sábado, 29 de outubro de 2022

"A VISITA SURPRESA DO MESTRE À TERRA: COMO SERÁ ELE RECEBIDO!?"

 

"A VISITA SURPRESA DO MESTRE À TERRA: COMO SERÁ ELE RECEBIDO!?"

Por Lindolivo Soares Moura (*)

     "Nas favelas, no Senado, sujeira prá  todo  lado, ninguém respeita a Constituição Mas todos  acreditam  no futuro da nação" (Legião Urbana).

Desceu um dia o Mestre à terra a observar, se depois de tudo que lhes ensinara, os homens seus irmãos haviam aprendido a se amar. Como já houvera cumprido sua missão na Judéia, e tendo ouvido falar que Deus era brasileiro, concluiu que não haveria melhor lugar para "aterrissar" que aqui, nessas terras de além-mar. Ouvira também, que segundo dissera alguém, nesta terra de Cruz Santa desde que aqui se plante com certeza tudo dá. Pelo sim e pelo não - ser humano, Ele já sabia, é sempre uma interrogação! - optou por chegar em silêncio, na calada da noite e sem "Hosanas" prá cá e prá lá. Mal porém seus pés tocaram a terra foi surpreendido com dois pequenos grupos, bandeiras verde amarelas de um lado e branco e vermelhas do outro, que gritavam, xingavam e se agrediam mutuamente. A princípio imaginou que se tratasse de algum carnaval fora de época. Ensaiou dois passinhos prá cá, dois passinhos prá lá, mas percebendo-se muito fora do compasso, e esquecendo-se de que não estava na Judéia e sim no Brasil, julgou que aquilo seria querela simples, coisa de pequena monta entre judeus e samaritanos. Quando a brisa serena e a voz calma do Espírito sopraram aos seus ouvidos, lembrando-O de que estava no Brasil e não na Judéia, e que os tempos que aqui se vivia eram tempos de eleição, ficou um tanto ressabiado com o Pai, que antes d'Ele sair não lhe havia passado essa informação. Observou pela última vez a cena e concluiu: "então é isso, coisa da política", e seguiu em frente sem maiores transtornos ou preocupações. Alugou quarto numa pensão e foi logo repousar, visto que já era noite e precisava descansar. Fizera longa viagem - sem paradas, imagine! - sem contar as turbulências que tivera que enfrentar. Deixaria para o dia seguinte, aí sim com tranquilidade, a tarefa de observar.

 

Nem bem o sol nascera e lá estava Ele novamente de pé. Aprontou-se, tomou um rápido café, saindo então a caminhar pelas ruas e praças, templos e sinagogas, do centro à periferia, de um lado ao outro das guias. E lá se foi o primeiro dia. Mal retornou à casa foi direto para o quarto, preocupado em dar início ao seu relatório. E assim Ele escreveu: "primeiro dia: só vejo e ouço gritos e berros, confusão e gritaria. Por vezes desentendimentos, brigas, não aquelas aceitáveis e corriqueiras, fruto da humana natureza que é instinto e paixão; não, não estou falando destas. Estou falando de brigas estúpidas, sem sentido e sem razão perceptível, mentes exacerbadas, fora de controle, motivadas por nada mais que uma aparente antipatia. De irmão pra cima de irmão sem nenhuma explicação, sem nenhuma outra razão que uma razão desguarnecida, dominada pela emoção. 'ELES ESTÃO EM PERÍODO DE ELEIÇÃO'", ele se lembrou e fez questão de anotar com letras pequenas mas garrafais no cantinho da página daquele primeiro dia.

 

E assim foi. Dia após dia, no silêncio e no anonimato, Ele observava e ouvia tudo com calma, sem correria, e com diligente atenção. Em casa fazia questão de não perder o noticiário, em especial um horário para com o qual lhe haviam sugerido especial atenção: "horário eleitoral gratuito", ele registraria em seu relatório, onde políticos e candidatos a governo e governança apresentariam suas idéias, seus programas e suas propostas, assim como suas credenciais e realizações eventuais. Por dias a fio Ele assistiu, esperou, mudou de canal, mas nada disso adiantou. Pela tela desfilavam apenas brigas, ataques mútuos, mentiras, e por isso ele cochilou... Cochilou e dormiu, até que por fim se cansou. Cansado e decepcionado passou noites em oração, até que numa delas foi arrebatado pelo Espírito a um alto monte. Eis o que aos seus ouvidos o Espírito lhe soprou

- ou, melhor dizendo, a "dura" que Ele levou: "Nada de cair em tentação hein! Você aqui veio como 'observador', e não mais como Messias!Seu tempo já se cumpriu, e nada de nova chance, terceiro tempo ou prorrogação. Chega de teimosia: terminou sua missão!".

