sábado, 28 de setembro de 2024

XIV- REFLEXÕES DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO... Lindolivo Soares Moura(*)

 


XIV- REFLEXÕES DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO...

Lindolivo Soares Moura(*)

Olá minha neta-filha querida, como vai você? Tudo bem? Pergunto como "vai" e quase sempre você responde dizendo como "está", ou como "se sente", não é verdade? São as "curiosisses" do nosso "inculto e belo" idioma, a "última flor do Lácio", como o deixaria imortalizado em um de seus não menos imortais poemas, o poeta brasileiro Olavo Bilac. Também por aquelas terras de além-mar, do outro lado do Atlântico, ficaria imortalizada uma das consideradas dez mais belas canções italianas de todos os tempos, "Gesù Bambino", homenagem do cantor Lucio Dalla à sua própria mãe, cujo enredo se refere à comovente história de uma adolescente italiana de apenas dezesseis anos de idade, que depois de uma breve noite de amor - muito provavelmente ao lado de um "pracinha brasileiro", acredita-se - viu seu "amor relâmpago" ser brutalmente assassinado, e grávida teve que empreender, sozinha, toda uma complicada e árdua trajetória para que seu filho pudesse nascer e sobreviver com dignidade. A canção é de fato belíssima e encantadora, mas a história real, bem ao contrário, é triste, dramática e comovente, como costumam ser a maioria das histórias de gravidez ocorridas ainda na adolescência. Por isso a "dica" de hoje se debruça sobre esse tema, consciente de que a prevenção e o diálogo são e serão sempre a melhor estratégia e a melhor opção no enfrentamento dessa problemática. Vamos juntos, então? GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: A VIDA HUMANA EXIGE E MERECE RESPEITO, RESPONSABILIDADE E CONSCIÊNCIA!

"Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, mas não de vós, e embora vivam convosco não vos pertencem", foi o que deixou escrito o escritor e poeta libanês Khalil Gibran em "O profeta". Quem pensa de outra forma, mesmo tendo o direito de pensar diferente, desconhece e ignora por completo a essência e a excelência da maternidade e da paternidade; e da filiação, claro, por extensão e consequência. A rigor o ato da criação - "FIAT!" - não se encontra ainda de todo completamente concluído, e o da redenção menos ainda. Por intermédio da maternidade e da paternidade, e de cada novo ato de "encarnação" que uma gestação coloca em marcha - ao lado de outras tantas formas de intervenção, evidentemente - o Criador continua "criando", "redimindo" e "aperfeiçoando" sempre mais e melhor a sua obra. Mas nem todo tempo é favorável e propício para que esse milagre da perpetuação da vida continue acontecendo; há um tempo certo para cada coisa debaixo do céu, e um tempo favorável e propício para o nascer e o morrer de cada criatura debaixo do sol. Quando estudiosos e cientistas do mundo todo afirmam que a gravidez na adolescência é sempre uma "gravidez de risco", isso se explica pelo fato de que a incompletude das condições físicas, mentais e emocionais da mãe adolescente a tornam - a si mesma e ao fruto de suas entranhas - mais vulneráveis no tocante à possibilidade de contrair doenças, hemorragias, infecções e diversas outras complicações ao longo da gestação e inclusive no momento do parto. O fato de que uma adolescente seja capaz não só de engravidar, como também de levar a término uma gestação, de nenhum modo significa, como se poderia pensar, que ela esteja preparada e pronta para o pleno exercício dessa função. Em comparação com o corpo, a mente, a adequação nutricional e a maturidade emocional de uma mulher adulta, estudos revelam que uma adolescente está menos preparada e menos "equipada" não só para lidar como para sustentar uma gravidez saudável e uma gestação segura, em razão das condições desfavoráveis de sua faixa de idade. Seu útero, por encontrar-se em fase de amadurecimento, pode não ter alcançado ainda o tamanho e as condições ideais para a gestação, o que pode acabar comprometendo a função do "colo uterino" que é a de suportar de forma equilibrada e estável o peso do feto e responder com rapidez e eficiência às demandas da gravidez. Acresce-se a isso o fato de que a chamada "estrutura pélvica", responsável pela proteção de vários órgãos incluindo o útero, pode também ela não se encontrar ainda completamente desenvolvida, aumentando em razão disso as chances de que ocorram complicações tanto para a mãe como para o bebê, caso a opção pelo parto "normal" ou natural tenha sido sugerida. Pressupor que a cesariana seria uma "saída de emergência" capaz de resolver com pleno êxito os impasses dessa situação, é um prognóstico que nem sempre se confirma. A experiência tem mostrado que cesarianas realizadas nessa faixa de idade - a adolescência - podem aumentar tanto as complicações associadas à primeira cesária como os riscos associados à realização de cesarianas posteriores. Se levarmos em conta que a essa altura o pai pode estar a quilômetros-luz de distância, amedrontado e hibernado em um quarto sem desejar sequer saber o que está se passando, não será muito difícil compreender por que a gravidez na adolescência, apesar de viável do ponto de vista biológico, não é com certeza uma experiência confortável e menos ainda interessante.

A todos e a cada um de nós, minha linda, o Criador nos presenteia com o tempo - a que os gregos dão o nome de "chronos" - mas é responsabilidade nossa aprender a bem administrá-lo e dele fazer bom uso - a esse tempo otimizado os gregos chamam "kairós". É pouquíssimo provável que o tempo por nós chamado de "adolescência" tenha sido projetado e idealizado pelo Criador para que nós humanos o invistamos no exercício da paternidade e da maternidade. Isso porque essa fase de nossa vida é ainda repleta de  dúvidas e incertezas, angústias e inquietações, encontros e desencontros, sendo portanto um tempo destinado sobretudo à busca, ao discernimento e ao crescimento. Com a adultez nos chega a maturidade, e com a maturidade as condições e o tempo propício e favorável para que uma nova vida possa ser gestada, desenvolver-se com o máximo de proteção e segurança, e finalmente ser dada à luz. O útero materno não pode e não deve ser um campo de  atropelos, sobressaltos, turbulências e truculências; toda violência dirigida à mãe gestante representa um atentado ao projeto divino de criação e redenção. O útero materno é um lugar sagrado, e como tal deve ser considerado, para que nele a semente de uma nova vida possa se aninhar e se desenvolver com conforto e proteção e finalmente poder nascer. Não podemos acreditar que apenas Jesus tenha sido o único "escolhido" do Pai. Cada mãe que carrega uma nova vida em seu ventre é também uma mulher "bendita", "bem-aventurada" e "cheia de graça", como foi Maria; cada pai que abraça essa mesma missão é também "um escolhido" e um "agraciado", como foi José, e cada filho e filha que nascem são com certeza outros tantos Jesus de Nazaré. Portanto, minha linda, caso você se sinta chamada a ser mãe, e de forma livre e consciente venha a responder "sim" a esse chamado, saiba observar e aguardar com paciência o tempo certo e o momento propício para que ele se cumpra. Haverá sempre uma luz a iluminar sua inteligência e uma voz interior a lhe falar ao coração. Quando essa voz se fizer ouvir: "esta é a melhor hora! O tempo se cumpriu!", FIAT! A sombra daquele que chamou você e seu companheiro a essa missão os envolverá, e o fruto que de vocês vier a nascer será com certeza também ele chamado de "bendito!", "abençoado", pois abençoados e benditos são todos os filhos e filhas, imagem e semelhança de um mesmo e único Deus. Um beijo nessa mente iluminada e nesse coração de ouro! AMO MUITO VOCÊ, BIA, O BEM, O FRAN E O ALÊ!

(*)Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil

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