domingo, 22 de agosto de 2021

INDAGAÇÕES...


Lindolivo Soares Moura (*)

"O coração tem razões que a própria razão desconhece"(Pascal).

O que é, por favor me digam, essa tal de felicidade? Alguém que a tenh' encontrado, possa, rogo, me dizer?

Tem algo a ver com idade, menor ou maioridade, recordar ou esquecer?

Terá por favor a ver, com chegada ou partida, o melhor ou pior desta vida, com o que a vida pode ser?

Terá algo a ver com o medo, vazio ou desilusão, ou com aquilo que chamam paixão, pode enfim oferecer?

Terá por favor me digam, a ver com falta ou fartura, desapego ou usura, um modo próprio de ser?

Terá ou não, quem o sabe, essa tal de felicidade, a ver acima de tudo com uma tal de simplicidade? :  a leveza do semblante, o sorriso contagiante de que não conhece a maldade?

Pergunto agora a quem, já viveu um pouco mais: terá essa tal de saudade, algo a ver com a esperança, em recordar as lembranças, do que não volta jamais?

Em reviver o passado, com tanta imaginação, com tanto amor e paixão, que a mente descansa em paz!?

Que me digam agora os adultos -- redobro minh' atenção -- se tem valido a pena, tanta preocupação. Será que o tempo investido, o esforço redobrado, o coração dividido, têm tido compensação.

Aqueles que você ama, por você chama e reclama, trazem paz no coração?

Com a palavra os jovens, com sua contribuição. Por favor, vamos, me ajudem, a formar minha opinião: em que consiste, afinal, essa tal de felicidade?

Sejam francos e sinceros, pois preciso da verdade.

Um deles então me disse, que a tal felicidade, poderia estar em, quem sabe, se aproximar da verdade. Contou-me então que ouvira, de um certo Sábio um dia, uma estranha assertiva, inaudita afirmação: "que prazer e alegria, sempre que possível fosse, deveriam andar juntos, como se fossem irmãos. Irmãos gêmeos, dizia:  um sem a outra, não passa de fantasia.

Dizia também ele, com sua sabedoria, que prazer e alegria, por vezes se vêem juntos, mas não todo "santo dia". Que só quem é sábio alcança, fazer bem a distinção: que o prazer serve o corpo, a alegria, o coração. Que juntos são imbatíveis, separados, ilusão".

Foi-se o jovem um tanto triste, sem eu saber a razão. Mais tarde compreendi: seu coração inquieto, que tão bem aprendera a lição, ainda, porém não houvera, alcançado essa união.

Fui então finalmente, procurar pelas crianças. Queria saber também delas, aquilo que para elas, era “bem-aventurança".

Nenhuma delas parou, para me dar atenção; gritos sim, eram muitos, correria mais ainda: e adeus, reflexão! Resolvi voltar pra casa -- quem sabe outra ocasião.

Foi então que me dei tal conta, de que aquel' era lição: que a tal da felicidade, não era senão, viver cad'ocasião.

Mas não, "viver por viver"; era outra a lição. Viver profunda, intensamente, em tudo viver com paixão. Se há um tempo pra cada coisa, por que saltar de estação!? Se a hora é pra sorrir, por que a preocupação!? Se o luto bate à porta, por que não lhe dar vazão!? Se a tristeza agora assola, por não lhe estender a mão!? Se a alegria pede passagem, por que fechar-lhe o coração!?

Assim elas, as crianças, me ensinaram a maior das lições: que esperar não é saber; que quem sabe "faz a hora", não espera acontecer!

E assim minha pergunta, pela tal felicidade, continuou ecoando sem encontrar "a verdade".

A cada alguém perguntado, em cada porta que eu batia, uma resposta me davam, outra lição aprendia.

Resolvi depois de um tempo, abrir mão da pretensão, de tudo compreender, de sempre ouvir a razão.

Agora estou mais atento, às coisas do coração: mistério e fantasia, pôr do sol, raiar do dia, demandam contemplação. Técnica e tecnologia!? - Nada contra, não! Mas não posso e não quero, é ser servo da razão!

Vez por outra, eu confesso, até elevo uma prece. Pois como dizia Pascal, e nisso com muita razão, "o coração tem razões, que própria razão desconhece"!

(Reflexão enviada pelo autor via whatsapp).

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(*) vasta experiência como Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, bem como Professor Universitário. Atendimento terapêutico na área de família, casais, adolescentes, jovens e adultos (menos crianças). Consultório Clínico em Vitória, ES, por aproximadamente 19 anos, com especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, Psicanálise, Psicodrama e Constelação familiar. Ministro religioso (Sacerdote) por aproximadamente 20 anos. Atualmente atuando sobretudo na área de Psicologia Clínica e Professor Universitário (Filosofia, Psicologia, e Teologia aplicadas).

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