XIV- REFLEXÕES DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO...
Lindolivo Soares Moura(*)
Olá minha
neta-filha querida, como vai você? Tudo bem? Pergunto como "vai" e
quase sempre você responde dizendo como "está", ou como "se
sente", não é verdade? São as "curiosisses" do nosso
"inculto e belo" idioma, a "última flor do Lácio", como o
deixaria imortalizado em um de seus não menos imortais poemas, o poeta
brasileiro Olavo Bilac. Também por aquelas terras de além-mar, do outro lado do
Atlântico, ficaria imortalizada uma das consideradas dez mais belas canções
italianas de todos os tempos, "Gesù Bambino", homenagem do cantor
Lucio Dalla à sua própria mãe, cujo enredo se refere à comovente história de
uma adolescente italiana de apenas dezesseis anos de idade, que depois de uma
breve noite de amor - muito provavelmente ao lado de um "pracinha
brasileiro", acredita-se - viu seu "amor relâmpago" ser
brutalmente assassinado, e grávida teve que empreender, sozinha, toda uma
complicada e árdua trajetória para que seu filho pudesse nascer e sobreviver
com dignidade. A canção é de fato belíssima e encantadora, mas a história real,
bem ao contrário, é triste, dramática e comovente, como costumam ser a maioria
das histórias de gravidez ocorridas ainda na adolescência. Por isso a
"dica" de hoje se debruça sobre esse tema, consciente de que a
prevenção e o diálogo são e serão sempre a melhor estratégia e a melhor opção
no enfrentamento dessa problemática. Vamos juntos, então? GRAVIDEZ NA
ADOLESCÊNCIA: A VIDA HUMANA EXIGE E MERECE RESPEITO, RESPONSABILIDADE E
CONSCIÊNCIA!
"Vossos
filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si
mesma. Eles vêm através de vós, mas não de vós, e embora vivam convosco não vos
pertencem", foi o que deixou escrito o escritor e poeta libanês Khalil
Gibran em "O profeta". Quem pensa de outra forma, mesmo tendo o
direito de pensar diferente, desconhece e ignora por completo a essência e a
excelência da maternidade e da paternidade; e da filiação, claro, por extensão
e consequência. A rigor o ato da criação - "FIAT!" - não se encontra
ainda de todo completamente concluído, e o da redenção menos ainda. Por
intermédio da maternidade e da paternidade, e de cada novo ato de
"encarnação" que uma gestação coloca em marcha - ao lado de outras
tantas formas de intervenção, evidentemente - o Criador continua
"criando", "redimindo" e "aperfeiçoando" sempre
mais e melhor a sua obra. Mas nem todo tempo é favorável e propício para que
esse milagre da perpetuação da vida continue acontecendo; há um tempo certo
para cada coisa debaixo do céu, e um tempo favorável e propício para o nascer e
o morrer de cada criatura debaixo do sol. Quando estudiosos e cientistas do
mundo todo afirmam que a gravidez na adolescência é sempre uma "gravidez
de risco", isso se explica pelo fato de que a incompletude das condições
físicas, mentais e emocionais da mãe adolescente a tornam - a si mesma e ao
fruto de suas entranhas - mais vulneráveis no tocante à possibilidade de
contrair doenças, hemorragias, infecções e diversas outras complicações ao
longo da gestação e inclusive no momento do parto. O fato de que uma adolescente
seja capaz não só de engravidar, como também de levar a término uma gestação,
de nenhum modo significa, como se poderia pensar, que ela esteja preparada e
pronta para o pleno exercício dessa função. Em comparação com o corpo, a mente,
a adequação nutricional e a maturidade emocional de uma mulher adulta, estudos
revelam que uma adolescente está menos preparada e menos "equipada"
não só para lidar como para sustentar uma gravidez saudável e uma gestação
segura, em razão das condições desfavoráveis de sua faixa de idade. Seu útero,
por encontrar-se em fase de amadurecimento, pode não ter alcançado ainda o
tamanho e as condições ideais para a gestação, o que pode acabar comprometendo
