sábado, 11 de maio de 2024

VAMOS CONHECER UM POUCO A CACHOEIRENSE E MISSIONÁRIA AGOSTINIANA RECOLETA, MÁRTIR DA JUSTIÇA E DA PAZ, CLEUSA CAROLINA RODY COELHO

 

VAMOS CONHECER UM POUCO A CACHOEIRENSE E MISSIONÁRIA AGOSTINIANA RECOLETA, MÁRTIR DA JUSTIÇA E DA PAZ, CLEUSA CAROLINA RODY COELHO

(*) Sérgio Bonadiman

I-             A IRMÃ CLEUSA CAROLINA RODY COELHO PODE SE TORNAR A PRIMEIRA SANTA CAPIXABA, DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

 

Já se passaram 39 anos do assassinato desta freira Missionária Agostiniana Recoleta, cujo processo de beatificação está em andamento. Portanto, uma capixaba de Cachoeiro de Itapemirim (ES) pode se tornar a primeira santa.

É difícil fazer um resumo da vida dela, visto que as fontes coincidem muito. Por isso, corro o risco de repetir narrativas sobre a vida de Irmã Cleusa. Vou tentar apresentar a ordem que está abaixo.

 

1.1-        Nascimento

 

Irmã Cleusa (nome completo: Cleusa Carolina Rody Coelho), mártir da justiça e da paz, missionária agostiniana recoleta, é lembrada nos 39 anos de ser martírio.

No dia 28 de abril a Igreja Católica no Brasil, mais especialmente, a Igreja presente na Prelazia de Lábrea–Amazonas e da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim recordaram  os 39 anos do martírio de Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho, pertencente à Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas (MAR).

Uma visão geral sobre a vida da Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho

1-    Cleusa Carolina Rody Coelho, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, aos 12 de novembro de 1933, filha de Jair Moreira Coelho e Francisca Rody Coelho. Foi batizada aos 07 de julho de 1935, em Barra do Itapemirim, na Paróquia Nossa Senhora do Amparo.

2-    Ainda na época de preparação para participar da Eucaristia, iniciou seus contados com os Frades Agostinianos Recoletos que trabalhavam na Paróquia de São Pedro, em Cachoeiro de Itapemirim.

3-    Estudou no Colégio João Bley, no Município de Itapemirim, onde realizou o curso primário e depois estudou no Colégio Estadual Muniz Freire – Liceu, em Cachoeiro de Itapemirim, local que recebeu a medalha de ouro por ser a melhor aluna, por dois anos seguidos.

Por ter sido considerada a melhor aluna de toda escola no curso de Magistério, recebeu do Governo do Estado, como prêmio, o direito de exercer o trabalho de Professora na escola que escolhesse, sem necessitar entrar em concurso de ingresso e remoção. Cleusa, nesse exato momento, escolheu deixar tudo e ingressar na vida religiosa

4-    Cleusa para ingressar na congregação deveria ser crismada, fato ocorrido aos 25 de agosto de 1951, em Cachoeiro de Itapemirim, por D. Frei José Alvarez Mácua, oar, primeiro Bispo Prelado de Lábrea, que estava na cidade em visita aos irmãos religiosos da Ordem Agostiniano-Recoleta.

5-    Ao concluir o Curso de Magistério, foi condecorada com a medalha de melhor aluna do colégio e recebeu do Governo do Estado, o prêmio de poder trabalhar como professora sem fazer a prova de concurso.

6-    É precisamente neste momento que a jovem Cleusa faz a opção de deixar tudo e ingressar na Vida Religiosa.(cf. abaixo o específico da Vida Consagrada dela). Conversa com os padres Agostinianos de sua cidade e depois de receber o Sacramento da Confirmação, ingressa na Congregaçao das Missionárias Agostinianas Recoletas(MAR).

7-     Com apenas 20 anos de idade, emite os votos religiosos e, cinco meses depois – em março de 1954 – é enviada à Missão de Lábrea, no interior do Amazonas. Ali, juntamente com três outras religiosas, trabalha na Educação, na Catequese, no atendimento ao povo em suas inúmeras necessidades... Experimenta as dificuldades do clima, do isolamento, das distâncias, da falta do necessário... Frente a estes e tantos outros desafios, Cleusa sempre tem um sorriso e uma palavra de confiança em Deus de que a missão daria certo.