 

De volta à planície Ele até que "tentou" segurar as pontas por um tempo. Mas a serpente, que de boba não nada, e já havia aprontado das suas no paraíso, resolveu entrar em cena e aprontar também aqui na terra. Induziu-O a um sono profundo, e com astúcia e lábia mortífera destilou seu veneno: "Não és mais o Filho de Deus!? Ahhh, coitado! Vais ficar aqui quieto, parado e sem fazer nada, enquanto os lobos e as raposas lá fora fazem pequenique, banquete, sacrificando as ovelhas e os bois mais tenros, comendo alcatra, maminha, picanha e filet Mignon!? Vais jogar a toalha quando teu rebanho nunca esteve tão disperso, perdido e disseminado, indo direto para o abatedouro sem esboçar reação, sem que ninguém o impeça, defenda e lhe estenda a mão?". Acordou de sobressalto, suado, frio, quase congelado! "Jurou" pelo céu e a terra que daquele dia em diante as coisas seriam diferentes. Pensou e disse de si para si mesmo, baixinho, esperando que o Pai e o Espírito estivessem tirando uma sesta, ou quando não passeando juntos pelos jardins do paraíso: "Se mainha estivesse aqui - ouvira esse diminutivo carinhoso em algum lugar certa vez - certeza que ela aprovaria!". Tomou coragem, respirou fundo, e disse de si para si mesmo:  "Agora é comigo! Não vou fazer como fez Pilatos, lavar as mãos, tirar o corpo fora e deixar o circo pegando fogo! Ele é ele, uma raposa igual às outras, Eu sou Eu, o Messias e Filho de Deus!".

 

O fato é que no dia seguinte lá estava Ele nas escadarias de um grande templo, calças apertadas, mangas arregaçadas, cabelos ao vento e barba cerrada, e...surpresa! Uma voz que de mansa não tinha nada! Pelo contrário, parecia haver "encarnado" novamente aquele homem irado e contrariado com o que vira certa vez fazerem no templo os vendilhões. Rosto transfigurado - não de luz e beleza, como ocorrera um certo dia, mas de indignação e braveza - encarou os que ali se encontravam e disse baixinho, de si para si mesmo: "é agora! Seja o que Deus quiser!".

 

Aos poucos as pessoas foram se achegando: uns por pura curiosidade, outros por não ter o que fazer, outros por ver naquele barbudo e cabeludo uma estranha semelhança com um certo Galileu, outros ainda por querer saber se o seu  discurso seria de esquerda ou de direita, e outros simplesmente porque dormiam sempre ali mesmo, nos altos e baixos daquela mais do que nunca santa e abençoada escadaria. Elevou os olhos aos céus e tratou de não perder tempo: "Pai - Ele disse - eu te agradeço porque me ouvis! Sempre me ouves! Sei que minha missão era outra, mas as coisas mudaram! O circo está literalmente pegando fogo aqui em baixo! Permanecer em silêncio, quieto e sem fazer nada, seria no mínimo conspirador!  Aqueles que me confiaste, Pai, estão perdidos, se perdendo ou em vias de se perderem de vez! E queres saber por quê!? Porque lhes faltam líderes e lideranças de verdade, homens e mulheres dignos, sábios, probos e provados, pastores confiáveis e bem treinados"! O rebanho está todo disperso, inseguro, 'sem eira e nem beira' como dizem por aqui, sem ter para onde ir e tampouco a quem seguir! Resumindo e para ser breve, e para usar de mais uma expressão bem a gosto que aprendi,  está tudo e estão todos num "verdadeiro balaio de gatos!". Ah! Só mais uma coisa: por favor: não esqueças de pedir para o mano Espírito dar uma força extra e aparecer mais vezes aqui embaixo. E se não for pedir muito, peça pra Ele atender os pedidos que chegarem para Mim até a minha volta".

