domingo, 22 de agosto de 2021

REFLEXÃO DOMINICAL II

A QUEM IREMOS SENHOR? SÓ TU TENS PALAVRAS DE VIDA ETERNA


Nenhum cristão jamais poderá dizer que foi enganado pelo Senhor! Deus nunca Se mascarou para nós, nunca nos falou palavras agradáveis para nos seduzir, nunca agiu como os nossos políticos; Deus não usa maquiagem! Ele é um Deus verdadeiro, leal, honesto! Não esconde Suas exigências, não omite Suas condições para quem deseja segui-Lo e servi-Lo...

 

Escutamos na primeira leitura de hoje Josué mandando o povo escolher: seguir os ídolos, que são de fácil manejo, que não exigem nada ou, ao invés, seguir o Senhor, que é exigente, que é Santo e corrige os que Nele esperam? O próprio Josué dirá: “Não podeis servir ao Senhor, pois ele é um Deus santo, um Deus ciumento, que não tolerará as vossas transgressões, nem os vossos pecados!” (Js 24,19) Vede, meus caros, que o nosso Deus não Se preocupa com popularidade, não faz conta do número de fieis, não abranda Suas exigências para ser aceito, mas sim, faz conta da fidelidade ao Seu amor e ao Seu chamado!

 

O que aparece na primeira leitura torna-se ainda mais claro e dramático no Evangelho. Após dizer claramente que Sua Carne é verdadeira comida e Seu Sangue é verdadeira bebida, muitos discípulos se escandalizaram com Jesus (há cristãos que ainda hoje se escandalizam e não creem nesta Palavra do Salvador...).

 

E Jesus, o que faz? Muda Sua Palavra? Volta atrás no ensinamento para ser popular, para ser compreendido e aceito, para encher as igrejas? Não! Popularidade, aceitação, bom-mocismo nunca foram Seus critérios! Ainda que Sua palavra escandalize, Ele nunca volta atrás. O Senhor nunca Se converte a nós; nós é que devemos nos converter a Ele! Pode-se manipular os ídolos; nunca o Deus verdadeiro! É importante prestar atenção! Diante dos discípulos escandalizados e murmuradores, que faz Jesus? Apresenta o critério decisivo: a Cruz! Escutai, irmãos, o que diz o Senhor: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?”

 

Lembremo-nos que, para o Evangelho de São João, a subida de Jesus para o Pai começa na Cruz: ali Ele será levantado! Vede bem, meus irmãos, que não poderá seguir o Senhor, não poderá suportar as palavras do Senhor, aquele que não estiver disposta a contemplá-Lo na Cruz! E Jesus previne: “O Espírito é que dá Vida; a carne não adianta nada! As palavras que vos falei são Espírito e Vida!”

 

Compreendei, caríssimos meus: somente se nos deixarmos educar pelo Santo Espírito, somente se deixarmos os pensamentos e a lógica à medida da carne, isto é, à medida da mera razão humana, é que poderemos compreender as coisas de Deus, coisas que passam pela Cruz de Cristo!

 

Quando se trata do escândalo do Evangelho, “a carne não adianta nada”, a lógica humana não conta! Não nos iludamos: entregues à nossa própria razão, pensaremos como o mundo e jamais acolheremos Jesus e Suas exigências!

 

Como compreender um Amor – aquele do Verbo feito carne – que Se entrega eucaristicamente, que Se dá todo, que Se esconde em aparências tão triviais, tão humildes como o pão e o vinho porque Se escondeu na nossa pobre carne humana, nos insossos dias de uma vida como a nossa ao Se fazer homem? E, no entanto, o Senhor continua: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a Mim, na existência e no Altar, a não ser que lhe seja concedido por Meu Pai!”

 

Vede bem, meus caros: acolher Jesus, compreender Suas palavras e acolhê-las, por quanto sejam difíceis e duras, é graça de Deus e somente abertos para a graça poderemos realizá-lo! Como acolher a linguagem da Cruz, sem mudar de vida? Como acolher as exigências do Senhor, sem a conversão do coração, sem nos deixarmos guiar pela imprevisível liberdade do Santo Espírito?