8-     Depois de alguns anos na missão é enviada à cidade de Colatina, Espírito Santo, onde emite os votos perpétuos e posteriormente à Vitória, capital, para trabalhar no Colégio Agostiniano que está iniciando. Nesta época faz o Curso de Letras Anglo-Germânicas na Universidade Federal do Espírito Santo; participa da coordenação da JUC (Juventude Universitária Católica) e novamente é homenageada como a melhor aluna. Daí em diante, Vitória, Manaus e Lábrea são os lugares onde Irmã Cleusa vive sua doação a serviço do Reino. Fiel aos seus compromissos, tanto de professora, diretora do Agostiniano (Vitória) e do Educandário “Santa Rita” (Lábrea) como nos serviço as paróquias e CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil) Irmã Cleusa concilia o tempo para marcar presença entre os mais necessitados.

9-    Em Vitória visita com muita freqüência o Hospital com a finalidade de descobrir enfermos estrangeiros, para ver se precisam de algo, ou simplesmente para conversar, a fim de que não se sentissem sós. Falava o Inglês, francês, italiano, espanhol e um pouco de alemão oque lhe permitia confortar os doentes de outros países.

10- Em Manaus dá atenção aos menores de rua, drogados, presos... Numa de suas cartas diz: “Dia de Natal e de Ano Novo tive a companhia de alguns garotos, liberados da Delegacia de Menores. Até ajudaram a limpar a Igreja; fizemos festa juntos à noite. Uma experiência interessante: partilhar com os pequenos marginais, sentir-se irmã realmente deles, ouvi-los, compreendê-los. Depois disto voltaram à prisão várias vezes, mas sabem que contam com a gente...”

11- Em outra ocasião fala: Cristo é o ofendido, o marginalizado, perseguido na pessoa do MENOR novamente exposto à fome e outros danos piores...” Em 1979 retorna à Lábrea pela terceira vez, onde seria martirizada. Assume a direção do Educandário “Santa Rita” e reassume os trabalhos junto aos seus preferidos, os empobrecidos. Logo ao chegar escreve: “Enquanto aguardamos a vinda de outras irmãs, vamos entrando em contato com a nova realidade de vida e ação. Estivemos visitando os poucos índios que ainda restam do grupo próximo, de Apuriná: de novembro para cá morreram sete. Resta só seis. Alguns ainda adoentados... estive na delegacia com os presos e fomos, mais tarde, ver os leprosos e assistir a reunião da Comunidade da Praia de Lábrea”.

12-  Irmã Cleusa tinha especial predileção pelos índios. Sempre quis dedicar-se a eles mais de perto, por considerá-los os mais esquecidos, abandonados e explorados, e, portanto os mais pobres entre os pobres. Ela mesma, dias antes de ser assassinada, encerra um relatório para o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) com as seguintes palavras: “COMPROMETER-SE COM O ÍNDIO, O MAIS POBRE DESPREZADO E EXPLORADO É ASSUMIR FIRME A CAMINHADA, CONFIANTE NUM FUTURO CERTO E QUE JÁ VAI SE TORNANDO PRESENTE NAS PEQUENAS LUTAS E VITÓRIAS, RECONHECIMENTO DOS PRÓPRIOS VALORES E DIREITOS, BUSCA DE UNIÁO E AUTODETERMINAÇAO. VALE ARRISCAR-SE!”. (Abril de 1985)

13- O COMPROMISSO RADICAL A questão indígena acompanha as reflexões da Igreja de Lábrea em suas sucessivas Assembléias de Pastoral. Em 1982 a Pastoral Indigenista é assumida como uma das prioridades da Prelazia. Cleusa se oferece para atuar aí, e no ano seguinte fica liberada para o trabalho com os índios, exercendo também a função de Coordenadora do Subregional Purus, do CIMI Norte I. Desde que retornara à Lábrea em 1979, a presença de Cleusa entre os indígenas é muito marcante. Percebe toda a injustiça contra estes povos e cada vez mais é consciente de que o Senhor queria que estivesse junto a eles. Suas cartas o revelam: “Pensem em nossos irmãos Apuriná cujas terras foram invadidas e retalhadas pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)...