 

Baixou por um momento a cabeça em atitude de escuta, silencioso, como se conversasse com alguém que só Ele podia ouvir. Depois  arremeteu novamente a cabeça para o alto, transfigurou-se de todo e de vez, e como se desejasse que sua voz alcançasse os quatro ventos pôs-se a proclamar solenemente: "Aí de vós, políticos e lideranças de toda sorte e de todos os partidos, aí de vós! Fazeis prosélitos e mais prosélitos, e os tornais tão dignos de pena quanto vós mesmos! Cegos e hipócritas, como podereis guiá-los e orientá-los se vós mesmos não sabeis  como e nem direção!? Caireis todos no mesmo buraco, e não haverá quem de lá vos tire! Latis como cães, enquanto a caravana passa desgovernada rumo ao abismo, e não sois capazes sequer de corrigir-lhe o rumo! Apontais erros e defeitos nos demais, ciscos e "cisquilhos" nos olhos dos outros, e não enxergais a sujeira e a lama que contaminam os vossos!

 

Vossos discursos e vossas falas são como sepulcros caiados, bonitos e atraentes por fora, mas por dentro repletos de mentira e podridão! Ouvidos limpos e puros não mais vos podem suportar, tamanha a indecência e a baixaria que saem de vossas bocas! Pensais que estais em um circo, teatro ou picadeiro!? Quem vos outorgou permissão para abusar da mentira, manipular os números e agir como se vivêsseis numa terra sem lei e de ninguém!? Apontais o dedo sem apontar propostas, programas, caminhos e alternativas de solução! Incitais o ódio, a vingança e a intolerância, enquanto zombais da justiça e praticais o mal e a perversão! Basta de tanta sujeira, jogo sujo, roubalheira, enquanto vos proclamais santos e salvadores da nação! Hipócritas! Não podeis servir ao mesmo tempo dois senhores, num dia sujando vossas mãos com a rapina do ouro e da prata, e no outro tentando purificar vossos pés seguindo a marcha das romarias e procissões! Aí de vós se não vos revestirdes de sacos e cobrirdes de cinza o vosso rosto! Aí de vós!".

 

Inclinou levemente o rosto para o lado como se quisesse se dirigir diretamente a algum grupo em especial. Fixou-lhe os olhos e continuou: "Ai também de vós Escribas e Fariseus, Diáconos, Bispos, Presbíteros e Saduceus! Fazeis dos altares palanques, de onde proferis discursos distorcidos e falas tendenciosas, comprometidos com o reino dos homens e não com o Reino de Deus! Colocais mais esmero em fazer prosélitos e adeptos para vossos escolhidos, do que em  seguidores e discípulos meus! Escutai-me, e não vireis para o lado o vosso rosto, vós que de dia vestis a túnica e a estola e na calada da noite marcais presença em reuniões de seitas infiéis e facções criminosas! Vós que vos revestis do hábito, da túnica e da correia, e depois vos sentais à mesa com confrarias enganosas e suspeitosas, a quem chamais de viramos', mas que não temem em pronunciar o nome de Deus em vão! Ai de vós que descurais do rebanho e o deixais vulnerável e à mercê das investidas de lobos, predadores e animais de rapina. Vossa desgraça será ainda maior no juízo oportuno que sobre vós há de recair. Cobrais do órfão e da viúva cada centavo do dízimo e dizeis: 'é corban!', e depois saqueais as ofertas e as desviais para vossos cofres a fim de levantardes celeiro sobre celeiro sem que ninguém o saiba! Ai de vós todos, se também não vos revestirdes de sacos e cobrirdes com cinza o vosso rosto! Grande será o vosso castigo e maior ainda a vossa ruína!".

