Deus estava no templo
para ser adorado, receber as ofertas e sacrifícios, mas agora, ao se colocar
como novo templo, Jesus Cristo está dando um solene basta a antiga religião,
Deus deixará o templo para habitar na “Eclésia”, na assembléia da igreja, no
meio do povo da nova aliança, aberto a todos os homens que quiserem participar
do novo reino. Deus faz morada no mais íntimo do homem dando um novo
significado à vida humana, que entra em comunhão com o Divino, tornando-se
sagrada e indestrutível.
Aos homens que pensaram ter destruído Jesus para sempre na cruz
do calvário, Deus Pai o encheu de glória com a ressurreição, os que hoje pensam
ser capazes de enterrar o cristianismo, ridicularizando os seus ensinamentos
terão uma surpresa no final da história, pois Jesus garante que esse Reino é
eterno e atingirá a sua plenitude, independente da vontade do homem.
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0277.htm#msg02
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