14-  É tempo de fazer força junto à FUNAI e em Brasília para que a terra deles seja demarcada...” "Em nossa Prelazia nenhum grupo indígena teve sua área demarcada, apesar da lei 6001...” “Nossos irmãos Apuriná estão agitados, mas ainda não violentos”... “Hoje foram ao INCRA, mas não os deixaram entrar...” E em outra carta da época diz: “...aqui já estava preparado o “rebu”, por causa da castanha, com polícia vigiando nossa chegada... também fui chamada à Delegacia e o delegado ficou “bala” comigo... fui chamada ao INCRA (por atiçar os índios). Tudo certo e ouviram o que achei conveniente...” Cleusa vivia esta tensão sem ter a quem apelar... Ao narrar atitudes do juiz, do delegado de polícia diz: “... a injustiça anda solta por aqui...” “Férias agitadas e sofridas com a morte do filho do tuxaua Agostinho (Apuriná). A gente está aqui ao lado dos irmãos ÍNDIOS, despojados e desprezados... você também é chamado a apoiá-los...” A velha tática na região, de atiçar índio contra índio, facilitava o trabalho em ambição dos brancos.

15- Também se ouvia dizer que autoridades, fazendeiros, comerciantes e donos de seringais rejeitavam a Irmã Cleusa. “Aqui se vivia tudo em paz... com a chegada da Irmã virou essa confusão”, relata um comerciante. Mais tarde a índia Cecília Apuriná desabafa: “Os polícias tinham raiva da Irmã porque ela defendia os caboclos (índios)... ele dizia que um dia iam metê bala nela...”. Para evitar maiores conflitos entre índios atiçados por brancos, com orientações da Irmã Cleusa e de acordo com a FUNAI, o Tuxaua Agostinho decide mudar, com sua família, para uma área distante da cidade e ali reconstruir sua aldeia, seu povo, sem a exploração dos brancos. Ao recomeçar sua vida com os poucos parentes, numa atitude de provocação e afronta, desobedecendo às ordens do FUNAI, alguns comerciantes entram na área de Agostinho, acompanhados de índios de outro grupo. Um mês depois contratam um índio para ir à aldeia e matar Agostinho e sua família. Não o encontrando em casa, matam a mulher e um  dos filhos... A notícia corre na cidade... Cleusa que se preparava para passar uns dias na aldeia, apressa a viagem... “

16- Parece que houve mortes na aldeia” dizia, “eles estão precisando; eu tenho que ir lá...” e decididamente vai. Chega à aldeia ao entardecer do dia 27 de abril de 1985... Ninguém por ali... tudo deserto! Embaixo da casa duas sepulturas novas... Ela segue viagem rio acima e pernoita numa outra família onde fica sabendo dos fatos com mais detalhes.

17- Na manhã seguinte toma a direção a Lábrea, parando em casa de Agostinho que permanece deserta. Irmã Cleusa faz um bilhete e deixa pendurado na casa. Agostinho que estava escondido na mata por medo de novos ataques identifica a presença da irmã pelo barulho do motor. Apresenta-se a ela, ouve suas recomendações e concorda em aguardar o retorno da Irmã que vai a Lábrea tomar as providências.

18- Irmã Cleusa inicia a viagem rio abaixo em direção a Lábrea. Em um determinado ponto encontra com o autor dos crimes anteriores que ia subindo o rio... Ela faz um sinal como quem desejasse conversar, mas ele puxa uma arma e aponta em direção à canoa da Irmã Cleusa, que diz para o seu canoeiro: “Caia n·água meu filho, que você tem filhos para criar”... Ele o fez e de longe ouve, sem entender, conversa de Irmã Cleusa com o índio.

19- Pouco depois escuta um tiro e o barulho do motor subindo o rio... Enquanto isso na tarde desse dia 28 e na manhã seguinte, na cidade corria a notícia: “Mataram a Irmã Cleusa...” O canoeiro de Cleusa só conseguiu chegar à cidade na tarde do dia 29 e relata os fatos a Frei Jesus Morada e a Irmã Josefina Casagrande.

