VII-REFLEXÃO DOMINICAL II:
"NÃO O PROIBAIS!"
Sempre tive um espírito ecumênico,
desde a minha infância nos anos 60, quando os ânimos eram muito acirrados entre
nós católicos e os cristãos de outras Igrejas. Meu saudoso Pai, de quem eu
herdei o legado da fé e das virtudes do evangelho, era de linha tradicional e
na casa de esquina em que morávamos na Vila Albertina, quando os irmãos
evangélicos nas tardes de domingo vinham fazer suas reuniões com pregações e
hinos, ele nos levava para os fundos do quintal para que não corrêssemos o
risco de nos desviar da fé católica.
Certa ocasião, fui em um culto
festivo da Igreja Presbiteriana e descobri que lá também falavam de Jesus e do
seu santo evangelho, e a partir daí, na minha cabeça comecei a questionar: por
que nós os chamávamos de “irmãos separados”? De 1995 a 2003, coordenei a Dimensão
Ecumênica Diocesana a pedido do Bispo D. José e incentivado pelo Padre João
Alfredo. Participei do grupo do falecido D. Amauri – que coordenou esta
dimensão no Regional Sul 1 da CNBB. Com ele muito aprendi e em nossos encontros
anuais em Itaici, que reunia trezentas pessoas de treze Denominações religiosas
diferentes, vivíamos um verdadeiro céu de comunhão e alegria, amadurecendo
assim o meu ideal ecumênico.
Os cristãos mais
tradicionalistas, tanto católicos como evangélicos muitas vezes não vêem com
bons olhos o ecumenismo. Os mais fanáticos e radicais inventam mil e um
argumentos para não se “misturarem” com quem não aceita e não professa as
verdades da sua igreja, preferindo ver na pessoa do outro um inimigo da fé.
Quanta falta de caridade e quanta ignorância!
Fechados em suas velharias
religiosas não conseguem perceber que a graça e a Salvação que Jesus nos
trouxe, está acima de qualquer doutrina ou instituição humana. Anunciam um
Jesus, que com sua morte e ressurreição fez do Judeu e do pagão um só homem,
entretanto vivem divididos por causa da intolerância e da crença em um céu
particular e exclusivo, que receberão das mãos do próprio Deus como “prêmio”
pela sua virtude e fidelidade. Esbarrei e convivi com pessoas assim na minha
igreja e nas demais que andei visitando, aliás, há duas coisas que fazem esses
cristãos torcerem o nariz: falar sobre ecumenismo e política! Esse fanatismo
religioso já vem do grupo dos discípulos, que no evangelho desse domingo
demonstram indignação ao verem um homem que pregava e realizava curas em nome
de Jesus e o proíbem severamente de continuar e depois, orgulhosos pelo
“feito”, vão informar a Jesus que lhes censura “Quem não está contra nós, está
a nosso favor!”.
Do mesmo modo, na primeira
leitura, Josué demonstra-se indignado ao tomar conhecimento de que dois homens,
Eldad e Medad, cujos nomes constavam na lista, mas que não foram para a reunião
da tenda, estavam no acampamento profetizando porque tinham recebido o espírito
que Deus havia derramado sobre os anciãos. Fez a denúncia a Moisés, que em
resposta manifesta o seu desejo de que todo o povo de Israel profetizasse
movido pelo Espírito de Deus, que nunca foi e jamais será monopólio de ninguém.
Qualquer gesto de aceitação da
Boa Nova, ainda que seja apenas um copo de água fria, não ficará sem recompensa
– afirma Jesus, mas dos seus seguidores ele exige uma atitude radical a favor
do bem, da vida e da comunhão entre as pessoas. As sementes do Reino de Deus
foram espalhadas por Cristo em todas as nações da terra e, portanto, em todas
as culturas e línguas temos a prática do bem. Vivemos em um mundo onde as
pessoas se fecham e constroem barreiras ou abismos em seu redor, para que
ninguém se aproxime.
É nesse sentido que podemos
escandalizar e levar ao pecado um desses pequenos, se ao invés de construir
pontes, nós cavamos abismos e levantamos muros da indiferença, da rejeição e do
desprezo, até mesmo em nossas comunidades. Mãos, pés e olhos são essenciais na
comunicação com os irmãos, os pés podem aproximar-se ou tomar distância, as
mãos podem se estender em um gesto de abertura e acolhimento ou fazer um gesto
agressivo, os olhos podem olhar para o outro com um espírito de comunhão ou
então de desprezo e frieza. No pecado da divisão entre os cristãos, todos têm
parcela de culpa.
A tentação de olhar para a
história e buscar um culpado é sempre muito forte, mas o passado não nos
importa, e sim o que podemos fazer hoje para eliminar muros e levantar pequenas
pontes que unem, pois de cavadores de abismos e construtores de muros, o mundo
já anda infectado. Buscamos o mesmo Deus, que se manifestou em Jesus e queremos
o mesmo céu, que começa a ser construído aqui, não com divisões, mas na
comunhão! (26ª. Domingo do TC Marcos 9, 38-43.45.47-48)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0372.htm#msg01
Nenhum comentário:
Postar um comentário