sábado, 8 de outubro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL I

 

REFLEXÃO DOMINICAL I

A CURA DOS LEPROSOS

- A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os seres humanos, sem exceção. Reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.

 

- A primeira leitura revela que só Deus oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem exceções. Ao ser humano resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-lhe gratidão.

 

- A leitura descreve a cura do sírio Naamã e as reações das várias personagens envolvidas; mas, mais do que apresentar uma reportagem do acontecimento, os autores deuteronomistas quiseram tecer algumas considerações de caráter teológico e catequético, que ajudassem os israelitas (seduzidos pelo culto de Baal) a redescobrir os fundamentos da sua fé.

 

- Naamã não ficou só curado de uma doença física que punha em risco a sua vida; mas a intervenção de Deus trouxe numa transformação espiritual que fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a deixar os ídolos para servir o verdadeiro e único Deus. A expressão dessa mudança radical é a afirmação de Naamã de que "não há outro Deus em toda a terra senão o de Israel" (v.15) e que nunca mais irá "oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas ao Senhor, Deus de Israel" (v.17).

 - A história também deixa claro que a oferta da salvação não é um dom exclusivo, reservado a alguns privilegiados ou a uma raça especial: Naamã é sírio e, portanto, um inimigo tradicional do Povo de Deus. Mas Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem exceção, a sua graça. O que é decisivo é o acolher o dom de Deus e aceitar deixar-se transformar por ele.

 

- A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.

 

- O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através dele descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.

 

- No "caminho" de Jesus e dos discípulos para Jerusalém aparecem dez leprosos. O leproso é, no tempo de Jesus, a imagem do marginalizado. Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual (cf. Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados especialmente gravosos (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por isso, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a fim de não tirar a pureza da cidade santa. Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.

 

 - O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa "totalidade" (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o "dez" representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do "Povo eleito", mas se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.

 

- Como lidamos com aqueles que a sociedade de hoje considera "leprosos" e que, muitas vezes, se encontram numa situação de exclusão e de marginalidade (os sem abrigo, os drogados, os deficientes, os doentes terminais, os idosos abandonados em lares, os analfabetos, os que vivem abaixo da pobreza etc)?

 

- Curiosamente, os dez "leprosos" não são curados imediatamente por Jesus, mas a "lepra" desaparece "no caminho", quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo (o "caminho" define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a nossa "cura" não é um momento mágico que acontece quando somos batizados, ou fazemos a primeira comunhão ou somos crismados; mas é uma caminhada, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.

 

http://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2022/08/09_10_22-1.pdf


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