REFLEXÃO
DOMINICAL III:
O PERFEITO CUMPRIMENTO DA LEI É O AMOR
“Amarás o Senhor teu Deus e ao próximo
como a ti mesmo.”
Amados irmãos e amadas irmãs!
A liturgia deste domingo Comum nos lembra, que o amor está no centro da
vivência cristã. Por mais que tenhamos inúmeras normas morais e mandamentos
diversos, em última instância o que Deus pede e exige é que deixemos o nosso
coração ser inundado pelo amor. O Evangelho nos diz de modo claro que toda a
revelação de Deus se resume no amor; amor a Deus que se reflete e transborda em
direção aos irmãos. Os dois mandamentos são inseparáveis: “amar a Deus” é cumprir a
sua vontade ou guardar seus mandamentos e vivenciar os mandamentos é
estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de
serviço, de acolhida e até a entrega total da vida.
O Evangelho de hoje (Mt
22,34-40) conduz nossa caminhada ao lado de Jesus, novamente em
plena cidade de Jerusalém. São os últimos dias de sua missão. Apesar de toda
iniciativa pedagógica de Jesus para alcançá-los através das parábolas sobre o
Reino, todos os grupos que circulam ao seu redor já fizeram livremente suas
escolhas: Os discípulos e apóstolos permanecem ao seu lado, a multidão curiosa
se dissipou, os líderes religiosos e políticos decidiram que as suas ações são
perigosas e não são uma proposta que vem de Deus. Decidem então que Jesus deve
ser denunciado, julgado e condenado. Para realizar esse objetivo, procuram
argumentos de acusação contra Jesus. Surgem três questões que Mateus nos
apresenta como armadilhas que são convertidas por Jesus em oportunidades para
catequese e evangelização: sobre o pagamento do imposto a César (cf. Mt. 22,15-22), a
dúvida sobre a ressurreição dos mortos (cf. Mt. 22,23-33) e a
dúvida sobre o maior mandamento da Lei (cf. Mt. 22,34-40).
Os estudiosos contabilizavam no Antigo Testamento cerca de 613 preceitos: 365
proibições e 248 ações para se praticar. Por isto, é natural uma inquietação sobre
qual mandamento seja superior ou mais importante. A resposta de Jesus,
ultrapassa a pergunta. O importante, no olhar do Redentor, não é indicar
o mandamento mais importante, mas encontrar a fonte de onde emana todo os
outros mandamentos. No seu olhar compassivo, está ligada a dois eixos
inseparáveis: o
amor a Deus e o amor ao próximo. A Lei e os Profetas são apenas
comentários ou acréscimos a estes dois mandamentos. Os discursos e as ações de
Jesus Cristo manifestam que nunca ele se preocupou demasiadamente com o
cumprimento dos rituais da religião judaica e não foi escrupuloso com as
ofertas materiais a Deus. A grande preocupação ou desejo de Jesus sempre foi
discernir a vontade do Pai e a cumpri-la com fidelidade e amor. Para ele
“Amar a Deus” é,
estar atento aos planos de Deus Pai e realizá-los, na vida diária. Na vida de
Jesus, o cumprimento da vontade do Pai acontece quando se faz da vida uma
entrega de amor aos irmãos e se for necessário até ao dom total de si mesmo.
No entanto, esta atitude de Jesus Cristo não é novidade e tão pouco é expressão
de desrespeito ou desprezo pela observância da Lei. Pelo contrário, é dar-lhe
pleno cumprimento (cf: Mt.
5, 16-17). Na primeira
leitura (Ex. 22,20-26) o autor do livro do Êxodo lembra-nos
que Deus não ignora as situações de injustiça e de desrespeito pela dignidade
dos mais pobres e dos mais fracos. Como exemplo são indicados o respeito aos
estrangeiros, aos órfãos, as viúvas e os pobres explorados pelos gananciosos. O
ensinamento dado aqui é bastante claro: qualquer injustiça praticada
contra um irmão pobre ou fraco é um crime grave contra Deus e sua Lei. Esta
grave ação nos afasta da comunhão com Ele e exclui-nos da Aliança. Deus não
aceita um mundo que tem como alicerce o sofrimento e a morte de quem não tem
vez nem voz. E para sermos fiéis a nossa fé, não podemos tolerar as
situações que roubam a vida e a dignidade dos pobres.
