sexta-feira, 27 de outubro de 2023

REFLEXÃO DOMINICAL III: O PERFEITO CUMPRIMENTO DA LEI É O AMOR

 

REFLEXÃO DOMINICAL III:

O PERFEITO CUMPRIMENTO DA LEI É O AMOR

 “Amarás o Senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo.”

            Amados irmãos e amadas irmãs!

            A liturgia deste domingo Comum nos lembra, que o amor está no centro da vivência cristã. Por mais que tenhamos inúmeras normas morais e mandamentos diversos, em última instância o que Deus pede e exige é que deixemos o nosso coração ser inundado pelo amor. O Evangelho nos diz de modo claro que toda a revelação de Deus se resume no amor; amor a Deus que se reflete e transborda em direção aos irmãos. Os dois mandamentos são inseparáveis: “amar a Deus” é cumprir a sua vontade ou guardar seus mandamentos e vivenciar os mandamentos é estabelecer com os irmãos relações de amor, de solidariedade, de partilha, de serviço, de acolhida e até a entrega total da vida.

            O Evangelho de hoje (Mt 22,34-40) conduz nossa caminhada ao lado de Jesus, novamente em plena cidade de Jerusalém. São os últimos dias de sua missão. Apesar de toda iniciativa pedagógica de Jesus para alcançá-los através das parábolas sobre o Reino, todos os grupos que circulam ao seu redor já fizeram livremente suas escolhas: Os discípulos e apóstolos permanecem ao seu lado, a multidão curiosa se dissipou, os líderes religiosos e políticos decidiram que as suas ações são perigosas e não são uma proposta que vem de Deus. Decidem então que Jesus deve ser denunciado, julgado e condenado. Para realizar esse objetivo, procuram argumentos de acusação contra Jesus. Surgem três questões que Mateus nos apresenta como armadilhas que são convertidas por Jesus em oportunidades para catequese e evangelização: sobre o pagamento do imposto a César (cf. Mt. 22,15-22), a dúvida sobre a ressurreição dos mortos (cf. Mt. 22,23-33) e a dúvida sobre o maior mandamento da Lei (cf. Mt. 22,34-40).

            Os estudiosos contabilizavam no Antigo Testamento cerca de 613 preceitos: 365 proibições e 248 ações para se praticar. Por isto, é natural uma inquietação sobre qual mandamento seja superior ou mais importante. A resposta de Jesus, ultrapassa a pergunta.  O importante, no olhar do Redentor, não é indicar o mandamento mais importante, mas encontrar a fonte de onde emana todo os outros mandamentos. No seu olhar compassivo, está ligada a dois eixos inseparáveis: o amor a Deus e o amor ao próximo. A Lei e os Profetas são apenas comentários ou acréscimos a estes dois mandamentos. Os discursos e as ações de Jesus Cristo manifestam que nunca ele se preocupou demasiadamente com o cumprimento dos rituais da religião judaica e não foi escrupuloso com as ofertas materiais a Deus. A grande preocupação ou desejo de Jesus sempre foi discernir a vontade do Pai e a cumpri-la com fidelidade e amor.  Para ele “Amar a Deus” é, estar atento aos planos de Deus Pai e realizá-los, na vida diária. Na vida de Jesus, o cumprimento da vontade do Pai acontece quando se faz da vida uma entrega de amor aos irmãos e se for necessário até ao dom total de si mesmo.

