sexta-feira, 1 de novembro de 2024

XIV-QUANDO PARAR PODE SER TÃO IMPORTANTE QUANTO SEGUIR EM FRENTE... Lindolivo Soares Moura(¨*)

 

 

XIV-QUANDO PARAR PODE SER TÃO IMPORTANTE QUANTO SEGUIR EM FRENTE...

Lindolivo Soares Moura(¨*)

Passamos uma vida inteira buscando "o" sentido e "o" significado que sejam capazes de tranquilizar e aquietar de vez o nosso coração. Quanto mais procuramos mais parece que de nós esse sentido e esse significado se distanciam. A procura se intensifica e a ansiedade se multiplica. E assim vamos "consumindo" nossa vida, dia após dia, ano após ano, década após década, literalmente "nos consumindo" junto.

E se a lógica e a razão forem outras? Talvez elas não estejam "fora", nem  nas coisas, nem nos fatos e tampouco nas pessoas. Talvez o sentido e o significado realmente capazes de acalmar nossa mente e aquietar o nosso coração estejam "dentro" de nós, no mais íntimo do nosso próprio íntimo. Talvez esse sentido e esse significado caiba a nós conferi-los, atribuí-los, oferecê-los. Talvez não haja um sentido único e absoluto capaz de acalmar e aquietar a todos, indistintamente e da mesma forma. Talvez cada ser humano precise de um sentido e de um significado únicos, diferentes, só seus, insubstituíveis. O "uno" e o "múltiplo" talvez não sejam assim tão contraditórios como pensamos.

Somos aproximadamente oito bilhões de seres humanos diferentes, e ao mesmo tempo somos únicos e insubstituíveis. Talvez nossa longa procura, que nos tem trazido tanta ansiedade, requeira na verdade que paremos, diminuamos a marcha, contemplemos e cuidemos mais e melhor do mundo que está dentro, e não fora de nós. Filósofos e sociólogos somos teimosos em achar que o mundo exterior não se conserta e menos ainda "se salva" sem nós. Enquanto isso vivemos literalmente vagando "desconcertados" mundo afora; e isso por anos, décadas, por vezes durante uma vida inteira. Talvez esteja na hora de abandonar humildemente a pretensão de querer redimir o mundo e começar a cuidar melhor do nosso próprio jardim, da nossa própria vida. Talvez esteja na hora de começar a cavar, revolver a terra com cuidado, colocar adubo, fazer as podas necessárias, lançar ao fogo o que já está seco e não brota mais, plantar novas mudas e novas sementes a fim de que esse jardim volte a florir, perfumar e atrair as pessoas novamente.

Precisamos redescobrir o prazer e a alegria de voltar a cuidar desse jardim próprio, pelos anos que nos restam. Estamos tão preocupados com os jardins dos outros, a vida dos outros, de tantos outros, que acabamos nos esquecendo de cuidar do nosso jardim, da nossa própria vida. Pensar demais, explicar demais, querer encontrar a razão e o porquê de tudo, pode estar literalmente nos impedindo - e não apenas dificultando - de voltar a cuidar, contemplar e nos extasiar com nossa própria vida. Somente depois de tudo criar o Criador de tudo pôde baixar as mãos, reter as palavras, silenciar;  e aí sim, a tudo contemplar e com tudo se extasiar. O "logos", a palavra, a fala -  assim como o sentido, a razão e o porquê -  requerem seu contraponto: ele está no silêncio, na contemplação, no deslumbramento e no êxtase. Só assim é possível que a SÍNTESE seja feita. E a síntese é a paz que a alma tanto procura!

Filósofos, Sociólogos e tantos outros "messias" libertadores parecem não fazer SÍNTESE nunca; estão sempre procurando e tentando ENTENDER, EXPLICAR E RESOLVER TUDO. Entretêm-se tanto na vida dos outros que acabam se esquecendo e se descuidando da vida própria. Sem "paradas" é impossível encontrar e experimentar paz, porque se torna literalmente impossível conter e controlar a ansiedade. A calma e a serenidade do coração requerem paradas estratégicas para o êxtase, o silêncio e a contemplação. Primeiro, e antes de tudo, da beleza dos cheiros e dos sabores DO NOSSO PRÓPRIO JARDIM. E só então do jardim de cada um daqueles que nós amamos...

A paz e alegria só retornarão quando conseguirmos "re-descobrir" que tudo que criamos e plantamos em nosso jardim. É BOM, É BELO, E DIGNO DE SER ADMIRADO, "CURTIDO" E CONTEMPLADO. Pois não foi isso o que ocorreu com o próprio Criador de tudo? "No sétimo dia Deus descansou de toda a sua obra. Contemplou-a calmamente, longamente, e viu que tudo, tudo tudo, era muito bom!". A vida não é viagem o tempo todo! Precisamos de metade dela, no mínimo, para admirar, contemplar, "curtir" e cuidar da obra e do jardim que criamos! Ou fazemos paradas estratégicas ou faremos parada cardíaca. Viajar o tempo todo é loucura!

(*)Lindolivo Soares Moura é Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil

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