sábado, 8 de outubro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL III

 

REFLEXÃO DOMINICAL III

A graça de Deus e nosso agradecimento

 

A história de Eliseu e Naamã, tema da 1ª leitura de hoje, mereceria mais carinho do que a liturgia lhe consagra. De fato, o recorte litúrgico exige pelo menos uma pequena introdução narrativa, para pôr os ouvintes a par do que precedeu à entrada de Naamã na água do Jordão: como este estrangeiro criou a idéia de consultar um profeta de Israel e, sobretudo, como ele queria montar o espetáculo, levando ricos presentes (2Rs 5,5).

Queria que Eliseu o curasse por sua palavra, mas Eliseu o mandou banhar-se no Jordão, para que ficasse claro que não era Eliseu quem curava, e sim, o Senhor de Israel e das águas do Jordão. O general, apertado, aprendeu a obedecer. Veio a hora de agradecer: novamente, Naamã oferece um presente digno de um príncipe.

Eliseu recusa, pois quem agiu foi Deus! Então vem o comovente fim da história: curado, não só de sua lepra, mas de seu orgulho de militar, Naamã pede para levar à Síria um pouco de terra de Israel, para adorar, na Síria, o Deus de Israel no seu próprio chão. Além disso, pede antecipadamente perdão porque, como funcionário real, terá que adorar de vez em quando o deus sírio Remon; e Eliseu responde: “Pode fazer tranqüilamente”…

As lições desta história são diversas. Aparece a gratuidade do agir de Deus: nem presentes, nem ordens o movem, mas a ingênua confiança que se esconde por trás das manias militarescas de Naamã. A humildade do profeta, que só quer que Deus apareça. A comovente gratidão do sírio. A abertura de espírito do profeta quanto às obrigações religiosas do sírio. O fato de ele ser estrangeiro: Deus “não tinha obrigações” para com ele.

O evangelho lembra esta história sob vários aspectos. Trata-se de lepra. Dez leprosos são curados, não imediatamente (cf. Naamã), mas somente depois de ter mostrado uma confiança inicial, tomando o caminho para se mostrar aos sacerdotes. Porém, quanto ao tema da gratidão, somos mais chocados que comovidos: só um dos dez volta para agradecer. Por sinal, um estrangeiro, samaritano (cf. Naamã). Parece que a graça de Deus é melhor acolhida pelos estrangeiros. E é verdade, mesmo. Pois eles se sabem agraciados. Não têm privilégios. As pessoas da casa acham que tudo o que recebem é “por direito” e que, portanto, não precisam agradecer. Esquecem que tudo é graça. Acham que estão quites quando cumprem as prescrições: mostrar-se aos sacerdotes. São absorvidos por seu próprio sistema. Por isso, se diz que os piores cristãos moram o mais perto da Igreja: apropriam-se da religião e esquecem o extraordinário de tudo o que Deus faz.

Gratuidade do agir de Deus, gratidão por tudo o que Deus faz: tudo é graça. Estes seriam os temas de reflexão para hoje. E o dia indicado para ler o belo prefácio comum IV: agradecemos a Deus até o dom de O louvar! Também a oração do dia participa deste tema: a graça de Deus deve preceder e acompanhar nosso agir; devemos estar atentos ao bem que “podemos” fazer, isto é, que Deus nos dá para fazer, como um dom.

Graça, gratuidade, gratidão, agradecimento: é o momento de ensinar ao povo o parentesco, não apenas etimológico, mas vital, destas palavras. Na 2ª leitura, o testamento de Paulo chega ao mais alto grau de condensação: Paulo confia a seu cooperador, Timóteo, “seu evangelho”, o anúncio da ressurreição de

Cristo, que garante também nossa ressurreição, se ficarmos firmes na fé nesta palavra. As últimas frases formam um hino (2Tm 2,11-13). A palavra que é verdadeira nos ensina: se morrermos com Cristo, viveremos; se formos firmes, reinaremos com ele; se o renegarmos, ele nos renegará; – e agora vem uma quebra surpreendente nos paralelismos – se formos infiéis, ele será… fiel! pois não pode negar seu próprio ser! Esta 2ª leitura, que interrompe a unidade temática da 1ª e 3ª leituras, porém rica demais para ser suprimida, poderia ser um belo texto de meditação, depois da comunhão.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Mensagem: Gratidão

 

A 1ª leitura nos oferece uma das mais belas histórias do Antigo Testamento. Naamã, general sírio, foi curado da lepra pelo profeta israelita Eliseu. Para mostrar a sua gratidão, levou consigo para a Síria, nos seus jumentos, uns sacos cheios de terra de Israel, para, lá na Síria, adorar o Deus de Israel no seu próprio chão! Em contraste com este exemplo de singela gratidão, o evangelho narra a história dos dez leprosos que foram curados por Jesus e dos quais apenas um voltou para agradecer. E esse que voltou para agradecer era, por sinal, um estrangeiro (como o general sírio), pior, um samaritano, inimigo do povo de Jesus…

A gratidão é uma flor rara. Brota, frágil e efêmera, nas épocas de trocar presentes (Natal, Páscoa…), mas desaparece durante o resto do ano. Quase ninguém agradece pelos dons que recebe continuamente, dia após dia: a vida, o ar que respira, os pais, irmãos, vizinhos… As antigas orações estão cheias de ação de graças. O próprio termo “eucaristia”, que indica a principal celebração cristã, significa “ação de graças”. Hoje em dia, quando se faz uma ação de graças partilhada, a maioria das pessoas não consegue formular um agradecimento… Numa missa, depois da comunhão, o padre convidou os fiéis a formular orações de louvor e gratidão, não de pedido. A primeira voz que se fez ouvir rezou: “Eu te agradeço, Senhor Deus, porque sei que te posso pedir por meu marido e meus filhos….” Se fosse apenas o costume de pedir, não seria grave. Pedir com simplicidade é o outro lado da gratidão. Mas a mania de pedir sem agradecer reflete a mentalidade de nosso ambiente: sempre querer levar vantagem. Será por causa das dificuldades da vida? Mas os que têm a vida mais folgada é que mais pedem sem agradecer… Falta motivação para se dirigir em simples agradecimento àquele que é a fonte de todos os bens. Talvez não seja apenas a gratidão que desapareceu. Receio que Deus mesmo tenho sumido dos corações.

Não só as pessoas individuais, também as comunidades eclesiais devem precaver-se desse perigo. Lutar pelo amor-com-justiça é bom e necessário, mas luta deve estar inspirada pela visão alegre e alentadora do bem que Deus dispõe para todos, e não pela insatisfação e frustração. Um espírito de gratidão pelo que já se recebeu, em termos de solidariedade e fraternidade, é o melhor remédio para que a luta não faça azedar as pessoas. Então, a desgraça que se vive não abafará a gratidão; será apenas um desafio a mais para que tudo o que fizermos seja uma ação de graças a Deus, conforme a palavra de Paulo (2ª leitura).

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes.

 

https://diocesejacarezinho.org/2019/10/28o-domingo-do-tempo-comumano-c/

 

 

 

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