O QUE É SER PROFESSOR HOJE?
Moacir Gadotti
Ser professor hoje é viver
intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar
um futuro para a humanidade sem educadores. Estes, numa visão emancipadora, não
só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas
também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos
marqueteiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de
que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber — não o dado, a informação, o
puro conhecimento —, porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a
humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais
saudável para todos. Por isso, eles são imprescindíveis.
O poder do professor está tanto
na sua capacidade de refletir criticamente sobre a realidade para transformá-la
quanto na possibilidade de constituir um coletivo para lutar por uma causa
comum. Paulo Freire insistia que a escola transformadora era a “escola de
companheirismo”, por isso sua pedagogia é uma pedagogia do diálogo, das trocas,
do encontro, das redes solidárias.
Companheiro vem do latim e
significa aquele que partilha o pão. Trata-se, portanto, de uma postura radical
e, ao mesmo tempo, crítica e solidária. Às vezes, somos apenas críticos e
perdemos o afeto dos outros por falta de companheirismo. Como diz Francisco
Imbernón, “Para superarmos a crise da escola, primeiramente devemos deixar de
falar o óbvio, justificando, assim, não fazer opções ou, o que dá na mesma,
atuar como Freire, passando da cultura da queixa para a cultura da
transformação” (2000, p. 28).
Uma das expressões mais tristes
que escutei certa vez foi a de uma aluna, professora da rede pública, que
declarou, depois de fazer uma análise extremamente pessimista da escola onde
dava aula: “Diante de tantas dificuldades, eu apenas ligo o piloto automático e
vou para a escola”. Dizia que não tinha nenhum ânimo, nenhuma vontade, nenhuma
satisfação na profissão e que só estava lá por falta de outra opção.
O professor não se define pela
sua função, pelo seu papel, mas pela sua missão. Se ele se considerar apenas
como mais uma ruela na máquina educativa, é porque se demitiu como pessoa, como
ser humano. Desistiu, matou a criança curiosa que pulsava dentro dele. Não pode
mais ensinar. Não haverá superação das condições atuais do magistério sem um
profundo sentimento de companheirismo, sem plantar paz e sustentabilidade na
escola. Lutando sozinhos, chegaremos apenas à frustração, ao desânimo, à
lamúria. Daí o sentido profundamente ético dessa profissão. No fundo, para enfrentar
a barbárie neoliberal na educação, vale ainda a tese de Marx de que “o próprio
educador deve ser educado”, educado para a construção histórica de um sentido
novo de seu papel
GADOTTI,
Moacir. A escola e o professor – Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo:
Publisher Brasil, 2007.
Entenda
quais são os desafios e a importância do papel do professor na atualidade
Cada vez mais, professores assumem o
papel de facilitadores da aprendizagem. Confira
o artigo para entender o que isso significa!
Ao
longo de muitas e muitas décadas, as instituições de ensino (da educação básica
à superior) eram consideradas verdadeiros templos do conhecimento, e seus
professores os mestres detentores de tudo aquilo que era realmente importante
de ser levado para a vida.
Entretanto,
nos últimos anos, com as revoluções tecnológicas, esse cenário vem se alterando
profundamente. A escola ou a faculdade não são mais os únicos lugares onde é
possível aprender: o conhecimento está em toda parte, e foi democratizado
principalmente por meio da internet. Com isso, se antes o professor era o
principal transmissor do conhecimento, hoje ele vem assumindo papéis e funções
diferentes – e não menos importantes!
Pelo
contrário: o papel do professor, na atualidade, está muito mais associado à
mediação do processo de construção autônoma do conhecimento por parte dos
estudantes, o que muda o jogo para muitos docentes e faz com que eles trabalhem
com muito mais dinamismo do que antes.
Neste
artigo, você entenderá melhor qual é esse novo papel, quais são seus desafios e
quais são as competências necessárias para desempenhá-lo. Continue lendo para
saber mais!
Os
desafios do mundo contemporâneo para a prática docente
Antes
de refletir a respeito dos novos papéis que o professor desempenha hoje, vale
discutir os desafios contemporâneos para a prática docente como um todo.
A
princípio, é necessário pontuar que, embora os alunos (e suas necessidades)
estejam em processo de constante e rápida evolução nas últimas décadas, nem
sempre as práticas pedagógicas e as instituições de ensino os acompanham com a
mesma rapidez e dinamismo.
Escolas,
faculdades e universidades vêm preparando seus estudantes considerando
habilidades e competências que seriam úteis nos dias de ontem. Quando melhor,
os preparam para os dias de hoje – o que também não é interessante.
Estudantes
devem ser preparados para a transição entre o hoje e o amanhã e para o próprio
amanhã, ainda que este seja incerto e passível de mudanças, justamente porque é
nesse espaço em que exercerão sua cidadania e se tornarão profissionais capazes
de melhorar a sociedade.