20-  Iniciam-se as buscas, na esperança de encontrá-la com vida!...Somente no dia 03 de maio é que Frei Jesus Moraza – hoje bispo de Lábrea - localiza seu corpo – sem vida – acima do lugar onde houve a tentativa de diálogo. “Estava na mata, a uns 50 metros da beira do rio, de bruços, totalmente despida...” relata o frei. Circunstâncias várias impediram o recolhimento do corpo naquela tarde... No dia seguinte, depois de muitos atropelos, pelas onze horas Fr. Jesus consegue, com uma comitiva, deslocar-se para o local... recolhe o corpo e já de noite, chega à Lábrea; deixam-no no hospital para exames e depois é conduzido à Catedral e dali ao cemitério.

21- O povo acompanha com faixas de protesto contra a FUNAI, contra os mandantes do crime, e, reconhecendo a luta de Irmã Cleusa, pergunta: “Até quando?”. Os índios que ali se encontram, acompanhando a celebração, se lamentam: “Ela era a nossa mãe... Agora quem vai cuidar de nós?...”

22- Ao mesmo tempo em algum barzinho da cidade, alguém comemora o fato com cerveja. Os exames do cadáver revelam a brutalidade com que fora assassinada: “muitas costelas quebradas, o crânio fraturado, fraturas múltiplas na coluna vertebral, traumatismo craniano, amputação do braço direito com objeto cortante y diversas partículas de chumbo no tórax e região lombar”.

23- No dia 05 de maio já era o sétimo dia do assassinato... A catedral amanhece ornada com a frase: “IRMÁ CLEUSA MÁE DOS POBRES E OPRIMIDOS”, confeccionada em mutirão pelos pobres de Lábrea.

24- O processo se instruiu em Vitória, Espírito Santo, Brasil nos anos de 1991-1993. Preparou-se a Positio para o mês de novembro de 1995 que se enviou a Comissão teológica do Brasil para que desse seu parecer.

1.2-        Vida Religiosa: Entrega e  doação em todos os trabalhos ao serviço do Reino de Deus, Educadora e Defensorano trabalho em defesa dos Índios, os pequeninos do Reino...

 

a)    No dia 04 de fevereiro de 1952 ingressou na Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas, na primeira casa da congregação localizada na Ilha das Flores, no Estado Rio de Janeiro.

b)    Recebeu o hábito religioso no dia 02 de outubro de 1952 e adotou o nome religioso de Sor Maria Ângelis Coelho de São José. Emitiu seus primeiros votos religiosos em 03 de outubro de 1953.

c)    Depois de alguns anos na missão é enviada a cidade de Colatina, Espírito Santo, onde emite os votos perpétuos e posteriormente à Vitória, capital, para trabalhar no Colégio Agostiniano que está iniciando. Nesta época faz o Curso de Letras Anglo-Germânicas na Universidade Federal do Espírito Santo; participa da coordenação da JUC (Juventude Universitária Católica) e novamente é homenageada como a melhor aluna. Daí em diante, Vitória,

d)    Manaus e Lábrea são os lugares onde Irmã Cleusa vive sua doação a serviço do Reino. Fiel aos seus compromissos, tanto de professora, diretora do Agostiniano (Vitória) e do Educandário “Santa Rita” (Lábrea) como nos serviço as paróquias e CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil) Irmã Cleusa concilia o tempo para marcar presença entre os mais necessitados.

e)    Em Vitória visita com muita freqüência o Hospital com a finalidade de descobrir enfermos estrangeiros, para ver se precisam de algo, ou simplesmente para conversar, a fim de que não se sentissem sós. Falava o Inglês, francês, italiano, espanhol e um pouco de alemão o que lhe permitia confortar os doentes de outros países.

f)     Missão em Lábrea(AM), Manaus(AM, Colatina(ES) e Vitória(ES)

