XV-SANTO AGOSTINHO E A LUTA PELA CASTIDADE
Que Santo Agostinho enfrentava
problemas para viver a castidade não é novidade para quase ninguém. Entretanto,
nós somos católicos e não nos prendemos nas dificuldades, acreditamos no Deus
do impossível! Acreditamos na santidade! Por isso nesse artigo meditaremos sobre
o processo de Santo Agostinho na conquista da continência.
Santo Agostinho viveu um processo
de conversão dessemelhante ao que estamos acostumados. Esse processo iniciou-se
por uma inquietação, uma busca, a busca pela verdade.
Desde seus 19 anos, ao ler o
livro Hortensius, de Cícero (obra da qual não se tem mais notícia),
inquieto pelo o que escrevera o autor, Agostinho foi interiormente impelido a
buscar a verdade. A verdade, por ela faria sentido viver, não por mais nenhuma
coisa efêmera desse mundo.
Assim, Santo Agostinho passou a
estudar filosofia. Juntou-se aos maniqueus, seita que adaptara Deus a sua
crença dualista e materialista, mas desiludira-se com o bispo maniqueu Fausto,
afundou-se então no ceticismo (que afirma ser preciso duvidar de tudo e que o
homem nada pode compreender da verdade) com os acadêmicos, depois encontrou a
filosofia dos neoplatônicos, nisso percebeu que existe sim uma verdade que pode
ser contemplada através da luz natural da razão que consequentemente leva o
homem a relacionar-se com Deus, que é a verdade. Até em fim, decorridos 14 anos
Agostinho é tocado ao ouvir as pregações de Santo Ambrósio e começa a mergulhar
na verdade que nos é revelada pela Santa Madre Igreja.
Em fim
Agostinho tinha encontrado aquilo que ele tanto procurava, finalmente ele havia
se encontrado com a verdade! Entretanto, isso não foi inicialmente suficiente
para o fazer mudar de vida.
Você pode se perguntar: “Mas como
assim? Ele ficou 14 anos nessa busca incessante e em fim encontrou o que
procurava! Por que ele não deixou todas as suas mentiras para se conformar logo
de uma vez com a verdade? ”
Sobre isso Santo Agostinho relata
em suas confissões que ele era “dilacerado” por duas
vontades contrastantes. Ele ouvia falar e via pessoas que se converteram e
mudaram de vida, ele tinha o desejo de mudar, mas como ele mesmo relata:
“Também eu queria fazer o mesmo,
porém era impedido, não por grilhões alheios, mas por minha própria vontade
férrea. O inimigo dominava-me o querer e forjava uma cadeia que me mantinha
preso. Da vontade pervertida nasce a paixão; servindo-se à paixão,
adquire-se o hábito, e, não resistindo ao hábito, cria-se a necessidade. Com
essa espécie de anéis entrelaçados, mantinha-me ligado à dura escravidão. A
nova vontade apenas despontava; a vontade de servir-te e de gozar-te, ó meu
Deus, única felicidade segura, ainda não era capaz de vencer a vontade
anterior, fortalecida pelo tempo”. (Confissões VIII,5)
Agostinho era escravo de uma
antiga vontade pervertida pelo mal. Agora, por conhecer a verdade, ele também
desejava mudar de vida. Mas, foram tantas as vezes que Agostinho já
havia cedido à sua vontade pervertida, ou seja, ao pecado, que isso se tornou
um hábito, um vício. E mais do que um vício, uma necessidade que o mantinha
prisioneiro do demônio.
“Assim também, quando a
eternidade nos atrai para o alto, e o prazer temporal nos retém embaixo, é a
mesma alma que quer este ou aquele objeto, porém sem vontade plena. Daí as
angustiosas perplexidades que a dilaceram, pois preferiria a eternidade por sua
verdade, mas o hábito não lhe permite deixar o prazer temporal”.
(Confissões VIII, 10)
Aí está a importância de não
ceder nenhuma vez ao pecado! Nesse artigo estamos expondo a realidade que Santo
Agostinho enfrentou, onde uma de suas maiores lutas foi pela castidade, mas
isso vale para qualquer tipo de pecado.