            No entanto, esta atitude de Jesus Cristo não é novidade e tão pouco é expressão de desrespeito ou desprezo pela observância da Lei. Pelo contrário, é dar-lhe pleno cumprimento (cf: Mt. 5, 16-17). Na primeira leitura (Ex. 22,20-26) o autor do livro do Êxodo lembra-nos que Deus não ignora as situações de injustiça e de desrespeito pela dignidade dos mais pobres e dos mais fracos. Como exemplo são indicados o respeito aos estrangeiros, aos órfãos, as viúvas e os pobres explorados pelos gananciosos. O ensinamento dado aqui é bastante claro:  qualquer injustiça praticada contra um irmão pobre ou fraco é um crime grave contra Deus e sua Lei. Esta grave ação nos afasta da comunhão com Ele e exclui-nos da Aliança. Deus não aceita um mundo que tem como alicerce o sofrimento e a morte de quem não tem vez nem voz.  E para sermos fiéis a nossa fé, não podemos tolerar as situações que roubam a vida e a dignidade dos pobres.            Nas primeiras comunidades cristãs o apóstolo Paulo irá proclamar: “a plenitude da Lei é o Amor” (cf: Rom. 13,10). E antes de ser um apelo romântico e sentimental, esta afirmação paulina, nos diz que quando amamos o próximo e o respeitamos em seus direitos, estamos respeitando a Lei. Para São Paulo a comunidade cristã dos Tessalonicenses na Segunda Leitura (1Ts. 1,5c-10) é um exemplo concreto disto. Mesmo em meio ao ambiente de perseguição e de agressões do mundo pagão, a comunidade perseverou na vivência do Evangelho e construiu um caminho de amor e de doação em meio às alegrias e sofrimentos da própria fé. E o exemplo desta comunidade se tornou semente de fé e de amor e frutificou em outras comunidades cristãs que buscaram seguir seu exemplo. As afirmações de Jesus que repercutiram fortemente nas primeiras comunidades são claras: Amar a Deus significa não colocar nada acima de sua vontade salvadora. E realizar sua vontade é amar o outro como a mim mesmo. Isto significa um amor sem limites e que não distingue entre bons e maus, amigos e inimigos.

            Assim como o povo de Israel, ao longo de nossa caminhada como Igreja também acumulamos mandamentos, leis, preceitos, proibições, pecados e virtudes. Estas coisas se forem vividas apenas na frieza da letra escrita, isentas do calor da Caridade, podem se tornar um “fardo pesado” (Mt. 11,28-30; Mt. 23,3-5). Discutimos e dialogamos sobre importantes questões eclesiais (matrimônios para sacerdotes, ordenação de mulheres, o uso dos meios anticonceptivos, o que é ou não litúrgico e a organização hierárquica; estes são exemplos disto), mas esquecemos ou ignoramos convenientemente de discernir o que é essencial na proposta que Jesus Cristo apresentou.

            O que significa verdadeiramente “amar a Deus”? De acordo com o testemunho de Jesus, Ele que é o nosso modelo de fé, o amor a Deus passa pela escuta da sua Palavra, pelo acolhimento das suas propostas e pela colaboração concreta no seu plano de salvação. Estamos escutando suas propostas, procurando refletir, interiorizar e praticar a sua Palavra na vida cotidiana? Ou tentando fazer com que nossa vontade egoísta seja vista com sendo vontade de Deus?

            O que significa “amar os irmãos”? De acordo com o que Jesus ensinou e viveu, o amor aos irmãos se realiza no olhar que direciono a cada homem ou mulher com quem encontro pelos caminhos da vida – seja ele, branco ou negro, rico ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou inimigo, cristão ou não.  Este amor se concretiza em meio a solidariedade para com as alegrias e sofrimentos de cada ser humano, pessoas com as quais partilhamos as mesmas desilusões e esperanças de um mundo mais fraterno e justo. Nossa vida permanece sendo ofertada ao serviço dos irmãos, sem distinção de etnia, de cor ou de classe social?

            Em suma, lembremos o glorioso Santo Agostinho na Homilia sobre a Primeira Epístola de São João: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”. Somos uma comunidade eclesial, não somos uma repartição jurídica. Na vida cotidiana, mesmo não lembrando deste ou daquele mandamento, se usarmos como parâmetro ou bússola, o amor que Cristo ensinou e viveu, rapidamente seremos direcionados a decisão ou ação que Deus Pai espera de cada um de nós.

             Encerrando o Mês Missionário e trazendo na memória o Dia Nacional da Juventude, fiquemos com a certeza que amar a Deus e ao próximo é verdadeiramente nossa Missão!!

Encerremos rezando a oração da coleta deste domingo: “Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis.” Amém.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

https://diocesedecrato.org/homilia-do-30o-domingo-do-tempo-comum-ano-a/

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