REFLEXÃO
DOMINICAL II
"OS FRUTOS DA VINHA"
Recorro
a lembranças da minha adolescência ao iniciar esta reflexão, tínhamos no fundo
do quintal um belo caramanchão de maracujá que meu pai zelava com carinho,
lembro que as flores muito bonitas e perfumosas, pareciam os cravos com que
Jesus foi crucificado. Na época dos frutos nos deliciávamos com o suco que era
uma gostosura e isso sem contar com a sombra fresca em dia de muito calor, onde
tínhamos um velho banco de madeira sendo o local preferido para um descanso ou
uma leitura.
Lendo
esse evangelho e lembrando-se do meu pai, nas manhãs de verão, cavocando,
podando, fazendo limpeza nas folhas do maracujeiro, reflito que é isso que Deus
espera de cada um a quem, através do seu Filho, confiou a missão de cuidar do
seu reino no meio dos homens. A liderança religiosa daquele tempo se esquivava
dessa missão, e ainda aproveitava-se dela, para levar vantagem, isso é como se
tivéssemos no quintal um maracujeiro, que nos desse flores, folhas, sombra e
frutos, sem que lhe déssemos qualquer atenção. Benefício sem dar nada em troca
chama-se exploração.
É
um pouco isso que acontece nos chamados crimes ambientais, onde o homem explora
a natureza, tira dela todo lucro possível, e nada faz para restaurar a perda,
daquilo que consumiu. Jesus confiou à igreja a missão de anunciar, e ser
expressão do Reino de Deus, ele a arrendou, para que todos os batizados
tomassem conta dela, cuidassem com carinho e produzisse os frutos que o mundo
precisa.
A
comunidade é essa vinha, como igreja ela é sinal e expressão do reino de Deus,
a parábola fala que os vinhateiros homicidas, não só negaram dar os frutos aos
enviados pelo proprietário, como também foram violentos para com eles, e quando
acolheram acolherem o Filho, o fizeram com a intenção de matá-lo para se
apossar da sua herança. “Em nossas comunidades cristãs, não espancamos ninguém,
e muito menos matamos quem quer que seja” devem estar pensando os leitores,
míngüem na comunidade quer apossar-se de algo que pertence a outro. Será que
não?
Mas
dá para se pensar que, matar alguém, nem sempre significa por um fim a sua vida
biológica, podemos matar de muitas formas, desprezo, indiferença, preconceito,
divisões, intrigas, calúnias, falta de paciência, compreensão, moralismo
exagerado com os que erram. Deus confiou-nos a Igreja para que, como aquele
maracujeiro do fundo do meu quintal, ela produza frutos doces, dê sombra,
acolhendo e abrigando as pessoas, exale o perfume do amor verdadeiro, da
retidão e da justiça, para que a comunidade seja um Oasis no meio desse imenso
deserto quente e íngreme, que às vezes é a vida das pessoas, por conta de
tantos fatores sociais, econômicos e familiares.
Nesse
sentido, olhando por esse ângulo, a palavra de Deus nos questiona se em nossas
comunidades as pessoas saem saciadas e felizes. Será que, pertencer a
comunidade ou ir a nossas celebrações, é para as pessoas motivo de alegria e
prazer? E trazendo a reflexão em nível pessoal, será que nós próprios somos uma
videira viçosa, onde as pessoas encontram abrigo e refúgio? Nossos frutos são
saborosos, as pessoas comentam sobre a doçura deles, ou trazem um azedume que
gera maledicência e até reclamação?
Matar
o Filho do Dono da vinha, é não anunciá-lo, não testemunhá-lo, esquecer seus
ensinamentos e colocar em nossa vida outros valores e tendências ditadas pelo
egoísmo. Na sexta feira santa da paixão, uma grande multidão sempre lota as
igrejas e acompanha o Cristo morto, a gente se pergunta por que, e nesse
evangelho encontramos a resposta, as vezes somos também meio homicidas e
anunciamos um Cristo morto, em nome da modernidade, da ciência, da tecnologia,
um Cristo morto pelo relativismo, em lugar de ser simples arrendatários muitas
vezes nos achamos donos da vinha que é a igreja, é como se o cristianismo fosse
apenas uma filosofia de vida, um pensamento e uma ideologia muito bonita, mas
que logo é sufocada pelas ideologias que o mundo nos propõe.
O
proprietário enviou servos para buscarem os frutos que lhe pertencem, enviou
seu próprio Filho que veio para ser acolhido e nos ensinar como produzir os
frutos. Estamos em um aprendizado constante com a sua palavra e a eucaristia,
temos aulas práticas e o manual de como cuidar da Vinha, que é a Palavra de
Deus. Esforcemo-nos para corresponder, e não deixemos que as pragas do pecado
destruam ou torne inexpressiva a Vinha do Senhor, pois disso, nós todos,
enquanto povo de Deus, iremos um dia prestar contas ao proprietário, que nos
confiou sua vinha, seu reino, plantado por Jesus no meio dos homens.
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0265.htm#msg01
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