 

Virou-se uma vez mais, agora para o lado oposto, e como se desejasse apontar com os dedos certa gente, continuou a bradar ainda mais veemente: "Que direi de vós, Juízes e tribunais iníquos, a vós a quem foi outorgada a missão de praticar o Direito e distribuir a justiça! Não está escrito que a vós vos cabe por função tão somente interpretar e aplicar as leis!? No entanto vós o fazeis de forma tão elástica e distorcida que acabais vos tornando verdadeiros legisladores! E o que é ainda pior, em causa própria e para servir vossos senhores! O grito dos inocentes tem chegado até mim, e Eu bem sei com que força e vigor! Tratais e julgais com rigor extremo aqueles que por vezes tomam para comer, saciar seus filhos e sobreviver, enquanto fazeis vista grossa para com aqueles que roubam milhões, expoliam meu povo e o mantém cada vez mais pobre e miserável! Não fazeis o mesmo também vós!? Ou acreditais que vossos crimes e delitos a mim hão de passar despercebidos!?Manipulais os códigos, as leis e as constituições, e por causa de vossas maculadas e distorcidas interpretações o criminoso anda à solta e o inocente é mantido nas prisões! Juro por mim mesmo que não havereis de ficar impunes! E quanto menos impunes permanecerdes em meio aos homens, maior serão a pena e o castigo que recebereis! Bebereis do vosso próprio veneno: não foi dito de vós que "seríeis como deuses"!? Se sois das alturas tanto maior será a vossa queda, e pior ainda há de ser a vossa ruína! Das profundezas clamareis, mas não haverá quem vos ouça! Devereis antes pagar por vossos crimes e vos penitenciar por vossos pecados! E antes que cada uma das minhas palavras se cumpra, não vos enganeis: de lá não saireis! Pobres também de vós se não vos converterdes e deixardes de praticar o quanto antes vossas deliberações injustas e vossas iníquas ações! Pobres de vós!".

 

Desviou ainda o olhar como se quisesse falar a todos por igual e a ninguém em particular. Tomou fôlego e prosseguiu: "E vós que semeais joio, cizânia, e todo tipo de erva daninha, escutai com atenção o que vos tenho a dizer! Esperais a calada da noite para esparramar em meio ao trigo a vossa má semente, enquanto durante o dia fazeis uso criminoso e nefasto de vossa inteligência para municiar complexas máquinas com mentiras, calúnias e falsidades! Por vossa maldade o justo e o reto agora incorrem no erro e na enganação, escolhendo mal quando gostariam de se decidir pelo bem! Dizei-me, Eu vos pergunto: a quem deverei imputar tão grande culpa, a eles ou a vós? Se não me respondeis vos respondo Eu: não a eles, mas a vós! A parte que a eles cabe, a vós acrescentarei!Pagareis por eles e por vós mesmos, Eu o Justo assim o decretei! A verdade que ocultastes, a mentira que semeastes, assim como cada calúnia, falsidade, injúria e difamação, delas uma por uma tereis que prestar conta!  Esquecestes-vos do que foi dito: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"!? Ignorais os meus preceitos como faz o ladrão, que escarnece da justiça e zomba da punição! Por terdes semeado em meio à boa semente, semente má, é que já não se distingue mais com clareza o trigo do joio, a verdade da mentira, o cordeiro do lobo e a boa da má intenção. Por causa disso deturpou-se a visão do justo e tornou-se confusa e embaralhada sua percepção. E assim ele acaba sofrendo ainda mais, em razão de suas equivocadas escolhas e comprometedoras decisões.

E não vos iludais: junto com meu povo vós também sofrereis! Oxalá vos arrependais a tempo, e quem sabe Eu não vos poupe do castigo que mereceis! Aí também de vós, se não renunciardes a tempo às vossas práticas iníquas que induzem ao erro e atraem danação! Ai de vós!".

 

