IX- REFLEXÃO DOMINICAL IIo
28 de setembro – 26º
DOMINGO COMUM
Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Ensina-me,
Senhor, os teus caminhos (Sl 25,4)
I. INTRODUÇÃO GERAL
Os textos de hoje nos
mostram que o Reino de Deus entra em diálogo com o ser humano, para que este
possa distinguir entre o modo como se dá a ação divina e a maneira humana de
proceder. O ser humano é uma tarefa, ele nunca vai estar terminado; sua
existência no mundo é um constante fazer-se e refazer-se, baseado nas decisões
tomadas com livre-arbítrio.
Quem é bom pode deixar o
caminho do bem, e quem é perverso pode abandonar a vereda do mal. Por isso,
Deus está constantemente chamando o ser humano para que deixe os caminhos
tortuosos e diga um “sim” consciente e maduro, que seja realmente “sim”. Para
isso, Deus envia mediadores, na tentativa de chegar ao coração humano.
Contudo, as pessoas
podem recusar o chamado de Deus, fazer pouco caso de sua proposta ou até mesmo
ser hostis com os mediadores que ele envia. É sobretudo por orgulho que opõem
obstáculos à própria salvação. Por isso, exorta-nos o apóstolo: “Tende em vós
os mesmos sentimentos de Cristo”.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 21,28-32): João ensinou o caminho da justiça e
não acreditaram nele
Jesus, para nos instruir
sobre nossas próprias escolhas, conta-nos a parábola dos dois filhos que
mudaram de atitude. Deus nos fez livres. A salvação que ele nos oferece é puro
dom. Cabe-nos responder “sim” ou “não” a esse convite. O livre-arbítrio
possibilita ao ser humano acolher em sua vida o bom ou o mau caminho. Há sempre
a possibilidade de mudar de rumo. É isso o que nos mostra o texto. Ambos os
irmãos mudaram de rumo. Um fez a vontade do pai e o outro não.
Estar no rumo certo não
é sinônimo de segurança, pois podemos ser facilmente levados para outro
caminho, se não nos mantivermos atentos ao chamado constante de Deus. Por isso
a necessidade constante de conversão, porque não estamos prontos. E os que se
acham “santos” são muito facilmente propensos ao erro, mais do que os que têm
firme consciência das próprias limitações. Os “santos” acabam afogando-se na
sua soberba e se fecham à graça divina. Ao contrário, os pecadores são mais
abertos para acolher a graça, pois confiam apenas na misericórdia de Deus.
Fazer a vontade de Deus é muito mais acolhê-lo na vida diária do
que proclamar discursos vazios, destituídos de testemunho de vida. Deus nos
chama constantemente a viver seu amor na doação total de nossa vida ao irmão.
Deve-se viver esse chamado nos atos cotidianos, nas relações interpessoais, nas
próprias escolhas. Fazendo assim, caminha-se na justiça e no testemunho
fidedigno do Reino de Deus.
2. I leitura (Ez 18,25-28): Deus ensina o caminho aos pecadores
O texto começa com uma
estranheza: “O caminho do Senhor não é direito” (v. 25). Pensava-se dessa forma
porque Deus não fazia o que se esperava, a saber: recompensar o “justo” e
castigar os “injustos”. Esse modo diferente de Deus proceder irritava as
pessoas tidas como santas naquela época.
Por meio do profeta,
Deus toma a palavra e põe as intenções humanas às claras: os caminhos humanos é
que são tortuosos, mas, apesar disso, Deus continua chamando, respeitando o
livre-arbítrio e perdoando a cada um de seus filhos.
Em primeiro lugar, Deus
se dirige aos tidos por justos. O que se pode dizer de uma pessoa realmente
justa? Como pode ser qualificada uma pessoa convertida? Aquele que
aparentemente é santo e irrepreensível, e comete atos que fazem transparecer
grande maldade no coração, pode ser considerado justo ou convertido? Segundo o
texto que foi proclamado, a pessoa que se qualifica assim não é verdadeiramente
justa, e Deus, que tudo vê, considera os atos de iniquidade dela, não sua
suposta justiça externa.
Outros são tidos por
pecadores, hereges, infiéis, gentinha de má conduta. A estes Deus convida à
conversão e, caso tenham abertura para acolher o perdão divino, é-lhes
assegurado que não serão considerados os atos praticados numa vida desregrada,
muitas vezes afetada por condicionamentos sociais, religiosos e psicológicos.
Enfim, o texto bíblico
exorta todos à conversão, e a todos está destinado o perdão de Deus.
3. II leitura (Fl 2,1-11): O esvaziamento de Cristo nos ensina o
caminho para Deus
O apóstolo Paulo pede
aos filipenses que tenham os mesmos sentimentos de Cristo (v. 5). Com isso, ele
espera resolver o problema daquela comunidade: egoísmo e arrogância (v. 3) e
dissensões internas que ameaçavam o amor, a unidade e o companheirismo. Mas
quais seriam os sentimentos de Cristo que o apóstolo deseja inculcar nos
filipenses?
Para definir bem de que
se trata, Paulo usa o termo “esvaziamento” ou “abaixamento”, que significa
privar-se de poder ou abdicar de um direito que se possui. Cristo não se apegou
à sua condição divina nem usou dos privilégios dela em favor de si mesmo, mas
assumiu a existência humana como servo. O abaixamento de Cristo não é apenas
tornar-se humano, mas, além disso, tornar-se servo.
Isso caracteriza a
totalidade da vida de Jesus, que assumiu as limitações humanas e esteve à mercê
de nosso egoísmo e violência, responsáveis pela sua morte terrível na cruz.
Porque, acima de tudo, ele quis atender ao bem-estar e aos interesses dos
outros, em vez de ter interesses egocêntricos.
Esse modo de viver de
Jesus nos ensina o caminho para Deus. É descendo a escada da humildade que
ascendemos ao reino definitivo. Esses critérios são diferentes dos critérios
humanos, mas são o único e legítimo caminho para a verdadeira humanização e
para Deus.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O momento atual é
marcado por uma religiosidade intimista e subjetiva, de relacionamento
vertical: o indivíduo e Deus. Isso traz como consequência a ideologia da
prosperidade: “Eu não cometo pecados escandalosos e, em troca, Deus me abençoa
com o que quero”. Esse tipo de religiosidade suscita a ideia de um Deus
castigador, que está contra os “maus” e recompensa os “bons”. As leituras de
hoje mostram que tal pensamento é tortuoso e não representa os critérios de
Deus. Por isso é bom destacar na homilia a gratuidade, o cuidado com os mais
fracos, a tolerância e o diálogo que constroem comunidade.
Hoje é o dia da Bíblia,
palavra de Deus, “luz para os passos, lâmpada para o caminho” (Sl 119,105). Tal
data não deve passar sem algum destaque na comunidade. Há um clamor uníssono
para que a palavra de Deus seja o centro da vida e da missão da Igreja. Este
dia é ótima oportunidade para que sejam iniciados (ou melhorados) eventos que
destaquem a centralidade da palavra de Deus em toda a Igreja, começando pelas
comunidades mais simples e pequenas, até atingir o mundo inteiro.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em
Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde
também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns
anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro
Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).
E-mail: aylanj@gmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/28-de-setembro-26o-domingo-comum/
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