sexta-feira, 5 de setembro de 2025

XI- A BÍBLIA PARA OS CATÓLICOS I- O que é a Bíblia para os Católicos?

 XI-       A BÍBLIA PARA OS CATÓLICOS

 

I-                     O que é a Bíblia para os Católicos?

A Palavra de Deus revelada

A Bíblia é, para nós católicos, a revelação escrita de Deus à humanidade. Como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, as Sagradas Escrituras “são verdadeiramente a Palavra de Deus” 1, pois foram registradas sob a inspiração do Espírito Santo. A Bíblia contém em seus livros a “verdade divinamente revelada” (CIC 105), transmitindo o amor de Deus que deseja nos conduzir à plenitude da vida e da fé. Em cada palavra e cada passagem, encontramos o Pai que “vem amorosamente ao encontro de seus filhos, a conversar com eles” 2.

Contudo, a Bíblia não se interpreta por si só. A Igreja Católica ensina que a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição “estão intimamente unidas e compenetradas entre si” 3, derivando ambas da mesma fonte divina. Essa unidade torna-se plena e fecunda na vida da Igreja e no mistério de Cristo. A Tradição Apostólica, passada de geração em geração, guarda fielmente o ensinamento de Jesus e o testemunho dos Apóstolos, transmitindo-os até nossos dias.

A responsabilidade pela interpretação autêntica da Palavra de Deus foi confiada ao Magistério da Igreja, formado pelos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o Papa. O Magistério não está “acima da Palavra de Deus, mas ao seu serviço” 4, fiel ao mandato de ouvir, guardar e expor a Palavra com fidelidade. Dessa forma, os católicos acolhem a Bíblia, a Tradição e o Magistério como partes inseparáveis da fé, permitindo que a Palavra de Deus frutifique em cada coração e seja compreendida à luz do Espírito Santo e da comunhão da Igreja.

II-                    Estrutura da Bíblia

A Bíblia é dividida em duas grandes partes: o Antigo e o Novo Testamento. O Antigo Testamento compreende os livros que relatam a história do povo de Deus desde a criação do mundo até a preparação para a vinda de Cristo. Já o Novo Testamento narra a vida de Jesus, o início da Igreja e os ensinamentos para a vida cristã.

No Antigo Testamento, encontramos:

  • Pentateuco: os cinco primeiros livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que narram a criação, a história dos patriarcas e a aliança de Deus com Israel.
  • Livros Históricos: contam a história do povo de Israel, incluindo suas lutas, conquistas e infidelidades, do período de Josué até o exílio (Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1Macabeus e 2Macabeus).
  • Livros Sapienciais e Poéticos: oferecem sabedoria e orientação para a vida, além de orações e cânticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Eclesiástico e Sabedoria)
  • Livros Proféticos: escritos pelos profetas, que transmitiram a mensagem de Deus ao povo, chamando-o ao arrependimento e anunciando a vinda do Messias (Isaías, Jeremias, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, e Naum)

O Novo Testamento é composto por:

  • Evangelhos: relatos da vida, dos ensinamentos, da morte e da ressurreição de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas e João).
  • Atos dos Apóstolos: descreve a ascensão de Jesus e a expansão inicial da Igreja.
  • Cartas: escritas pelos apóstolos, principalmente por São Paulo, oferecem orientações doutrinárias e morais (Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas.)
  • Apocalipse: o último livro da Bíblia, que revela a vitória final de Cristo sobre o mal e o cumprimento das promessas de Deus.

Cada livro e cada divisão desempenha um papel essencial na compreensão do plano de salvação de Deus para a humanidade, formando o conjunto harmonioso da revelação divina.

III - Cânon Católico versus Cânon Protestante

A Bíblia católica e a protestante compartilham muitos livros, mas apresentam uma diferença no número total: o cânon católico possui 73 livros, enquanto o cânon protestante inclui 66. A principal divergência ocorre no Antigo Testamento, do qual a Igreja Católica reconhece 46 livros, e a Bíblia protestante, 39. Esses livros a mais na Bíblia católica são conhecidos como deuterocanônicos, que incluem: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus, além de trechos específicos dos livros de Ester e Daniel.

A origem dessa diferença remonta ao uso da Septuaginta, uma tradução grega das Escrituras hebraicas, feita antes de Cristo e amplamente utilizada pelos primeiros cristãos, incluindo os apóstolos. Essa versão continha os deuterocanônicos, que foram reconhecidos pela Igreja primitiva como parte da revelação divina. No século XVI, durante a Reforma, os reformadores protestantes decidiram adotar o cânon hebraico, excluindo os deuterocanônicos, por não serem aceitos no Judaísmo contemporâneo da época.

Na doutrina católica, os livros deuterocanônicos têm um papel importante. Eles apresentam ensinamentos que aprofundam verdades da fé, como a oração pelos mortos, encontrada no segundo livro de Macabeus 5, que apoia a doutrina do purgatório. Esses livros também ensinam sobre a sabedoria, a fidelidade a Deus em tempos de provação, e a busca pela justiça — temas essenciais para a vida cristã.

Assim, para a Igreja Católica, tanto os livros protocanônicos quanto os deuterocanônicos são igualmente inspirados. O Concílio de Trento (1546) reafirmou oficialmente o cânon católico, considerando esses textos indispensáveis para uma compreensão plena da revelação divina e para a edificação espiritual dos fiéis.