Em março de 1954 – é enviada à Missão de Lábrea, no interior do Amazonas. Ali, juntamente com três outras religiosas, trabalha na Educação, na Catequese, no atendimento ao povo em suas inúmeras necessidades... Experimenta as dificuldades do clima, do isolamento, das distâncias, da falta do necessário... Frente a estes e tantos outros desafios, Irmã Cleusa sempre tem um sorriso e uma palavra de confiança em Deus de que a missão daria certo. Depois de alguns anos na missão é enviada a cidade de Colatina, Espírito Santo, onde emite os votos perpétuos e posteriormente à Vitória, capital, para trabalhar no Colégio Agostiniano que está iniciando. Nesta época faz o Curso de Letras Anglo-Germânicas na Universidade Federal do Espírito Santo; participa da coordenação da JUC (Juventude Universitária Católica) e novamente é homenageada como a melhor aluna. Daí em diante,

g)     Em Manaus dá atenção aos menores de rua, drogados, presos. Em 1979 retorna à Lábrea pela terceira vez, onde seria martirizada. Assume a direção do Educandário “Santa Rita” e reassume os trabalhos junto aos seus preferidos, os empobrecidos.

REGIÃO DE CONFLITO E MORTE BRUTAL NO ASSASSINATO DA IRMÃ CLEUSA

h)    Irmã Cleusa tinha especial predileção pelos índios. Sempre quis dedicar-se a eles mais de perto, por considerá-los os mais esquecidos, abandonados e explorados, e, portanto os mais pobres entre os pobres. Ela mesma, dias antes de ser assassinada, encerra um relatório para o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) com as seguintes palavras: “COMPROMETER-SE COM O ÍNDIO, O MAIS POBRE DESPREZADO E EXPLORADO É ASSUMIR FIRME A CAMINHADA, CONFIANTE NUM FUTURO CERTO E QUE JÁ VAI SE TORNANDO PRESENTE NAS PEQUENAS LUTAS E VITÓRIAS, RECONHECIMENTO DOS PRÓPRIOS VALORES E DIREITOS, BUSCA DE UNIÁO E AUTODETERMINAÇAO. VALE ARRISCAR-SE!”. (Abril de 1985) O COMPROMISSO RADICAL

i)     No dia 28 de abril de 1985, em defesa da terra e da paz indígena, Irmã Cleusa, foi assassinada, às margens do Rio Paciá, na Prelazia de Lábrea – Amazonas

 

j)      Em 1982, foi autorizada pela sua Congregação a assumir a Pastoral Indígena da Prelazia. Mais tarde, foi nomeada coordenadora da Sub-Regional Norte 1 do Conselho Indigenista Missionário (CIME), que abrangia as Prelazias de Lábrea e Coari. Em defesa da terra e da paz indígena, justamente no exercício de seu trabalho missionário, Irmã Cleusa, foi cruelmente assassinada, às margens do rio Paciá. O corpo da Irmã Cleusa foi achado nu e escalpelado. O braço direito tinha sido decepado, a mão direita jamais foi achada; a cabeça e o tórax estavam crivados por mais de cinquenta chumbos de espingarda de caça, além de apresentar costelas quebradas, crânio e coluna vertebral fraturados.

k)    É tempo de fazer força junto à FUNAI e em Brasília para que a terra deles seja demarcada...” "Em nossa Prelazia nenhum grupo indígena teve sua área demarcada, apesar da lei 6001...” “Nossos irmãos Apuriná estão agitados, mas ainda não  são violentos”...

l)      Para evitar maiores conflitos entre índios atiçados por brancos, com orientações da Irmã Cleusa e de acordo com a FUNAI, o Tuxaua Agostinho decide mudar, com sua família, para uma área distante da cidade e ali reconstruir sua aldeia, seu povo, sem a exploração dos brancos. Ao recomeçar sua vida com os poucos parentes, numa atitude de provocação e afronta, desobedecendo às ordens do FUNAI, alguns comerciantes entram na área de Agostinho, acompanhados de índios de outro grupo. Um mês depois contratam um índio para ir à aldeia e matar Agostinho e sua família. Não o encontrando em casa, matam a mulher e um  de 3 dos filhos... A notícia corre na cidade... A Irmã Cleusa que se preparava para passar uns dias na aldeia, apressa a viagem... “Parece que houve mortes na aldeia” dizia, “eles estão precisando; eu tenho que ir lá...” e decididamente vai. Chega à aldeia ao entardecer do dia 27 de abril de 1985... Ninguém por ali... tudo deserto!