Para
fazer essa mudança, é fundamental entender os desafios que se colocam à frente
das IES e dos docentes. Veja abaixo!
1.
Alunos da geração Z (em maioria)
Em sua maioria, os estudantes das IES são da geração Z, isto é,
geração dos nascidos a partir do fim da década de 1990 do século 20. Eles são
nativos digitais, ou seja, nasceram e cresceram com tecnologia acessível como
parte de seu cotidiano e, por isso, estão permanentemente conectados.
Com isso, práticas pedagógicas mais antigas, que desconsideram
completamente o uso de tecnologias digitais, têm mais probabilidade de gerar
desinteresse nesses alunos. O uso constante de smartphones e redes sociais traz
muitos estímulos diferentes que disputam a atenção do estudante, e é necessário
refletir a respeito de como utilizar esses recursos a favor das práticas
pedagógicas.
2. Adaptação a metodologias novas e
engajantes
Também
pela mudança de perfil dos estudantes, um dos grandes desafios à prática
docente contemporânea é a adaptação a novas metodologias, que engajem os estudantes e proporcionem
experiências de aprendizagem suficientes para o desenvolvimento de habilidades
e competências pertinentes às novas realidades.
Essas
novas metodologias devem levar em consideração, por exemplo, as necessidades de
aprendizagem particulares de cada aluno, possibilitando que cada um possa
desenvolver seu próprio caminho de aquisição de conhecimento. Assim, é
necessário romper com metodologias e práticas ultrapassadas, que já não motivam
e não fazem sentido nos tempos atuais.
3. Motivação de docentes
Além
dos desafios dentro da sala de aula, na relação entre professor e aluno, há
também um desafio relacionado à motivação do próprio docente. Tantas adaptações
a serem feitas requerem um esforço contínuo, e é imprescindível que os
professores se sintam motivados durante esse processo.
Há
uma tendência na sociedade recente de diminuir – e até contrapor – o valor da
profissão docente, o que se traduz em exaustivas cargas de trabalho, baixos
reajustes salariais, entre outros. Com isso, um dos grandes desafios das IES é
reverter esse processo.
O papel do professor na atualidade
Os
desafios para a prática docente discutidos acima dizem respeito, sobretudo, à
dinâmica que se estabeleceu no mundo contemporâneo – regido, principalmente,
pelas relações que se dão a partir da tecnologia. Nesse mundo, a instituição de
ensino deixa de ocupar seu papel de templo absoluto do conhecimento e passa a
se tornar um dos espaços onde é possível construí-lo!
Não
é necessário ir muito longe para entender o porquê: basta alguns poucos toques
dos dedos em um smartphone ou computador para acessarmos infinitas fontes de
conhecimento, como livros, videoaulas, tutoriais, entre muitos outros. Com
isso, se antes o docente era mestre, detentor e transmissor do conhecimento,
hoje a relação se modifica: o papel do professor na atualidade é o de mediador
do conhecimento, aquele que acompanha e orienta seu estudante no
próprio processo de aprendizagem.
Esse
papel se desdobra em um tripé que pode ser considerado a base da atuação do
professor com seus alunos. Veja abaixo!
Facilitar a aprendizagem
A
primeira “perna” do tripé é a facilitação da aprendizagem. Com isso, queremos
dizer que o professor deve ter a habilidade de mediar, facilitar o processo de
aquisição do conhecimento do estudante, muito mais do que apenas transmitir o
que já sabe.
Facilitar
está relacionado a estimular o estudante, criar oportunidades que o permitam
construir seu caminho diante do conhecimento. Também está relacionado à criação
de experiências de ensino que favoreçam a consolidação do conhecimento por meio
da aprendizagem significativa – isto é, quando a aprendizagem
ocorre baseada em conhecimentos prévios do estudante, expandindo seu repertório
e ressignificando o que ele já sabe.
Como
estudantes conseguem acessar todo tipo de conteúdo com muita facilidade,
torna-se papel do professor auxiliá-lo a entender o que fazer com todo esse
material disponível.
Desenvolver habilidades e
competências
Vimos
que é importante que as instituições de ensino preparem o estudante
para o futuro,
considerando habilidades e competências que os tornarão cidadãos atuantes e
bons profissionais. Com isso, é imprescindível considerar que um dos papéis do
professor na atualidade é, justamente, promover experiências que possibilitem
que o estudante desenvolva essas habilidades.
Entre
as habilidades mais exigidas pelo mercado e pelas empresas estão empatia,
flexibilidade e capacidade de autogerenciamento, colaboração em equipes,
valores éticos, senso forte de cidadania e justiça social, entre outros. Assim,
além de facilitar o conhecimento, é fundamental que docente e IES estimulem o
fortalecimento dessas competências nos futuros profissionais que estão formando.
Ensinar a conviver
Uma
das funções basilares de toda instituição de ensino, desde a pré-escola até as
faculdades e universidades, é justamente ensinar a conviver.