Não adianta falar, “vai ser só
uma vezinha só”, “só vou ver um vídeozinho e só”, “só vou encontrar fulano ou
fulana mais uma vez e coloco um fim nisso”. Será que vale a pena
colocar o nosso Tudo em jogo por momentos de prazer momentâneo que tem raízes
infernais?
Nas confissões de Santo Agostinho
podemos ler as suas experiências, a dor que ele sentira ao se ver acorrentado
aos seus vícios. Tomemos isso como um santo alerta! Não vamos dar brechas para
nos acorrentarmos ao pecado pois, uma vez que isso acontece torna-se ainda mais
difícil tornar-se livre novamente.
Assim como Santo Agostinho foi,
nós também somos esse campo de batalha entre essas duas vontades que lutam, as
da carne e as do espírito.
“Realizava-se essa disputa no
íntimo do meu espírito; tratava-se de mim contra mim mesmo”
(Confissões VIII,11)
E quando
pecamos revelamos o quanto a nossa vontade de amar é fraca (apesar de já termos
conhecido o Deus que se entregou por nós). Ainda mais se pecamos contra a
castidade que é uma verdadeira guardiã do amor verdadeiro.
Nós sabemos que a luta pela
virtude da castidade não é fácil, ainda mais no mundo obsceno e impuro de hoje,
como dizia Santo Agostinho:
“O combate pela castidade é
o mais renhido de todos: ele repete-se cotidianamente, e a vitória é rara”.
(Serm. 293)
Mas, não podemos esquecer que
Deus nos quer santos!
“Esta é a
vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3a)
Santidade é amar a Deus de todo o
coração! A santidade é uma transformação no coração de uma pessoa, operada
pela graça Divina que faz com que aquela pessoa ame a Deus com todo o coração,
com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a perfeição.
Deus não
quer que sejamos santos por conta própria, isso é impossível! Ele quer que sejamos santo através dEle, é a graça
que tudo opera!
Santo
Agostinho não conquistou a castidade com as próprias forças. Sua luta foi árdua, ele sentia como se os vícios
o desafiassem e escarnecessem dele:
“Ficava preso às mais insignificantes
bagatelas, às vaidades das vaidades, minhas velhas amigas que me solicitavam a
natureza carnal, murmurando: ‘Tu nos vais abandonar’? E também: ‘De agora em
diante, nunca mais estaremos contigo’. E ainda: ‘De agora em diante não poderás
mais fazer isso e aquilo’! E que pensamentos me sugeriam, meu Deus, ao dizerem:
‘Isto ou aquilo’” (Confissões VIII, 11)
Mas também percebia que a
continência o exortava. Com relação aos santos exemplos das pessoas que levavam
vida casta era como se ela dissesse:
“Foi por ventura pela própria
força que o fizeram ou pela virtude de seu Deus e Senhor? Foi o Senhor Deus que
me entregou a eles. Por que queres apoiar-te em ti mesmo, ficando sem
apoio? Lança-te nele e não temas. Ele não fugirá de ti, e não cairás.
Atira-te sem reservas, e ele te receberá e te curará” (Confissões VIII,11)
Era isso
a única coisa necessária a se fazer: Lançar-se a Deus.
“Tu me
ordenas a continência: concede-me o que me ordenas, e ordenas o que quiseres”
(Confissões X,29)
No caso de Santo Agostinho, a
graça e a aceitação da graça foi tanta que ele surpreendeu a todos. Até mesmo a
própria mãe, Santa Mônica, mulher santa e de oração que conhecia os prodígios
de Deus. Santo Agostinho além de ser purificado de suas impurezas se decidiu
por viver o celibato. Ele consagrou-se a vida sacerdotal, tornou-se bispo,
santo e doutor da Igreja! Se Santo Agostinho, após uma vida de imundícies,
conseguiu ser fiel, por que você não conseguiria?
Que possamos nos lançar em Deus a
fim de que não sejamos nunca mais escravos de nenhum pecado! Tomemos a decisão
de viver a vontade de Deus, de lutar contra as nossas vontades contrastantes,
na certeza de que o Senhor nos dá a graça de realizar tudo o que Ele nos
ordena, e de que a vontade Divina é sempre: a melhor!
Santo Agostinho, rogai por nós!
https://jovensdacruz.com.br/santo-agostinho-e-a-luta-pela-castidade/
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