Por fim dirigiu fixamente o olhar para aqueles que agora pareciam ouvi-lo com mais atenção. Sua voz se mantinha ainda firme, mas seu rosto sugeria afeto e predileção: "E vós, filhos e filhas desta geração! Não vos esqueçais - bradou bem alto - que esta grande nação, hoje prostituída, grande dama já foi um dia! Por qual razão vos perseguis mutuamente, e por bem pouco nãos vos matais uns aos outros, irmão contra o próprio irmão!? Enquanto fazeis isso aqueles que vos enganam se riem, zombam de vós e se banqueteiam! Pobres também de vós! Desejaria Eu reunir-vos novamente como um só povo e uma grande nação! Mas por agora vossas mentes e vossos corações estão abarrotados de ódio, intolerância, vingança e retaliação! Não por vossa própria culpa, bem o sei, mas porque fostes e continuais sendo orientados por guias falsos, pastores cegos,  líderes inescrupulosos que desconhecem princípios e violam as leis, desdenham da justiça e compram sentenças, agindo com perfídia e má intenção. Aí de vós, eu vos digo, por largo tempo sofrereis ainda em suas mãos! Eu porém vos asseguro: não vos desespereis, pois no tempo certo conhecereis a vossa libertação! Pela hora, não me pergunteis, pois tampouco a mim foi dado conhecê-la. Gerações e gerações talvez sejam necessárias para que essa raça de serpentes venenosas e víboras peçonhentas desapareça de vez! Quando sobrevier esse tempo sereis então aliviados do pesado jugo que carregais sobre os ombros, e definitivamente libertados da escravidão. Escravizaram os pais e agora escravizam os filhos, uma a uma, geração após geração! Enquanto aguardais que o tempo se cumpra Eu vos advirto: guardai-vos de todos aqueles que vos impõem pesados fardos e não são capazes de levantar um dedo sequer para diminuir vosso sofrimento e minimizar vossa servidão! Cuidai-vos de não vos deixar enganar por suas palavras e seduzir por suas promessas! São mestres da retórica e da eloquência, do convencimento e da persuasão! Proferem discursos arrebatadores mas igualmente enganadores, e de suas bocas saem juras que jamais cumprirão! Acautelai-vos deles como a serpente se mantém precavida para com seus predadores! Cedo ou tarde eles tentarão entrar em vossas casas, arrombar vossas portas, violentar vossos filhos e filhas e sair de mansinho, às escondidas, como faz o ladrão!".

 

Nesse momento um burburinho nascido não se podia saber de onde começou a emergir em meio à multidão. Fez silêncio como se desejasse ouvir melhor, e o que pôde discernir foram duas ou três palavras que deixaram inquieto seu coração: "vamo-nos daqui - disse alguém a outro alguém -  não tarda para que logo tudo isso se transforme em confusão!". Três ou quatro ao seu lado, que a princípio Lhe pareciam os mais atentos, foram saindo juntos, de mansinho, numa atitude que Lhe soou suspeita e estranha. A imagem do antigo traidor povoou por alguns segundos sua imaginação. Ainda um pequeno grupo que mal chegara, aparentemente de ministros sagrados, mantenedores da ordem e alguns engravatados, cochichavam entre si buscando acordo sobre o que fazer com Ele. Como já haviam presenciado palavras e atitudes parecidas, estranhas mas não ameaçadoras, de um  certo Pokemon que como Ele aparecera de imprevisto pela região, resolveram deixá-Lo em paz. Decidiu entretanto que seria melhor não realizar nenhum milagre ou sinal à vista deles. Uma jovem porém, que segundo diziam há anos era de tal forma consumida pelas drogas e a prostituição, que mais parecia estar "possuída" que desmilinguida, aproximou-se discretamente por trás e Lhe tocou as vestes, pondo-se a correr em seguida sem rumo e sem direção. "Alguém me tocou!", disse Ele, tentando identificar com o olhar quem o fizera, mas foi em vão. "Acabarão por prender ou matar esse homem!", foram as últimas palavras que conseguira ouvir.

 

Quando uma branca pomba voou rasante por sobre Ele, e a lembrança de uma antiga cruz passou velozmente por sua cabeça, decidiu que talvez fosse ora de deixar aquele lugar. Abrindo alas e passando solenemente no meio deles, como se de autoridade para isso tivesse sido revestido, atravessou toda a praça e seguiu direto para casa. Antes mesmo que se jogasse à cama, exausto que estava e carente de recobrar as forças para enfrentar o amanhã de um novo dia, a campainha do quarto tocou. "Quem é?", perguntou enquanto à porta se dirigia. "Pizza, pizzaria", foi a resposta. Tinha certeza de não haver feito pedido algum. "Não só de pão vive o homem!", sussurrou com um sorriso maroto para si mesmo. Ato continuo, acossado pela fome acrescentou: "mas também!". Abriu a porta, saiu, e dele nunca mais falar se ouviu!

 

                           L.S.M. Outubro,Eleições 2022

 

(*) Enviado por whatsapp

 

 

 

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