Esse
é um dos pilares que se mantém firme também na perspectiva do educador: além de
facilitar a aprendizagem e de promover o desenvolvimento de habilidades para o
exercício da cidadania e do trabalho, é papel dele estimular o convívio
saudável, a construção da cidadania em si e do pensamento crítico.
As competências necessárias para ser
professor na atualidade
Vimos
que todas as transformações pelas quais o mundo passou nas últimas décadas
tornam necessária uma mudança profunda nas práticas pedagógicas, no papel do
professor e na relação professor-aluno. Entretanto, nada disso é possível
sem uma grande e constante preparação do docente – em outras palavras, a formação
continuada.
Conforme
escreveu o célebre educador Jean Piaget, “a preparação dos professores
constitui a questão primordial de todas as reformas pedagógicas, pois enquanto
ela não for resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar
belos programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser
realizado”.
Portanto,
da mesma maneira que o papel do professor na atualidade é, entre outros, ajudar
a formar competências para o futuro, para que ele consiga desempenhá-lo, ele
mesmo deve desenvolver algumas habilidades. Veja quais são as principais!
1. Criatividade e inovação
Conseguir
inovar e usar da própria criatividade (e de recursos criativos) constantemente
é um dos grandes diferenciais dos professores preparados para lidar com o mundo
contemporâneo. No caso, inovação e criatividade estão associados a conseguir se
adaptar ao ritmo dos jovens estudantes da geração Z, que têm seu próprio ritmo
e exigem estímulos muito mais dinâmicos do que os que se estabeleciam no
formato tradicional de transmissão de conhecimento.
Agora,
muito mais do que isso, é necessário construir espaços seguros de construção do
saber, o que exige capacidades de criar e inovar por parte do docente. Uso de
metodologias significativas, que coloquem o estudante no centro do processo de
aprendizagem (como condutor e protagonista dele), é uma parte desse percurso.
Além disso, incorporar de maneira inteligente a tecnologia em sala de aula (muito mais do que
simplesmente bani-la ou restringi-la, como é a tendência dos modelos
tradicionais) pode ser um dos grandes diferenciais para que estudantes se
mantenham engajados e tenham qualidade no próprio aprendizado.
2. Estímulo ao pensamento crítico
Uma
educação que preza pelo desenvolvimento de habilidades como autonomia passa
necessariamente pelo estímulo ao pensamento crítico, isto é, estímulo ao
pensamento que reflete, analisa e critica, de forma responsável, todas as
informações e opiniões com as quais se depara.
Diante
de um oceano de informações que parece infinito, uma das habilidades
fundamentais para o professor voltado ao futuro não é mais apenas buscar
transmitir o conhecimento “certo”, e sim auxiliar seus alunos a construir
parâmetros e critérios robustos que os permitam “navegar” por esse oceano sem
cair em informações falsas ou deturpadas. Pelo contrário: o estudante deve ter
autonomia suficiente para não apenas reproduzir conteúdos de forma automática,
e sim consumi-los com consciência.
Com
isso, essa autonomia bem construída que leva ao pensamento crítico pode tornar
seus estudantes pessoas que têm boa capacidade de tomar decisões, que sabem
atuar de maneira cidadã.
3.
Letramento tecnológico e curadoria de conteúdo
Como
as necessidades relacionadas ao dinamismo das novas gerações estão intimamente
vinculadas ao uso das tecnologias, é importante que o professor desenvolva seu
próprio letramento tecnológico, que possibilite que ele consiga utilizar as
tecnologias em sala de aula com autonomia e da maneira correta para engajar os
estudantes. No momento que vivemos, não dá mais para desassociar completamente
as experiências de aprendizagem do uso dos recursos digitais, por isso a
necessidade.
Além
disso, o bom letramento tecnológico do professor também o ajuda a realizar uma
curadoria de conteúdo de aula mais eficiente, que engaje e se conecte melhor
com seus alunos, fortalecendo a aprendizagem significativa.
4.
Empatia
Essa
é uma habilidade essencial para qualquer pessoa que viva em sociedade no mundo
contemporâneo. Desenvolver a empatia é fundamental para que o professor
desenvolva um senso de profundo respeito e parceria com seus estudantes,
entendendo suas facilidades e dificuldades, suas aspirações e limitações. Saber
se colocar no lugar do aluno, mesmo que ele seja de uma geração muito diferente
da sua, é essencial para o desempenho do papel do professor na atualidade.
Esperamos
que este artigo te ajude a compreender melhor os desafios e as habilidades
necessárias para desempenhar o papel do professor na atualidade, em meio às
complexas relações contemporâneas. Leia
nosso próximo artigo e entenda a importância dos recursos digitais de
aprendizagem.
Saraiva Educação
Confira
conteúdos sobre gestão de IES, metodologias de ensino, inovação e muito mais
temas voltados ao ensino superior com os artigos da Saraiva Educação
https://blog.saraivaeducacao.com.br/o-papel-do-professor-na-atualidade/
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