sexta-feira, 19 de setembro de 2025

XIV- SANTO AGOSTINHO O dever do Pastor segundo Santo Agostinho: distribuir o alimento do Senhor para os fiéis

 

XIV-   SANTO AGOSTINHO

 

O dever do Pastor segundo Santo Agostinho: distribuir o alimento do Senhor para os fiéis

 

Por Fr. Mario Sérgio OSA

“No Sermão 101, Santo Agostinho reflete sobre o papel do pastor como dispensador da Palavra de Deus, destacando a humildade, a fidelidade e a graça divina como fundamentos essenciais. O texto oferece um ensinamento importante sobre a unidade entre pastores e fiéis, todos servos de um único Senhor.”

 

 

O papel do pastor na Igreja é central para a formação, edificação e crescimento espiritual dos fiéis, como ensina santo Agostinho no Sermão 101, pregado em Cartago, no mês de maio do ano 397. O tema do sermão é a passagem do Evangelho de Lucas 10,2: “A messe é abundante, mas os trabalhadores são poucos. Rogai ao senhor da messe para enviar trabalhadores para a sua colheita.”

 

Agostinho, neste parágrafo, reflete sobre os deveres pastorais e a relação que deve haver entre pastores e fiéis. Neste breve artigo analisamos a visão de Santo Agostinho sobre a natureza e missão especifica de um pastor de almas, a partir do parágrafo 4 do citado sermão.

 

O sermão como um todo é bastante interessante e segue, como típico desse gênero literário, o texto bíblico de base que é sempre lido a partir de outros textos da Escritura. Para nós pode parecer estranho, mas o modus pensandi e interpretandi dos Padres da Igreja era diverso do nosso. Eles conheciam os textos de memória e iam associando, numa meditação fluida, textos com textos, graças a palavras chaves.

 

O dever do Pastor: trabalhar no campo do Senhor e servir os irmãos

 

Agostinho, inicia o seu sermão, comparando o pastor ao agricultor. Ambos têm a missão árdua de colaborar para que as sementes frutifiquem: “Compete, pois, a nós, postos pelo Senhor como operários em seu campo, ensinar-vos tais ações: semear, plantar, regar, cavar até ao redor de algumas árvores e pôr uma cesta de adubo” (Sermão 101,4).

 

Com humildade, Agostinho nunca deixou de enfatizar o ideal do serviço e da responsabilidade que lhe é vinculada. Além disso, ele, em muitos sermões, recorda do tempo que ele era um fiel como os outros, sentado nas fileiras e nos bancos e não na cátedra do bispo: “Quantos, de fato, entre esses fiéis poderão ser dispensadores? Nós também estivemos no lugar onde estais vós: nós, que agora somos vistos distribuindo o sustento aos nossos irmãos de um lugar mais elevado, até poucos anos atrás recebíamos esse sustento no lugar mais baixo com os nossos irmãos” (Sermão 101,4).

 

Essa metáfora do dispensador, isto é, aquele que cuidava da dispensa e tinha a missão de dar de comer aos outros, ilustra, segundo Agostinho, que o pastor deve dedicar-se ao cuidado do rebanho humildade, sabendo reconhecer o papel de ser apenas um servo do senhor e dos irmãos.

 

Mas Agostinho, como é típico do seu ensinamento, afirma o papel fundamental da graça nesse processo: "Ao Senhor cabe auxiliar nosso labor, a vossa fé, o comum esforço de todos nós para vencer o mundo por meio dele" (Sermão 101,4).

 

Ensinar e instruir: o pastor como um responsável da “dispensa divina”

 

O sermão 101, destaca, por um lado, que o pastor de almas deve ensinar o que é proveitoso e benéfico à edificação da fé. Por outro lado, Agostinho enfatiza que o pastor deve evitar cair na tentação de “pregar a si mesmo”, que digamos parece uma febre hoje em os nossos pregadores:

 

“O que vos dou, não o tiro da minha própria dispensa, mas daquele de quem eu próprio o recebo. Porque se vos desse do meu, estaria a dar-vos mentiras. Afinal, quem diz o falso, fala de si próprio” (Sermão 101,4).

 

O doutor da Graça com essa citação visava admoestar os pastores, reforçando a ideia chave sobre a necessidade dos pastores se manterem fiéis à Palavra de Deus, ensinando com autenticidade, sinceridade e verdade a palavra de Deus e não a sua.

 

Todos somos da mesma família de Deus

 

Agostinho, em seguida, sublinha a necessidade da caridade e da unidade entre pastores e fiéis, bem como o respeito mutuo, já que todos somos da mesma família de Deus e pertencemos ao único Senhor de todos: “Vós, de certo modo, fazeis parte de uma única família. Nós somos os dispensadores pertencentes à mesma família. Todos pertencemos a um único Senhor” (Sermão 101,4).

 

Alimentar-se com o mesmo Alimento

 

Dessa visão do hiponense, baseada na ideia da igualdade de todos os cristãos, ele deriva um ensinamento, muito esquecido hoje entre os pastores de almas: O pastor não está acima dos fiéis, mas é um dos membros da comunidade e se alimenta da mesma dispensa divina: “Antes de sermos dispensadores, fomos alimentados do mesmo sustento. Assim, o que damos, também recebemos” (Sermão 101,4).

 

Os pastores: administradores, não donos dos bens do Senhor

 

Agostinho, por fim, enfatiza que os pastores são administradores da graça divina, e não donos dela: “Se vos desse do meu, estaria a dar-vos mentiras. [...] Somos apenas distribuidores, e não donos da herança do Senhor” (Sermão 101,4).

 

Notemos que interessante essa perspectiva do bispo de Hipona. Ela deve servir como um aviso contra o autoritarismo ou qualquer forma de abuso, exercido pelos pastores de alma

 


Fonte Centro de Estudos Agostinianos

 

https://www.osabrasil.org/noticia/post/o-dever-do-pastor-segundo-santo-agostinho--distribuir-o-alimento-do-senhor-para-os-fieis

 

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