sábado, 12 de novembro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL II “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará” (Sl 97)

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

“O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará” (Sl 97)

Luciene Lima Gonçalves, nj (*)

"A imagem de Deus que salta aos olhos na liturgia deste domingo é a mesma do canto do salmista. Com ele professamos nossa fé e nossa esperança: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará” (Sl 97). No entanto, mais importante do que identificar o Senhor como juiz de toda a terra, é a tomada de consciência de que somos nós quem vivemos e administramos a vida que nos foi dada como dom".

 

 

Referências bíblicas
1ª Leitura - Ml 3, 19-20
Salmo - Sl 97
2ª Leitura - 2 Ts 3,7-12
Evangelho - Lc 21, 5-19

 

1ª Leitura: Ml 3, 19-20

 

O livro de Malaquias situa-se provavelmente no séc. V a. C., no período pós-exílico, após a reconstrução do Templo. O autor retoma um tema já conhecido pelos profetas, o dia do Senhor ou dia de YHWH, dia terrível, dia em que o Senhor fará justiça a Israel, castigando seus adversários.

A concepção dos profetas sobre o dia de YHWH foi evoluindo até a compreensão de que, neste dia, serão castigados todos aqueles que são ímpios e soberbos.E aqueles que temem o Senhor e o reverenciam, que agem segundo seus ensinamentos, praticam a justiça e o direito, respeitam o próximo, não roubam, não enganam os seus semelhantes, no dia esperado,serão visitados pelo sol da justiça.

 

2ª Leitura: 2 Ts 3,7-12

 

Na segunda carta aos Tessalonicenses, o autor exorta a comunidade a respeito de um tema bem delicado no início da comunidade cristã primitiva, a segunda vinda de Jesus, também chamada de parusia. Muitos cristãos acreditavam que essa vinda seria em breve. Por conta disso, negligenciavam seu compromisso com a comunidade.

O autor dessa carta ciente da autoridade de Paulo, como fundador e responsável dessa comunidade utiliza seu testemunho de maneira enérgica, indicando a esses irmãos como deveriam se comportar. Para explicitar suas orientações, utiliza o comportamento de Paulo como critério para os membros da comunidade. O compromisso com a comunidade se traduz por meio do trabalho.Ele é o vínculo que une os membros na acolhida e na manifestação do Reino de Deus.

 

 

 

 

Evangelho: Lc 21, 5-19

 

No evangelho segundo Lucas, é de fundamental importância que Jesus realize a salvação em Jerusalém. Sua Páscoa deve acontecer na Cidade Santa. Desse modo, o caminho para Jerusalém é o tempo de preparação de seus discípulos para vivenciarem sua paixão, morte e ressurreição.

No evangelho de hoje, Jesus já se encontra em Jerusalém ensinando sobre o Templo e sua destruição e sobre um tempo de tribulação que se aproxima, acompanhado por vários outros eventos: guerras, terremotos, pestes, fome, fenômenos naturais terríveis etc. Alerta, ainda, seus seguidores sobre as perseguições que eles enfrentarão, inclusive por parte de seus próprios familiares. Jesus exorta aos discípulos a permanecerem firmes na fé, lembrando-os de que quem perde a sua vida é quem vai ganhá-la verdadeiramente para Deus.

 

Pistas para a reflexão

 

Chegamos ao penúltimo domingo do ano litúrgico. Estamos encerrando um ciclo de leitura da Palavra de Deus e somos convidados a refletir sobre o fim. Cada uma dessas leituras pode nos auxiliar nesse trabalho.

O profeta Malaquias nos alerta que o dia do Senhor está próximo e que seremos julgados por nossas ações, que podem ou não corresponder à vontade de Deus. O autor da carta aos Tessalonicenses exorta aos cristãos acomodados de sua comunidade a trabalharem pelo próprio sustento. Aos mesmos discípulos que aconselha a não planejar com antecedência a própria defesa, Jesus também recomenda que permaneçam firmes a fim de ganhar a vida. Desse modo, fica claro que a esperança pelo dia do Senhor, pelo dia da salvação, deve iluminar toda a nossa existência, deve mover nossas ações e as escolhas que fazemos dia após dia.

O temor de Deus, de que nos fala a primeira leitura, não implica em um sentimento de medo com relação a Deus, significa uma submissão incondicional a sua vontade, significa andar segundo seus ensinamentos presentes no Antigo Testamento, no decálogo, os dez mandamentos, e, no Novo Testamento, no duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo. Se quisermos saber se amamos a Deus, perguntemo-nos o que temos feito pelo nosso próximo. Essa é a forma concreta de manifestar nosso amor a Deus e, assim, assegurar a visita do sol da justiça.

É possível e necessária a reflexão sobre o fim, mas enquanto finalidade e propósito. Ao invés de nos preocupamos tanto em saber o dia que o Senhor virá, seria mais prudente refletir sobre que tipo cristãos e cristãs Jesus encontrará, seria mais prudente ocupar-nos em viver bem a vida que nos foi dada colocando-a a serviço de nossos irmãos e irmãs, como fez Jesus. Por que temer o dia do Senhor, se estivermos realizando a sua vontade? Afinal, o compromisso com o evangelho, a perseverança fiel, é o que nos garante que estamos no caminho certo, que estamos tomando os mesmos rumos de Jesus.

A imagem de Deus que salta aos olhos na liturgia deste domingo é a mesma do canto do salmista. Com ele professamos nossa fé e nossa esperança: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará” (Sl 97). No entanto, mais importante do que identificar o Senhor como juiz de toda a terra, é a tomada de consciência de que somos nós quem vivemos e administramos a vida que nos foi dada como dom.

É importante ressaltar que o Papa Francisco instituiu o penúltimo domingo do ano litúrgico como Dia Mundial dos Pobres, para nos recordar como Igreja, comunidade de fé, família de Deus que o compromisso com os pobres é tarefa de todos e que, portanto, não deve ser restrita a grupos isolados dentro da igreja.

“O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça a julgará”. E nós, será que estamos trabalhando na construção de um mundo justo, lutando para que nossos irmãos e irmãs vivam com a dignidade de filhos e filhas de Deus. aqui e agora enquanto aguardamos a visita do sol da justiça ? Seremos julgados de acordo com a opção radical que fizemos pelo Cristo que se apresenta com a face desfigurada pelo sofrimento em tantos irmãos e irmãs que encontramos a cada dia em nossas ruas, praças e que se tornaram invisíveis para nós, são os pobres, sofredores, desvalidos, marginalizados, descartados que nos garantem a autenticidade de nosso compromisso na construção do Reino de Deus.

 

(*)A reflexão é de Luciene Lima Gonçalves, nj, religiosa do Instituto Nova Jerusalém. Ela é mestranda em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. Possui graduação em Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007) e é especialista em estudos bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza - FCF (2015). Atuou como professora de Teologia Bíblica na Faculdade Diocesana de Mossoró - FDM.

 

 

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