a função do "colo uterino" que é a de suportar de forma equilibrada e
estável o peso do feto e responder com rapidez e eficiência às demandas da
gravidez. Acresce-se a isso o fato de que a chamada "estrutura
pélvica", responsável pela proteção de vários órgãos incluindo o útero,
pode também ela não se encontrar ainda completamente desenvolvida, aumentando
em razão disso as chances de que ocorram complicações tanto para a mãe como
para o bebê, caso a opção pelo parto "normal" ou natural tenha sido
sugerida. Pressupor que a cesariana seria uma "saída de emergência"
capaz de resolver com pleno êxito os impasses dessa situação, é um prognóstico
que nem sempre se confirma. A experiência tem mostrado que cesarianas
realizadas nessa faixa de idade - a adolescência - podem aumentar tanto as
complicações associadas à primeira cesária como os riscos associados à
realização de cesarianas posteriores. Se levarmos em conta que a essa altura o
pai pode estar a quilômetros-luz de distância, amedrontado e hibernado em um
quarto sem desejar sequer saber o que está se passando, não será muito difícil compreender
por que a gravidez na adolescência, apesar de viável do ponto de vista
biológico, não é com certeza uma experiência confortável e menos ainda
interessante.
A todos e a
cada um de nós, minha linda, o Criador nos presenteia com o tempo - a que os gregos
dão o nome de "chronos" - mas é responsabilidade nossa aprender a bem
administrá-lo e dele fazer bom uso - a esse tempo otimizado os gregos chamam
"kairós". É pouquíssimo provável que o tempo por nós chamado de
"adolescência" tenha sido projetado e idealizado pelo Criador para
que nós humanos o invistamos no exercício da paternidade e da maternidade. Isso
porque essa fase de nossa vida é ainda repleta de dúvidas e incertezas, angústias e
inquietações, encontros e desencontros, sendo portanto um tempo destinado
sobretudo à busca, ao discernimento e ao crescimento. Com a adultez nos chega a
maturidade, e com a maturidade as condições e o tempo propício e favorável para
que uma nova vida possa ser gestada, desenvolver-se com o máximo de proteção e
segurança, e finalmente ser dada à luz. O útero materno não pode e não deve ser
um campo de atropelos, sobressaltos,
turbulências e truculências; toda violência dirigida à mãe gestante representa
um atentado ao projeto divino de criação e redenção. O útero materno é um lugar
sagrado, e como tal deve ser considerado, para que nele a semente de uma nova
vida possa se aninhar e se desenvolver com conforto e proteção e finalmente
poder nascer. Não podemos acreditar que apenas Jesus tenha sido o único
"escolhido" do Pai. Cada mãe que carrega uma nova vida em seu ventre
é também uma mulher "bendita", "bem-aventurada" e
"cheia de graça", como foi Maria; cada pai que abraça essa mesma
missão é também "um escolhido" e um "agraciado", como foi
José, e cada filho e filha que nascem são com certeza outros tantos Jesus de
Nazaré. Portanto, minha linda, caso você se sinta chamada a ser mãe, e de forma
livre e consciente venha a responder "sim" a esse chamado, saiba
observar e aguardar com paciência o tempo certo e o momento propício para que
ele se cumpra. Haverá sempre uma luz a iluminar sua inteligência e uma voz
interior a lhe falar ao coração. Quando essa voz se fizer ouvir: "esta é a
melhor hora! O tempo se cumpriu!", FIAT! A sombra daquele que chamou você
e seu companheiro a essa missão os envolverá, e o fruto que de vocês vier a
nascer será com certeza também ele chamado de "bendito!",
"abençoado", pois abençoados e benditos são todos os filhos e filhas,
imagem e semelhança de um mesmo e único Deus. Um beijo nessa mente iluminada e
nesse coração de ouro! AMO MUITO VOCÊ, BIA, O BEM, O FRAN E O ALÊ!
(*)Psicólogo e
Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do
Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil
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