m)  Embaixo da casa duas sepulturas novas... Ela segue viagem rio acima e pernoita numa outra família onde fica sabendo dos fatos com mais detalhes. Na manhã seguinte toma a direção a Lábrea, parando em casa de Agostinho que permaneces deserta.Irmã Cleusa faz um bilhete e deixa pendurado na casa. Agostinho que estava escondido na mata por medo de novos ataques identifica a presença da irmã pelo barulho do motor. Apresenta-se a ela, ouve suas recomendações e concorda em aguardar o retorno da Irmã que vai a Lábrea tomar as providências

n)    Irmã Cleusa inicia a viagem rio abaixo em direção a Lábrea. Em um determinado ponto encontra com o autor dos crimes anteriores que ia subindo o rio... Ela faz um sinal como quem desejasse conversar, mas ele puxa uma arma e aponta em direção a canoa da Irmã Cleusa, que diz para o seu canoeiro: “Caia n·água meu filho, que você tem filhos para criar”... Ele o fez e de longe ouve, sem entender, conversa de Irmã Cleusa com o índio. Pouco depois escuta um tiro e o barulho do motor subindo o rio... Enquanto isso na tarde desse dia 28 e na manhã seguinte, na cidade corria a notícia: “Mataram a Irmã Cleusa...”

o)     O canoeiro de Cleusa só conseguiu chegar à cidade na tarde do dia 29 e relata os fatos a Frei Jesus Morada e a Irmã Josefina Casagrande. Iniciam-se as buscas, na esperança de encontrá-la com vida!...Somente no dia 03 de maio é que Frei Jesus Moraza – hoje bispo de Lábrea - localiza seu corpo – sem vida – acima do lugar onde houve a tentativa de diálogo. “Estava na mata, a uns 50 metros da beira do rio, de bruços, totalmente despida...” relata o frei. Circunstâncias várias impediram o recolhimento do corpo naquela tarde...

p)    No dia seguinte, depois de muitos atropelos, pelas onze horas Fr. Jesus consegue, com uma comitiva, deslocar-se para o local... recolhe o corpo e já de noite, chega à Lábrea; deixam-no no hospital para exames e depois é conduzido à Catedral e dali ao cemitério. O povo acompanha com faixas de protesto contra a FUNAI, contra os mandantes do crime, e, reconhecendo a luta de Irmã Cleusa, pergunta: “Até quando?”. Os índios que ali se encontram, acompanhando a celebração, se lamentam: “Ela era a nossa mãe... Agora quem vai cuidar de nós?...”

q)     Ao mesmo tempo em algum barzinho da cidade, alguém comemora o fato com cerveja. Os exames do cadáver revelam a brutalidade com que fora assassinada: “muitas costelas quebradas, o crânio fraturado, fraturas múltiplas na coluna vertebral, traumatismo craniano, amputação do braço direito com objeto cortante y diversas partículas de chumbo no tórax e região lombar”.

r)     No dia 05 de maio já era o sétimo dia do assassinato... A catedral amanhece ornada com a frase: “IRMÁ CLEUSA MÁE DOS POBRES E OPRIMIDOS”, confeccionada em mutirão pelos pobres de Lábrea. O processo se instruiu em Vitória, Espírito Santo, Brasil nos anos de 1991-1993. Preparou~se a Positio para o mês de novembro de 1995 que se enviou a Comissão teológica do Brasil para que desse seu parecer.

Irmã Cleusa dedicou 32 anos de sua vida missionária ao serviço dos mais empobrecidos: os hansenianos, os presidiários, os cegos, os menores de rua, os índios, etc.

II-            PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO

 

O processo, atualmente, encontra-se na Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano.

