domingo, 15 de agosto de 2021

SANTO AGOSTINHO E A VIDA EM COMUNIDADE

Uma só alma e um só coração dirigidos a Deus”

Àqueles que querem participar de sua experiência de busca de Deus, Agostinho propõe o exemplo da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, descrito nos Atos dos Apóstolos (2;4): formavam um só coração e uma só alma, tudo era comum entre eles e a cada um dava-se conforme suas necessidades.

No início da Regra que escreveu para seus monges, Agostinho põe a razão da reunião em comunidades nestes termos: ''Em primeiro lugar – já que com este fim vos haveis congregado em comunidade – vivei unânimes em casa e tende uma só alma e um só coração orientados para Deus'' (Regra 3). Dito de outro modo, aqueles que se propõem a viver em uma comunidade são movidos pelo desejo de orientar-se para Deus, o que faz com que todos vivam em unidade de alma e coração.

Vive-se, portanto, em comunidade não para constituir uma espécie de Sociedade Anônima; não para viver como uma alegre associação de amigos; não para que se possa unir as forças dos indivíduos e ser mais eficientes; não para fugir das responsabilidades da vida; mas, sim, para endereçar-nos a Deus, a Verdade-Felicidade buscada e encontrada.

Com efeito, não basta uma unanimidade qualquer para fazer uma comunidade religiosa agostiniana (pode-se ser unânimes em vários aspectos nada religiosos da vida). É preciso que esta esteja centrada em Deus e todos, juntos, a ele se dirijam em unidade. Unidade de desejos, de ideais e de projetos, respeito pelas exigências e pela dignidade da pessoa, perfeita vida comum: são as três notas que caracterizam a comunidade agostiniana, que, na mente de Agostinho, quer ser sobre a terra um sinal da cidade celeste, imagem, ainda que pálida e imperfeita, da absoluta comunhão de amor existente entre as
pessoas da Santíssima Trindade. E é juntos, unidos pelo amor, que nos tornamos Igreja, espelho da comunhão trinitária.

Ao nos unirmos em comunidade, queremos deixar nosso egoísmo e ir ao encontro de Deus. Fazendo-nos, por amor, irmãos uns dos outros, honramos Deus (cf. Regra 9) e promovemos Seu Reino entre nós.

A comunhão agostiniana de vida encontra, por isso, sua manifestação na comunhão de bens. Por isso nada é próprio, nada é do indivíduo; nada é propriedade privada; tudo é comum, tudo é da comunidade (cf. Regra 4), ou seja, antepõe-se o bem comum ao próprio (cf. Sermão 78,6), e este bem é Deus mesmo, nossa maior riqueza (cf. Sermão 355,2), desejado, buscado e partilhado por todos, em unanimidade. Ao homem de hoje, imerso, não poucas vezes, em profunda e dilacerante, dramática e desesperadora solidão, incapaz de comunicar, de compreender e de compreender-se, Agostinho propõe um projeto de vida em comunhão na qual o ser humano sinta-se solidário com o outro, sinta a solidariedade do outro, sinta-se participante de uma mesma dignidade, apesar das diferenças pessoais; comunhão em que as pessoas se aceitam reciprocamente e se querem bem assim como são, sem prejuízos ou preconceitos, pois imagem de Deus, buscando sempre uma maior correspondência na semelhança com Ele.

Quando uma comunidade tem estas características, a obediência se torna colaboração em um projeto de comunhão e apoio recíproco, a pobreza torna-se partilha, a castidade torna-se meio para se dilatar o coração à acolhida e ao senso de fraternidade universal; o ''peso'' da vida comum é superado pela amizade em Cristo que, não só corrobora na formação da personalidade, mas também faz crescer na verdadeira liberdade do indivíduo; a humildade (outro elemento fundamental da espiritualidade agostiniana), que está na base da vida comum, torna-se senso de responsabilidade.

Quem escolhe ser Agostiniano, propõe-se, então, a buscar e honrar Deus colocando a própria vida (alma, coração) em comum, a serviço principalmente e, sobretudo, da própria comunidade; pois, a vida religiosa é dom dado pelo Espírito à Igreja para o bem de todos, e a comunidade é uma pequena Igreja, na qual se quer viver não só juntos, mas concordemente, na fraternidade e na amizade espiritual uns com os outros, honrando Deus uns nos outros (cf. Regra 9).

http://www.osabrasil.org/comunidade_carisma.htm

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