XIV-
As tentações de Jesus e a nossa luta contra o pecado
No Evangelho deste 1º Domingo da Quaresma B (Marcos 1,12-15),
somos lembrados de que Jesus passou quarenta dias no deserto, sendo tentado por
Satanás. Ele nos deixou um exemplo maravilhoso de humildade ao enfrentar as
tentações do demônio e demonstrou uma fortaleza inabalável ao resistir sem
ceder, confiando na Palavra de Deus. Como disse Santo Agostinho, “Bem podia Ele ter mantido o demônio
longe de si; mas, se não fosse tentado, não nos teria ensinado a vencer a
tentação“.
O demônio tentou desviar Jesus de sua missão, questionando sua
relação filial com o Pai. No entanto, Jesus rejeitou esses ataques, que ecoam
as tentações de Adão no Éden e as do povo de Israel no deserto.
Sua vitória sobre o tentador antecipa sua vitória na cruz da
Paixão, onde comprovou a suprema obediência ao Pai, ao se sacrificar até a
morte.
Durante a Quaresma, a Igreja se une ao mistério de Cristo no
deserto, lembrando-nos de que: “por
toda a história humana se trava uma dura batalha contra o poder das trevas que,
iniciada nas origens do mundo, durará até ao dia final. Envolvido nesta peleja,
o homem tem que lutar continuamente para manter-se no bem” (Gaudium
et Spes, n. 37).
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que o pecado é uma
desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade. A tentação nos
convida a pecar, como nos lembra São Tiago: “Cada
um é tentado pela sua própria concupiscência que o atrai e alicia”.
A vitória sobre as tentações só é possível pela oração e pela
vigilância, como Jesus nos instrui no Evangelho de São Marcos: “Vigiai e orai, para não cairdes na
tentação”. E a vitória final sobre o pecado e a morte também nos é
garantida, se formos fiéis na vivência de nosso Batismo, imensa Graça que
recebemos de Deus, através da Igreja. É o que nos ensina a 2ª Leitura (1 Pedro
3,18-22): “Cristo morreu,
uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos
conduzir a Deus.”
Devemos confiar que Deus nos capacitará a suportar as tentações:
“Deus é fiel e não permitirá
que sejais tentados acima das vossas forças; antes fará que tireis ainda
vantagem da mesma tentação, para a poderdes suportar” (1 Coríntios
10,13).
Além da oração, existem outras armas para vencer a tentação,
como a confissão frequente, a participação na Eucaristia dominical, pois nela
se manifesta a vitória de Cristo sobre o mal, a devoção ao Santo Anjo da Guarda
e a Nossa Senhora. Tudo isto nos ajuda a sermos fortes.
Nesta Quaresma, somos convidados a fomentar a contrição e o
arrependimento genuíno dos nossos pecados, não apenas com um remorso
superficial, mas com o desejo sincero de mudança e de libertação de nossos
pecados. No entanto, nunca podemos esquecer que não podemos nos libertar
sozinhos; precisamos do perdão de Deus, obtido pela graça no sacramento da
Reconciliação e da Penitência. Como Jesus proclamou, “Arrependei-vos e
acreditai no Evangelho”.
Que esta Quaresma nos ajude a encontrar o dom do verdadeiro
arrependimento, reconhecendo nossa necessidade da graça de Deus que nos
transforma e nos liberta do pecado. O verdadeiro arrependimento é um dom
sobrenatural que só pode ser alcançado através da oração e da ação da graça
divina.
E que este tempo quaresmal nos ajude a cultivarmos novas
atitudes de um cristianismo levado a sério, também no que diz respeito à
caridade para com o próximo, como nos ensina neste ano a Campanha da
Fraternidade, que trata de nos ajudar a cultivar a verdadeira amizade,
respeitosa e caridosa: somos todos irmãos, apesar das diferenças que existem
entre nós.
Dom Antonio Carlos Rossi
Keller – Bispo de Frederico Westphalen
https://cnbbsul3.org.br/as-tentacoes-de-jesus-e-a-nossa-luta-contra-o-pecado/
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