 

Quando isso acontece, experimentamos como o Senhor é bom, o quanto é suave, o quando é doce segui-Lo! Assim, o mesmo Espírito de Cristo que transfigura o pão e o vinho na Carne e no Sangue do Senhor imolado e ressuscitado, nos transfigura, em cada comunhão, dando-nos os sentimentos de Cristo, as atitudes de Cristo, a vida de Cristo!

 

Um belíssimo exemplo disso, a Palavra de Deus nos dá hoje recordando a vida da família cristã. São Paulo pensa o lar cristão como uma pequena comunidade de discípulos de Cristo, plasmada no Espírito de Cristo, plasmada eucaristicamente, uma pequena Igreja e dá conselhos estupendos!

 

O sentimento que deve nortear o comportamento familiar é o amor. Que amor? O das músicas e das novelas? Não! Aquele amor manifestado na Cruz, aquele entre Cristo e a Igreja! Que beleza, que desafio, que sonho: marido e mulher se amando como Cristo e a Igreja se amam, marido e mulher sendo felizes na felicidade um do outro: “Sede solícitos uns para com os outros!” Marido e mulher que se tornam uma só carne no amor, como Cristo e a Igreja em cada Eucaristia, quando o Esposo Cristo dá Sua Carne à Esposa Igreja, e os dois se tornam uma só carne!

 

Para o cristianismo, meus caros, a família cristã não é primeiramente uma instituição humana, mas uma instituição divina, um sacramento da Igreja. Mais ainda: a família é a primeira Igreja, a primeira comunidade de irmãos em Cristo. Ali, é Jesus Quem deve reinar, ali é o santo e doce temor de Deus quem deve regular a convivência. Que desgraça hoje em dia a paganização, a secularização, a banalização da família cristã! Atentos, cristãos: a família é santa, a família é sagrada, a família não pode ser profanada pelo desamor, pela indiferença, pela imoralidade, pela violência, pelo consumismo, pela opressão, pela divisão, pela vulgarização! Que beleza, meus caros, um homem e uma mulher unidos no amor com a bênção do Senhor gerando filhos, gerando amor feito carne, feito gente, para o mundo, para a Igreja, para a vida!

 

Este é o sonho do Senhor para a família! Este e só este! Aos olhos de Deus, não há outra forma legítima e aceitável de união familiar! Um homem, uma mulher; um esposo, uma esposa e os filhos, e outros ainda, que a Providência de Deus e o amor que acolhe for agregando a essa comunidade doméstica – eis o sonho, eis a bênção, eis a felicidade quando se vive isso de acordo com o amor de Deus em Cristo! Que bênção a convivência familiar! Que doçura poder partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e dificuldades num lar cristão, onde juntos se reza, juntos partilham, juntos vencem-se as dificuldades!

 

São Paulo, encantado com essa realidade, exclama: “É grande este mistério!” Que mistério? O mistério do amor entre marido e mulher, da sua união que gera vida, que é doçura e complementaridade. E o Apóstolo continua: “E eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja!” Atenção! São Paulo está dizendo que a comunhão familiar é imagem da comunhão entre Cristo e a Igreja!

 

É fácil, caríssimos, viver a família assim? Não! Como não é fácil levar a sério a Palavra do Senhor! E Jesus, mais uma vez, nos pergunta: “Isto vos escandaliza?” Escandaliza-vos o matrimônio ser indissolúvel? Escandaliza-vos a fidelidade conjugal? Assusta-vos o dever de gerar filhos com generosidade e educá-los com amor e firmeza? “Quereis também ir embora?”

 

Caríssimos, que nossa resposta seja a de Pedro, dada em nome dos Doze e de todos os discípulos: “A quem iremos, Senhor? Caminhar contigo não é fácil; acolher Tuas exigências nos custa; compreender Teus motivos às vezes é-nos pesado; comungar, na Tua Eucaristia, Contigo imolado, dado, e, assim, dar, entregarmos nós mesmos a própria vida... Mas, a quem iremos? Só Tu tens palavras de Vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus!”.

 

Que as palavras de Pedro sejam as nossas e, como Josué, possamos dizer: “Eu e minha família serviremos o Senhor!” Amém.

 

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