 

III-           CONCLUSÃO

 

A memória desta mártir não nos pode deixar em paz. Entender essa doação e imitá-la e nossa meta. A doação de Irmã Cleusa, antes de fanatismo ou partidarismo, é conseqüência da opção por Jesus. Optar pelo Senhor é fazer as mesmas opções que Ele. “O mártir é a testemunha mais genuína da verdade da existência. Ele sabe que, no seu encontro com Jesus Cristo, alcançou a verdade a respeito da sua vida, e nada nem ninguém poderá jamais arrancar-lhe esta certeza. Nem o sofrimento, nem a morte violenta poderão fazê-lo retroceder da adesão à verdade que descobriu no encontro com Cristo. Por isso mesmo é que, até agora, o testemunho dos mártires atrai, gera consenso, é escutado e seguido. Esta é a razão pela qual se tem confiança na sua palavra: descobre-se neles a evidência dum amor que não precisa de longas demonstrações para ser convincente, porque fala daquilo que cada um, no mais fundo de si mesmo, já sente como verdadeiro e que há tanto tempo procurava. Em resumo, o mártir provoca em nós uma profunda confiança, porque diz aquilo que já sentimos e torna evidente aquilo que nós mesmos queríamos ter a força de dizer” (cf. Fides et Ratio). Gastar a vida pelos outros é a essência do seguimento de Jesus. Que a lembrança nos mártires não nos deixe dormir em paz.

Brutalmente assassinada às margens do Rio Paciá, em Lábrea, no Amazonas, onde trabalhava com os Apurinã, irmã Cleusa era radical na opção pelos pobres e intransigente na defesa dos direitos indígenas, gerando a ira dos poderosos locais

 

Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho tinha 52 anos quando foi cruelmente assassinada, em 28 de abril de 1985.

Morreu há 39 anos em defesa da terra indígena e buscando a paz na conturbada região às margens do Rio Paciá, na Prelazia de Lábrea, no Amazonas. Coordenava o sub-regional Norte 1 do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que abrangia as Prelazias de Lábrea e Coari. Atuava para minorar o calvário dos Apurinã, que coincide com a história do extrativismo no Purus. A morte dela não se constituiu num fato isolado, fazendo parte da história regional alimentada pela cobiça, onde os indígenas foram as maiores vítimas. O martírio de irmã Cleusa se confundiu com o martírio histórico do povo Apurinã, que ela morreu defendendo.

A religiosa acompanhava e apoiava os indígenas da região de Caititu, onde se dirigiu ao encontro da morte, após saber do assassinato da esposa e de um filho do tuxaua Agostinho Mulato dos Santos. O responsável direto pelos crimes, o Apurinã Raimundo Podivem, que tinha sido policial em Manaus, vinha tentando acabar com a vida do combativo tuxaua. E a irmã Cleusa era uma pedra no caminho, por isso foi martirizada barbaramente em sua missão de paz. Ao contratar um indígena para executar a ação macabra, os poderosos de Lábrea tramaram gerar mais discórdia na área, emperrando ainda mais o conturbado processo de demarcação das terras indígenas, para se apropriarem das áreas.

“Comprometer-se com o índio, o mais pobre, desprezado e explorado, é assumir firme a sua caminhada, confiante num futuro certo e que já se vai tornando presente, nas pequenas lutas e vitórias, reconhecimento dos próprios valores e direitos, busca de união e autodeterminação. VALE ARRISCAR-SE.”

 Irmã Cleusa escreveu esta mensagem profética poucos dias antes de ser assassinada. Por causa do compromisso total com os menos favorecidos, tramita no Vaticano a beatificação da mártir da justiça e da paz.

Fuente: 

Cimi.org.br

 

IV-          FONTES

 

1.       https://santaritamanaus.wordpress.com/2019/04/28/voce-conhece-a-historia-da-martir-da-justica-e-da-paz-que-foi-agostiniana/

2- https://agustinosrecoletos.com/wp-content/uploads/2016/09/4297doc_cleusa_rody_pt.pdf

3- agenciaag@redegazeta.com.br

4- http://secretariat.synod.va/content/sinodoamazonico/pt/testemunhos-da-amazonia/irma-cleusa--martir-da-justica-e-da-paz-.html

 

 

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(*) Sérgio Bonadiman,

 

Agostiniano Recoleto de coração.com dedicação à Ordem Agostiniana dos Recoletos por mais de 30 anos, atuando como Professor de Filosofia, Teologia e Formador na Província Santa Rita de Cássia, hoje integrada à Província de S. Tomás de Vilanova.

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