sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

REFLEXÃO DOMINICAL II Ir ao encontro do Senhor que vem

 

 

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL  II

Ir ao encontro do Senhor que vem

O Advento, neste ano B, mostra um certo clímax. No 1º domingo, sugere-se uma atitude de preparação geral para o encontro final com o Senhor. Nos domingos seguintes, a preparação se torna sempre mais concreta: a conversão, a consciência de que ele está no meio de nós, e, finalmente, o “sim” do homem, pronunciado por Maria, para que sua presença se realize como cumprimento das promessas.

O 1º domingo transborda de confiança. A vinda do Senhor não é, para o cristão, uma razão de medo e terror, mas de alegre esperança. O desejo da vinda do Senhor expressa-se de maneira apaixonada na 1ª leitura: “Se rasgásseis os céus”: com estas palavras, o profeta desafia Deus para vir em socorro de seu povo humilhado, a terra de Judá, desarticulada nos anos imediatamente posteriores ao exílio e esperando a restauração nacional. Chega de castigo. Sabemos que somos fracos, como um vaso de barro; mas será isso uma razão para o oleiro desprezar a sua obra?

O encontro definitivo com Deus, o “Dia”, significa, para o cristão, a plena manifestação daquilo que Cristo iniciou e, depois de sua elevação na glória, confirmou nos seus fiéis. Quando Paulo contempla os seus fiéis de Corinto, ele tem que dar graças por tudo isso, proclamando a fidelidade de Deus à obra iniciada. E faz votos de que eles sejam “irrepreensíveis”. Mas essa expectativa do encontro definitivo, muito viva entre os primeiros cristãos, não é um entusiasmo cego. Cristo veio inaugurar a presença do Reino de Deus, e seus discípulos, iluminados pelo Espírito de Pentecostes, entenderam que, depois de sua elevação na glória, ficava para eles a missão de continuar o que ele fundara. Ele é como o dono de uma empresa, que viajou ao exterior, deixando a seus funcionários o cuidado da empresa (“e ao porteiro a ordem de vigiar”, acrescenta o texto de Mc 13,34 aludindo, provavelmente, à responsabilidade dos que detêm o “poder das chaves”).

Enquanto o Senhor está fora, nós somos os responsáveis do Reino. Cristo veio, a primeira vez, para nos revelar o sentido verdadeiro do esperado Reino de Deus: revelou que “a causa de Deus é a causa do homem”, e onde se realiza o amor que Deus tem pelo ser humano, aí também está presente o Reino (evangelho). Agora, na ausência de Cristo, podemos inverter a relação: nós devemos assumir como nossa a causa de Deus (que não deixa de ser a causa do homem). Isto é a “vigilância escatológica”: estarmos ocupados, diligentemente, com o Reino que Cristo mostrou presente, enquanto vivemos preparando-nos para o encontro com ele.

Assim, notamos também a diferença entre a esperança do A.T. e a plenitude do Reino na perspectiva do N.T. A 1ª leitura descreve ainda a esperança de uma intervenção de Deus para, de maneira sensacional – rasgando os céus -, resolver os problemas de seu povo. No N.T., a vinda de Cristo, como “lugar-tenente” de Deus, no fim dos tempos, não tem em vista assumir as nossas funções (isto já o fez da primeira vez), mas sim, encontrar-nos ocupados com seu Reino.

Portanto, se a existência cristã é marcada fundamentalmente pela perspectiva escatológica, esta não significa que podemos cruzar os braços esperando que Deus venha resolver nossos problemas, no seu Dia. Significa, antes, o contrário. Significa que nós nos devemos empenhar em realizar aqui o que ele veio fundar. A parte de Deus, no “empreendimento escatológico”, já está garantida, Cabe a nós agora executar a nossa. E o encontro definitivo com Deus, que é a luz decisiva de nossa existência, ratificará a execução daquilo que nos foi confiado. Ora, não sabemos quando será esse encontro definitivo, nem sabemos por quanto tempo Deus nos confiou sua empresa. A única maneira para que possamos entregar-lhe um relatório que corresponda àquilo que ele espera é: nunca faltar no serviço. Viver cada dia de nossa existência como se fosse o último. A vinda do Senhor é hoje!

Assim, este primeiro domingo do Advento e do ano litúrgico nos coloca na presença permanente de Deus como sentido último de nossa existência e atuação em cada momento. Ora, como esta presença é uma alegria, o momento presente do cristão deve ser marcado pela alegria da presença do Senhor que encontra seu servo empenhado em sua causa.

A oração final da presente liturgia o diz muito bem: “amar desde agora as coisas do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”. Quem não observa todo o espírito do Evangelho poderia ler isto num sentido alienante: evitar as coisas deste mundo para só pensar no céu. Porém, as coisas que não passam encontram-se já aqui, na terra! Devemos amar o céu que já está aqui, na causa do Reino que Cristo nos confiou, a causa de seu incansável amor para todos, a começar pelo último.

https://diocesejacarezinho.org/2014/11/homilia-1o-domingo-do-advento/

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