Nas primeiras
comunidades cristãs o apóstolo Paulo irá proclamar: “a plenitude da Lei é o Amor”
(cf: Rom. 13,10).
E antes de ser um apelo romântico e sentimental, esta afirmação paulina, nos
diz que quando amamos o próximo e o respeitamos em seus direitos, estamos
respeitando a Lei. Para São Paulo a comunidade cristã dos Tessalonicenses
na Segunda Leitura
(1Ts. 1,5c-10) é um exemplo concreto disto. Mesmo em meio
ao ambiente de perseguição e de agressões do mundo pagão, a comunidade
perseverou na vivência do Evangelho e construiu um caminho de amor e de doação
em meio às alegrias e sofrimentos da própria fé. E o exemplo desta comunidade
se tornou semente de fé e de amor e frutificou em outras comunidades cristãs
que buscaram seguir seu exemplo. As afirmações de Jesus que repercutiram
fortemente nas primeiras comunidades são claras: Amar a Deus significa não colocar
nada acima de sua vontade salvadora. E realizar sua vontade é amar o outro como
a mim mesmo. Isto significa um amor sem limites e que não distingue entre bons
e maus, amigos e inimigos.
Assim como o povo de Israel, ao longo de nossa caminhada como Igreja também
acumulamos mandamentos, leis, preceitos, proibições, pecados e virtudes. Estas
coisas se forem vividas apenas na frieza da letra escrita, isentas do calor da
Caridade, podem se tornar um “fardo
pesado” (Mt.
11,28-30; Mt. 23,3-5). Discutimos e dialogamos sobre
importantes questões eclesiais (matrimônios para sacerdotes, ordenação de
mulheres, o uso dos meios anticonceptivos, o que é ou não litúrgico e a
organização hierárquica; estes são exemplos disto), mas esquecemos ou ignoramos
convenientemente de discernir o que é essencial na proposta que Jesus Cristo
apresentou.
O que significa verdadeiramente “amar
a Deus”? De acordo com o testemunho de Jesus, Ele que é o nosso
modelo de fé, o amor a Deus passa pela escuta da sua Palavra, pelo acolhimento
das suas propostas e pela colaboração concreta no seu plano de salvação. Estamos escutando suas propostas,
procurando refletir, interiorizar e praticar a sua Palavra na vida cotidiana?
Ou tentando fazer com que nossa vontade egoísta seja vista com sendo vontade de
Deus?
O que significa “amar os irmãos”? De
acordo com o que Jesus ensinou e viveu, o amor aos irmãos se realiza no olhar
que direciono a cada homem ou mulher com quem encontro pelos caminhos da vida –
seja ele, branco ou negro, rico ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou
inimigo, cristão ou não. Este amor se concretiza em meio a solidariedade
para com as alegrias e sofrimentos de cada ser humano, pessoas com as quais
partilhamos as mesmas desilusões e esperanças de um mundo mais fraterno e
justo. Nossa vida
permanece sendo ofertada ao serviço dos irmãos, sem distinção de etnia, de cor
ou de classe social?
Em suma, lembremos o glorioso Santo
Agostinho na Homilia
sobre a Primeira Epístola de São João: “Ama e faz o que quiseres. Se calares,
calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com
amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti,
nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”. Somos uma comunidade
eclesial, não somos uma repartição jurídica. Na vida cotidiana, mesmo não
lembrando deste ou daquele mandamento, se usarmos como parâmetro ou bússola, o
amor que Cristo ensinou e viveu, rapidamente seremos direcionados a decisão ou
ação que Deus Pai espera de cada um de nós.
Encerrando o Mês Missionário e trazendo na memória o Dia Nacional da
Juventude, fiquemos com a certeza que amar a Deus e ao próximo é
verdadeiramente nossa Missão!!
Encerremos
rezando a oração da coleta deste domingo: “Deus
eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e
dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis.”
Amém.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora
da Conceição – Farias Brito.
https://diocesedecrato.org/homilia-do-30o-domingo-do-tempo-comum-ano-a/
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