Conheça a diferença entre as Bíblias católica e protestante.

iv-          Como a Bíblia foi escrita?

Inspiração Divina

A Bíblia foi escrita por autores humanos, mas sob a inspiração direta de Deus. O conceito de inspiração divina significa que, embora os escritores das Bíblia fossem pessoas humanas com suas culturas, habilidades e estilos literários, Deus atuou neles e por meio deles para registrar Sua Palavra com precisão. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, Deus escolheu esses autores e trabalhou através de suas faculdades humanas, assegurando que eles escrevessem apenas o que Ele desejava comunicar. 6

Os livros da Bíblia não são meramente humanos; tudo o que está escrito nas Escrituras vem do Espírito Santo e foi escrito para revelar a verdade que Deus quer que conheçamos para nossa salvação. 7 Por isso, a Bíblia é considerada “sem erro” no que ensina sobre a verdade de Deus, pois cada palavra é inspirada por Ele e tem um propósito.

Ao mesmo tempo, Deus se adaptou à linguagem e aos modos de expressão de cada autor, falando “à maneira dos homens”. Por essa razão, para interpretar bem as Escrituras, é necessário compreender o contexto cultural e os gêneros literários de cada época, em textos históricos, poéticos ou proféticos. 8 Tudo isso enriquece a nossa compreensão da intenção divina e da mensagem original.

v-            Formação dos textos bíblicos

O processo de formação dos textos bíblicos passou por etapas longas e complexas, que envolvem desde a tradição oral até a compilação escrita dos livros. Inicialmente, as histórias sagradas e ensinamentos divinos foram transmitidos oralmente, de geração em geração, entre o povo de Israel. Essa tradição oral preservou, por meio de narrativas, cânticos, provérbios e leis, o relacionamento único entre Deus e Seu povo, assegurando que a memória dos atos divinos fosse mantida viva na comunidade.

Aos poucos, essa tradição foi sendo registrada por escrito, um processo que se iniciou em diferentes períodos e contextos históricos. No Antigo Testamento, os livros começaram a ser compilados durante épocas de estabilidade ou crise, como o exílio na Babilônia, em que o povo de Israel sentiu-se motivado a registrar suas tradições para não perdê-las. Autores e editores foram reunindo essas tradições, sob a inspiração divina, de modo que todos os textos refletissem a mesma verdade de fé, apesar das diferenças de estilo e de gênero literário.

No Novo Testamento, o processo foi semelhante. Após a vida, morte e ressurreição de Jesus, os discípulos começaram a transmitir oralmente as palavras e atos do seu mestre e, depois, dos primeiros apóstolos. Com o tempo, especialmente com a expansão da Igreja e a necessidade de preservar fielmente os ensinamentos de Cristo, esses relatos foram colocados por escrito, gerando os Evangelhos e as Cartas Apostólicas.

Esses textos não apenas respondem às necessidades das primeiras comunidades cristãs, mas também foram escritos em contextos históricos e culturais diversos, moldados pelas realidades de cada autor e localidade. Portanto, a Bíblia é um conjunto de livros escritos em tempos e lugares distintos, inspirados por Deus e compilados pela Igreja para nos transmitir a salvação e a verdade, de acordo com o plano divino de revelar Sua Palavra ao mundo.

·         O papel dos concílios na definição do Cânon

A definição dos livros inspirados que compõem a Bíblia, conhecida como o cânon, foi um processo cuidadoso realizado pela Igreja ao longo de séculos. Diante das várias escrituras usadas pelas primeiras comunidades cristãs, tornou-se essencial discernir quais textos eram verdadeiramente inspirados pelo Espírito Santo e dignos de fazer parte da Sagrada Escritura. Esse trabalho foi realizado sob a orientação do Magistério da Igreja, que, com a ajuda do Espírito Santo, identificou os livros que seriam oficialmente reconhecidos como Palavra de Deus.

O primeiro passo significativo ocorreu no Concílio de Hipona, em 393 d.C., quando a Igreja Católica fixou uma lista de livros inspirados. Este cânon incluía os livros que hoje compõem o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia Católica, incluindo os livros deuterocanônicos, que posteriormente foram contestados por algumas denominações protestantes. Essa definição inicial foi reafirmada no Concílio de Cartago, em 397 d.C., que consolidou a mesma lista, estabelecendo uma base para o cânon bíblico usado pela Igreja.

A definição do cânon foi solidificada no Concílio de Trento (1545-1563), em resposta aos questionamentos da Reforma Protestante. O Concílio de Trento reafirmou a lista tradicional, incluindo os livros deuterocanônicos, como parte integrante da Bíblia. Além disso, esse Concílio declarou oficialmente e de forma infalível o cânon da Bíblia Católica, confirmando a inspiração divina de todos os livros que fazem parte dela.

Assim, foi pela ação desses concílios, iluminados pelo Espírito Santo, que a Igreja definiu de forma inequívoca os livros inspirados, preservando a unidade da fé e assegurando que os fiéis pudessem confiar plenamente nas Escrituras como Palavra de Deus.

https://bibliotecacatolica.com.br/blog/destaque/biblia-para-catolicos/

(CONTINUA NO PRÓXIMO DOMINGO)

 

 

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